Lady Dimitrescu

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Sabem a primeira oneshot? Resolvi adaptar uma história minha pra vocês saberem como elas se conheceram, então espero que gostem!

Capítulo especial pra Gaby, pra melhorar seu dia ❤️❤️ você é extremamente talentosa e merece o mundo!

Boa leitura, espero que vocês gostem!

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Quando Ella Lancaster desceu na estação de trem aquela tarde ela não sabia o que esperar do futuro, nem mesmo tinha certeza se fizera a escolha certa e se voltaria a ver sua família em um futuro próximo; não havia nada que a prendesse em Bucov, uma cidadezinha esquecida no coração da Romênia, nada que a fizesse realmente desejar ficar. Sua mãe morrera quando ainda era muito jovem e jamais se dera bem com o pai, tampouco com o madrasta, e assim só restava-lhes os irmãos mais novos a quem realmente queria bem; sabia que o pai esperava forçar um casamento com alguém capaz de ajudar a família, seria capaz de trocar a própria filha por um montante em dinheiro, mas Ella não deixaria que isso acontecesse.

Mas Ella não se via aceitando um casamento, um compromisso que duraria pela eternidade aos olhos de Deus, sem estar completa e irremediavelmente apaixonada.

Tolice, apenas sonhos de uma menina ingênua. Esse foi o argumento de sua madrasta, reforçando que as filhas do vizinho pareciam muito felizes em seus casamentos arranjados; no entanto, a diferença é que suas elas amavam seus pretendentes e Ella não amava ninguém.

Tudo isso a fez aceitar a vaga de emprego anunciada no jornal semanal da cidade, o anúncio dizia simplesmente que procuravam uma jovem mulher bem educada para servir de dama de companhia noturna para uma Lady Dimitrescu, uma condessa, a proposta de salário chegou alguns dias depois e Ella não podia acreditar na sorte que tivera; ela receberia um bom salário, além de poder morar na casa, e pagariam as despesas da viagem.

Assim, Ella Lancaster embarcou na maior aventura de sua breve vida.

Pegou o trem pra Brasov e se surpreendeu ao descer, havia muitas pessoas na estação, homens e mulheres iam e vinham, crianças riam e choravam; eram sons e pessoas de todos os tipos, tão diferentes daquelas que estava acostumada a ver em Bucov! Dali embarcou em um novo trem que a levaria ainda mais para o interior, onde após horas de viagem desceu em uma mini estação que parecia abandonada no meio do nada; outros passageiros desceram e seguiram seu caminho, mas um rapaz foi gentil o suficiente para ajudá-la com a mala.

Uma jovem de aparência assustada olhava de um lado para o outro como se tentasse identificar alguém, e Ella achou por bem terminar com o martírio da pobre desconhecido que a aguardava. Acenou para a jovem em um gesto que sua madrasta desaprovaria por não ser educado e discreto o bastante, mas desconhecida parecia tão tímida e perdida que ignorou o fato de Ella ser a única jovem parada no meio a estação ao lado de um malão.

- Com licença, deve ser a Srta. Lancaster – ele se aproximou ajeitando os óculos em um gesto nervoso – Eu sou Stella Constantin, estou aqui para levá-la ao Castelo Dimitrescu.

- Castelo?

Ella não havia sido informada sobre um castelo.

- Sim... A Srta. não sabia?

- Ah, desculpe-me! Que falta de educação a minha – estendeu a mão em direção a Stella que a aceitou - É um prazer conhecê-la, Srta. Constantin.

- Pode me chamar de Stella, todos me chamam assim. Exceto meus pais, que ainda me chamam de... Deixa pra lá – Stella corou – É melhor irmos logo, a Srta. deve estar cansada.

- Eu a chamo de Stella, se me chamar de Ella. E sim, gostaria de ir agora, por favor.

- Tudo vai ser explicado quando chegarmos lá, tenho certeza que vai adorar o lugar.

Durante sua jornada Ella não tinha certeza do que esperar, talvez um casarão antigo em um lugar remoto com uma condessa reclusa e austera, mas com certeza não esperava um castelo. Bom, era tarde demais para desistir. Stella pegou seu malão com alguma dificuldade e Ella a ajudou, sentiu um pouco de pena da pobre jovem ainda que tenha se divertido um pouco com suas caretas. Observou que a jovem era baixa se comparada à sua altura, mas parecia forte, e seus cabelos escuros estavam presos à um rabo de cavalo no alto da cabeça o que, em conjunto com suas sardas, lhe davam uma aparência de menina.

O passeio de carruagem foi agradável e a paisagem era mais bonita do que ela imaginou a princípio, eles deixaram a cidade para trás e o sol do verão refulgia nas folhas e nas águas cristalinas de um lago. Era como entrar em um dos livros de fantasia que lia quando criança, ou talvez aqueles de aventura escondidos no fundo do malão; sua madrasta sempre dizia que ela devia ler livros mais adequados para a sua idade ou nenhum, já que era uma perda de tempo, mas Ella sempre dava um jeito de conseguir algo para ler.

Quando o castelo Dimitrescu entrou em seu campo de visão, definitivamente não era nada do que Ella esperava; para começar era enorme, imponente, feito de pedras escuras exatamente como devia ser em um livro de fantasia, assim que cruzaram os portões notou que os jardins eram bem cuidados, cheios de arbustos floridos nas mais variadas cores e, bem no centro, havia uma fonte com a estátua de uma mulher nua.

- Uau – Ella suspirou ao aceitar a mão de Stella para descer da carruagem – É impressionante.

- A sra. McKellar vai explicar tudo, ela é a governanta e quem dirige a propriedade durante o dia, mas provavelmente será a Agatha lhe mostrar  tudo, e a srta. rapidamente vai se acostumar – Stella apontou para o lado direito do castelo – Lá na parte de trás fica o labirinto, tem uma fonte mais impressionante do que essa no meio e é um desafio chegar até o centro. O pomar fica nos fundos e os estábulos ficam à esquerda da propriedade a partir desse ponto, mas o mais impressionante é o vinhedo. A família Dimitrescu é famosa por produzir o Sanguis Virginis.

- Tem um labirinto? – Ella repetiu embasbacada, ignorando completamente a parte do vinhedo – Deve ter muitos empregados para tomar conta de tudo.

- E tem, são jardineiros, tem os empregados da casa, a cozinheira, a governanta... – Stella listou ao cruzarem a entrada principal – Mas você não vai ver muitos deles, todos vão embora ao anoitecer que é quando você vai trabalhar de fato.

Por dentro era ainda mais impressionante do que por fora, tudo era decorado com bom gosto e parecia elegante, uma grande escada se dividia em duas levando ao andar superior e havia muitas flores ao redor que, arranjadas em belos vasos, enchiam o ambiente com o seu perfume.

- Todos... Espera, e a família da Condessa?

- Ah... Não há uma família, Lady Dimitrescu é a última herdeira da família e ela não se casou ainda – Stella gaguejou e voltou a arrumar os óculos – E provavelmente nunca irá...

- Já chega Srta. Constantine, pensei ter dito que eu mesma explicaria para a Srta. Lancaster como as coisas funcionam aqui.

Uma mulher alta e loira entrou na sala e lançou um olhar agudo em direção a Stella, mas apesar disso não parecia ser cruel, apenas alguém que apenas encarava um dever a ser cumprido. Seu rosto era fino e as madeixas loiras estavam puxadas para cima em um coque elegante, mas não de todo austero, e o vestido de cor clara ressaltava seus olhos.

- Por favor, leve as coisas da Srta. Lancaster para os aposentos dela, então encontre a Srta. Wu e peça-lhe para terminar os novos arranjos de flores e ajude-a a levá-los para a biblioteca conforme o pedido de Lady Dimitrescu.

- Claro, farei isso – Stella se curvou levemente para Ella – Foi um prazer conhecê-la, Srta. Lancaster.

- Igualmente, Sra. Constantin.

Stella se foi carregando as coisas de Ella escada acima, e a jovem se virou para a mulher.

- Eu sou Elishia McKellar, é um prazer conhecê-la Srta. Lancaster e devo dizer que estamos muito felizes que tenha chegado bem, sua presença é ansiada por aqui.

- É igualmente um prazer e também estou feliz por estar aqui.

- Isso é muito bom – Elishia sorriu brevemente – No entanto, devo alertá-la de que esse não é um trabalho fácil.

- Eu não tenho medo – Ella afirmou com firmeza – Tenho certeza que dou conta.

- Espero que sim, agora me acompanhe, por favor.

Ella acompanhou a mulher mais velha por um breve tour pela propriedade, tentando absorver o máximo possível para descrever em cartas que nunca seriam enviadas aos seus irmãos, não desejava que o pai e a madrasta soubessem onde encontrá-la.

Elishia lhe mostrou a cozinha onde duas mulheres trabalhavam e a enorme e incrível biblioteca que fez os olhos de Ella brilharem e os dedos coçarem para tocar os inúmeros livros.

- Você é livre para explorar por aí, pode ir a qualquer lugar – Elishia explicou ao saírem da biblioteca – A cidade não fica longe e o cocheiro a levará lá quando e se quiser, a qualquer hora do dia, mas às noites deverá permanecer no castelo. Não é esperado que limpe ou que cozinhe, suas roupas serão lavadas e entregues já passadas em seus aposentos.

- Então estou sendo paga para morar aqui?

Elishia abriu a porta de uma sala e indicou para que Ella entrasse. O aposento, assim como o resto da propriedade, era muito bem decorado e aconchegante para uma sala de visitas, mais um arranjo de flores enfeitava a lareira e Ella já tinha perdido as contas de quantos havia visto. O chá estava servido sobre a mesa de centro e as duas mulheres sentaram-se frente a frente, cada uma em dos sofás, e Elishia pôs-se a servir metodicamente as xícaras de porcelana.

- Sabe por que está aqui, Srta. Lancaster?

- Para trabalhar como dama de companhia no período da noite.

- Muito bem. Esse é o seu trabalho, apenas isso e nada mais – a mulher estendeu uma xícara de chá e Ella a aceitou – Conforme dito na proposta de emprego que a senhorita aceitou, sua ocupação será fazer companhia a Lady Dimitrescu no período noturno e isso se estende à noite toda.

- Estou ciente disso.

- Mas deve estar se perguntando o motivo.

Ella assentiu e tomou um gole do chá.

- Lady Dimitrescu sofre de uma enfermidade bastante rara para a qual infelizmente não há cura ou tratamento, nem mesmo todo o ouro do mundo poderia curá-la, mas tentamos tornar sua vida mais fácil. A condessa é fotossensível, sua pele não pode entrar em contato direto com a luz do sol, caso isso aconteça seria tomada por feridas dolorosas – Elishia explicou – A doença a condenou a um mundo de escuridão, Srta. Lancaster.

- E à solidão – Ella murmurou.

- Isso mesmo. Anos atrás, antes mesmo de eu vir trabalhar aqui, o castelo permanecia trancada; havia grossas cortinas escuras nas janelas, nenhuma porta podia ser aberta sem que a anterior fosse devidamente fechada, tudo para evitar a entrada da luz do sol e manter a segurança de Lady Dimitrescu.

Ella não podia imaginar como seria viver trancada naquele castelo, sem poder aproveitar todo o calor e beleza que ela podia oferecer.

- Lady Dimitrescu decidiu que não viveria mais daquela forma, a partir de então ela passou a dormir durante o dia e a viver sua vida durante a noite. As portas e janelas do castelo foram abertas para deixar o sol entrar, para tornar a casa viva, e as flores são um pedido da condessa, ela gosta do perfume e das cores.

Só então lhe ocorreu que, com exceção da porta principal, todas as janelas da casa estavam abertas, assim como as portas de vidro da biblioteca que levavam a uma pequena estufa de rosas.

- Sim, a não ser que esteja chovendo, todas as janelas do primeiro andar permanecem abertas durante o dia e uma boa parte delas durante a noite. Uma das suas poucas funções é fechá-las caso comece a chover.

