Capítulo 22 - Ron

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"Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado."
J. R. R. Tolkien 

-Preciso que me prometa que irá guardar segredo! 

-E eu preciso que o senhor entenda que eu não posso fazer isso! 

-Não só pode, como deve! Isso é sigilo entre médico e paciente, você não estaria quebrando o seu juramento se contasse a elas? - perguntou, com o olhar apreensivo. Ele não confiava totalmente que Ronald não diria nada à sua esposa e filha. 

-Porque está fazendo isso? - Ron pergunta, com medo da resposta. 

-Você não entenderia agora, meu jovem... Quando estiver casado e tiver filhos, tenho certeza que entenderá o motivo de eu estar fazendo isso!  

E então ele se foi três meses depois...

(...)

Ron era o sexto de sete irmãos. Não, não é nem um erro de digitação. Ele tinha 6 irmãos, sendo eles, 5 garotos e 1 garota. 

Nunca teve a sensação de estar em poucas pessoas ou ser o centro das atenções, mesmo que por uma vez. Ele sempre esteve rodeado de muita gente, principalmente gente ruiva. Sua mãe dizia que depois do terceiro filho, Percy, ela já não se chocava tanto com os fios ruivos nas cabeças das crianças. Aquela era a marca registrada dos Weasley. E certamente chamavam muita atenção, não só pelos fios ruivos, mas também pelas sete crianças.

Às vezes se sentia mal por não ter toda a atenção que queria, e se perguntava se Gina, sua irmã mais nova, sentia o mesmo que ele. Mas a resposta com certeza era não, ser a única menina no meio de seis garotos tinha lá suas vantagens. Então, esse tipo de conversa não era muito comum na casa dos Weasley, apelidada carinhosamente de Toca, já que ele enxergava que todos os seus irmãos lidavam muito bem com isso. 

Mas o sentimento de insegurança, a carência de atenção, eram um tanto presentes em seu coração…

Era possível ignorá-los. Na verdade, fazia isso muito mais do que pensava neles. Sua família era sua maior dádiva, e ele sempre pensou dessa forma, mesmo com todas as diferenças e problemas que poderiam surgir. Como as pegadinhas de Fred e George com todos, as broncas de sua mãe, as chatices de Percy e os intermináveis ensaios barulhentos da banda de Gui. Ainda sim, tudo funcionava, em uma não tão perfeita harmonia. Mas eram felizes acima de qualquer coisa. 

Quando seu pai faleceu, uma luz dentro daquela enorme casa se apagou. Ele sabia que não se reacenderia fácil, e nem mesmo queria, ninguém jamais poderia substituir Arthur Weasley. Ele era incrível. Aos olhos de Ron, era o melhor em todos os esportes, o mais inteligente, mais engraçado, o que resolvia contas de matemática em segundos quando Ron precisava e quem sempre o ajudava em projetos para as feiras de ciência na escola. Era ele quem contava as melhores histórias antes de dormir e sempre imitava as vozes dos personagens do jeito mais engraçado que conseguia, ele era o melhor pai do mundo. 

Ele tinha defeitos, não era perfeito como Ron o enxergava, mas ele não teve muito tempo para descobrir isso. Ron não teve a oportunidade de saber que o que seu pai mais queria dele era que ele fosse feliz, absurdamente feliz. 
Mas era o que seu filho mais novo queria, ser uma cópia perfeita de seu pai.

Ao chegar em casa após o velório de Arthur, Ron olhou nos olhos de toda a sua família. Estavam desolados, sem chão. A dor tinha se cravado em seus peitos e a única coisa que poderia trazer um pouco de conforto àquela família, era saber que seu pai já não sofria mais com sua doença. 

Mas foi olhando nos olhos de seus irmãos e de sua mãe, que Ron decidiu que faria o possível para suprir aquela dor. 

Ele, um garoto que tinha acabado de completar seus 15 anos, estava perdido. Achava que precisava ser exatamente igual ao seu pai para tirar a tristeza de todos. 

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