᯽ CAPÍTULO 1 ᯽

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  Eu nunca encontrei felicidade, nunca encontrei um lugar onde eu me sentisse em casa, nunca tive alguém que me abraçasse nos momentos em que mais precise e eu não culpo ninguém por isso. A última coisa que eu quero é que alguém sinta pena de mim, “ coitadinha, vive sozinha” acho que isso não é problema de ninguém.
 
  Meus pais morreram. Antes de toda essa desgraça acontecer, eu era a melhor na faculdade de direito e adivinha só?! Eu larguei a faculdade quando elas se foram. Eu amava estudar, mas eu não tenho mais motivos para querer fazer isso. Eu sou a jovem rica e sem nenhum pingo de juízo, me tornei a pessoa que eu mais temia e criticava. Uma pessoa solitária e vazia.

   — Me traz um café bem forte, por favor?   — a minha cabeça podia explodir a qualquer momento.

  A governanta da minha casa ficou como a única pessoa que eu confio, ela cuidou de mim até mesmo quando eu tinha os meus pais e ainda continua aqui junto comigo, uma segunda mãe pra mim. Ela tem a aparência e o jeito tão doce que as veze eu sinto ódio dela por isso, consegue controlar exatamente tudo, deve ter mais ou menos 40 anos, eu nunca perguntei a idade dela. É o que chamamos de uma coroa bem conservada, com fios brancos perdidos no meio dos fios castanhos escuros que domina a maior parte de seu coro cabeludo.
 
    — Você sabe que dia é hoje?   — disse ela me entregando uma xicara bem cheia de café.
    — Claro que sei, hoje é o dia da festa da vizinha.   — dei o primeiro gole naquele liquido quente e forte que desceu pela minha garganta como se tivesse levando toda a ressaca junto.
    — Também. Mas hoje, é dia 20 de abril, hoje faz um ano que eles se foram.   — ela passou a mão pelo os meus cabelos como se quisesse me consolar.

É claro que eu sei, jamais esqueceria desse dia. Apenas com o meu silêncio ela viu que eu precisava ficar sozinha, se retirou com toda a sua elegância e bondade. No momento em que eu dei o segundo gole no café, eu fechei os olhos e me permite ter as melhores lembranças, minha mente parece ter buscado até mesmo a primeira vez que eu abri os olhos e os vi. No meio de tantos pensamentos, eu podia sentir a lagrima quente escorrendo dos olhos para  a minha  bochecha, isso é uma dor que não passa nunca parece até mesmo um tipo de tortura do qual você aprende a conviver.

                                                            ♥

  É dia difícil mas a vida não para. Me dei algumas horas de chora de saudade, mas eu tinha que me distrair naquele momento. Enquanto me produzia pra ir ao shopping e gastar com roupas que talvez eu nunca use, convoquei a minha amiga de sempre e ela não demorou nadinha pra chegar.

    — Pensei que eu nem fosse te ver hoje.   — disse ela encostada na porta do meu quarto me aguardando.
    — Bom, você pensou errado. E aí, essa roupa esta boa?  

   Eu sabia que estava, mas queria uma segunda opinião. Uma calça social bem colada no meio corpo, um sutiã de renda caríssimo que eu preferia usá-lo mais como cropped e pra completar um blazer na mesma cor que a calça, era um conjunto que havia comprado em algum lugar por aí, só não nunca tinha usado e eu posso dizer que eu fique um pecado dentro dessa roupa. Meus cabelos pintados de ruivo estavam soltos e eu nunca gostei de muita maquiagem, o básico já ajudava o meu rosto se destacar ainda mais, em todos os meus looks do dia, só não podia faltar um bom sapato caro pra me deixar ainda mais com cara de ‘ pessoa com futuro’.

    — Ta maravilhosa, vamos?   — peguei apenas o meu celular e a chave do meu carro.
    — Hoje eu quero só comer muito hamburguer e batata frita e comprar a roupa mais incrível que eu consegui pra festa da vizinha.
    — Ah, verdade. Então hoje você vai ficar numa dessas festas bem chatas, com música clássica e pessoas com taça de champanhe a noite toda?   — ela é sempre muito debochada e é o que faz a gente da certo.
     — Sim e você vai comigo! Fiquei sabendo que tem muito homem de terno de musculoso por lá, do tipo que a gente seduz, usa e depois que eles descobrem o nosso lado obscuro, saem correndo.   — ela riu do que eu disse.