- E acredito eu, ser como uma amiga para Lady Dimitrescu.

- Uma companhia, é claro. É uma vida solitária, Srta. Lancaster; creio que a condessa cansou-se de passar as noites sozinha – Elishia explicou: - Nenhum dos empregados permanece na casa após o pôr do sol e estarão sozinhas aqui, mas não precisa temer, ninguém invadiu o castelo na última década. É bastante seguro. Lady Dimitrescu se levanta assim que o sol se põe, o que no verão pode chegar a acontecer mais tarde; é esperado que esteja pronta a essa altura, ela se recolhe aos seus aposentos antes que o sol nasça; esses horários vão variar a cada estação, mas tenho certeza que chegarão a um entendimento quanto a isso. Alguma dúvida?

- Ela é sempre tão sozinha?

- A única pessoa a visitá-la regularmente é Lady Benneviento, são amigas de longa data.

Mais uma vez Ella estava incerta sobre o que pensar de sua empregadora, Lady Dimitrescu pareceu ainda mais misteriosa e era impossível criar uma imagem sólida em sua cabeça. Tudo naquela mulher era uma incógnita.

As duas terminaram o chá e Elishia a guiou novamente pela casa, desta vez até seus novos aposentos e o lugar mais uma vez deslumbrou Ella.


O quarto acomodaria facilmente o seu antigo pelo menos quatro vezes, uma cama enorme de dossel estava apoiada em uma das paredes, tudo era ricamente decorado assim como o resto do castelo. Havia ainda uma mesa de trabalho e portas de vidro que levavam a uma varanda, o papel de parede era de um azul pálido tranquilizante e cada coisa ali parecia completar um quadro pitoresco.

- Como disse anteriormente, é livre para ir a onde quiser Srta. Lancaster, com exceção do escritório e dos aposentos da Condessa é claro – Elishia explicou em voz baixa – Pode usar a biblioteca quando quiser, bem como retirar os livros. Aquela porta leva ao seu armário e a do lado é o banheiro – a loira apontou para duas portas no lado oposto do quarto e então para a mais próxima – E este leva aos aposentos da Condessa. Presumo que não será preciso alertá-la de esta porta jamais deverá ser aberta, sob hipótese alguma, durante o dia.

Ella engoliu em seco.

- Não, senhora.

- Ótimo, então isso é tudo. Sinta-se livre para descansar ou arrumar suas coisas, a chamarei logo antes de terminar o dia para que não se atrase para encontrar Lady Dimitrescu.

- Eu agradeço.

Com um último aceno, Elishia saiu do quarto e deixou Ella sozinha com seus pensamentos. Sendo filha de um homem que fazia reparos em algumas casas do vilarejo, Ella nunca teve nada perto daquele tipo de luxo à sua disposição, ainda mais por uma pessoa desconhecida; seja quem fosse, o mais provável era que Lady Dimitrescu não passava de uma mulher muito solitária, talvez um tanto amarga por sua doença, e totalmente capaz de sugar a vitalidade de quem estava ao seu redor.

Sentindo-se cansada da viagem agora que todas as novidades se esvaíam, Ella fechou as portas que davam para a varanda e puxou as cortinas para impedir a entrada de luz; decidiu que podia muito bem arrumar suas coisas em outro momento e apenas despiu as camadas de roupas e o espartilho, abriu o malão e resgatou uma camisola leve e branca, confortável para descansar. A ponta do seu livro preferido despontava sob algumas roupas, nele a personagem principal, Anne, era uma intrépida criatura sempre em busca de novas emoções e aventuras ao redor do mundo; sentindo-se um pouco como sua heroína preferida, Ella se pôs de frente ao grande espelho e sorriu para a imagem sardenta que a recebeu.

- Elleanor Lancaster, a aventureira – recitou com um sorriso – Capítulo um, A Chegada.

Jovens podiam ser tolas e sonhadoras, mas Ella Lancaster não sonhou quando caiu no sono assim que se deitou na cama confortável. Tudo o que havia era o nada e a exaustão que se apoderou dela, talvez alguma apreensão.

Acordou horas depois com batidas leves na porta e a Sra. McKellar a avisou que era hora de descer para o jantar, então Ella se limpou no banheiro e escolheu um dos melhores vestidos que, apesar de simples, parecia novo, um azul bebê que ressaltava seus belos olhos. Se ela passaria um bom tempo ali, então que causasse uma boa impressão em Lady Dimitrescu. Com o cabelo arrumado e um leve batom aplicado sobre os lábios, Ella saiu de seus aposentos e desceu as escadas, tentando se lembrar do caminho até a cozinha.

Durante todo o tempo no quarto, não ouvira sequer um passo que pudesse indicar qualquer movimentação de Lady Dimitrescu, mas imaginou que a mesma deveria estar dormindo e preparando-se para mais uma noite.

A governanta a esperava na cozinha e o jantar havia sido posto na mesa, ao que o estômago de Ella reagiu ao cheiro delicioso tendo consumido apenas o chá desde que chegara.

- Suas refeições serão preparadas pelas cozinheiras todos os dias, você pode fazer pedidos especiais. Lady Dimitrescu come sozinha no escritório, mas você não precisa levar-lhe a comida ou se preocupar em cozinhar a menos que ela lhe peça; à medida que seus horários se adaptarem, informe às cozinheiras o que deseja, sim?

- Sim, obrigada.

Elishia se aproximou e tocou o ombro de Ella.

- Sei que parece muito, mas ficará tudo bem. Não precisa se preocupar com a louça, tudo será limpo amanhã, pode comer o que quiser aqui. Alguma dúvida?

- Não – Ella tentou sorrir – Acho que está tudo bem.

- Que bom. Termine seu jantar e aguarde na biblioteca, Lady Dimitrescu  a encontrará lá. Tenha uma boa noite, Srta. Lancaster.

As duas se despediram e Ella se sentou para comer seu jantar, da cozinha ela podia ouvir os sons de conversas e passos apressados dos outros empregados deixando o castelo para trás. Logo o sol iria se pôr no horizonte e Ella conheceria a misteriosa Lady Dimitrescu, a mulher condenada a uma vida solitária; enquanto mastigava a carne bem passada, a jovem tentou montar um quadro em sua cabeça, uma versão romântica e gótica de sua empregadora com o rosto fino e traços delicados, tão pálida e triste, cabelos sem vida e opacos, completamente desesperada por algum contato humano. Desesperada o bastante para contratar uma jovem do outro lado do país. Seria Ella uma figura digna de ser uma heroína ao devolver alguma alegria à pobre mulher?

Tais perguntas só poderiam ser respondidas com o tempo, à medida que Ella conseguisse se aproximar de Lady Dimitrescu.

Ella terminou de comer e colocou toda a louça na pia e ponderou brevemente se devia seguir a orientação da Sra. McKellar ou seria de bom tom limpar tudo, mas uma olhada pela janela aberta a informou que estava quase completamente escuro lá fora e chegara a hora de finalmente conhecer Lady Dimitrescu. Lavou as mãos e ajeitou o vestido rapidamente desejando parecer tão alinhada quanto possível. Respirando fundo, Ella tomou o caminho da biblioteca e suspirou aliviada por encontrá-la vazia, logo teria alguns minutos a mais para se preparar para o encontro.

Tentado deixar o nervosismo de lado, Ella se concentrou nas lombadas dos livros e passou levemente os dedos por elas. Eram tantos e tão diferentes entre si, alguns com encadernação simples e outros mais rebuscados, ela tinha certeza que pelo menos um era bordado com fios de ouro; aquela biblioteca em si era um sonho com as estantes estendendo-se infinitamente, exibindo exemplares maravilhosos e prontos para levá-la para qualquer lugar do mundo sem que precisasse cruzar aquelas portas.

- Boa noite, Srta. Lancaster. É bom vê-la aqui.

O livro que segurava caiu ao chão com um baque surdo que soou muito mais alto do que deveria e Ella se atrapalhou, sem saber o que fazer.

- Peço desculpas se a assustei, não foi a minha intenção.

Seja qual fosse a imagem criada por Ella em sua mente, nem chegava aos pés da mulher que sorria educadamente para ela. Lady Dimitrescu era uma mulher magnífica, talvez por volta dos trinta e cinco ou quarenta, e total e completamente deslumbrante. Sim, essa era a palavra ideal para descrevê-la: deslumbrante. Seus cabelos eram escuros como a noite e terminavam em cachos perfeitos na altura dos ombros, os olhos penetrantes e astutos, lábios bem desenhados que sorriam sedutoramente em sua direção; o vestido perolado que usava era belo e tinha um decote generoso que fez Ella corar profusamente e desviar o olhar em seguida. Tudo na Condessa era chamativo como um feitiço de contos de fadas, de tirar o fôlego como uma aventura escrita por um autor apaixonado.

Contudo, o que mais atraiu sua atenção foi, de fato, a altura de Lady Dimitrescu. Ella não era exatamente baixinha com seus um metro e setenta e cinco, mas a mulher parecia pelo menos quinze, talvez vinte, centímetros mais alta.

- Tudo bem – Ella conseguiu gaguejar e se abaixou para recolher o livro – Sou a única que deveria se desculpar, acho que me encontrava no mundo da lua. É um prazer finalmente conhecê-la, Lady Dimitrescu.

Ella fez uma breve mesura como ensinada por sua mãe tantos anos atrás e da qual, felizmente, ainda se lembrava, e Lady Dimitrescu sorriu-lhe mais uma vez, o que enviou arrepios pela espinha da jovem. A mulher aproximou-se a passos lentos, como se estudasse Ella profundamente, quase como se lhe enxergasse a alma.

- Pode me chamar de Alcina, Srta. Lancaster. Passaremos muito tempo juntas.

Lady Dimitrescu tomou a mão direita de Ella entre as dela em um toque gentil e levou-a aos lábios, pressionando um beijo carinhoso em seguida. Seus lábios eram macios e causaram um misto de sentimentos inexplicáveis na jovem.

- Se me chamar de Ella, posso tentar chamá-la de Alcina.

- Muito bem, Ella então – Alcina sorriu ainda sem soltar a mão de Ella – Estou muito feliz em tê-la aqui.

- Também estou feliz em estar aqui.

E pela primeira vez era verdade, sentiu-se estranhamente feliz por estar ali ao lado de Lady Dimitrescu. A mulher sorria e era naturalmente encantadora, tornando impossível para Ella não sorrir de volta.

- Espero que a Sra. McKellar tenha lhe explicado tudo.

- Sim, nós conversamos.

- Está de acordo com o que está acontecendo aqui, Srta. Lancaster?

- Estou, mas prometeu me chamar de Ella – a jovem vacilou por um breve momento – Acho que vamos passar muito tempo juntas.

- Está certa. Agora, Ella – a mulher mais alta reforçou o nome – O que acha de darmos uma volta enquanto me conta mais sobre você?

- Não há muito sobre mim, mas aceito desde que me mostre como é lá fora.

Alcina se afastou e estendeu educadamente o braço para Ella que o segurou. A jovem tentou, em vão, não se arrepiar ao menor toque quando a condessa pousou a outra mão sobre a dela em um gesto que parecia casual demais.

- Espero que goste do castelo.

- É lindo – Ella declarou com sinceridade – Não tive tempo de conhecer tudo, mas a Srta. Constantin mencionou um labirinto.

- Ah sim, temos um labirinto – disse Alcina enquanto a guiava para a pequena estufa ligada à biblioteca – Mas eu recomendaria que o trilhasse durante o dia, ou em minha companhia à noite.

- Então sabe como chegar ao centro?

- Minha querida, eu conheço essa propriedade como a palma da minha mão.

É claro. Ella teve vontade de se chutar. Alcina não podia simplesmente sair por aí, então ela claramente vagava muito pelo castelo durante suas noites solitárias.

- Prometo que a levarei em breve, em uma noite que não esteja tão cansada da viagem.

- Estou bem, posso garantir isso, Lady Dimitrescu.

