A Maldição do Amor

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   O vestido verde ficou seco e Jullit não tardou em vesti-lo

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   O vestido verde ficou seco e Jullit não tardou em vesti-lo. Quando o fez, sentiu o olhar de Katie nas suas costas. Parecia que ela sempre a observava, não importava o que estivesse fazendo.
    — O clima não está adequado para seu retorno ainda, minha querida.
    O tom, a maneira como a mulher que vivia solitária no topo da montanha tratava a jarl da família Sture era inesperado. Dirigia-se à jovem como se ela fosse uma qualquer, e de tudo, Jullit até que gostava disso, pois assim ela também podia ser informal e se preocupar menos com as próprias palavras.
    — E quem lhe disse que planejo retornar?
    Novamente aquele sorriso. Jullit ficou tentada em perguntar o porquê dos seus caninos serem tão protuberantes, deixando de lado quando Katie se aproximou, agachando aos seus pés e pegando em ambas as batatas de sua perna. Arrepiou tudo que tinha para arrepiar, inclusive a alma.
    — Então quer dizer que vai alongar sua estadia na minha humilde residência? — Soou bastante duvidoso suas intenções e tentou amenizá-las mudando o curso de suas mãos para a botinha de Jullit, a qual estava desafivelada. — Se for ficar por aqui, terá de me ajudar a buscar comida, mas, se decidir que sua vida vale menos que a vida de um anão — ajeitou a bota dela, subindo em linha reta, parando seu nariz a milímetros da testa da jarl —, então ao menos trate de garantir que os sapatos não a atrapalhem.
    E assim, afastou-se, pegando uma cobertura para si e estendendo outra para Jullit, que ainda se encontrava refletindo sobre a questão de estar presa com Katie até a neve derreter o suficiente para ela aguentar a caminhada em qualquer direção — voltar para sua aldeia realmente não passou na sua cabeça. Provavelmente nem iriam querer ela de volta e se aceitassem, o destino cruel com Björn se concretizaria. Dentre as opções que possuía, ficar era a única que não lhe traria prejuízos, ou ao menos foi o que pensou.
    — Vamos buscar suas frutinhas? — Katie a incentivou, balançando o casaco e, quando as mãos dela alcançaram o tecido, deu uma puxadinha rápida. — Ande, pegue logo para partirmos — fingindo uma impaciência adorável, Katie provoca em Jullit um pequeno borbulhar na boca do estômago. Na sua segunda tentativa ela consegue tomar-lhe o casaco e vestir sem pressa. Não percebeu, mas o rosto de McGrath rejuvenesceu assim que observou que Jullit ia na sua frente, sem medo da nevasca e dela.

[...]

