Capítulo 3.1 Os Círculos do Inferno

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Não se esqueça do voto ☆

Parte 1 

"Sendo a fraude um mal próprio do homem, é o que mais desagrada a Deus

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"Sendo a fraude um mal próprio do homem, é o que mais desagrada a Deus."

A Divina Comédia, Dante Alighieri, Canto XI.

Sinto meus pés sendo ainda mais colados ao fundo do lago, isso me causa um desespero e ansiedade intensos. Começo a tentar andar, mas parece que estou em uma areia movediça, eu não saio do lugar. Quanto mais eu tento mais pareço ser puxado pela água ensanguentada. Minha vontade é de gritar, então o faço, um grito que sai do fundo da minha garganta.

Eu estou frustrado. Desde a notícia da minha morte, da traição de Fêlix, eu sinto vontade de gritar a pleno pulmões e de simplesmente acabar com qualquer mundo que exista. Noto que meus desejos estão se realizando. Estou gritando no meio daquele lago vazio a plenos pulmões, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto - o que eu notei muito tempo depois, apenas quando sabor salgado invadiu minha boca -, então, sem forças, caio no raso do rio e minhas mãos começam a grudar e meu corpo passa a ser puxado com mais força.

Com a visão embaçada por conta das lágrimas e resquícios do sangue, começo a analisar o lugar em busca de alguém ou algo que pudesse me ajudar. Mas nada. Estou em completo vazio e escuridão. Grito novamente, um grito agonizante. Me sinto enganado, com medo, em uma solidão. Me sinto cheio de raiva. Sentimentos que eu nunca havia sentido até esse momento.

Olho para o horizonte e um barco se aproxima, é pequeno, como se suportasse apenas uma ou duas pessoas, no máximo. Com um ar sombrio, o barco apresenta uma nuvem de fumaça branca que acompanha a embarcação enquanto navega. Alguém está remando, com uma túnica completamente negra. A figura segura um remo, e as suas mãos são quase esqueléticas; brancas, ossudas, finas e compridas. A imagem me dá arrepios.

- Hey, novo pecador. Pare com essa gritaria e pague as minhas quatro moedas de ouro. - Diz a figura próxima a mim.

- Não tenho nenhuma moeda de ouro, desculpe. - Digo limpando o rosto invadido pelas lágrimas.

- Como não tem nenhuma moeda? - Ele diz indignado. - Você é um pecador, você precisa das moedas.

- Não sou um pecador. - Um soluço atrapalha a minha fala.

- Um demônio? - A voz sai quase debochada. 

- Não também. 

- Não me diga que é um anjo... - Revira os olhos.

- Sou um desencarnado.

- Desencarnado? - Ele gargalha alto.

- Isso. - Falo esperançoso, com um sorriso no rosto.

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