A mulher fez uma breve pausa na caminhada, estavam cercadas de plantas e o cheiro de terra molhada invadiu os sentidos de Ella. Para sempre, a partir dali, ela associaria aquele cheiro à presença reconfortante de Alcina.

- Por favor, me chame de Alcina – pediu gentilmente – Eu lhe peço somente isso.

- Tudo bem – Ella engoliu em seco e experimentou o nome em sua língua – Alcina.

- Maravilhoso, draga mea. Se importa se eu lhe chamar assim?

- Não, eu gosto...

E era totalmente verdade. As palavras soavam de forma exótica na língua de Lady Dimitrescu, em seu sotaque carregado e elegante. Além disso, seu cheiro parecia inebriar Ella tal qual um feitiço faria e de alguma forma soube que não trava-se de qualquer perfume ou colônia, era apenas Lady Dimitrescu.

- Você ainda está cansada da sua viagem, adaptando-se a uma nova vida – Alcina estendeu a mão e colocou uma mecha loira atrás da orelha de Ella – Prometo que a levarei ao labirinto assim que estiver acomodada.

- Aceito, se é claro, me deixar tentar chegar ao centro sozinha pela primeira vez; se nos perdermos, você pode tomar o controle.

Ella podia jurar que os olhos da mulher brilharam com a proposta, mas no segundo seguinte o brilho se foi e restou apenas um sorriso provocante em seus lábios perfeitos.

- Tens a minha palavra. Deixarei que tenha uma chance – Alcina voltou a pousar a mão sobre os dedos de Ella que seguravam seu braço – Além de desafios, do que mais gosta? Conte-me sobre sua vida em sua antiga casa.

Surpreendeu-lhe que Alcina soubesse de onde ela vinha, Ella tinha simplesmente suposto que todos os trâmites a respeito de sua contratação tivessem sido tratados com a Sra. McKellar ou, quem sabe, com outra pessoa; mas Lady Dimitrescu  parecia uma mulher que sabia o que estava fazendo, dona da própria vida e das próprias decisões, tão diferente da figura esquálida e frágil que Ella imaginara a princípio.

- Não há muito para contar.

- Por favor, temos muito tempo, draga mea.

Por algum motivo, ouvir Alcina a chamando de draga mea com aquela voz profunda causava sentimentos inexplicáveis em Ella, coisas que ela lia em seus livros, mas nunca imaginou ser real. Nem mesmo o ar frio da noite quando saíram pela porta dos fundos da estufa foi capaz de diminuir a sensação de calor que espalhou-se em suas bochechas. Ella começou a contar as coisas básicas sobre si mesma, sobre ser a filha mais velha e responsável pelos dois irmãozinhos, mas esqueceu-se deliberadamente de mencionar os problemas com o pai e a madrasta; ainda assim, tudo fluiu de forma natural, aos poucos enquanto caminhavam lentamente pela propriedade.

O castelo era impressionante mesmo a noite. O labirinto erguia-se majestoso contra o céu noturno, as sebes verdes eram bem aparadas e o conjunto todo era maior do que Ella imaginou a princípio. Por sua vez, Alcina não a interrompeu e pareceu absorver cada palavra dita por Ella como se estivesse genuinamente interessada em conhecê-la. Elas caminharam lentamente, sem que Alcina nunca se afastasse ou tirasse a mão que ainda pousava sobre a de Ella, até que a condessa a guiou para um banco de pedra postado junto à um pequeno canteiro de flores.

- Eu gosto de vir aqui – disse ao se sentarem lado a lado – É calmo, tão tranquilo à noite.

- Posso ver porque gosta tanto – Ella admitiu – Não vou mentir, é assustador estar tão longe de casa, mas até agora tem sido muito bom.

- Fico muito feliz em ouvir isso, draga mea.

Ella continuou a falar, relembrou alguns fatos sobre sua infância e as brincadeiras com as outras crianças da vila, nunca havia sido o que sua madrasta referia-se como uma dama, tudo o que Alcina apresentava ser, e suas atividades infantis renderam-lhe um grande número de cicatrizes espalhadas pelo corpo. Tudo o que ela tinha, todos os amigos, tudo o que conhecia, havia sido deixado para trás, do outro lado do país.

Alcina continuou a ouvindo, oferecendo comentários ou fazendo alguma pergunta eventualmente, ela era uma boa ouvinte e Ella se viu hipnotizada pelos olhos dourados, tão profundos e sábios, como se carregassem uma bagagem muito maior do que sua idade permitia.

- Acho que falei demais – Ella bocejou levemente – Me desculpe por isso.

- É difícil adaptar-se à noite – Alcina sorriu e resgatou um relógio de bolso prateado do casaco – Passa das três da manhã, talvez deva recolher-se em seus aposentos e descansar. Sinto que tomei-lhe muito tempo para uma primeira noite.

- Mas...

- Você precisa descansar – Alcina se levantou e estendeu o braço para Ella, que o aceitou prontamente – E eu tratarei de alguns assuntos no escritório, faltam apenas duas, talvez três, horas para o amanhecer.

- Se é assim, vou me recolher por hoje.

- Creio que é o melhor a ser feito.

Alcina a guiou para dentro da casa, dessa vez pela porta da frente, e a acompanhou até a porta dos seus aposentos.

- Foi um prazer conhece-la, Ella – Alcina sorriu e beijou-lhe a mão mais uma vez, demorando-se alguns segundos antes de se afastar – Durma bem.

- Foi um prazer para mim também. Tenha bons sonhos quando for dormir.

- Obrigada – Ella estava prestes a adentrar o quarto quando lembrou-se de algo importante e parou – É Elleanor, não Ella. Meu nome.

- Eu sei disso, draga mea, mas apresentou-se como Ella e respeitarei sua vontade se é isso o que deseja.

Encararam-se como se nenhuma das duas estivesse disposta a se afastar, como se algo mais forte as unisse. Por fim, Ella acenou brevemente com a cabeça e cruzou a porta, fechando-a em seguida enquanto seu coração batia como louco contra o peito; somente ao ouvir passos descendo as escadas, Ella conseguiu voltar a respirar normalmente.

- O que foi isso? – murmurou para si mesma.

Afastou aqueles pensamentos e resolveu seguir o conselho de Alcina, ela precisava dormir e todas aquelas sensações à flor da pele se desvaneceriam. Assim, Ella tirou o vestido e voltou a vestir a camisola após se limpar no banheiro; a noite estava quente o bastante para deixar as janelas abertas, mas ela achou que seria melhor fechar as cortinas e não correr o risco de ser despertada com sol adentrando seu quarto.

Mal tinha colocado a cabeça no travesseiro quando o sono a abraçou convidativamente. Aquela era a cama mais confortável em que Ella já tinha se deitado e não era difícil entender como podia adormecer tão rápido; os lençóis macios pressionavam seu corpo como num abraço carinhoso, envolvendo seus membros, rosto e lábios...

Mas eram os lábios macios de Lady Dimitrescu pressionados contra os dela, tão convidativos e carinhosos. Elas se encaixavam bem, o perfume era inebriante e cada toque parecia incendiar a pele de Ella.

O beijo carinhoso se tornou apaixonado e as mãos carinhosas, porém firmes, da Condessa agarraram a cintura de Ella e a pressionaram contra a porta; Ella correspondeu com o mesmo ímpeto apaixonado, cedendo quando Lady Dimitrescu  pediu passagem com a língua, e gemeu com o contato aprofundado. Seu coração parecia lutar, batendo loucamente contra o peito, e ela tinha certeza que a Condessa podia sentir seus batimentos mesmo sobre as roupas; Ella nunca havia sido beijada daquele jeito, não de forma a esquentar todo seu corpo em lugares que ela nem imaginava ser possível.

- Ella... – a voz rouca sussurrou em seu ouvido se separaram, dentes roçaram em seu pescoço e Ella achou que iria desmaiar – Tudo bem, draga mea.

Ella acordou de um sobressalto, seu corpo estava coberto por uma camada fina de suor e a respiração ainda estava ofegante; o quarto encontrava-se revestido na penumbra, mas uma leve luminosidade o invadia por uma pequena fresta da cortina, e de alguma forma isso só a preocupou. Ella nunca havia tido um sonho assim, não de forma intensa e definitivamente não com alguém que havia acabado de conhecer.

Levou a mãos aos lábios sem saber o que esperar, mas sabendo que deviam estar como antes porque sonhos eram apenas sonhos.

Deixando tais pensamentos de lado, levantou-se e fechou melhor as cortinas para evitar totalmente a luz solar, então voltou para a cama e entregou-se a um sonho sem sonhos.

Os dias se passaram e logo uma rotina foi estabelecida, até o final da primeira semana tornou-se natural chamar Lady Dimitrescu de Alcina, assim como era fácil para Ella segurar o braço que se oferecia a ela quando caminhavam pela propriedade sob a luz do luar. Infelizmente, os sonhos também persistiram e Ella acordava ofegante com o nome de Alcina na ponta da língua, apenas esperando para escorregar por seus lábios; a simples ideia a mortificava, o medo de que condessa a ouvisse e tirasse conclusões precipitadas sobre ela a espreitava dia e noite, até que Ella começou a cogitar se devia pedir a Sra. McKellar para trocá-la de quarto.

Acabou decidindo contra a ideia por medo de magoar os sentimentos de Alcina, elas estavam se dando tão bem que era inconcebível a ideia de machucar a Condessa.

Àquela noite, as duas caminhavam lado a lado pela propriedade como já era seu costume; Ella se apoiava no braço estendido da Condessa enquanto conversavam amenidades. Alcina não falava muito sobre sua família ou mesmo sua história e Ella respeitava isso, mas ela era aberta sobre seus gostos pessoais e leituras preferidas.

- O que acha sobre tentar? – Alcina perguntou ao pararem diante do labirinto.

- Sério?

- Sim, deixarei que guie o caminho e vamos ver até onde consegue chegar.

Ella assentiu animadamente. O labirinto com suas sebes enormes e bem aparadas, era um fascínio sem fim, não ajudava que a heroína do livro que estava lendo aventurou-se em um como aquele em busca de uma pista para prender um assassino; morar no castelo fazia com que Ella se sentisse em uma eterna aventura e ela desejava aproveitar isso.

- Vamos – Alcina incentivou – É a sua chance.

- Deixe-me pensar.

Lady Dimitrescu aguardou pacientemente que Ella escolhesse um caminho a seguir, ao que ela escolheu seguir pela direita e depois para a esquerda. A cada curva, Alcina resignava-se a acompanhar Ella e deixar que se apoiasse em seu braço para enfrentar o terreno irregular; a loira mais baixa quase saltitava em alguns momentos, então parava e pensava por alguns minutos por qual caminho seguir.

- Sabe, eu não tenho ideia do que estou fazendo – Ella admitiu – Mas é divertido.

- É de fato muito divertido. Tem certeza de que não quer ajuda?

Ella negou com um aceno e voltou a andar. Três curvas depois ela precisava admitir para si mesma que estava completamente perdida, e já não tinha ideia de como voltar para o ponto de partida ou para onde prosseguir. Estava prestes a dizer isso a Alcina quando um trovão alto reboou no céu e a fez pular com o susto, seu pé ficou preso em uma raiz exposta e Ella se preparou para cair de cara no chão. Um par de braços fortes a segurou pela cintura e a puxaram para evitar sua queda, Ella ofegou ao notar que encontrava-se cara a cara com Alcina, suas respirações se misturavam e ela só precisava se inclinar um pouco para roçar seus lábios juntos.

Lady Dimitrescu era ainda mais impressionante de perto, os olhos brilhantes e intensos se desviaram dos seus apenas para se fixar em seus lábios e voltar a eles. Ella nunca tinha visto lábios tão convidativos ou que parecessem mais macios e deliciosos, seria tão fácil apenas se inclinar e beijá-la.

- Tudo bem? – Alcina perguntou em um sussurro rouco.

- Sim, mais do que bem.

