A minha sexta-feira foi uma meleca (tudo estava verde e pegajoso como uma). Primeiro porque dormi no tapete. Claro, acordei toda quebrada. Meu pescoço voltou a doer, precisei até ingerir um comprimido de anti-inflamatório. Tomei um banho rápido, não comi nada e mesmo assim me atrasei quase meia hora. Meu chefe quase me engoliu. Havia muito a ser feito, qualquer atraso era significativo. Passei o dia todo sem conseguir trabalhar direito. Minha concentração era facilmente desvirtuada; qualquer coisa se tornou motivo para pensar na Addison. Não queria pensar nela, mas não encontrei outra saída. Foi involuntário. Os pensamentos apareciam sem que eu fizesse esforço algum. Todas as ideias que juntei se resumiram a uma grande conclusão: eu estava certa. Ela tinha sido muito ridícula comigo. Tudo bem que a ofendi sem querer, mas foi a idiota que veio com aquele papinho de que gosta de mim e não quer me fazer sofrer. Dá licença, né? Não tenho paciência para isso. Se a Calvin ficasse calada e voltasse a transar com as vadias, não me importaria (mentira cabeluda). Ok, seria melhor do que dar uma de coitada.
Esse papinho de "eu não sirvo para você" é uma palhaçada. Para mim o raciocínio é muito lógico: se me comporto de um jeito que não me faz merecer certas coisas, simplesmente mudo de atitude para fazer por onde merecê-las. Mas não, ela vive naquela ladainha, conformando-se em ser safada como se fosse algo absolutamente imutável. Só pode ser preguiça, comodismo, má vontade... A culpa de ser safada é só dela. Se gosta de ser assim, então para quê o draminha? Estava tentando se desculpar por não ser quem eu queria que fosse? Conta outra! Sou madura, apesar de tudo. Entrei na situação sabendo onde estava me metendo. Não estava exigindo nada dela, muito menos um compromisso, coisa que não estava em meus planos para aquele ano (talvez nem para aquela década). De uma coisa eu tenho certeza: sou exatamente quem quero ser. Realizo cada um dos meus sonhos com muita luta e determinação. Não fico olhando para a grama da vizinha, não espero nada cair do céu, não me lamento pelo que ainda não consegui. Sou transparente, acredito nos meus valores,tenho discernimento. E, sinceramente, não entendo como alguém pode dizer a frase "eu não presto" com tanta convicção, como se fosse uma doença terminal que só dependesse da sorte para obter uma cura. Deus me livre!
Ela era muito infantil. Precisava entender certas coisas, rever suas prioridades. A vida ia lhe dar pancadas fortes cedo ou tarde se continuasse a agir assim. Tudo bem que deve ser difícil ser tão nova e linda, ter todas as mulheres que quiser, morar sozinha e não ter nenhum familiar com quem contar...
A Calvin era bastante solitária. Sua sensibilidade não lhe deixava negar. Aquelas amizades (trocas de favores sexuais) não preenchiam o vazio que só o amor familiar pode oferecer.
Por incrível que pareça, depois de muito xingar, praguejar e quase morrer de raiva, comecei a sentir verdadeira pena da Calvin. Aconteceu perto do fim do expediente, quando o meu chefe já estava tão indignado que simplesmente me mandou ir para casa mais cedo. Aleguei estar sentindo cólicas (uma desculpa que sempre funciona entre os homens; eles não sabem o que isso significa, mas imaginam que você esteja praticamente tendo um aborto), pedi desculpas aos meus colegas e fui embora.
Tentei não me sentir uma derrotada enquanto dirigia pela cidade. Parei de sentir arrependimento. A noite anterior foi incrível, nem mesmo as palavras imbecis da minha vizinha safada foram capazes de apagar as lembranças do nosso momento de entrega. Ainda podia sentir suas mãos me tocando. Meu ventre gritava toda vez que me lembrava daquele corpo impressionante me possuindo.Revivi cada instante. Cada detalhe.
Recebi uma ligação da minha mãe (quase derrubei o celular antes de atender, estava distraída). Ela avisou que a família não poderia almoçar na minha casa nova no dia seguinte (eu nem me lembrava daquele maldito almoço), pois vovó tinha amanhecido adoentada. Ninguém sai da minha antiga casa enquanto um membro estiver doente, era a principal regra. Já perdi muitas festas porque o Christopher estava com febre, ou porque a Taylor não parava de tossir. Fiquei bastante preocupada com a minha vozinha querida, mas mamãe me tranquilizou, avisando que era apenas uma gripe. Como se tratava de uma senhora de quase oitenta anos, carecia de cuidados especiais. Concordei e avisei que faria uma visita quando ela estivesse um pouco melhor, pois não queria incomodá-la. Sei bem que vovó era uma cabeça dura, ia querer cozinhar alguma coisa para mim se me visse por lá. Quando desliguei o celular, percebi que teria um fim de semana inteiro pela frente. Seria um tédio completo, mas não era isso o que eu queria desde o princípio? Usaria cada segundo para cuidar de mim. Ligaria o som bem alto e abriria uma garrafa de vinho. Cantaria como se não houvesse amanhã, gozando da minha liberdade conquistada à duras penas.
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A Safada do 105 - Meddison (HIATUS)
FanfictionA analista de sistemas Meredith Grey finalmente compra um imóvel e realiza o sonho de morar sozinha. Assim que ela se muda para a casa de número 104, descobre que sua nova vizinha, que ela apelida de 'Calvin', uma chef de cozinha alta, bonita, jove...