Nakai Tatsuya I

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  Soltei um forte suspiro pela boca, enquanto meus olhos analisavam a pistola escura que estava na minha mão. Observei a câmara da mesma, sem nenhum projétil, e claro, sem nenhum carregador. Com a outra mão, deixei que o pano amarelado limpasse a arma gradualmente, tirando a poeira e qualquer outro resquício de sujeira que pudesse estar ali. Era madrugada, e estava um tanto quanto frio. A brisa gelada batia no meu rosto e jogava os meus cabelos para trás. Naquele momento, eu estava em cima do terraço de um pequeno prédio de quatro andares, em uma das vizinhanças mais pobres de Hong Kong. Admito... Eu estava com sono pra caralho, e não via a hora daquilo acabar pra me afundar na cama, ainda mais num clima como aquele.

  — Linda noite, hein, Roxy. — Murmurei, jogando o pano amarelo no chão do terraço. Eu estava de armadura, e mesmo que leve, não tinha bolso pra eu ficar guardando esse tipo de bosta.

  — Linda certamente não é uma palavra que eu usaria agora, Tatsuya. — A voz de Roxy ecoava na escuta que estava presa ao meu ouvido direito. Soltei um riso. Apesar de ser uma I.A, Roxy era bem engraçada, útil, e uma ótima companheira em momentos como esse.

  — Defina então pra mim o que você acharia lindo. — Respondi, sorrindo, enquanto meus olhos observavam a rua abaixo. Estava deserta, e os poucos postes que iluminavam, não tinham uma luz que eu podia chamar de decente.

  — Lindo seria se eu estivesse em uma praia no Caribe, vendo a luz das estrelas, com uma cerveja pra acompanhar. — Ela respondeu rápido, e com seu tom sarcástico de sempre.

  — Bom, não é como se você pudesse tomar cerveja, Roxy. — Tirei um carregador da armadura, e o coloquei na pistola, destravando-a em seguida. Os olhos ainda fixos na rua abaixo.

  — Pelo visto uma mulher não pode mesmo sonhar. — Não contive o riso mais uma vez. Roxy era uma palhaça de primeira quando queria.

  — Aí, será que vocês dois podem calar a boca? Eu tô tentando me concentrar aqui. — A voz de Hiro logo em seguida ecoou também na escuta, e logo neguei com a cabeça, alargando o meu sorriso. Ele ficava insuportável quando dormia mal.

  — Não é como se concentração fosse fazer alguma diferença aqui, Hiro. Você vai errar o tiro de qualquer jeito mesmo. — O provoquei em tom jocoso, e logo ouvi ele soltar uma risada forçada pela escuta.

  — Como você é engraçado. Isso tá me soando como aposta... E uma que você sabe que vai perder feio. — Ele respondeu. Sério, não dá pra resistir a essas apostas nos nossos trabalhos. Era fácil tirar dinheiro do Hiro.

  — Fechado. A cerveja você quem paga se errar essa bala. — Com uma das mãos, tirei o supressor de um dos compartimentos da minha armadura, encaixando-o no cano da pistola. — Mei, tá na escuta ainda? Alguma novidade? — Perguntava na escuta para Sajima, nossa quarta e última companheira. Última vez que eu havia a visto, ela estava próxima da casa do nosso alvo, até sumir dentro de um beco.

  — É, eu tô ouvindo essa tal aposta de vocês. Tá me parecendo bem interessante. — Logo, a voz de Mei ecoou na escuta. — Tentando compensar pela derrota da última vez, Tatsuya? — Ela riu, provocando como sempre.

  — É isso aí, Mei. Fala pra ele o como ainda precisa comer muito arroz pra chegar aqui. — Hiro respondeu logo em seguida, e eu soltei um riso irônico com uma afirmação tão patética como aquela.

  — Não sei do que tá falando, Hiro. Você não tá muito longe dele assim. — E lá veio o soco na boca da Mei, o que fez o Hiro ficar completamente em silêncio na escuta.

Hong Kong 2189Onde histórias criam vida. Descubra agora