Talvez fosse impressão sua, mas os braços de Alcina a apertaram um pouco mais, trazendo-a para tão perto quanto possível quando outro trovão soou ainda mais perto.

- Deve ser apenas uma chuva de verão.

Ella assentiu, seu coração batia como louco no peito e ela tinha certeza que Alcina podia senti-lo mesmo através das roupas.

- Deixe-me levá-la para casa, não quero que se molhe.

- Obrigada – Ella sorriu e explicou diante do olhar confuso de Alcina – Por me salvar.

Em um ímpeto de coragem, ela se inclinou e beijou o rosto de Alcina muito próximo aos lábios, ao se afastar procurou qualquer sinal de desgosto no rosto da mulher, mas tudo o que encontrou foi um sorriso brilhante.

- Não há o que agradecer, draga mea.

Àquele dia, Ella teve um sonho agitado. Novamente os lábios macios estavam sobre os seus, mas desta vez com mais ímpeto e paixão enquanto o corpo da Condessa era firmemente pressionado contra o dela, moldando-se perfeitamente às suas curvas como se fossem esculpidas uma para a outra por alguma deidade que dedicou tempo e paixão para tal. Ella gemeu contra a boca de Lady Dimitrescu e perdeu o controle sobre si mesma e seus sentimentos, tudo o que havia e importava no mundo era Alcina, sua Condessa e amante.

Ella acordou ofegante, o corpo coberto por uma camada fina de suor e um latejar incômodo entre as pernas. Ela jamais havia se sentido assim, mas tinha certeza de que Lady Dimitrescu estava relacionada a todos esses novos sentimentos e à forma como seu corpo reagia a eles; o pensamento a fez gemer involuntariamente e Ella ficou mortificada ao olhar para a porta de ligação entre os quartos, imaginando se a Condessa teria ouvido seu gemido e se ela teria feito outros sons constrangedores durante o sonho que pudessem ser ouvidos do outro quarto. Porém, tudo continuava silencioso como sempre, como se a Condessa nem mesmo estivesse lá.

Sem alternativa, e sentindo-se extremamente quente e pegajosa, Ella se acomodou na cama e apertou as pernas para tentar acalmar aquela sensação nova e estranhamente prazerosa. O sono não tardou a voltar e, quando veio, trouxe mais imagens da Condessa inclinando-se sobre ela.

Ella e Lady Dimitrescu, a quem carinhosamente já chamava de Alcina quando estavam sozinhas, passaram as próximas duas noites na biblioteca enquanto chuvas de verão açoitavam as janelas sem piedade alguma; elas conversavam sobre assuntos aleatórios enquanto Alocina a ensinava a jogar xadrez, Ella dependurava-se em suas palavras e sorria a cada vez que a mulher franzia o nariz ou seus lábios se contorciam em um biquinho fofo.

Os sonhos foram brandos depois daquelas noites, apenas beijos carinhosos sendo trocados sob o luar.

Na quarta noite não chovia mais, apesar do céu ainda estar carregado com pesadas nuvens, mas Ella começava a se sentir inquieta e Alcina pode ter sentido isso já que a chamou para uma caminhada. Dessa vez elas ignoraram o labirinto e seguiram em direção aos estábulos, com Alcina afirmando que gostaria de lhe mostrar outro lugar.

Elas caminharam lentamente com a mão de Ella presa firmemente ao braço que Alcina lhe estendia, apesar da umidade na grama foi um passeio agradável sob a luz de uma lamparina a gás que a Condessa carregava com a mão livre.

- Para onde estamos indo? – Ella perguntou ao ultrapassarem os estábulos.

- Você verá, draga mea, a paciência é uma virtude importante.

- Que eu não tenho.

Alcina riu e o som soou limpo e bonito contra a noite.

- Prometo que não é nada demais, apenas um lugar como qualquer outro.

- Nada é um lugar como qualquer outro nesse castelo.

Lady Dimitrescu não respondeu e continuou guiando Ella, logo as nuvens se afastaram o suficiente para que a luz da lua conseguisse atravessá-las e iluminasse o caminho, revelando uma grande figura disforme. Ao se aproximarem, Ella notou ser um carvalho tão antigo que parecia mágico, talvez servisse de abrigos para criaturinhas fantasiosas como fadas ou gnomos; os galhos da árvore se estendiam impossivelmente em todas as direções, finos e grossos, retorcidos como em uma dança que somente as árvores conheciam, alguns chegavam a tocar o chão. Em um dos galhos havia um balanço de corda, balançando lentamente com o vento.

- É linda – Ella murmurou – Parece mágica.

- Parece – Alcina concordou – Imagine há quantos séculos está aqui.

Ella se aproximou da árvore e tocou sua casca coberta de limo.

- E o balanço?

- Algumas das empregadas traziam os filhos pequenos, eu permiti que fizessem o balanço se não causassem danos à árvore.

- Foi muito gentil da sua parte.

Alcina deu de ombros como se não fosse nada, e talvez para ela realmente não fosse. Ella não a conhecia realmente, ainda não, mas Alcina parecia uma das criaturas mais gentis com quem tinha tido o prazer de cruzar, sempre tão educada e altruísta.

Ella se sentou no balanço e segurou as duas cordas para se balançar lentamente.

- Meu pai fez um balanço assim para mim, isso foi antes da minha mãe morrer – ela sorriu com a lembrança – Tínhamos uma árvore grande no nosso quintal, nada como essa mas pra mim parecia incrível.

- O que aconteceu?

- Minha mãe morreu e eu precisei crescer muito em pouco tempo, isso aconteceu. Mas eu fazia minha mãe me balançar o tempo todo – Ella lembrou com um sorriso – Ela nunca reclamava.

- Ela parece ter sido uma boa mãe.

- Ela era.

Alcina não respondeu, mas Ella a viu dependurar a lamparina em um dos galhos mais baixos e voltar a se aproximar silenciosamente; a Condessa passou a empurrá-la gentilmente no balanço, depois um pouco mais forte fazendo Ella rir como uma garotinha brincando com os amigos no quintal, Alcina também riu baixinho.

A sensação do vento nos cabelos e do cheiro de terra molhada envolveu Ella como um manto protetor, o coração batia mais rápido e ela não sabia se devido a emoção ou ao toque fugaz das mãos da Condessa em sua cintura.

Alcina a empurrou um pouco mais alto, o que arrancou um gritinho surpreso de Ella. Rapidamente Lady Dimitrescu a segurou pela cintura, os braços a envolvendo protetoramente, e colou as costas de Ella com seu peito para mantê-la segura; a sensação enviou arrepios por todo o corpo da jovem e ela se lembrou dos sonhos muito nítidos que vinha tendo com a mulher.

- Tudo bem?

Era uma pergunta inocente, mas o hálito quente da Condessa soprou exatamente sobre o ponto de pulso no pescoço de Ella, causando mais arrepios e fazendo com que estremecesse.

- Sim – Ella estremeceu quando a Condessa a envolveu um pouco mais apertado e pediu em um sussurro quase envergonhado: – Não me solte.

- Eu não faria isso...

Lábios quentes pousaram em seu pescoço, exatamente no ponto pulsante que enviava sensações novas e maravilhosas pelo corpo de Ella. Descobriu que queria a Condessa ainda mais perto dela.

- Me perdoe por isso, Ella, eu juro que tentei resistir... – Alcina sussurrou em seu ouvido, o hálito quente causando mais arrepios através do pescoço da jovem – Mas você não vai se lembrar de nada, minha querida, eu prometo.

- O que...

Uma dor aguda se espalhou por seu pescoço quando presas pontiagudas perfuraram sua carne, Ella tentou fugir da dor, mas mãos fortes a seguraram no lugar; o sentimento doloroso logo passou e uma sensação diferente espalhou-se por todo seu corpo, era quente, úmida e fazia seu coração bater cada vez mais rápido; o ponto entre suas pernas latejou e Ella gemeu languidamente enquanto Alcina a segurava cada vez mais perto. Nunca havia se sentido assim antes, mas achava que estava muito próxima a um clímax que nunca pode imaginar. Ella gemeu novamente, dessa vez não tentou fugir de Alcina e sim obter mais dela em todos os sentidos.

Alcina se afastou e Ella resmungou com a falta de contato, ela precisava tanto da Condessa... Bem, ela não sabia exatamente como precisava, mas sim, ela queria seus lábios, seus toques e todas as sensações maravilhosas que podia lhe proporcionar. Mas Alcina logo se aproximou novamente e Ella pode sentir a língua quente e molhada da mulher sobre seu pescoço, acalmando os resquícios de dor que ali haviam, a fazendo suspirar e se derreter por completo.

- Shh... Está tudo bem, draga mea. Como se sente?

- Bem – Ella ofegou.

- Você não vai se lembrar disso amanhã, apenas de mim bem aqui ao seu lado. Quer ir para os seus aposentos?

Ella assentiu, sim, ela queria. Sentia-se inebriada e sobrecarregada com todos aqueles novos sentimentos e precisava se deitar.

- O sol nascerá em pouco mais de uma hora – disse Alcina ao pegá-la nos braços no estilo noiva e Ella abraçou seu pescoço, deixando a cabeça repousar em seu peito – Está tudo bem, draga mea, eu peguei você.

A jovem mal registrou que Lady Dimitrescu a carregava como se não fosse nada, o pensamento cruzou sua cabeça por um mísero segundo antes de se perder na proximidade da mulher mais velha. Ella se aconchegou a ela e deixou que Alcina a embalasse ternamente enquanto voltavam para a mansão, o caminho passou como um borrão enquanto ela mal conseguia manter os olhos abertos.

Cedo demais, quando ela não tinha aproveitado a sensação dos braços fortes ao seu redor, Ella foi colocada em sua cama e Alcina segurou seu rosto ternamente como se ela fosse uma boneca de porcelana delicada.

- Consegue se trocar sozinha, minha querida?

Ella assentiu e aceitou a camisola que Alcina lhe estendia. Metodicamente, reproduzindo os movimentos que fazia a cada noite, Ella despiu-se e ao encontrar-se completamente nua, espiou por cima do ombro e encontrou a Condessa de costas para ela, evitando olhá-la em um momento tão íntimo; a atitude da mulher causou sentimentos mistos em Ella, ela apreciou o gesto cavalheiresco ao mesmo tempo em que desejou ser admirada e cobiçada pela mulher.

- Você pode se virar agora – disse ao terminar de se vestir.

Alcina se virou para ela e se aproximou silenciosamente para ajudar Ella a se deitar na cama.

- Durma bem e descanse, draga mea – Alcina puxou o cobertor macio sobre Ella – Eu queria poder ficar com você, mas para o meu infortúnio o sol nascerá em breve.

- Eu entendo – Ella sussurrou e lambeu os lábios – Queria que não precisasse ir.

- Eu sempre estarei aqui.

Ella se ajeitou na cama e Alcina se curvou sobre ela, plantando um beijo em sua testa e em seguida um em seu pescoço, então a sensação se foi e ela caiu em um sono profundo.

Pela primeira vez em semanas, Ella não se lembrava do seu sonho de forma nítida como vinha acontecendo, ela sabia que ainda tinha a ver com Alcina sobre ela, seus corpos pressionados juntos e lábios que exploravam seu pescoço, mas não se lembrava de muito mais do que isso. Àquela noite, saiu de seus aposentos e desceu as escadas um pouco mais cedo do que o habitual e encontrou a Sra. McKellar de saída.

- Ah, é bom ver a Srta. – a mulher a interpelou enquanto vestia as luvas – A Condessa receberá uma visita importante hoje, Lady Miranda deverá chegar assim que o sol se pôr e você não deverá incomodá-las, entendido?

Ella engoliu o nó que se formou em sua garganta.

- Sim, é claro.

- Considere a sua noite de folga, poderá fazer o que quiser desde que não se aproxime da biblioteca ou do escritório – a loira mais velha a olhou atentamente – Sente-se bem?

- Claro, não há nada de errado – mentiu.

- Você parece muito pálida, tem olheiras... Tem certeza de que está dormindo bem?

