essa é uma carta diferente. é uma carta que eu escrevo para (absolutamente) ninguém e que eu espero que ninguém precise se identificar com o que quer que seja dito aqui.
às vezes, a vida é difícil, certo? todo mundo tem consciência disso. a vida é feita de altos e baixos e você só tem que aguentar firme nos momentos mais baixos. faz um tempo que eu tenho vivido momentos baixos e eu acho que uma das piores partes, além de você estar praticamente se afogando em terra firme e que é a mais óbvia, é que você precisa fingir que tá tudo bem. você precisa continuar trabalhando como se nada estivesse acontecendo, você precisa continuar seus estudos, você não quer preocupar os seus familiares, então você sorri e finge que escuta tudo o que eles dizem enquanto sua mente vagueia sabe-se lá pra onde.
não é que você não queira escutar, você só não tem foco e memória o suficiente pra manter uma conversa completa e lembrar de tudo depois. não é que você não confie nos seus amigos pra contar como você se sente. você sabe que ainda que alguns deles não entendam por completo, eles vão te dar o suporte que eles conseguirem oferecer naquele momento, já que todo mundo tem seus próprios problemas pra lidar.
eu tenho pensado muito sobre isso. sobre fingir. sobre como realmente me sinto. o medo de me acharem uma pessoa negativa ou algo do tipo sempre foi muito grande. eu sempre quis ser vista como a pessoa divertida e engraçada. me deixa feliz fazer com que as pessoas ao meu redor estejam felizes e rindo de qualquer coisa que eu faça.
mas eu to cansada. acho que não tenho sido eu mesma em muitas coisas. sinto que eu tinha um plano A pra minha vida e agora simplesmente parece que eu to no plano Z.
muito pouco é como eu gostaria que fosse. tudo que sei é que tenho sorte de ter minha família e pelas amigas que fiz. frequentemente eu queria voltar no tempo e fazer várias coisas de forma diferente. sendo isso impossível, vivo constantemente frustrada, correr atrás do prejuízo exige um esforço descomunal que eu estaria disposta a fazer se eu não precisasse continuar trabalhando e estudando e vários outros planos Z.
então, eu tomei uma decisão. a decisão de, já que não posso fazer o que eu realmente quero, pelo menos vou tentar ser mais fiel a quem eu realmente sou. mas é difícil essa coisa de ser você mesmo, não é? pra mim é muito difícil.
de qualquer forma, é uma coisa nova que eu vou tentar e ver se funciona. se me traz algum alívio ou se só me causa mais angústia. tudo que eu sei é que eu gostaria de ver as pessoas falando mais abertamente sobre o que elas enfrentam e seus conflitos internos. entendo que seja difícil para alguns, pra mim também foi por um bom tempo.
acho que finalmente entendi que meu TOC, minha fobia social, minha ansiedade e, especialmente nesse momento, minha depressão, não são quem eu sou por inteiro, mas fazem parte de mim e em todo lugar que eu for, eu vou ter que carregá-los comigo, não importa o quão pesada a bagagem esteja.
acho que, aos poucos, começo a entender que existem outras partes de mim que são alegres, divertidas e engraçadas e que podem trazer felicidade a minha família e as minhas amigas, mas que tudo bem não ser assim o tempo todo.
sofrer de transtornos psicológicos é um fardo e não falar sobre eles, na minha concepção, é um fardo ainda maior. é esconder uma parte de você, porque tudo isso afeta diretamente a sua vida, os seus sonhos e as suas relações. deixar as pessoas saberem que você está passando por momentos baixos, talvez salve a sua vida. eu sei que, por hoje, salvou a minha.
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cartas para (absolutamente) ninguém
De TodoUma pobre coitada escrevendo cartas para ninguém, porém há controvérsias. P.s.: qualquer semelhança com a realidade pode ou pode não ser mera coincidência, não importa, ninguém liga.