Problemas Familiares

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Acordo assustada ao ouvir gritos histéricos, xingamentos, tudo em exagero.

Até que percebo que são meus pais brigando.

Novamente.

Pulo da minha cama procurando meu celular na cômoda, são 4h da manhã.

Abro a porta e caminho pelo corredor do segundo andar lentamente para não notarem minha presença, então adentro o quarto da minha irmã mais nova, Megan.

Não me pergunte porque minha mãe colocou um nome gringo nela sendo brasileira.

Foco o olho direto na cama e vejo que ela está sentada descoberta, assustada com tudo.

Ela tem apenas 5 anos, ela não entende os motivos mas sabe que algo não está nenhum pouco certo e isso a assusta muito. Afinal, ouvir pessoas berrando, se xingando e barulho não é algo que se ouve todo dia não é? Não é coisa de um família com boa estrutura, quero dizer, toda família tem brigas mas sabem se resolver. Aqui é outra coisa, o negócio é complicado.

Qualquer criança se assustaria e saberia que algo não está nenhum pouco certo.

Eu até admiro demais a maturidade que Megan tem para uma criança, eu sei que não é certo mas eu ainda a considero e trato ela como um bebê. Ela precisa de mim.

Sempre que eles brigam, independente da hora que seja, independente se eu estou acordada ou não, eu levanto e vou para o quarto dela acalma-lá. Ela sempre está assustada, é como se tivesse apenas eu para protege-lá. E eu faria qualquer coisa por essa menina.

- Yaa... - ela começou a falar meu nome no momento que eu adentrei o quarto mas parou quando eu me sentei na cama e a puxei para de baixo do cobertor fazendo ela deitar comigo e a abracei.

No momento que eu a abracei ela grudou em peito e começou a chorar. Sempre que isso acontecia era de partir o coração, me despedaçava, me destruía inteira.

Eu perdia minhas forças vendo ela assim, mas sabia que tinha que recuperar por ela mesmo.

- Meg, tudo bem, fica calma... pode chorar. - a abracei mais e limpei suas lágrimas.

- Eu não estou chorando por eles... é por você. - ela disse enrolado com uma voz fofa de choro e sono.

- Por mim? - perguntei.

- Como vai ser quando você for embora? O que vai ser de mim? Você vai me deixar. - ela disse.

Menina esperta demais para a idade, isso torna as coisas complicadas. As vezes ela podia ser mais atrasada.

- Eu nunca vou te deixar pequena, mas eu preciso seguir minha vida... eu sempre vou voltar aqui em São Paulo para te ver, só por você. - disse acariciando seus cachinhos e seu rosto delicado como um anjo.

Como pode uma coisinha tão pequena e angelical sofrer tanto? Tudo poderia ser mais simples.

- Me promete uma coisa? - perguntei e ela assentiu. - Agora a separação deles seria a melhor coisa, eu sei que muitos filhos odeiam essa ideia mas é necessário, você tem que entender que vai ser melhor para todos. Mas enquanto esses papéis da separação não chegarem e você ouvir qualquer briga, quando você não se sentir bem aqui e eu não estiver para te proteger. Vá para a casa do vovó e da vovô, final da rua, você sabe ir, só prestar muita atenção na rua e principalmente com as pessoas. O vovô e a vovó sempre iram te proteger. E você sabe que pode ficar lá por dias que a mãe não se importa. Eles sempre irão cuidar muito bem de você. - completei mostrando o dedinho para uma promessa e ela o apertou e selou nossa promessa.

Então um barulho altíssimo de vidro quebrando me acordou dos pensamentos, do momento com a minha pequena.

Levantei a cabeça assustada pensando o que poderia ter sido. Era lá embaixo.

Unpredictable (Justin Foley)Onde histórias criam vida. Descubra agora