- Eu vivo durante a noite agora, talvez por isso a palidez.

A Sra. McKellar a encarou um pouco demais, mas havia preocupação genuína em seu olhar e Ella ficou grata por isso, por ter alguém cuidando dela tão longe de casa.

- Deve ser isso mesmo.

- Tomarei algum sol amanhã – Ella prometeu – Me fará bem.

- Faça isso, menina. Se precisar de alguma coisa, sempre pode falar comigo.

- Eu falarei se precisar de algo.

Elas se despediram e Ella ficou sozinha no castelo, embora aquela condição estivesse prestes a mudar. Como avisado pela Sra. McKellar, Lady Miranda chegou em uma carruagem elegante logo após o pôr do sol e após cumprimentar Ella educadamente, a mesma caminhou pela casa como quem estava muito habituada aos caminhos do castelo Após a porta do escritório ser fechada, Ella foi deixada sozinha e tentou ignorar a sensação de desconforto que se estabeleceu em seu estômago; tentou se lembrar do que sabia sobre Lady Miranda, o que era muito pouco, tratava-se de amiga de longa data de Lady Dimitrescu que raramente lhe visitava.

Ella não estava com ciúmes, ela não podia estar, não era como se ela e Alcina fossem algo além de patroa e empregada e estava na hora dela apender qual era o seu lugar naquela casa.

No entanto, racionalizar sentimentos não era a coisa mais fácil do mundo, principalmente quando envolvia outra mulher tão bonita. Ella era chamada de bela e encantadora, uma menina provocante em um corpo de mulher feita, mas Lady Miranda também tinha seus atrativos, como aqueles olhos cinzentos e incomuns encimados por cabelos loiros.

Não era uma competição, não havia pelo que competir afinal de contas. No entanto, o coração quer o quer o coração quer, e Ella se viu remoendo amargamente enquanto ouvia as risadas das duas mulheres por detrás das portas fechadas. Alcina era tão compenetrada ao seu redor, como se estivesse se segurando o tempo todo, tentando não mostrar sua verdadeira natureza a Ella não importava o quanto ela tentasse desvendar a mulher. Quando as duas saíram do escritório e se dirigiram aos terrenos do castelo, o braço da Condessa se estendendo à Lady Miranda como costumava fazer com ela, e a jovem achou que já tinha tido o bastante e se recolheu em seus aposentos.

Pela primeira vez desde que chegou, ela tirou algum tempo para escrever em seu diário. Também, pela primeira vez pensou em voltar para casa e se afastar da mulher que causava-lhe sentimentos indecifráveis.

No dia seguinte, Ella seguiu o conselho da Sra. McKellar e saiu pela primeira vez em semanas. Era domingo e o castelo estava vazio, exceto por ela e pela Condessa, que encontrava-se recolhida em seus aposentos, então a jovem decidiu ser ousada e saiu da mansão usando nada mais do que a camisola que usara para dormir. Foi libertador para dizer o mínimo, sentia-se como no dia em que chegara ao castelo com a liberdade bruta correndo por suas veias como um estímulo melhor do que a adrenalina.

Ella andou pela propriedade apreciando o calor dos raios solares em sua pele exposta, e riu ao imaginar a cara da madrasta caso a visse naquele momento com os pés descalços e usando uma camisola como vestimenta nada adequada.

Voltou ao grande carvalho, lembrando-se da proximidade que compartilhou com a Condessa duas noites atrás, dos beijos lânguidos em seu pescoço e dos sentimentos que a acometeram. Entretanto, Ella ignorou o balanço e as lembranças quando outra coisa chamou sua atenção, algo que passou despercebido com a escuridão da noite; há apenas alguns metros dali havia um lago calmo e cristalino, as águas refletiam a luz e ela podia ver o fundo claramente, lembrou-a de como nadava com algumas sempre que conseguiam fugir das garras de suas mães.

Sem pensar duas vezes Ella se livrou da camisola e mergulhou nua na água, a temperatura estava agradável e nadou até a superfície. A jovem podia muito bem ser a última pessoa na face da terra naquele momento, envolta pela natureza sem se preocupar com regras de etiqueta e o que era ou não adequado para uma dama. Pela primeira vez em muito tempo, Ella não estava preocupada em ser uma dama, ela era apenas Ella Lancaster, uma jovem em busca da paz de espírito que não sabia que precisava e respostas para perguntas que não sabia que tinha.

Ella nadou até não aguentar mais e depois vestiu a camisola sobre o corpo ainda molhado, deitou-se sob a sombra do carvalho e passou algumas horas observando os fachos de luz que atravessavam a copa da árvore. Decidiu comer do lado de fora, optando por improvisar um piquenique a um jantar na cozinha; Ella nunca tinha visto Alcina comer qualquer coisa, mas imaginou que ela o fazia sozinha no escritório antes e depois de encontrá-la.

Quando deu por si o sol estava prestes a descer no oeste, findando o dia agradável que teve para si mesma. Ella correu para a mansão e subiu as escadas de dois em dois degraus, derrapando ligeiramente no corredor antes de entrar em seu quarto e se vestir; optou por um vestido rosa simples e não teve tempo de prender o cabelo em um penteado adequado antes de descer as escadas e esperar pela Condessa na biblioteca. Àquela altura seu coração batia acelerado e tentou, sem sucesso, regular a respiração.

- Boa noite, draga mea.

Ella pulou levemente com o susto, a Condessa era sempre tão silenciosa que ela não entendia como era possível.

- Desculpe-me se a assustei – Alcina continuou e deu alguns passos em frente – Devo dizer que adorei a forma como deixou seu cabelo.

O comentário a fez levar as mãos às madeixas loiras em desalinho, depois de nadar no lado e deixa-las secarem sozinhas sua cabeça se tornou um ninho de cachos selvagens e indomesticados.

- Está ainda mais bela desse jeito.

Ella ruborizou e a lembrança da noite passada, dos lábios da outra mulher em seu pescoço, a atingiu em cheio e ela não foi capaz de guardar a resposta mordaz para si.

- Obrigada, Condessa, mas infelizmente não é nem de longe adequado. Se me der licença por um minuto irei...

Alcina a segurou gentilmente pelo braço, impedindo que Ella se afastasse.

- Está chateada comigo?

- Por que eu estaria? Não tenho motivos para tal, Lady Dimitrescu.

- Se fiz algo que a magoou, peço que me perdoe.

- Não há nada a ser perdoado.

Ella estava sendo infantil e sabia disso, ela não tinha qualquer direito de impedir a mulher de passar algum tempo com uma amiga próxima, principalmente quando Ella era sua companhia constante.

- Entendo que não queira me contar o que está acontecendo, mas espere um minuto, por favor – Alcina pediu – Tenho uma coisa para você.

Lady Dimitrescu se afastou e entrou no escritório, então Ella sentou-se em um dos sofás confortáveis e a esperou enquanto imaginava o que seria. Felizmente, Alcina não demorou a voltar e trazia uma caixa de madeira nas mãos; a Condessa aproximou-se e se ajoelhou no chão ao lado de Ella, o que fez a jovem corar e tentar fazê-la se levantar, uma Condessa não devia se ajoelhar a perante ela daquele jeito.

- É para você.

Ella aceitou a caixa que lhe era estendida, não devia ter mais do que dez centímetros de comprimento por cinco de largura e a madeira escura era ornamentada com arabescos dourados.

- É lindo – murmurou ao passar o dedo pelos desenhos delicados.

- Abra.

Ela abriu a caixa e uma melodia suave soou através dos mecanismos enquanto uma delicada bailarina rodopiava lentamente. Era, de fato, a coisa mais linda que Ella já tinha visto.

- Quando chegou ao castelo parecendo tão sozinha e em busca de algo, você me contou que quando criança sua mãe lhe deu uma caixinha de músicas e...

- Minha madrasta a quebrou – Ella completou com a voz embargada – Eu adorava aquela caixinha de músicas.

- Duque, o mercador, deixou isso com a Srta. McKellar ontem para mim, demorou um pouco para conseguir uma como especifiquei em carta. Achei que isso poderia fazê-la feliz aqui – Alcina sorriu de forma gentil para Ella – Você gostou?

Lady Dimitrescu sorriu de forma quase esperançosa e passou rapidamente de uma mulher misteriosa para uma criatura fofa, como Ella podia resistir àquele sorriso que fazia seus olhos brilharem em expectativa? Sem pensar uma vez sequer, Ella se curvou e pressionou os lábios contra os de Alcina em um beijo um pouco desleixado e infantil, nada delicado ou apaixonado como aqueles que povoavam seus sonhos.

Ao perceber o que fazia, Ella se afastou rapidamente e tentou se desculpar, mas as mãos de Alcina se fecharam sobre a sua que estava livre e beijou-lhe os dedos de forma carinhosa.

- É tudo para você, Ella. Por você.

- Por quê?

Alcina sorriu e puxou a mão de Ella para pressioná-la em seu rosto.

- Eu gosto de você, quero que seja feliz aqui.

O coração de Ella pulou com a confissão, aquela era sua chance, talvez a única que estava esperando desde a primeira noite no castelo, de confessar seus sentimentos proibidos pela mulher. Aqueles sonhos deviam vir de algum lugar e ela não podia mais negar o que vinha sentindo, no entanto, aquele seria um caminho sem volta e Ella precisava pular de cabeça e abraçar seu destino.

- Eu gosto de você também.

Alcina se sentou ao seu lado no sofá e se aproximou devagar como que para dar alguma chance de se afastar, e, segurando o rosto de Ella com as duas mãos, ela fechou a distância que havia entre as duas em um beijo doce.

A sensação era ainda mais poderosa do que a dos seus sonhos, tão mais intensa ao mesmo tempo em que os lábios delicados se moviam contra os dela. Ella devolveu o beijo com o mesmo carinho, saboreando todos os sentimentos que a acometiam mesmo que seu coração parecesse lutar contra o peito.

- Tudo bem?

A pergunta de Alcina saiu em um sussurro quando as duas se afastaram, a Condessa encostou a testa na de Ella de forma que ainda permaneceram muito próximas.

- Mais do que bem – Ella corou – Podemos fazer mais disso?

- Oh, minha querida, podemos fazer muito mais disso.

Seus lábios se juntaram novamente e Ella se deixou levar sem se importar com mais nada.

[...]

Elas estavam no labirinto mais uma vez, Ella corria à frente com Alcina em seu encalço e as duas riam como meninas travessas aprontando outra travessura. Ella podia sentir a grama úmida entre seus dedos, o cheiro rico da terra molhada a envolvia assim como os das flores e o perfume da Condessa, sua Alcina, que a perseguia implacavelmente. Finalmente, Ella chegou ao meio do labirinto e bateu palmas, contente pelo seu feito.

- Eu consegui!

Alcina a ergueu pela cintura e a beijou apaixonadamente, afastando-se somente quando o oxigênio se fez necessário.

- Você conseguiu – Alcina sorriu – Escolha seu prêmio.

- O que eu quiser?

- O que quiser.

- Quero você – Ella arriscou corajosamente – Quero que me toque.

- Como desejar...

Alcina se sentou em um dos bancos que ali havia e puxou Ella para que se sentasse em seu colo, o que a jovem prontamente o fez; só então percebeu que usava apenas a camisola que usara no dia anterior e o tecido fino não fazia muito para esconder a sua silhueta. Lady Dimitrescu distribuiu beijos molhados por seu pescoço e mordiscou a pele sensível, enviando arrepios por todo o corpo de Ella; a mulher lentamente subiu a barra da sua camisola, deixando as coxas pálidas à mostra e a mercê do seu toque enquanto usava a mão livre para desamarrar o pequeno laço na altura dos seios de Ella.

- Você é linda – Alcina sussurrou em seu ouvido enquanto subia as mãos pelas suas coxas - Perfeita.

