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|POV GIOVANA|

São Paulo, 25 de julho de 2021;

Guarulhos sempre me encanta, mesmo sendo rodeada de prédios, como a própria capital é. A vista que temos decolando na cidade, mostra a grandeza da mesma, que me cativou.
- senhores passageiros, foi um prazer voar com vocês - a voz do piloto preenche o avião, enquanto taxiamos na pista do aeroporto. Essa parte sempre cria uma agitação na aeronave, com pessoas prontas para saírem e continuarem suas vidas. É estranho pensar que vemos tantas pessoas, mas nunca saberemos suas histórias, para onde elas irão a partir daqui, seus nomes, sua idade, sobre sua real vida, não essa que nós apresentamos a primeira vista.
- Desembarque autorizado. - a aeromoça diz no microfone, e novamente isso vira uma bagunça. Espero algumas pessoas saírem primeiro, para depois posicionar-me no corredor da aeronave. Dou um leve sorriso para a mesma aeromoça, e saio do avião. O Galeão, como sempre, lotado. Aquele monte de gente passando de um lado para o outro, com diferentes expressões faciais. Arrasto minha única mala aeroporto a fora, me deparando com a claridade da rua, em plena 14h. Vou até o estacionamento do aeroporto, onde sempre deixo meu carro. Avisto o Fusion preto de ano 2019, estacionado no mesmo lugar que deixei.
- boa tarde... - paro na cabine do estacionamento.
- boa tarde. Como posso ajuda-la? - um rapaz alto, moreno e simpático me atende.
- Fusion preto, no nome de Giovanna de Jesus.
Pego minha carteira de motorista na bolsa e apresento para ele. Ele checa as informações e me devolve a CNH.
- Liberada, senhorita.
- obrigada. Tenha um bom resto de dia. - sorrio levemente para ele, que me devolve o sorriso e me deseja o mesmo. O caminho para casa demora uns 45 minutos, entre engarrafamentos e sinais vermelhos. O auge do desenvolvimento em São Paulo, o famoso bairro Vila Olímpia, sempre movimentado. Paro na recepção do estacionamento de meu prédio, confirmando minha identificação com o porteiro seu Emanuel, adentro o térreo do residencial. Estaciono na minha vaga, desço do carro, pego minha mala no bagageiro, travo o automóvel e ando em direção ao elevador.
- Gio, segura o elevador. - uma voz feminina que bem conheço grita, me fazendo colocar a mão na porta do elevador.
- oi, sua doida. - digo, enquanto Andressa entra correndo no elevador.
- doida é sua mãe. - ela diz, me abraçando.
- como foi em Santa Catarina? - ela encosta-se na parede do elevador, aguardando minha resposta.
- normal. - respondo, também me escorando na lateral.
- zero entusiasmo. - retruca, me fazendo revirar os olhos.
- o que você quer que eu diga? Minha mãe está ótima e continua namorando, meu pai está bem, minhas tias estão maravilhosamente bem, meus vizinhos estão ótimos também, meus avós estão bem na medida do possível... O que mais? - faço cara de pensativa, sendo observada por ela.
- você é muito engraçadinha, sabia? - ela dá um tapinha no meu braço.
- aí! - solto um gritinho em desaprovação.
- depois você vai me contar tudo certinho, ein? - o elevador para e abre a porta no nosso altar, que é o décimo quinto.
- pode deixar, amiga. - dou um abraço rápido nela, que sai pelo corredor a caminho de seu apartamento. Procuro as chaves do meu em minha bolsa. Abro a porta e aspiro o cheiro que somente minha casa têm, o cheiro de lar. Deixo meu celular sob a mesa e vou até meu quarto. Subo o lance de escadas, arrastando a mala. Deixo a mesma no canto do cômodo, para depois desfaze-la. É melhor tomar um banho, né? Vou até o closet, escolho uma roupa de final de domingo e parto para o chuveiro. Nada melhor que um banho para aliviar o estresse de algumas horas de vôo. A água morna escorre por minha pele morena, trazendo a sensação de relaxamento. Fico por alguns segundos somente sentindo ela percorrer meu corpo... Porém, não é legal ficar gastando água por capricho, certo? O banho é tomado em 15 minutos, o que é mais do que suficiente. Desço até a sala de estar, afim de olhar as possíveis notificações em meu celular. O pego de cima da mesa e me dirijo até o sofá. Entro no whatsapp e há algumas mensagens, não tantas como achei que teria. Mensagens da minha mãe, da minha chefe, de alguns clientes... Aviso para minha mãe que cheguei bem, e ela prontamente visualiza.
