It was her.*

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Foi ela*

"Quando o ódio falar mais alto, fique surdo

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"Quando o ódio falar mais alto, fique surdo."


Foi ela.

Depois de quase trezentas e sessenta e cinco luas, cerca de um ano humano. O equivalente a 8.760 horas, quase 525.600 minutos de agonia. Eu senti cada um dos 31.536.000 segundos passando, pensando que os dentistas mataram minha irmã porque utilizaram o suficiente dela como cobaia ou porque não queriam que ela avisa-se os outros da minha espécie sobre a BCE. Quando na realidade era um plano da nossa genitora, quando na realidade foi a nossa mãe quem matou minha irmã e minha sobrinha.

Eu já sabia que minha irmã poderia estar viva, era possível ela ter sobrevivido ao meu ataque, mas de toda a forma a culpa de tê-la a matado, ou ao menos tentado, me corroía. Ver seu olhar frágil de mágoa enquanto eu atacava sua jugular com minhas garras... Me seguia em meus pesadelos. Eu amava minha mãe e muito, mas só de pensar que ela havia tentado acabar com o nosso cardume, acabar com a nossa família, a raiva me corroía. Ela havia matado minha única família e eu tinha certeza que acabaria com o sangue do meu filho nas mãos dela.

Olhando para fora do aquário, olho para a mulher que um dia já amei. Seus olhos negros que um dia já continham brilho, agora estavam embargados em ganância de poder. A pele parda que um dia já fora bela e sem marcas, agora continham inúmeras cicatrizes.

Com uma força sobrenatural, eu forço meu corpo contra o vidro, tentando quebra-lo de alguma forma. Em silêncio, eu me concentro nos poderes ancestrais, fazendo esforço para fugir do aquário.

— Está quieta. Esperando o tritão encantado vir te salvar em um tubarão branco?— A minha genitora pergunta com deboche, me fazendo resmungar.— Fale direito, querida filha. Sabe que eu odeio quando resmunga. Blá, blá, blá, é muito irritante.

— Eu disse que eu não preciso de um tritão encantado, sei me cuidar sozinha. Aliás... Que eu me lembre, não precisei de um tritão quando quase te matei.— Falo, sorrindo minimamente ao perceber a mulher ficar em silêncio, cheia de raiva.— Eu resmunguei, mamãe?

A minha genitora abre a tampa do aquário em que eu era mantida e bate o bastão de choque contra a minha cabeça, momentos depois, eu desmaio, vendo sangue se misturar na água.

.

Acordo, pondo a mão de imediato em meu ventre. Sorrio com os olhos fechados ao pensar que aquele bebê poderia ser minha redenção, que aquele bebê poderia ser minha esperança. Penso sobre tudo o que ocorreu nesse curto espaço de tempo e bolhas de ar passam pelas minhas guelras, como se eu suspirasse. Me sinto triste ao lembrar que a ideia de abortar o bebê houvesse passado pela minha cabeça, mas logo a tristeza passa ao me recordar que eu estava mal mentalmente e emocionalmente. Abro meus olhos, percebendo que eu era mantida no mesmo aquário trincada.

Minha cauda ainda se mantinha enroscada na em correntes elétricas, as quais me enviavam choques toda a vez que me movimentava. Olhando para fora do vidro do aquário, finalmente percebo estar sozinha. De uma forma simples, estouro o aquário com os poderes ancestrais. Respiro fundo quando o oxigênio me atingi, fechando minhas guelras e abrindo minhas vias nasais. Me jogo no chão, levando as correntes elétricas comigo e as enrolo em minha mão direita, enquanto rastejo pelo laboratório em direção a porta.

Agarro-me a maçaneta da porta, segurando os gritos de dor quando minha cauda se torna pernas. Visto a camisa suja e aleatória jogada próxima a porta em que eu estava agarrada. Ouço passos vindo do outro lado da porta e me escondo atrás da mesma.

— Mas qu— A fala de Nature se é interrompida quando o agarro por trás e o enforco com as correntes elétricas. O tritão se debate e tenta a todo custo escapar das correntes, ele me empurra com suas costas, deixando-me contra a parede. Agarro sua cintura com minhas pernas, usando mais força no enforcamento e, enfim, ele despenca em direção ao chão. Já tinha uma breve ideia de que os da minha espécie sobreviviam até vinte minutos sem ar. Pego um grande pedaço de vidro dos restos do aquário e finco no peito do tritão, ouvindo as doze camadas de pele e as cinco membranas que agarravam seu coração, se rasgarem e, enfim, partirem, fazendo o coração do tritão parar de bater.

— Eu já sabia que o inútil do Nature era um assassino, mas você... É uma surpresa.— Minha genitora diz, me vendo ensanguentada sobre o cadáver do tritão.— Ah, não. Não é uma surpresa que você seja uma assassina, já que tentou acabar com a vida da sua própria mãe.

— Você não é minha mãe.— Digo entre dentes.

— Ah, isso me magoa.— Diz ela, com falsa tristeza e logo gargalha de modo escandaloso.— Sabe, quem mais te amaria senão sua mamãezinha?

— Você não deu amor, nem a mim e nem a minha irmã. Você tentou nos matar! E eu tenho nojo de você.— Respondo, me erguendo do chão, encarando a mulher em minha frente.— E, respondendo sua pergunta, mamãezinha... Eu tenho família e amigos, os quais me amam mais do que você jamais amou.

A mulher em minha frente ri com escárnio e me encara com desagrado em meio suas gargalhadas. 

— Ninguém vai amar uma criatura nojenta como você.— Ela diz em tom de deboche.

— Eu não me importo!— Grito, a deixando levemente surpresa.— Eu os amo! Eu os amando é o que importa! E eu não estou nem para o que pensam de mim e NADA do que você disser vai mudar o que eu sinto por eles.

— Nada do que eu disser vai mudar o que você sente por eles?— Ela repete o que eu digo e ri.— Vou mudar e sabe como eu vou mudar? Os matando, em na sua frente.— Ela diz pausadamente, me causando uma enorme raiva. Gritando em agonia, me lanço contra o corpo da mulher, ouvindo o baque dos nossos corpos contra o chão.

Subo sobre o corpo da mulher que um dia já chamei de mãe e bato sua cabeça contra o solo, tentando apaga-la, porém, não tenho sucesso. A mulher retira uma lamina de seu bolso e acerta um corte em minha bochecha.

Recuo o ataque, vendo que o sangue escorria da minha bochecha para a barra da camisa. A mulher pula sobre mim, com o canivete a centímetros de meu pescoço.

Agarro sua mão que segura o objeto cortante e passo uma de minhas pernas pelo meio das suas, invertendo nossas posições. Rosno contra seu rosto e sua mão livre acerta minha face com um tapa de mão aberta. A minha genitora aproveita meu momento de surpresa e morde meu pescoço, arrancando algumas camadas de pele, fazendo mais sangue escorrer. Caio deitada ao lado da mulher, percebendo que precisaria voltar ao mar para ter uma recuperação mais rápida, pois o sangue atrapalhava minha respiração.

Ella sobe sobre meu corpo e sorri largo, parecendo receber o melhor dos presentes.

— Mamãe, por favor.— Finjo suplicar e a mulher pisca com lentidão, como se tivesse pena de mim por um leve segundo.

Vendo que a mulher lutava internamente, agarro o canivete e atravesso seu peito, vendo a morte passar pelos seus olhos. Ela agoniza sobre mim e, então, seu corpo caí sem vida ao meu lado.

Antes de apagar, vejo a forma de dois anjos vindo em minha direção.


Capítulo não revisado.

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