Café

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Draco Pov

Eu sempre gostei de observar a água. Quando era pequeno, meus pais costumavam me levar para a nossa casa de verão, onde havia um grande lago, e eu adorava acompanhar o movimento da água com os olhos, o jeito como a correnteza era forte, como era lisa, fluída, ora plácida, ora turbulenta.

Isso sempre me encantou.

E desde então, enquanto eu dançava, costumava associar meu corpo a um grande rio. Deixava a placidez aflorar em cada movimento delicado, cada giro, cada salto, enquanto continha minha turbulência interna.

Eu me deixava fluir, sendo levado pela música, como uma folha de bordô que cai de uma árvore no outono, e é levada pelo vento até encontrar a água.

A folha não tem medo de se afogar na correnteza, assim como eu, não tenho medo de me perder na música.

Sem medo de me perder em meu corpo, em meus movimentos.

Certa vez Harry me perguntou se eu acreditava em algo, e eu respondi que estava buscando algo para acreditar. Mas agora, poderia dizer que acreditava em duas coisas, e uma dessas duas, era a dança.

Porque me salvou, mesmo quando tinha todo potencial para me destruir.

E porque me libertou, quando eu estava preso.

Por isso eu não tinha mais medo de errar os passos. Não tinha medo de me deixar fluir enquanto dançava, porque eu acreditava na dança, acreditava em mim, e nos meus movimentos, e acreditava na música, que me levava.

Eu dançava com o coração. E por isso sabia que jamais poderia errar, porque onde estava meu coração, ali também, estava minha vida.

Eu não tinha mais medo de mim.

Era livre, como a água.

Então, mesmo que estivesse nervoso agora, abri os olhos, ao final da música, ainda sentindo meu corpo vibrar com o ritmo que ia se esvaindo, tentando regular minha respiração ofegante, por conta dos movimentos elaborados.

E encontrei o que eu procurava. O que eu havia procurado durante muito tempo, sem sequer saber.

O garoto dos olhos verdes e gentis sorriu para mim. E eu percebi que a segunda coisa na qual eu acreditava, era ainda maior do que a primeira.

Nem nas melhores fanfics que eu imaginava na minha cabeça, eu poderia visualizar um cenário onde Harry estivesse ali, na minha sala de dança, que havia ficado pronta há alguns dias atrás, me vendo fazer uma das coisas que eu mais amava.

Eu não imaginei que o garoto fofo da cafeteria poderia realmente entrar na minha vida daquele modo.

Ainda lembro de tê-lo visto pela primeira vez, no dia em que me mudei.

Harry estava lindo, quer dizer, ele sempre estava lindo. Mas… ele estava lindo.

Com os cabelos negros bagunçados, os olhos naquele verde intenso e brilhante, e o sorriso divertido e agitado. Rindo enquanto saía da cafeteria e fugia do cara que eu descobri ser Sirius, o padrinho dele.

Eu estava passando do outro lado da rua, e ouvi a risada de Harry. E ela era tão espontânea e verdadeira, que me chamou a atenção, e eu parei só para olhá-lo.

15b - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora