Capítulo II. Violência agora é o meu estilo de vida

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EU APAGUEI.

Não me lembro de mais nada depois daquilo. Tudo parece um borrão. É difícil me concentrar. Com certeza Camille controlou nosso corpo. Eu me sinto pesada. Minha cabeça está muito pesada e, tudo gira ao meu redor. O gosto metálico na minha boca é horrível. As dores se unem massacrando minhas juntas. Eu não tenho forças para erguer minha cabeça. Camille deve ter feito alguma coisa. Não gosto dessa sensação de impotência. Sempre sou vista como ameaça. Mas a verdadeira ameaça está completamente ligada a Camille. Meu corpo pesa ainda mais quando sinto o controle se esvaindo aos poucos de meus músculos.

- O que você fez, Camille? - Sinto minha voz fraquejar pela garganta seca.

Ela está em silêncio.

Camille sempre fica em silêncio quando faz alguma coisa errada.

Em silêncio e escondida.

Respiro fundo.

Eu sempre tento me lembrar que respirar fundo é o melhor começo para voltar a ter o controle de meu corpo. Começo a movimentar devagarzinho meus dedos dos pés, não demoro muito para conseguir senti-los por completo. Minhas pernas, meu tronco. Mas, a droga das minhas mãos não se mexe, não por estarem dormentes, não era nada do tipo. É muito pior do que isso. Meus pulsos estão amarrados nas grades laterais da cama. Pelo visto, Camille havia feito muito mais do que falado alguns palavrões. Aquela filha da mãe me paga.

É sempre assim.

Algo acontece, e bum... Camille surge em sua pior versão e, eu sempre levo a culpa.

Eu sou controladora e desbocada. Camille é a mente assassina.

Não consigo dizer se é dia ou se já anoiteceu. O quarto branco permanece com sua luz acesa por tempo indeterminado. E isso me irrita, quase me adoece, inflamando minhas veias com ódio. Tento respirar fundo, mas está muito difícil prantear naquela brancura toda iluminando ao meu redor. Não sei quem foi o idiota que inventou que a cor branca traz calma e paz. Aquela brancura toda me dá nos nervos. Me dá vontade de esfaquear alguém, só para pintar as paredes de outra cor.

Numa de minhas incursões de tentativas falíveis de respirar fundo, um som interrompe meus exercícios respiratórios, quando o estalido metálico ressoa.

Os pelinhos do meu braço arrepiam. Se arrepiam de uma maneira dolorosa. Odeio aquela sensação. Meu estômago se agita. Minha boca fica seca e, uma lágrima escorre de meus olhos. Toda aquela tensão me dá nos nervos. Semicerro meus olhos e espero...

- Cuidado com essa aqui - aquela voz asquerosa ressoa. - Não é de confiança, você tem que dopar o dobro essa aqui, se quiser realmente brincar. E torça para essa porra louca não acordar.

Engulo em seco.

Duas respirações pairam perto de mim.

Eu sinto algo me repuxar com força, mas eu tento me manter firme aqui dentro. Não quero ela sob controle agora, por mais assustador que a situação possa parecer. Eu posso aguentar mais um pouco. Eu sei que consigo.

Infelizmente meu corpo está dando sinais de alerta demais para toda a extensão de meu corpo. O medo é uma camada de proteção. Com 2,5cm, num formato de uma pequena amêndoa, minha amigdala controla o instinto do medo. Minhas pupilas dilatam absorvendo ainda mais luz. Meu coração ribomba muito rápido. Aquela altura meu fluxo sanguíneo diminui drasticamente em meu estômago, causando calafrios que quase me faz regurgitar, e os pelinhos dos meus braços se eriçam. Era para eu estar paralisada por conta do medo, mas o cérebro é um tofu melequento que possui diversas válvulas de escape. O medo não me paralisa, ele me envenena, causando-me raiva. Uma verdadeira explosão de raiva.

Apartamento 213 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora