Prólogo: A Madrugada de Hong Kong

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Mark Sullivan I


  Já era tarde da noite, um padrão de horário do qual eu preferia trabalhar. Eu não tinha certeza no entanto, da exatidão das horas. Chuviscava nas ruas brilhosas e cheias de néon de Hong Kong, uma cidade que nunca dormia. Os prédios gigantescos pareciam beijar os céus nublados da metrópole, com um charme cinzento único.

  Os carros cruzavam as ruas em alta velocidade, e ali estava eu, em cima da minha moto escura, mantendo o rosto escondido por trás do capacete fechado e selado. O visor na parte interna do mesmo, mostrava a distância do meu destino, assim como um pequeno mapa que servia como GPS. Eu estava cansado, com sono, e com dores. Meu último trabalho não tinha sido exatamente perfeito, e alguns imprevistos ocorreram.

  Eu estava entrando em um distrito da cidade conhecido pelo controle da tríade Zhao, uma família mafiosa bem poderosa em Hong Kong, e com especulações de que tinham até mesmo envolvimento com o governo chinês. Cachorros grandes certamente, e o tipo de grupo que eu não gostava de me envolver... Mas, trabalho é trabalho. Eles controlavam pontos de droga, prostituição, tráfico de armas e até mesmo venda ilegal de implantes, além dos ocasionais roubos grandiosos que aconteciam pela cidade.

  O local para o qual eu estava indo, conhecido como Clube Kung, era uma casa de serviços eróticos bastante conhecida em Hong Kong, sob controle direto dos Zhao. Na minha vista, eu já podia ver o néon roxo e rosa que brilhava no prédio escuro e mal acabado. A fachada com uma mulher nua dançando não deixava enganar que eu estava no local certo, então, gradualmente eu pressionei o freio da moto.

  Descendo do veículo, eu mantive o capacete na cabeça, observando toda a estrutura externa do clube. Era uma política pessoal de trabalho minha, não revelar o meu rosto aos clientes, e por conta disso, o capacete possuía um modulador de voz, alternando o tom da mesma sempre que eu abria a minha boca. Em frente a porta de aço cinzenta do clube, um homem grande, certamente mais alto do que eu, trajado com uma capa negra como a noite, portando dois braços de titânio que poderiam facilmente esmagar qualquer pessoa. Seus olhos brilhavam em vermelho no meio da garoa e o néon, e assim que ele notou minha presença, fechou ainda mais o semblante em seriedade.

  — Seu nome completo. — Ordenou com sua voz rouca, medindo-me dos pés à cabeça.

  — Me chamam de Revenge, e isso deve bastar. — Respondi com a voz modulada, e o homem arqueou as sobrancelhas. Com uma expressão surpresa, ele logo percebeu do que se tratava a minha visita. — Não sou um cliente.

  Os olhos do segurança então, alteraram-se do vermelho vívido para um azul escurecido, e ele então olhou fixamente para frente.

  — Ele chegou. — Murmurando tais palavras, ele ficou em silêncio por alguns segundos, parecendo receber uma resposta de algum lugar. — Entendido. — Subitamente, ele assentiu com a cabeça, e seus olhos voltaram para cor vermelha anterior. Um feixe de scanner então saiu destes mesmos olhos, correndo por todo meu corpo. O visor do meu capacete alertava para a invasão de privacidade, e eu me limitei a apenas suspirar, tendo conhecimento dos protocolos de segurança deste tipo de ambiente.

  — Invasivo, eu diria. — Respondi com certa ironia, enquanto o segurança terminava de escanear meu corpo, desligando o grande feixe que saía de seus olhos.

  — Armas são proibidas dentro do clube. — Ele dizia, enquanto, da minha cintura, eu retirava a pequena pistola da qual portava, entregando-a nas mãos de titânio do homem. — Bem-vindo. Ele está no camarim aos fundos do salão. É o maior deles. Difícil não notar. — Apenas assenti, enquanto a porta de aço se abria atrás do segurança, revelando um corredor roxo que levava até o interior do clube. Adentrei sem mais delongas, já conseguindo ouvir a música que ecoava lá dentro.

Hong Kong 2189Onde histórias criam vida. Descubra agora