62 | marianna

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Acabo de arrumar minha mala e doou um pequeno suspiro, um tempo afastada me ajudaria, certo? Eu colocaria minha cabeça no lugar e tudo passaria, não? Respiro fundo enquanto me encara no espelho, eu usava uma calça jeans fly e por cima um moletom que eu havia roubado do Thiago, sorrio fraco e saio do quarto sentindo vontade de nunca ter saído de dentro dele.

"Posso falar com você?" O Loiro pergunta, ele estava com um sorriso fraco e isso faz com que sentisse um gelo revirar meu estômago, assinto com a cabeça e ambos vamos para a sacada, me aproximo da tela que Alan providenciou alguns dias depois de um dos meus surtos.

Ficamos os dois em silêncio por pelo menos dois minutos, não me sentia mais confortável para falar, levo minha mão até os lábios, puxando a pele seca e sentindo o sangue em contato com os meus dedos, depois lambendo o lábio para secá-lo, enquanto isso, Calango observava o lado de fora em silêncio, me perguntei por rápidos segundos se ele ainda me amava, se ainda havia em mim que fazia seu estômago ter borboletas e seus batimentos agitarem atrapalhando sua respiração.

"Mari, eu não sei o que deu em mim, não sei porque eu chorei na frente de todo mundo, não sei porque decidi te expor daquela forma, mesmo sem ter citado o seu nome, era óbvio que era você." Murmura e eu foco meu olhar no chão, era difícil olhar para ele sem chorar. "Você lembra daquele dia que você foi na minha casa e a gente saiu de madrugada pela rua?" Ele ri baixo e eu acabo por acompanhá-lo. "Eu lembro que você parecia um presente de tão empacotada por causa do frio." Acabo por rir novamente. "Você é muito especial para mim."

"Desculpa." Sinto as lágrimas invadirem meus olhos e minha voz embaçar. "Eu fui muito babaca com você e por muito tempo." Seus dedos tocam meu rosto limpando as lágrimas que caiam descontroladamente. "Eu sou difícil de lidar e eu sei disso, eu fui muito idiota e eu preciso de terapia para entender porque eu me saboto toda vez que eu tenho uma oportunidade de ficar perto de você." Doou um pequeno suspiro. "E eu nem sei porque eu fui embora, eu só... Eu tinha medo de você ser igual outras pessoas que me machucaram enquanto passavam pela minha vida, de você estar enjoando de mim e eu pensei que seria mais fácil ir embora antes que você fosse embora."

"Eu não ia embora, Mari." Murmura baixo e eu assinto.

"Mas explica para mim isso, explica para isso aqui." Aponto para a minha cabeça de forma agressiva e acabo por grunhir tentando me acalmar antes de ter um surto. "Eu preciso melhorar, Thiago, eu não to bem o suficiente para te fazer bem."

"Você sempre me faz bem, Marianna, eu agi daquela forma porque eu simplesmente achava que você não gostava de quando eu era amoroso, você só me quis quando eu comecei a namorar, eu não queria que você parasse de me querer." Da os ombros. "Eu só não queria que você me deixasse."

"Eu não quero te deixar." Digo fraco sorrindo de canto. "Você tem um cigarro?" Ele tira do bolso o maço e me entrega um, depois segurando outro, ele pega o isqueiro e acende para mim, depois acendendo o dele. "Acho que ficar um pouco longe vai fazer bem para mim, preciso melhorar."

"Você quer que eu te visite?" Pergunta soltando a fumaça.

"Não sei." Respondo e em seguida levo o tubo cancerígeno para a minha boca novamente.

"E o que nós somos?"

"Não sei."

"O que você sabe?" Fala um tanto provocante.

"Que eu preciso ir porque daqui a pouco é minha hora." Ele assente com a cabeça.

Ficamos de frente um para o outro em silêncio, os cigarros na mão de ambos porém longe dos lábios, não havia nada que definisse o que sentíamos pelas expressões faciais, era quase como se nós dois fôssemos imparciais sobre a atual situação que estávamos vivendo. A realidade era que eu surtava por dentro com medo, medo de ele não querer mais me ver depois que eu voltasse, medo de ele arrumar alguém nesse meio tempo e medo do abandono mas ao mesmo tempo com medo de me comprometer, ele da um passo para frente e eu faço o mesmo, decido finalmente acabar com meu nervosismo e colo nossos corpos em um abraço, minhas mãos se envolvem em sua cintura enquanto os dedos dele acariciavam meus cabelos com cuidado, sentia medo de não tê-lo quando voltasse mas nesse momento apenas queria me sentir bem.

𝐅𝐎𝐎𝐋𝐒, calangoOnde histórias criam vida. Descubra agora