E então Alcina a tocou entre as pernas naquele ponto que agora pulsava deliciosamente contra seus dedos longos. Ella ofegou e gemeu languidamente, contorcendo-se no colo da mulher que a segurou com firmeza com a mão livre; sentiu um dedo circular sua intimidade, brincando com ela e a fazendo gemer com o prazer que se espalhava pelo corpo todo. Alcina liberou o aperto contra Ella e a mão logo achou um lugar junto ao seu seio, tocando-o e apertando levemente, passando os dedos pelo bico intumescido e então fechando a mão sobre ele para acalmar a sensação.

- Está tudo bem, minha querida, apenas relaxe.

Dedos longos deslizaram dentro dela e Ella vibrou com a sensação. Alcina, sua Condessa, estava dentro dela a tomando como sua como devia ser.  Ella acompanhou os movimentos dos dedos com os quadris, rebolando no colo de Alcina enquanto a mulher entrava e saía dela em um ritmo constante, seus pés cavando o solo macio abaixo delas em busca de algum apoio, até que seu corpo todo estremeceu e o ápice do prazer a atingiu em cheio fazendo suas pernas tremerem e tudo sair de foco ao seu redor.

Ella acordou ofegante e com as pernas formigando. As cobertas não passavam de um monte disforme no início da cama e sua camisola estava erguida até os quadris, Ella mal registrou o que estava fazendo, como sua mão estava firmemente pressionada entre suas pernas para tentar acalmar aquela sensação que a inundava. Ao notar, não teve tempo para pensar em seus atos, ela tentou não pensar, apenas movimentou os dedos de cima para baixo entre suas dobras exatamente como Alcina fizera com ela no sonho; um gemido baixo escapou de seus lábios ao pensar na mulher e imaginar que eram os seus dedos ali e não os dela, que a condessa a tocava magistralmente apertando ele ponto pulsante entre os dedos até que Ella veio novamente.

Com a respiração ofegante e o rubor já se espalhando por seu corpo, Ella olhou para os próprios dedos molhados e pensou no que ela tinha acabado de fazer e não podia acreditar no que estava acontecendo.

Ella não conseguiu olhar nos olhos de Alcina aquela noite, ainda envergonhada demais com suas ações, o que deixou a Condessa preocupada e perguntando várias vezes como ela estava.

- Ella, olhe pra mim – Alcina pediu – O que aconteceu?

- Não posso contar.

- Por que não?

Suas bochechas ficaram vermelhas e queimaram com a lembrança, novamente desviou o olhar sem querer Alcina visse algo refletidos neles.

- Minha querida, você pode me dizer qualquer coisa. O que há de errado?

- Eu posso ter sonhado com você algumas vezes.

- Isso não é ruim...

- Não são sonhos comuns, são meio... Íntimos demais?

Clareza cruzou os olhos da mulher e ela sorriu carinhosamente ao colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha de Ella.

- Está tudo bem, minha querida – disse Alcina em tom calmante – Isso não é uma coisa ruim, ou qualquer coisa que tenha feito.

Ella levantou os olhos e encarou a mulher.

- Mesmo?

- Mesmo. Eu não vou te julgar por isso, ninguém mais vai saber – Alcina a tranquilizou – Não é errado.

- Mesmo que o sonho fosse sobre você?

- Na verdade eu espero que tenha sido sobre mim, não quero você sonhando com outra pessoa.

Alcina a beijou mais uma vez daquele jeito que deixava Ella com as pernas bambas e ela retribuiu o beijo, o coração um pouco mais leve depois da admissão vergonhosa.

Nos próximos dias Ella e Alcina se tornaram ainda mais próximas, compartilhando beijos e toques cada vez mais íntimos que faziam a loira mais jovem gemer e se derreter contra os lábios macios da Condessa. As noites passavam rapidamente enquanto trocavam beijos e promessas silenciosas, elas se exploravam com toques tímidos e cuidadosos, aprendendo as curvas e os pontos sensíveis.

Ella não conseguia mais pensar em como aquilo era errado, que deveria manter a compostura e a relação de patroa e empregada; seu pai morreria de desgosto de soubesse que Ella estava ficando íntima de uma mulher e não com um homem com quem estivesse unida sob o laço do matrimônio, ele ficaria decepcionado e todos os outros a julgariam. Mas bastava que Alcina a olhasse com aqueles olhos incomuns e sorrisse em sua direção para deixá-la com as pernas bambas, Ella sempre jogava a cautela para o ar e beijava sua Condessa como se sua vida dependesse disso.

Àquela noite Ella estava deitada contra o sofá confortável da biblioteca com Alcina sobre ela, seus lábios juntos em um beijo apaixonado com seus corpos pressionados um contra o outro. Ella gemeu quando Alcina pediu passagem com a língua, ela afastou as pernas para acomodar a mulher mais velha entre elas e passou as mãos pelo corpo que a completava tão bem.

- Alcina... – Ella gemeu.

- Estou bem aqui, minha querida – Alcina respondeu ao beijar o pescoço exposto de Ella – Do que você precisa?

- De você, eu preciso de você.

- E você me quer?

- Mais do que tudo.

- Tudo bem, minha querida, mas não aqui.

Foi o suficiente para Alcina se levantar e pegar Ella em seus braços como se não pesasse nada, ela depositou um beijo na testa da jovem e a levou em direção às escadas; Ella se limitou a abraçar o pescoço de Lady Dimitrescu e tentar acalmar o coração que batia como louco frente à expectativa do que estava prestes a acontecer entre elas. Para sua surpresa, Alcina a levou para seus próprios aposentos e colocou Ella de pé no meio do quarto e ela levou um tempo para absorver tudo enquanto a mulher acendia as inúmeras velas espalhadas ao redor; o quarto era grande, bem decorado, luxuoso, e que traduzia bem a essência de Alcina e as chamas das velas tremeluzindo criavam um ambiente acolhedor e seguro.

A Condessa se aproximou novamente, segurou Ella pela cintura e a beijou ternamente.

- Prometo me afastar se assim me pedir.

Ella só conseguiu forças para assentir.

- Eu posso...?

Alcina apontou para o laço do vestido de Ella e a jovem apenas assentiu novamente, de repente muito consciente de que estava prestes a ficar nua na frente daquela mulher; a Condessa não lhe deu tempo de pensar no que estava fazendo, ela se aproximou e puxou a fita para desfazer o laço que segurava o vestido sobre o corpete de Ella. Lentamente, sem desviar seus olhos dos de Ella, Alcina a despiu peça por peça até que estivesse completamente nua no meio do quarto.

- Você é linda – Alcina suspirou ao olhar para Ella – Maravilhosa.

Ella sorriu em resposta e ofegou silenciosamente quando a mulher passou a despir-se em sua frente, cada pedaço de pele exposta causava sensações desconhecidas e deliciosas em seu corpo. Alcina era linda, inebriante, com o corpo cheio de curvas capazes de enfeitiçar qualquer desavisado e Ella se deixou queimar pela visão.

Alcina se aproximou e colou seus corpos nus e Ella precisou morder o lábio para evitar que um gemido constrangedor escapasse, mas a mulher logo passou a língua por no local da mordida pedindo passagem e foi prontamente atendida; beijaram-se apaixonadamente, Ella deixando que Alcina a dominasse e consumisse como uma chama. Seus corpos colados enviavam faíscas para seu centro e Ella sentiu o latejar incômodo entre as pernas novamente, e foi como se Alcina pudesse ler seus pensamentos porque ela sorriu e selou os lábios da jovem em um beijo terno.


- Eu sei – Alcina murmurou – Quero que me toque primeiro, quero que aprenda meu corpo antes de me entregar o seu, quero que confie em mim porque confio minha vida a você.

Ella sorriu, agradecida pela mulher entender seu nervosismo. Mas aquela era Alcina, perfeita e terna como sempre fora com Ella desde que chegara ao castelo.

Alcina a puxou até uma cadeira junto a escrivaninha e a posicionou para que Ella pudesse se sentar, em seguida sentou-se em seu colo de frente para ela com uma perna de cada lado do seu corpo. Ella gemeu baixinho, ela podia sentir a quentura e a umidade que molhava as coxas de Alcina, naquela posição ela estava muito próxima à Condessa de várias formas diferentes.

- Vamos, meu amor – Alcina pediu baixinho – Você pode me tocar.

Ella levou as mãos até a cintura de Alcina, subindo pela pele macia e quente até encontrar os seios cheios e gemeu junto a mulher ao tocá-los. Nada poderia prepará-la para esse momento, para ter Alcina sob suas mãos. Lady Dimitrescu passou a língua por toda a extensão do pescoço de Ella, beijando e mordiscando seu ponto mais sensível, fazendo-a gemer e puxar a Condessa para mais perto.

- Coloca sua boca em mim – Alcina enfiou os dedos no cabelo de Ella e guiou sua cabeça para baixo em direção aos seus seios e a jovem obedeceu imediatamente. Ella passou a língua pelo mamilo rosado experimentando a textura e o gosto, fazendo Alcina gemer e esfregar seu centro molhado contra sua coxa – Boa menina, tão boa... Agora chupe.

Não havia nada que ela quisesse mais naquele momento, Ella circulou o mamilo com a língua mais uma vez e então o prendeu entre os lábios e chupou devagar, apreciando a nova descoberta. Alcina se mexeu em seu colo e instintivamente Ella agarrou seus quadris para guiar seus movimentos e ajudá-la.

- Ótimo, amor – Alcina jogou a cabeça para trás e empurrou os seios na boca de Ella – Faça isso de novo, mais forte desse vez.

Ella obedeceu prontamente, abocanhando o quanto podia do seio de Alcina e sugando-o enquanto pressionava a língua contra o biquinho intumescido. Alcina gemeu e rebolou com mais força contra ela, espalhando sua umidade quente sobre Ella que soltou o seio de Alcina e observou quase hipnotizada o brilho molhado deixado para trás provando que ela havia feito aquilo. O gemido cheio de necessidade de Alcina a trouxe de volta e Ella não perdeu tempo ao enfiar o outro seio na boca e chupá-lo com força necessária para arranhar outro gemido da mulher sobre ela.

- Isso vai ser bom pra nós duas, amor – Alcina puxou os cabelos de Ella com um pouco mais de força, sem deixar que ela se afastasse dos seus seios – Vai doer, mas é só um pouquinho.

Lady Dimitrescu voltou a lamber o pescoço de Ella e mordiscou o ponto de pulso, a jovem não parou o que estava fazendo muito ocupada em apreciar a obra divina que eram os seios daquela mulher. Era a primeira vez que fazia isso com alguém, a primeira vez que via seios que não eram os seus, mas que a Deus a ajudasse ela queria manter os seios de Alcina em sua boca o máximo que pudesse e arrancar mais gemidos da mulher. A mordida em seu pescoço ficou mais forte, mais dolorida, e Ella gemeu de dor ao sentir os dentes afundando em sua carne e estava prestes a afastar Alcina e dizer que a estava machucando, mas logo a dor se foi e ela se sentiu inundada pelo prazer que correu em suas veias como lava pronta para queimar o que viesse pela frente e atingisse em cheio o ponto entre suas pernas.

Ella gemeu contra o seio ainda preso em sua boca e Alcina a acompanhou, chupando seu pescoço e rebolando em seu colo cada vez mais forte. Ella agarrou os quadris de Alcina com mais força e fez aumentar os movimentos até que a mulher estremeceu contra ela e caiu inerte em seu colo, a respiração pesada fazendo cócegas em seu pescoço. Depois de alguns momentos Alcina se afastou e passou a língua sobre o pescoço de Ella, lambendo o desconforto para longe, até que se afastou e a encarou com um sorriso nos lábios.

- Você foi ótima, meu amor.

Ella sorriu timidamente, se tornando muito consciente agora que começava a se acalmar.

- Obrigada, eu acho. Alcina, por que você mordeu meu pescoço?

- Eu não te mordi, amor – Alcina sorriu e colocou uma mecha do cabelo de Ella atrás da orelha – Não tem nada no seu pescoço além de um pequeno chupão, prometo tomar mais cuidado na próxima vez.