- essa mulher vive no celular. - digo em voz alta para mim mesma, dando um leve sorriso. Abro as mensagens de minha chefe, informando que há um grande caso para mim.
- porra, hoje? - xingo aos ventos, após ler a mensagem de Jessica. Ela quer que eu vá na firma hoje, em pleno domingo, pegar os documentos do caso. Que sacanagem. Levanto irritada, indo em direção ao quarto novamente para colocar uma roupa apresentável. Escolho uma blusa branca de setin (?), uma calça jeans azul escuro e um salto branco. Desço novamente as escadas, pego meu celular, a bolsa, o óculos escuro e a chave do carro. E lá vou, rumo ao escritório mais renomado de advogacia do Brasil. Fica na Vila Olímpia também, o que facilita um pouco. Somente 5 minutos são necessários para que eu me encontre no estacionamento do prédio. Ando até o primeiro andar, na espectativa que Jessica tenha deixado os documentos com seu João.
- boa tarde, seu João. - cumprimeto o senhor, animada.
- Doutora Giovana? - ele pergunta, espantado.
- pois é... Dona Jessica Figueredo me fazendo vir hoje aqui. - respondo, respirando fundo.
- sacanagem. - ele diz, dando um sorriso de canto.
- me diz que ela deixou alguns documentos com o senhor? - pergunto, esperançosa.
- eu vou precisar procurar, porque não estive onde aqui. Maria passou um pouco mau e tive que cuidar dela.- o mais velho justifica-se.
- a Maria passou mau e ninguém me avisou de nada? - digo, indignada.
- você estava a quilômetros de distância, e não foi nada demais. - ele responde, virando-se para procurar os documentos. Seu João é o recepcionista do prédio, e dona Maria, que é sua esposa, é minha secretária e como uma mãe para mim.
- vocês são inacreditáveis. - respondo, sorrindo e balançando negativamente a cabeça. Me afasto um pouco para a esquerda do balcão, dando espaço para quem quiser pedir alguma informação ou algo do tipo.
- tem algo para você, mas não é da dona Jessica. - ele vira-se com um envelope na mão, colocando-o em cima do balcão. Pego o envelope e retiro os papéis. Reconheço que são de um outro caso e que só precisam ser assinados e devolvidos.
- me empresta a caneta? - pergunto ao velho, que me estende a caneta esferográfica preta.
- obrigada. - agradeço, dando-lhe um sorriso.
- Boa tarde. Eu preciso da chave do meu escritório do sétimo andar. Sou a doutora Marina Vacchiano, do direto criminal. - uma mulher alta, morena, cabelo até os ombros, vestida com uma blusa bufante vermelha e calça preta, sob um salto também preto, posiciona-se ao meu lado.
- boa tarde, doutora Marina. A dona Jessica avisou que a senhora viria. - João pega as chaves, entregando para a mulher.
- só preciso que assine aqui, comprovando que foi a senhora que retirou as chaves. - o senhor pedi para ela, colocando uma folha sob o balcão. Esse é o procedimento que fazemos quando pegamos as chaves do escritório pela primeira vez.
- o senhor tem uma caneta? - ela pergunta, gentilmente. Volto minha atenção para os documentos, terminando de assiná-los. Entrego a caneta para seu João.
- vou subir... - digo, colando os documentos novamente no envelope.
- você pode enviar os documentos para a Maria amanhã? Eu mesma levaria, mas você sabe como ela é. - digo, entregando o envelope para ele. Sinto que estamos sendo observados, mas tento agir naturalmente.
- eu conheço bem a peça. - ele diz, sorri e pega o envelope.
- é... - solto um singelo sorriso, esquivando devagar a mão pelo balcão. Ando até o elevador, clico no botão e espero o mesmo. São somente alguns segundos, já que hoje é domingo e está tudo tranquilo, para não dizer deserto. A porta se abre e dou os passos necessários, por fim aperto o botão para o sétimo andar.
- pode segurar, por favor? - hoje é meu dia de segurar os elevadores, só pode! Tranco a porta com o braço direito, e a figura que alguns segundos atrás estava ao meu lado, entra carregando um sorriso nos lábios. Um sorriso lindo, na verdade.


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• Olá!

• o próximo cap sai dependendo do engajamento. (Mentira, eu lanço daqui dois dias)

• se cuidem!

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