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- Estão se dando bem agora então?- perguntou Matt enquanto cortava o cabelo de seu amigo Tom calmamente.

- Até que sim, não é como se eu tivesse muita escolha também- disse rindo um pouco.

- É verdade haha. Mas mesmo assim não está sendo ruim ser amigo dele, está?- separava os fios nos dedos e passava a tesoura. Não cortava muito, tentando manter o visual típico do outro.

- Não...até que não- deixou escapar um sorriso curto. Se corrigiu antes que ele pudesse aparecer- mas não somos amigos, nos trabalhamos juntos. Só isso-completou tirando um riso irônico do cabeleireiro.

Conforme o tempo passava, Tom ficava cada vez mais forte. Trabalhava mais, treinava mais e passava praticamente o dia todo comparecendo a reuniões ou andando por aquela base enorme que parecia mais um labirinto. Tinha sorte de ter um senso de direção tão bom, porque se não tivesse já estaria sumido a duas semanas dentro de algum cômodo aleatório. Os encontros com o Líder eram mais frequentes fora do expediente, o que acabava com seu argumento de que eram apenas colegas de trabalho. Sempre andavam juntos e era raro encontrá-los andando sozinhos. Acho que nem se quer percebiam a aproximação, estava se tornando algo cotidiano.

- Tom, preciso que saiba de uma coisa- anunciou Tord depois de voltar de um interrogatório- estamos sob uma ameaça muito perigosa ultimamente. O exército laranja está se rebelando contra nossa tentativa de acabar com a aliança. Acho difícil que eles cheguem aqui, mas em todos os casos eu vou precisar de você comigo na ação. Preciso que esteja preparado- explicou sério- eu sei que não é algo que você gosta, acredite, eu também não gosto, mas não vai poder ter medo de matar- disse aquilo olhando no fundo dos olhos negros.

Tom sentiu um frio na espinha, aquele olhar começava a assusta-lo cada dia mais. Associava aquele olhar baixo a coisas ruins desde a primeira vez que o viu no rosto do norueguês. Não imaginou que teria que fazer isso, era apenas um secretário. Mas entendi que se não tivesse sido contratado para esse serviço, teria recebido um cargo do exército. Então simplesmente fez que sim com a cabeça, mesmo que apreensivo, não teria muita opção a não ser aceitar.

- Olhe para mim, eu vou proteger você. Só preciso que esteja comigo lá. Você é forte e inteligente, confio no seu potencial- disse levantando a cabeça do outro para que o olhasse nos olhos.

- Você não pode me proteger, o líder é mais importante- foi calado por Tord que pressionou o dedo indicador na boca do homem.

- Não discuta comigo- ordenou e então soltou o rosto de Tom. Andou até sua mesa e se sentou, voltando a ver seus papéis.

Durante o expediente, Tord tendia a ser mais agressivo e autoritário. Mantinha aquela postura de ditador que dava medo em todos. Mas fora era um cara legal e engraçado, sarcástico e tinha piadas horríveis. Era confuso como durante o dia ele tinha aquele sorriso sínico ou uma cara amedrontadora de quem mataria você sem exitar. Mas de noite ria simpático e passava a impressão de que poderia te dar uma flor se quisesse por motivo nenhum. Aquilo confundia Tom, não sabia se odiava Tord ou se só odiava o líder comunista que ele era, eram pessoas totalmente destintas uma da outra.

- Você é confuso sabe- disse Tom enquanto jantava com o líder- você tem dupla personalidade?- perguntou tirando uma risada do outro.

- Como assim?- questionou se endireitando na cadeira.

- Agora você é o Tord legal, sarcástico e que me convida pra jantar na sua casa. Mas no trabalho você é um Tord agressivo, com cara de psicopata, um sarcástico mal que me faz questionar se cada dia é meu último. Que palhaçada é essa?- falava indignado enquanto o outro segurava o riso.