Instintivamente, Ella levou a mão ao pescoço e não encontrou nada de anormal lá.

- Ah, acho que estou nervosa...

- Tudo bem – Alcina se levantou e a pegou nos braços mais uma vez – Vou cuidar de você agora.

Alcina a depositou com cuidado na cama e subiu sobre ela, a respiração de Ella engatou na garganta ao assistir aquela mulher maravilhosa se aproximar até que seus lábios se fecharam em um beijo; foi urgente, apaixonado e quente, mais uma vez Ella podia sentir todo o corpo de Alcina pressionado contra o dela e a sensação era maravilhosa. Lady Dimitrescu beijou seu pescoço e desceu em direção aos seios de Ella, pressionando beijos carinhosos por toda a extensão de pele pálida antes de passar a língua pelo mamilo que se oferecia a ela; Ella gemeu e arqueou as costas em busca de mais contato com a língua de Alcina, ao que foi prontamente atendida quando a mulher abocanhou seu seio e o chupou como se o saboreasse.

- Alci... – Ella gemeu languidamente – Mais, por favor.

Lady Dimitrescu cantarolou contra seu seio, enviando fagulhas por todo seu corpo e Ella começava a se sentir muito dolorida lá embaixo e ela realmente precisava da mulher. Mas Alcina tomou seu tempo com os seios de Ella, alternando entre beijá-los, provocá-los com a língua e chupá-los de novo e de novo sem conseguir se afastar. Ella estava quase implorando que Alcina a tocasse, que fizesse alguma coisa, quando a mulher finalmente soltou seu seio e voltou a distribuir beijos por seu abdômen até seus quadris e continuou descendo.

- Ei – Ella riu brevemente quando Alcina mordiscou o osso da sua pélvis – O que está fazend...

Ela não conseguiu completar a palavra porque Alcina enfiou o rosto entre suas pernas e acariciou aquele ponto delicioso com sua língua molhada. Ella quase gritou de surpresa e arqueou o corpo com a sensação bruta de prazer que se abateu sobre ela e a condessa precisou passar um braço pelos seus quadris e segurá-la no lugar.

Ella ofegou e gemeu a cada novo golpe da língua de Alcina, o prazer se espalhando pelo seu corpo sem que ela tivesse controle sobre o que fazia. Então Alcina fechou os lábios sobre o pacote de nervos e chupou algumas vezes antes de voltar a lamber toda a extensão do sexo de Ella até que ela não aguentasse mais e estremecesse no meio daquele calor branco do seu primeiro orgasmo.

Alcina continuou lambendo-a lentamente até que Ella caiu inerte na cama, a respiração ofegante e o coração batendo em disparada. Alcina distribuiu beijos pelo corpo de Ella até chegar em seus lábios e beijá-la, fazendo com que sentisse seu próprio gosto.

- Tudo bem?

Ella assentiu em silêncio, agora que os últimos espasmos de prazer a abandonavam começava a se sentir envergonhada de novo. Alcina puxou as cobertas sobre as duas para tampar sua nudez, o que a deixou bem mais tranquila, e então fez Ella se aproximar e deitar a cabeça em seu peito.

- Está tudo bem – Alcina garantiu ao fazer carinho nas costas de Ella – Tudo bem...

- Eu sei que preciso voltar para os meus aposentos antes de o sol nascer, mas posso ficar aqui um pouco mais?

Era indescritível a necessidade que sentia de ser confortada naquele momento e Alcina pareceu sentir isso, vez que beijou carinhosamente sua testa e então seus lábios.

- É claro que você pode, meu amor. Durma e descanse, eu a levarei para a sua cama quando for necessário me recolher.

- Obrigada.

Lady Dimitrescu a beijou mais uma vez antes de enfiar o nariz nos seus cabelos e aspirar profundamente.

- Meu amor, minha Ella...

Ella fechou os olhos e caiu no sono, muito confortável e segura nos braços de Alcina para temer qualquer coisa.

Os dias se transformaram em semanas e as semanas se transformaram em meses, o outono se estabeleceu rápido e o castelo foi cercado de tons de laranja e vermelho, Ella adorava escapulir durante a tarde e apreciar a visão, principalmente depois que Alcina confessou amar como sua pele ficava depois que ela tomava sol, as sardas espalhadas em suas costas ficavam ainda mais proeminentes e Alcina as beijava incansavelmente. Elas passavam as noites juntas, trocando beijos e promessas mudas, descobrindo e redescobrindo o corpo uma da outra não desejando perder uma nuance sequer.

As noites mais longas significavam que Ella tinha mais tempo ao lado de Alcina, mas invariavelmente ela ainda acabava adormecendo nos braços da mulher e então era carregada durante o sono até a sua cama. Alcina a tocava de forma tão delicada que Ella quase nunca acordava para dar-lhe um beijo final.

Ella se apaixonou, completa e inegavelmente, tão rápido e forte que se viu desejando a companhia da outra mulher ainda mais.
Alcina era linda e estonteante, mas o que fazia Ella amá-la era a gentileza em seus olhos, a preocupação que expressava ao ouvi-la. Alcina pediu à Sra. McKellar que plantassem tulipas e lavandas ao descobrir que eram as flores preferidas de Ella, bem como que fizessem seus pratos preferidos e tantas outras pequenas coisas.

Elas dividiam a cama, segredos e confissões. Era perfeito a sua própria maneira.

Ella caiu de bruços na cama, uma risada presa na garganta e a respiração ainda ofegante do orgasmo recente. Alcina logo estava sobre ela, beijando suas costas e passando a mão por todo o seu corpo causando arrepios intensos em Ella; a Condessa continuou seu caminho pelo corpo da jovem, saboreando a pele quente, e a agarrou pelos quadris fazendo com que levantasse a pélvis. Antes que Ella notasse o que estava fazendo, Alcina enfiou o rosto entre suas pernas e lambeu toda a extensão do seu sexo enquanto agarrava sua bunda e apertava sua carne macia.

Ella gemeu e jogou a cabeça para trás, rebolando involuntariamente contra o rosto de Alcina que respondeu aumentando o aperto. Alcina a penetrou com a língua e transformou Ella em uma bagunça de gemidos e respiração ofegante, na posição em que estava com a barriga e os seios pressionados contra a cama não havia muito que ela pudesse fazer além de focar no prazer constante que Alcina lhe proporcionava e Ella não demorou a atingir o orgasmo mais uma vez.

Alcina a deixou ir com um último chupão em seu ponto de pulso e voltou a distribuir beijos pelas costas de Ella até atingir seu pescoço.

- Adoro seu gosto, meu amor – Alcina sussurrou em seu ouvido – Você é tão boa...

Ella pode sentir o sexo molhado pressionado contra sua bunda, gemeu com a sensação e arqueou os quadris para aumentar o contato ao que Alcina começou a rebolar lentamente contra ela enquanto sussurrava em seu ouvido. Alcina levou uma das mãos para a frente de Ella e tocou seu sexo muito sensível enquanto aumentava a força dos movimentos, suas respirações ofegantes se misturando enquanto se moviam juntas em busca de um novo clímax.  Ella gemeu de forma quase obscena ao sentir o dedo longo que a penetrava, rebolou sobre ele de forma que sua bunda se esfregava ainda mais contra o sexo molhado de Alcina até que gozaram juntas e caíram em um emaranhado de membros.

Levou alguns minutos para Alcina se afastar e deitar ao seu lado, as duas se encaram com um sorriso bobo brincando nos lábios.

- Eu a amo, Srta. Lancaster. Mais do que possa imaginar.

Ella sorriu brilhantemente.

- Isso é ótimo, porque eu também a amo.

Trocaram um beijo carinhoso e Ella se aninhou ao peito da mulher como sempre fazia, estar nos braços de Alcina lhe causava um sentimento inigualável e ela esperava que fosse assim para sempre.

- Posso ficar aqui mais um pouco?

- Você com certeza pode, meu amor. Descanse.

Ella fechou os olhos por um momento e deixou o cansaço alcançá-la, ainda dançando na névoa pós-orgasmo.

Despertou com um guincho de dor e as cobertas sendo puxadas violentamente, Ella se levantou com um pulo e percebeu que Alcina nada mais era do que uma massa disforme sob as cobertas e que havia uma pequena fresta aberta nas cortinas e um raio de sol se infiltrava por ela, pousando diretamente no lugar em que Alcina estava deitada ainda a pouco.

A fotossensibilidade.

Ella se alarmou ao notar o que tinha acontecido e correu para as janelas sem se importar com sua nudez ou se alguém poderia vê-la, rapidamente fechou as cortinas e verificou todas as outras, bem como a porta apenas por segurança; embaixo das cobertas Alcina gemia baixinho, como um animal ferido se escondendo na toca. Ella não sabia se chamava alguém, talvez a Sra. McKellar, ou se verificava a condessa e acabou decidindo pela segunda opção.

- Alcina, amor, eu já fechei as cortinas e está tudo bem agora – Ella gaguejou enquanto tentava manter a voz calma – Mas eu preciso ver como você está.

Aproximou-se com cuidado e puxou o cobertor grosso que cobria Alcina, a visão fez Ella ofegar; havia uma tira de pele ferida cruzando o rosto de Alcina que ia da testa até a garganta, o ferimento parecia ruim como queimaduras de segundo grau.

- Vai ficar tudo bem, eu vou chamar ajuda pra você – Ella tentou tranquilizá-la – Eu volto já, eu prometo meu amor...

- Ella – Alcina segurou seu pulso e tentou se levantar – Você precisa me ajudar.

- Claro, amor, eu volto já.

- Não, não assim – Alcina se sentou na cama e não a soltou – Só você pode me ajudar agora, mas precisa prometer me escutar e confiar em mim. Prometa.

- Eu prometo, mas o que você...

Alcina não a deu chance de continuar, levou o pulso de Ella aos lábios e o mordeu, afundando as presas na pele fina. Ella assistiu completamente aterrorizada os dentes da Condessa afundarem em sua carne, achou que estava perdendo o juízo porque ela tinha certeza que Alcina estava sugando algo dela; em seguida o terror absoluto foi substituído pelo prazer e Ella sentiu o corpo relaxar. Quando Alcina finalmente se afastou, havia dois pequenos ferimentos redondos em sua pele, mas a mulher lambeu o local e logo não havia marca alguma.

- O-o que aconteceu?

Alcina levantou o rosto e não havia mais qualquer ferida, estava tão perfeita quanto antes.

- Obrigada, Ella.

- O que é você?! O que você fez?! – Ella se afastou e instintivamente se aproximou da janela, agarrando a cortina como um escudo de proteção.

Tantas coisas passavam por sua cabeça ao mesmo tempo que Ella não tinha ideia no que focar.

- Ella, me escute por favor – Alcina levantou a mão em sua direção, mas não se aproximou – Depois você pode abrir a cortina se quiser, eu prometo que não vou gritar e você será livre para partir; tem uma boa quantia em dinheiro na primeira gaveta da cômoda e algumas joias também, poderá recomeçar em qualquer lugar do mundo. Ou você pode não abrir as cortinas e ver que ainda sou eu, como sempre fui, e esse é apenas um detalhe.

Ella respirou fundo algumas vezes tentando afastar as lágrimas que queimavam seus olhos, suas mãos tremiam e por um breve momento a possibilidade de abrir as cortinas e fazer exatamente o que Alcina lhe disse chegou a passar por sua cabeça. Mas bastou um olhar para Alcina e notar que ela também se esforçava para não chorar, para fazer Ella abandonar a ideia.

- Conte-me – pediu baixinho – Tudo, sem segredos.

- Eu nasci aqui, meus pais eram aristocratas e eu tinha uma irmã gêmea. Nós vivíamos seguros atrás dos muros de pedra da nossa propriedade até que a guerra chegou a nós, toda a minha família morreu e eu me alistei no exército – Alcina mordeu o lábio e Ella teve certeza que nunca viu tanta dor refletida nos olhos de alguém – Minha irmã estava grávida, minha sobrinha mal tinha completado cinco anos e foram todos massacrados como animais. Eu fui para a guerra, treinei e subi de posto muito rápido, mas sofremos uma emboscada e eu fui mortalmente ferida. Foi quando ela me encontrou.

