Nas Ondas do Havaí, parte um

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Toda sereia anseia por um amor tão profundo quanto o oceano

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Toda sereia anseia por um amor tão profundo quanto o oceano.

— Autor Desconhecido 

 Kai não sabia voar.

Ele, como todo ser humano, não era capaz de tocar o céu com suas próprias asas. Viajar entre as nuvens que mais parecem feitas do mais fofo algodão, e desfrutar da liberdade que um voo poderia lhe proporcionar.

Contudo, o rapaz não tinha qualquer pretensão em ganhar asas ou vislumbrar o plano azulado através da janela de um avião; sua liberdade não estava resumida em tal desejo, tampouco no objetivo de ser como um pássaro: livre. Pois ele, em sua própria concepção, tinha a liberdade; a de domar o oceano em manobras, tornando-o seu lar.

Kai não precisava do céu.

Afinal, tinha o oceano, a imensidão azul para desbravar.

Sozinho em meio à areia branca e morna, o moreno respirou fundo o ar puro de Waikiki, sorrindo para ninguém em especial. Ali, sem o movimento quase catastrófico da capital, podia enfim ouvir somente o som das ondas a quebrar na praia e o barulho de sua respiração.

A prancha que utilizava — não só para passatempo, mas também em competições — estava fincada nos grãos brancos, como alguém a lhe observar em seu momento de sossego. Contudo, não lhe incomodava o fato de sua única companhia nas belas praias do Havaí ser um simples objeto de madeira; inanimado. Para ele, era um privilégio dividir seu lugar favorito com sua companheira de todas as horas, que estava lá sempre que precisava fugir para a mansidão.

Waikiki era o único lugar em que o surfista se sentira realmente em casa; como se o oceano o recebesse sempre de braços abertos. Mesmo em dias sem qualquer movimentação no mar, o rapaz visitava a praia com tanta frequência quanto o nascer e o pôr do sol; um lugar suficientemente diferente da rotina milimétrica que o aguardava.

Kai suspirou fundo a brisa marítima, o ar salgado advindo do Pacífico, sentindo os raios de sol a lhe bronzear a pele pálida. O cenário era perfeito para qualquer um, e ainda mais para um praticante de surfe que adorava o que fazia. O jovem fitou a paisagem, enquadrando-a em seus dedos, logo procurando em sua mochila deixada próximo à si a câmera fotográfica que também era um objeto indispensável em sua lista. Observando o plano azul do pélago através da lente, as cores se misturavam, formando um conjunto que era seu favorito; o azul do céu tingido com tons de fogo e o sol a se pôr como se mergulhasse nas correntes marítimas, a fim de desfrutar da maravilha que era tão calma e tão poderosa ao mesmo tempo.

Ele entendia a estrela; se pudesse, viveria a desbravar as águas que atiçavam seu imaginário, a descobrir os mitos contados pelos navegadores que temiam a imensidão sem fim. Desdobrar-se além de onde estava, e encontrar a liberdade que o impulsionara.

Era assim que Kai Mori via o oceano.

Mas, não era desse modo que as pessoas ao seu redor o enxergavam.

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