᯽ CAPÍTULO 3 ᯽

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   Quando eu fazia faculdade os meus colegas costumavam dizer que eu tinha cara de problema, mas na verdade naquela época até que eu era tranquila, nesse último ano que eu fui entender o quanto a minha beleza e o meu jeito tinha poder. Não é o jeito mais honesto de conseguir as coisas, mas me ajudou bastante.

  Eu entrei no banheiro e antes que eu fechasse a porta por completo, a mesma foi empurrada com uma força e rapidez bem precisa. Dei alguns passos pra trás até que sentisse minhas costas serem coladas sobre o azulejo caro e frio daquele banheiro. Um homem como esse eu não podia deixar de dar pelo menos um beijo, e que beijo.

  Os nossos lábios pareciam estar numa sincronia perfeita, não havia nada de errado, não havia um momento em que não fizesse o encaixe perfeito entre nossas línguas e os lábios, o sabor de whisky e pecado entre aquele beijo me enlouquecia.  A mão destra dela foi diretamente pra minha cintura e ele fazia questão de puxar o meu corpo pra ainda mais perto do dele, o suficiente pra que sentisse que ele estava com tanto desejo quanto eu e a canhota foi até a minha nuca onde seus dedos se entrelaçaram sobre alguns fios do meu cabelo. A pegada, o beijo, a química, tudo tão perfeito que eu era incapaz de explicar. Antes mesmo que as coisas mudassem pra uma situação em que a gente perdesse as roupas, o ritmo do beijo foi diminuindo até que fosse dado um selinho pra encerrar. Eu abri os meus olhos e ele estava me olhando, por um breve momento, o polegar dele passou sobre a minha bochecha de uma maneira que eu posso considerar carinhosa:

   — Você é problema... — disse ele até um pouco ofegante e eu não pude evitar o sorriso convencido que foi colocado em meu rosto.
  — Pois é, tenente. E você não parece ser do tipo de pessoa que foge de problemas. — ele riu e se afastou de mim.
  — Não, eu não fujo de problemas. Muito pelo contrário, eu gosto de enfrentar cada um deles. — ele piscou pra mim e se retirou.

  Saiu dali num segundo, me deixando sozinha dentro do banheiro. Me deparei com a imagem de uma pessoa que acabou de passar por uma prova de fogo sobre o espelho, lembro do meu batom vermelho? Acho que ficou todinho nele, aqui só ficou os vestígios.

  Como diria a minha mãe, “ ajeita esse cabelo e volta pra lá” foi o que eu fiz. Voltei pra festa e eu não o vi mais. A única pessoa que eu encontrei de novo foi a Ana e aproveitamos que a festa estava no auge da chatice pra sair dali com o playboy que ela havia arrumado e segundo ele, havia um lugar melhor pra levar a gente e fomos. Eu queria mesmo deixar de pensar no beijo do policial por um tempo, isso nunca tinha acontecido comigo, nunca senti tanta vontade de continuar beijando alguém como senti com ele.

  — Toma, amiga! — me surge a Ana com uma garrafa de cerveja na minha direção e é claro que eu não vou negar.
  — Onde você arrumou? — questionei porque ainda estávamos dentro do carro.
  — Ele trouxe algumas que pegou da geladeira da sua vizinha.
  — Louco! Mas obrigada! — dei o primeiro gole e só entreguei a noite a vida.

   Essa pode ser a primeira noite que eu penso em uma outra pessoa além dos meus pais, eu nem se quer acreditava que alguém podia mexer com outra pessoa tanto assim, não estou dizendo que estou apaixonada, é só que nunca aconteceu antes, é um sentimento que eu nunca senti, mas ainda não está num nível que eu passe a morrer por ele.

  A festa que o cara levou a gente estava insuportável, eu preferia ficar onde estava. A Ana também não curtiu muito e somos o tipo de amiga que se comunica apenas pelo olhar. Meio que damos um sumiço no cara e pegamos um uber pra casa:

  — Me conta o que está te perturbando tanto. — ela me conhecia bem.
  — Um certo policial.
  — Vocês ficaram? Oh Meu Deus! Você está apaixonada! — dei uma risada bem alta e debochada.
  — Surtou né, garota?!! Não! Isso não! — suspirei e busquei por palavras para explicar. — Ele me beijou dentro do banheiro, descobrir que ele é irmão da Helena e esta morando na casa dela por um tempo. E você sabia que a Helena esta grávida? Na verdade ela está quase ganhando, quanto tempo eu passei longe de casa??
  — Bom, pelo o que eu me lembro, você só não é muito sociável. Tipo, não conversa muito com as pessoas nos últimos meses. — ela estava certa e eu odeio assumir isso.
  — É muita informação para um único dia.
  — Acho que você precisa de um tempo pra você. Já parou pra pensar que você ainda não se deu um tempo de sofrer? De descansar ou se recuperar? — eu me calei por um tempo e fiquei olhando as luzes dos postes que passávamos sobre a janela do carro.
  — Eu tô bem, ok?
  — Você diz isso sempre, mas sabe que precisa desse descanso.

  Não tinha muito o que dizer, ela me acompanhou durante todo esse tempo e sabe melhor do que ninguém o quanto eu descontei o meu luto em festas e bebida. Eu quero me dar esse descanso e eu vou fazer isso, a minha mente tem muita coisa em atraso pra processar. 

 

UM AMOR FORA DA LEIOnde histórias criam vida. Descubra agora