- Ela quem?

- Miranda. Ela me encontrou abandonada pelo meu pelotão, à beira da morte, e me transformou em uma vampira; no começo achei que foi uma atitude egoísta, ela tirou de mim a chance de reencontrar minha família no pós vida, e levou algum tempo até perceber que Miranda me deu a chance de uma nova vida e de viver tantas coisas que eu ainda não tinha tido a chance – Alcina brincou com o lençol que cobria suas pernas – Eu nunca havia me apaixonado, ou visto o mar...

- Ela te condenou a um mundo de trevas.

- Ela me deu a chance de conhecer você.

Ella ficou sem saber o que responder, uma vida inteira de trevas valeria a pena somente por sua causa?

- Há quanto tempo foi isso?

- Quase cem anos.

- Tem vivido aqui por todo esse tempo?

- Não, eu voltei para o castelo há aproximadamente cinquenta anos.

- Como ninguém suspeita? – Ella perguntou confusa – A Sra. McKellar me disse que você mora aqui há alguns anos.

- Isso é simples, querida– Alcina explicou – Todos no vilarejo veem e creem naquilo que mais desejam, para eles sou apenas uma mulher solitária e tento não chamar atenção durante minhas caçadas, jamais mato uma presa.

Ella sentiu o coração apertar, teve medo de fazer a última pergunta e da respeita que receberia.

- V-você me trouxe aqui pra ser uma presa? Algo pra você caçar ou algo assim?

- Não – Alcina respondeu rapidamente – Nunca, eu juro. Eu só me senti sozinha como nunca antes, viver a noite pode ser terrivelmente solitário. Só não esperava que fosse você.

- Eu?

- Tão incrível, inteligente, linda, indomável – Alcina listou – Só a sua presença parecia iluminar um cômodo inteiro, como se trouxesse o sol junto a você o tempo todo – ela fez uma pausa - Agora você pode decidir abrir a janela ou não.

Ella assentiu e se afastou das janelas, aproximando-se com cuidado da cama. Ela não sabia bem como lidar com a torrente de informações que recebeu, mas sabia que não queria causar qualquer dano à Alcina, ela ainda a amava afinal de contas.

- E sobre nós? O que eu significo pra você?

Lady Dimitrescu se levantou e fez com que Ella se sentasse na cama, ajoelhou-se e segurou suas mãos entre as dela.

- Meu amor, minha amada... – Alcina beijou suas mãos – Sou tão completamente tua que chega a doer. Não suporto a ideia de me afastar porque sei que minha ínfima existência terminaria momento em que você partisse. Sou egoísta por te amar tanto, por te querer comigo assim, mas não sou forte o bastante para deixá-la ir – ela se levantou e foi até a cômoda, voltando em seguida com um anel preso em uma corrente em mãos, Alcina ajoelhou-se novamente e colocou a joia nas mãos de Ella – Por favor, não duvides dos meus sentimentos, meu pobre coração encontrou um motivo para continuar batendo no momento em que a vi pela primeira vez. Por favor, acredite em mim. Seja minha pela eternidade, deixe-me adorá-la para sempre, Elleanor Lancaster. Amor da minha existência, minha doce Ella...

Ella encarou os grandes olhos cinzentos da mulher brilhando em expectativa, Alcina a estava pedindo não apenas em casamento, mas que permanecesse ao seu lado durante a eternidade, que abdicasse de sua família e tudo o que ela conhecia.

- Sim, eu aceito.

[...]
Brasov - Romênia – 2021.

Ella sorriu para si mesma ao ouvir gritinhos animados no quarto, ainda que o dia estivesse prestes a amanhecer e logo as garotas deviam estar na cama; Alcina cuidaria disso, sua esposa era a melhor em dar ordens mesmo que às crianças. Daniela agitou-se na banheira e um pouco de água espirrou em seu rosto, tirando Ella dos seus devaneios.

- Você está pronta para sair? É hora de ir para a cama, vampirinha.

- Pronta, mama!

A língua de Daniela enrolou um pouco e as palavras soaram como “ponta, mama!”, o que fez Ella sentir uma onda de ternura pela filha caçula. As amava igualmente, cada uma por suas particularidades, Bela era doce, Cassandra tinha um gênio determinado e Daniela, apesar de ainda ser um bebê, se tornaria selvagem com o tempo.

As três foram um presente de Miranda, a líder do covenant, após uma série de experiências para conseguir gerar um vampiro ainda no útero. Alcina lhe confidenciara que a líder estava tentando trazer sua filha de volta através de um renascimento, mas não usaria os genes restantes de Eva até ter certeza, e, embora, Bela fosse um sucesso, a cobaia que serviu de hospedeira morreu após o parto; Miranda ofereceu-lhes o bebê como quem oferecia uma garrafa de vinho. Depois de vários fracassos, provando que Bela era um bebê milagroso, vieram Cassandra e Daniela, porém o espaço de tempo entre um nascimento bem sucedido e outro tornava a experiência de Miranda inviável e elas acabaram tendo três filhas.

Ella secou e vestiu Daniela em seus pijamas, pelo menos essa noite sua filha decidira que poderia cooperar com sua mãe. De volta ao quarto, encontrou Bela e Cassandra também usando pijamas, mas, conforme o imaginado, estavam absortas na grande casa de bonecas enquanto rearranjavam tudo sob o olhar atento de Alcina.

- Hora de ir para a cama – Ella anunciou e recebeu gemidos em protesto – Vocês me ouviram, está na hora de dormir.

- Eu cuido disso, amor – Alcina sorriu – Pode deixar que eu as colocarei na cama.

- Obrigada. Volto já, amor.

Fez menção de entregar Daniela à sua esposa, mas a menininha agarrou seu pescoço com mais força e se recusou a soltar, ao que Ella garantiu que estava tudo bem e que daria conta de tudo com a pequena em seus braços.

Deixou-as no quarto e caminhou em direção à cozinha da mansão em que viviam nos arredores de Brasov, ainda mantinham o castelo onde passavam os fins de semana e o vinho ainda era um sucesso e sua principal fonte de renda, além dos negócios do covenant que ajudavam a administrar; com o tempo Ella aprendeu como tomar as rédeas dos negócios e era a responsável pela Proviam Ventrue, uma empresa de tecnologia médica cujo novo produto, prestes a ser aprovado, era o sangue clonado, o mesmo que lhes servia de alimento há décadas.

Tantas coisas mudaram, pensou enquanto caminhava até a cozinha com Daniela ainda agarrada ao seu pescoço, às vezes ela era apenas um grudinho, a menininha da mamãe. Alcina acreditava que elas eram almas gêmeas predestinadas, que estavam destinadas a se encontrar e Ella não discordaria dela.

As duas se casaram oficialmente após a transformação e Ella adotou o sobrenome de Alcina alegando que havia sido Ella Lancaster por muito tempo, e a condessa jamais negou que realmente gostou de como Lady Elleanor Dimitrescu soava.

Elas assistiram guerras se formarem e acabarem. Assistiram um homenzinho tomar o poder na Alemanha e causar danos inimagináveis, viram pessoas comuns cometerem atrocidades em seu nome e idolatrá-lo como a um adeus. Viram o ser humano falhar e causar acidentes que deixaria um rastro de destruição e mortes atrás deles; Ella ainda se lembrava de segurar a mão de Alcina enquanto assistiam o repórter noticiar o acidente de Chernobyl na televisão, quando se vive para sempre é impossível não colecionar essas memórias. Desde então inúmeros desastres se abateu sobre a humanidade, mas sua família continuou forte, principalmente após a chegada das filhas.

Ainda com Daniela agarrada ao seu pescoço, Ella abriu o freezer e tirou três bolsas de sangue com o selo da Proviam Ventrue e as esquentou no micro-ondas; O- para Cassandra, AB para Daniela, seu bebê exigente, e A+ para Bela.

Fazer tudo com uma mão não era nada fácil, mas Ella havia se adaptado desde a chegada de Bela e tinha mais facilidade em despejar o sangue em uma mamadeira sem fazer a maior bagunça pela cozinha. Segurou Daniela com um braço e apontou em direção ao armário.

- Quer escolher qual mamadeira usar hoje?

- Dino! – Daniela gritou – Me dá o dino, mama!

- Muito bem, o dino então.

Pegou a mamadeira com bico de silicone e o desenho de pequenos dinossauros, embora o menor estivesse ficando apagado e teriam que comprar outra antes que desaparecesse, Dani adorava aquela mamadeira; pegou também o copo roxo com bico de silicone que era o preferido de Cassandra e o rosa com canudo que pertencia a Bela. Sua filha mais velha teve a primeira caçada e Ella tentou não pensar nas circunstâncias em que ocorreram, ainda sentia-se apavorada com o que poderia ter acontecido se não fossem vampiras.

Deixou o pensamento de lado e colocou todo o sangue nos recipientes, tomando cuidado para acertar o tipo certo em cada copo e entregou a mamadeira para Dani que imediatamente a levou à boca e sugou avidamente.

- Meu monstrinho estava com fome, não é? – perguntou ao beijar a cabeça da menina – Hora de dormir, filha.

Levou Daniela de volta para o quarto e não se surpreendeu nada ao encontrar as filhas mais velhas aconchegadas na cama de casal que dividiam, já com os olhinhos moles de sono. Sua esposa estava sentada na beirada da cama e cantava uma canção de ninar suave, quem via a mulher poderosa e assustadora jamais poderia imaginar a mãe carinhosa que era para suas filhas.

Entregou os copos para as filhas e sorriu quando lhe agradeceram, ainda que mal pudessem manter os olhos abertos.

Aquela era sua rotina da noite. Banho, última mamadeira, ou copo no caso das mais velhas, de sangue e uma história ou canção de ninar. E, droga, elas se davam muito bem nisso.

Aos poucos Daniela caiu no sono, assim como suas irmãs mais velhas, e Ella a colocou em seu berço, limpou seus lábios e tirou a mamadeira de suas mãozinhas para que pudesse dormir tranquilamente. Alcina e ela revezaram-se para dar um último beijo de boa noite nas filhas, Bela ainda murmurou um “eu te amo” meio embolado, mas logo voltou a dormir.

As duas saíram juntas do quarto e Ella suspirou, feliz por suas filhas estarem bem e seguras, mas também cansada depois de uma longa noite.

- Como foi colocá-las na cama?

- Bela e Cassandra brigaram – Alcina suspirou parecendo cansada e passou o braço ao redor dos ombros de Ella – Temos crianças demais e camas de menos.

- Pode ser bom comprar uma cama para Dani, ela está grande para o berço.

- Não, não o meu bebê!

As duas riram baixinho para não despertar as crianças e continuaram abraçadas até chegarem aos seus aposentos, ao que Alcina a puxou para um beijo gentil e carinhoso.

- Tivemos uma noite e tanto. Bela foi levada, caçou pela primeira vez... Cassandra se saiu muito bem... – Alcina sorriu – E Daniela foi a coisa mais fofa!

- Ela foi – Ella concordou e abraçou a esposa, deitou a cabeça em seu peito e suspirou feliz – Estou contente por ter acabado bem.

- Eu também, meu amor...

Beijaram-se novamente e Ella se deu conta, não pela primeira vez, que nunca se cansava de beijar Alcina e que provavelmente nunca se cansaria. Após um breve momento de silêncio, durante o qual Ella voltou a apoiar a cabeça no peito da esposa, Alcina perguntou:

- Você se arrepende de algo?

Não precisou pensar antes de responder.

- Não me arrependo de nada.


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E aí, o que acharam? É mais romântica do que a última rsrs
Comentários, sugestões e ideias são bem vindos!

Lady Dimitrescu - one-shots (fanfic Resident Evil)Onde histórias criam vida. Descubra agora