    Uma rotina fora estabelecida. Acordar, comer, banhar, trocar a atadura, ouvir uma história sobre a garota de olhos multicolor e todos os deuses com os quais já teve contato enquanto conferiam se algum coelhinho ou corça tinha caído em uma das armadilhas armadas por Katie. Jullit tinha a tarefa de colher as amoras — seu trabalho foi bastante facilitado pelas fitinhas amarelas previamente amarradas nos pés. Quando elas se afastavam, a jovem incomodava-se com o frio, com a solidão, coisas estas que estavam presentes o tempo inteiro, mas que sumiam com a presença daquela mulher misteriosa.
    Foram semanas de mesmísses, com Katherine tentando a entreter com o jogo do futuro das runas, o seu próprio passado repleto de desventuras e cuidando de seu ferimento, agora praticamente sarado. Sture sentia que se sua vida fosse reduzida àquilo, a dormir perto de uma desconhecida e descobrir que cada vez mais quer conhecê-la à fundo, não seria nenhum pouco ruim. Imaginar-se no topo da montanha, vivendo com um ser sobrenatural que assumia a forma da mais pura sensualidade feminina deixava a mente dela caótica. A mulher nem idade definitiva tinha, entretanto tirava pela aparência uns trinta e bons oito anos.
    O ar de esperteza que rondava McGrath maravilhava a jovem, que não tinha como parar de se impressionar com tantas lições aprendidas naqueles séculos todos. Cada palavra que saia de sua boca, Jullit absorvia, pois passou a se importar além do normal com as ideias descritas por Katie.
    Um evento interessante mesmo era o banho. Aquele costume banal tornara-se uma grande questão para Jullit. Alegou que gostaria de privacidade e recebia a mesma resposta toda vez: "Para economizar água, nós duas temos que usar juntas a pequena banheira. Confie em mim.". E ela confiou, oras, como não? Até o presente momento, nada lhe deu motivo para desconfiar. Mas o inconsciente experimentava resquícios de uma luta interna envolvendo o grande desejo que assola mais da metade, senão a humanidade inteira.
    Os toques, a ponta dos dedos e as unhas da mulher zelavam pela pele branquinha, jogando água nos seus ombros e fazendo escorrer como um percurso fino de rio por suas fendas íntimas. O abdome e a lombar, eram quando os paninhos  molhados na água fervente passavam ali que perdia um pouco do bom senso, querendo que fossem além. Enganava a si mesma dizendo que McGrath era como uma thrall, que estava ali para a servir, contudo aquilo não vingava. Então o que ela é? Uma conhecida? Um pouco mais, uma amiga? Também não parecia certo taxá-la assim. O que Katherine verdadeiramente significa para a confusa Sture? De maldição já bastava o título de jarl, então esperava que ela fosse uma espécie de dádiva e que a guiasse e fizesse viver do jeito que merecia viver.
    — Você é linda, Júlia — disse Katie baixinho enquanto secava com uma toalha os cabelos ainda molhados de Jullit. — É a humana mais bela e corajosa que já tive o prazer de tocar os fios marrom-avermelhados. Arrisco dizer que está à frente do seu tempo, acima de todo esse patriarcado ridículo. — Virou-a. A mulher era poucos centímetros maior, o suficiente para que tivesse que baixar o queixo para encará-la nos olhos. Puxa, como de repente se tornou fácil manter as pupilas diretamente direcionadas uma na outra!
    — Estão azuis — a Sture nota e rapidamente Katie se afasta, mordendo os lábios como se se lamentasse por algo. — Tens certeza de que me quer aqui? — perguntou num suspiro, não realmente querendo que alguma palavra fosse dita à respeito.
    — Absoluta certeza — a resposta na ponta da língua. — Esse meu descontrole é anormal, admito. Com todos esses anos, aprendi a me comportar e me segurar, mas... — o azul cobalto perdura nos lábios de Jullit, que enrubesce instantaneamente. "Mas", o quê?, Jullit estava louca para saber. Infelizmente o discurso foi mudado. — Vou me vestir e sair para caçar. Preciso espairecer um pouco.
    Sendo assim, caminha até o quarto e bota suas vestimentas, tendo um trabalho extra com os longos fios escuros grudados na nuca. Jullit privilegiadamente obteve a visão de costas malhadas com gotículas d'água escorrendo.
    Sture não ficou satisfeita. Se os olhos dela pudessem mudar de cor também, ficariam tão densamente azuis que Nótt, a personificação da noite, viria tirar satisfação sobre alguém estar roubando a cor de seu céu noturno. Talvez a fúria contida tenha algo a ver com a overdose de contos sobre a vættir que a fizeram ter pesadelos nos últimos dias. Nenhum deles nunca realmente chegara nem perto de acontecer na vida real, mas continuavam vívidos na sua imaginação. Não obstante, o veneno pingado no seu cérebro se espalhou até que ela não aguentara e começara a expelir.
    — Quer dizer que vai ser assim? — pronunciara numa exaltação que fez Katie a encarar, o nariz empinado sem se deixar abalar com o que quer que seja. — Toda vez que estivermos perto tu e teus olhos irão me transferir a culpa de ser sua presa ideal? Por que então não me tomara a vida quando estava prestes a congelar lá fora? Por que me trouxeste para tua casa?  — Farta, aproximou-se de Katie que, mesmo acostumada a vê-la nua depois do banho, desviara o olhar. — És divertido me manter em tuas mãos assim? Isso lhe entretém? Sou teu coelho de estimação, não é? Quando pretende me matar? Quando estiver dormindo?
    — Que mundo de baboseiras são essas que está dizendo, Júlia? — juntou as sobrancelhas, pronunciando as palavras de cada vez.
    — Pelo amor de Odin, Katie! O que tu queres de mim?
    — Quando eu voltar, nós duas conversamos — ríspida, calçou as botas e caminhou pesado para a saída.
    — Quanto tempo vai levar para que tu retornes? Ontem lhe esperei por longas quatro horas e achei que tinhas me abandonado. Katie, por favor! Não vire as costas para mim! — Na ação de apertar firme o pulso, Katie arregalou os olhos, o que foi assaz ameaçador para a fazer largar e se retrair.
    — Nunca mais me toque dessa forma, está me ouvindo, Sture? — rosnou serena, uma atitude apavorante. — Gosto muito de você para me deixar ser consumida pela minha abarcia, então me dê espaço para que evitemos outro acidente sangrento.
    Jullit saiu do caminho dando dois passinhos minúsculos para o lado e, antes de Katie abrir a porta, pegou a jovem pela coluna — o couro da luva posta no centro da musculatura causando uma sensação muito boa, quase prazerosa —, prensando-a contra a madeira e fungou forte no seu cangote desprotegido.
    — Não precisa temer minha ida, pois sempre voltarei para tê-la em meus braços — sussurrou rente ao ouvido dela, respirando fundo duas vezes antes de a soltar e ir embora.

❝𝐅𝐫𝐢𝐚 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐅𝐨𝐠𝐨⚢❞Onde histórias criam vida. Descubra agora