capítulo 1

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Any

- Estou te falando, Any, o vibrador é SEN-SA-CIO-NAL.

Apresento-lhes Savannah Clarke, minha melhor amiga. Ela é leal,
engraçada, sagaz e absolutamente indiscreta quando o assunto é sexo.

Todo mundo tem defeito...

O Sr. Jones, um dos meus clientes mais assíduos, caminha até mim
com um sorriso cordial. Sorrio de volta, mas sinto minhas bochechas
queimarem.
Eu sei que ele não pode ouvir à conversa, ainda assim, sinto-me
mal por estar falando desses temas na presença de um homem que tem
idade para ter participado da Segunda Guerra Mundial.

Abaixo o som do celular, apenas como garantia para o Sr. Jones não ouvir os gritos de Savannah sobre as maravilhas de seu novo brinquedo sexual, registro o livro que ele selecionou e passo o cartão de crédito dele.
- Espero vê-lo novamente na semana que vem, Sr. Jones - desejo ao lhe entregar o saco de papel com seu livro e a nota fiscal. - Aquela edição rara de Shakespeare que o senhor vem nos pedindo vai finalmente
chegar.

Atualmente, estou à frente da livraria da minha mãe. É
especializada em edições raras, e fica no andar térreo da casa triplex da
família em Notting Hill, Londres. Isso mesmo: eu vivo na mesma quadra
que o Hugh Grant do filme.

Mamãe jamais imaginaria que um filme de Hollywood seria capaz
de transformar sua pequena livraria em uma das mais conceituadas da
cidade.
Somos pequenos, eu praticamente me mato todos os dias
trabalhando aqui, mas amo o que faço. Comecei aos sete anos, e, desde
então, sou apaixonada por livros.
Quando consegui uma bolsa para Oxford, não pensei duas vezes: eu
me formei em Literatura Inglesa e fiz um mestrado na mesma área.

- Obrigado, querida - O Sr. Jones agradece e leva uma
eternidade caminhando até a saída.

Na primeira vez que ele veio nos visitar, uns cinco anos atrás,
mamãe tentou acompanhá-lo até a porta. Ele soltou um grunhido irritado e
disse a ela que já tinha vivido oitenta e sete anos sem precisar da ajuda de
ninguém para caminhar.
Nunca mais o acompanhamos até a porta.

- Um ótimo fim de semana, Sr. Jones.

- Para você também, Any.

Viro-me de costas, para tentar abafar minha vontade de ajudá-lo, e
começo a organizar os livros na prateleira. Longos segundos mais tarde, ouço o sino da porta tocar, indicando que ele conseguiu, enfim, sair da loja.

Vou vai trabalhar que nem uma louca amanhã. A maior parte dos
nossos clientes vem nos finais de semana. Durante a semana, apenas alguns habituais que curtem o silêncio da livraria.
Aos sábados, costumamos fazer um pequeno leilão para meia dúzia de livros raros. Eles passam a semana inteira expostos em nossa vitrine, com informações sobre a data de publicação, a edição, dados sobre o autor
e a estória.

Foi ideia de mamãe, e foi genial. Sempre lotamos. Turistas
também adoram a ocasião. Além disso, vendemos essa meia dúzia de livros com margens que pagam quase todos os gastos da livraria.

- Está prestando atenção no que digo, Any Gabrielly?

Queria poder não prestar atenção. Ela continua me explicando, em
detalhes, como se divertiu na noite passada com seu novo brinquedo
favorito.

- Um segundo, deixa eu te colocar no viva voz agora que estou sozinha.

Coloco o celular sobre o aparador que fica atrás do balcão e
começo a limpar as prateleiras acima dele, onde deixamos expostos livros
de mamãe que ela se recusa a vender.
Enquanto isso, Savannah continua tagarelando sobre as vantagens de seu vibrador.

Vizinho Proibido || 𝗰𝗼𝗻𝗰𝗹𝘂𝗶́𝗱𝗼 [✓] Onde histórias criam vida. Descubra agora