   Quando me distrai para aumentar o volume do som do carro, que começou a tocar Without Me da Halsey, essa é a minha música, o filme da minha vida passa tocando ela. Assim que voltei a atenção pro trânsito vi os diversos cones espalhados pela pista e adivinha só?!! Caímos numa blitz ou sei lá o que eles estavam fazendo, reduzi a velocidade e segui firme, tentando parecer a mais séria possível, quando chegou a minha vez que passar pelo os policiais que estavam todos armados, fizeram sinal para que eu encostasse:

    — E agora? Sua carteira de habilitação não foi presa?   — eu apenas respirei fundo.
    — Olha, vamos das um jeito ok? Só faz o que eles pedirem e pronto.
      — Ok, doutora.

Parei o carro onde pediram e sabe o que é mais gostoso que homens de terno? Policias fardados, se a farda for toda preta como desse policial que esta se aproximando do carro, se tiver o mesmo olhar de homem que te arregaça na cama, é melhor ainda. Coloquei um sorriso simpático no rosto e entreguei dos documentos dos carros, pelo menos isso eu tinha certeza que estava tudo certo. O homem se manteve com o mesmo semblante sério e depois que abriu os documentos, voltou os olhos pra mim e me olhou por mais ou menos dois segundo até:

    — As senhoritas podem sair do veículo pra fazermos uma revista, por favor?   — a voz dele tinha um grave que eu podia imaginar ele falando o meu nome a noite toda.
    — Sim, senhor.

  Minha voz saiu tão calma e... sexy, eu diria. Fizemos o que eles pediram e quando estavamos descendo, um policial ficou por conta da Ana, minha amiga e eu fiquei com o gostosão.

    — Mão na cabeça, por favor. Vou revista a senhora.   — disse onde me olhando daquele mesmo jeito e eu estava tão perdida olhando pra ele, o provocando, que foi necessário que ele me lembrasse mais uma vez.   — Senhorita, mãos na cabeça, por gentileza.

  Eu ri, mas fiz o que ele me pediu, coloquei as minhas mãos sobre a cabeça e ele começou a passar a mão pelo meu corpo para me revistar:

    — Pelo o que eu me lembro das minhas aulas de direito, eu podia exigir ser revistada por uma policial mulher, mas você com certeza tem liberdade pra fazer isso.
    — Vira de costas, por favor senhora e abra os braços na horizontal.   — mais uma vez fiz o que ele pediu, a diferença é que agora a mão dele parecia estar um pouco mais firma sobre o meu corpo.
    — Me pareço com a criminosa que esta procurando?   — ele terminou e me virei pra olhá-lo mais um pouco.
    — A senhorita não, mas o seu carro se parece muito com um que estamos procurando.
    — Bom podem fica à vontade. E tira o senhorita, pode me chamar de  Jasmine.
    — Senhorita Jasmine, carteira de motorista, por favor.
Merda.
    — Eu esqueci em casa, a minha bolsa ficou em casa.
    — Sem problemas, vamos puxar no sistema.   — disse ele como quem queria me ferrar    — Capitão, chega aqui!!   — gritou de um jeito que fez com que eu me assustasse.  

  O cara que se aproximou da gente estava com um tablet na mão, ele deu o meu nome e sobrenome pra ele e naquele momento eu só queria que aquela porcaria explodisse na cara deles. Ana foi colocada do meu lado e ela sempre foi a mais medrosa, ficou choramingando no meu ouvido, o que me matou mesmo foi que o cara riu quando abriu a minha foto e leu as minhas informações:

    — Olha, com essa carinha ninguém diz que tem uma ficha tão extensa.   — ele estava praticamente debochando de mim   — Senhorita Jasmine, eu vou se forçado a fazer o recolhimento do seu veículo e a senhorita vai ter mais problemas com a sua carteira de motorista, sabia muito bem que não podia estar dirigindo.
    — Pode levar, é só um dos três que tenho na garagem.
    — Isso não me interessa, se eu te ve dirigindo mais uma vez, eu te levo em cana.
    — Por motivo, Tenente... Parker?   — li rapidamente o nome que estava pregado em sua farda.
    — Posso inventar muitos, desacato seria o primeiro deles.   —  esse cara estava desafiando a minha paciência, antes que eu pudesse responder, Ana segurou o meu braço pedindo que eu mante-se a calma.
    — Ok, estou liberada?
    — Esta sim, senhora!

   Ele me deu a documentação do carro e eu sai andando, eu tinha o direito de chamar alguém habilitado pra tirar o meu carro, mas se eu ficasse ali por mais um minuto, eu seria capaz de estrangular esse policial e ai sim eu seria presa com motivo.

UM AMOR FORA DA LEIOnde histórias criam vida. Descubra agora