- Se eu te pedisse para me servir agora e depois lavar a louça sem ajuda nenhuma enquanto eu fico sentado aqui, você faria?- Tom riu e respondeu que não, uma resposta óbvia- agora, se eu levantar assim- disse arrastando a cadeira para trás lentamente e se levantando. Bateu a mão na mesa assustando o outro e o encarou com um olhar ameaçador e estreito, com o rosto a poucos sentimentos de distância do outro- me serve- ordenou com q voz rouca.

Tom imediatamente encolheu os ombros por instinto e esticou o braço até a mesa lentamente, quase que inconscientemente. Tord riu fraco e pegando em seu braço o parando.

- Viu. Claro que se eu pedir pra você com jeitinho e te dar uma proposta justa, você vai fazer. Mas eu não tenho tempo pra negociar com empregados e não são todos que obedecem se eu for bonzinho. Se eles pensarem que vão morrer, não vão questionar- explicou voltando para a mesa e se sentando- é tudo um jogo psicológico- Tom estava impressionado.

- Você é mau....inteligente mas mau- Tord riu, olhando para Tom logo em seguida com os olhos estreitos e um sorriso- por que tá me olhando assim, eu em- odiava receber esses olhares provocativos do mais alto, sabia que coisa boa de lá não viria.

       - Mas então quer dizer que você tem medo de mim? Hmmm interessante Thomas- voltou a comer ainda com aquele olhar e sorriso pequeno que Tom tanto odiava e desejava matar.

       - Eu tenho medo do líder vermelho, não do Tord. Não pense que eu vou te obedecer quando bem entender só porque você levantou a voz pra mim e deu um soquinho na mesa- tentava manter a postura de antes que tinha perdido completamente. Se ele o olhasse daquela forma ameaçadora, sem dúvidas iria obedecê-lo. Mas não tinha que saber disso.

        - Sei hm- disse rindo sarcástico- mas de qualquer forma, eu não teria porque machucar você. Você teria que fazer algo extremamente grave para eu tomar esse tipo de atitude. Além de que eu poderia pensar em outros métodos menos perigosos para uma punição- aquele papo não estava o agradando nenhum pouco e era nítido. Tord riu e deu um tapinha em sua mão que repousava na mesa- nha, eu tô só brincando. Não sou tão louco assim- se levantou e pegou seu prato e o de Tom que já tinha terminado- me ajuda a lavar a louça?- perguntou com um sorriso cativante que sabia que fazia seus pedidos irrecuperáveis.

      Lavaram a louça e arrumaram a cozinha, tudo que faziam normalmente. Tord acompanhou Tom até a porta e a abriu, se despedindo e vendo o outro sair em direção a base que ficava na frente de sua casa. Não sabia o por quê, mas se sentia um pouco vazio toda vez que o outro ia embora. Coisa que antes não acontecia porque quando estavam juntos era certo de que iriam discutir e agora eles não só se aturavam como passavam mais tempo juntos fora do trabalho do que quando estavam no expediente. Não queria mas gostava daquilo. Conversar com Tom era legal, ele era inteligente, sabia de muita coisa e gostava de aprender, se virar sozinho e ser útil. Aquilo o agradava.
         A alguns meses a única imagem boa que tinha do colega era que ele tinha bom senso de direção e que era organizado. De resto pensava que poderia descrever Tom como um alcoólatra chato, sedentário, pessimista, estraga prazeres e meio idiota as vezes. Não que essas coisas não fossem verdade, mas agora ele tinha qualidades que pareciam muito mais interessantes de focar do que nos defeitos, que agora nem eram mais tão visíveis, tipo o alcoolismo ou o sedentarismo.

       Estranhou seus pensamentos e só decidiu ignorar. Devia estar se acostumando a ter uma companhia e agora achava estranho ficar sozinho. Devia ser isso, nada para se preocupar.
         Subiu as escadas e se preparou para deitar. O dia tinha sido difícil, só queria descansar um pouco.

Nosso lindo futuro[Tordtom](sendo reescrita) Onde histórias criam vida. Descubra agora