Gatilhos: violência, homicídio
𝕽𝖊𝖈𝖎𝖋𝖊, 𝕻𝖊𝖗𝖓𝖆𝖒𝖇𝖚𝖈𝖔. 29 𝖉𝖊 𝖘𝖊𝖙𝖊𝖒𝖇𝖗𝖔 𝖉𝖊 2019.
-Agda, por favor, não vá. É só o que eu te peço, irmã.
-Cecília, poupe-me. Eu não gastei aquela fortuna toda para reformar as ruínas do engenho à toa.
-Mas Agda, você não se lembra do que o vovô passou naquele engenho?
-E você acredita? Fantasmas não existem, e o vô era um velho caduco.
-Ora, Agda, respeite a memória do vovô.
-Ora digo eu, me deixe em paz, Cecília.
Agda, irmã mais nova de Cecília, recém casada com um rapaz chamado Lucas, mandou reformar o velho engenho da família, onde pretende morar com seu marido. Cecília achou uma loucura. Ao contrário da irmã, acreditava nas histórias do avô, falecido dois anos antes, vítima de um infarto fulminante. Aquele senhor mesmo, o Alberto. Agda pretendia morar no engenho há muito tempo, já que gostava de estar em contato com a Natureza e gosta muito de história. A casa foi reformada, décadas depois do incêndio. Respeitando a arquitetura colonial original. Pois bem, Agda e o marido se mudaram para o engenho, completamente céticos, descrentes que qualquer coisa sobrenatural pudesse acontecer. A casa já estava arrumada, mobiliada e só esperando que o casal chegasse, junto com seu melhor amigo: o cachorrinho yorkshire chamado Sushi.
-Ah, a casa está lindíssima! - Disse sorridente, Lucas, o marido de Agda, enquanto carregava o cachorrinho no colo.
-Sim, maravilhosa. Eu só espero que o Wi-Fi pegue bem aqui. - afirmou agda.
O casal adentrou o casarão recém reformado, ainda com cheiro de tinta, mas começaram a sentir um frio absurdo, em pleníssima primavera. Julgaram que fosse pelo fato de as janelas estarem fechadas, então resolveram abri-las para que a luz do sol entrasse. Lucas começou a abrir as janelas do andar de baixo da casa. Na última janela, Lucas sentiu que havia algo viscoso na janela. Ele olhou para a própria mão, e viu que era um líquido vermelho. Mesmo hesitante, o rapaz levou a mão perto do nariz e cheirou. Tinha um forte cheiro de ferro, era sangue. Lucas arregalou os olhos e foi correndo até o banheiro lavar a mão.
-Agda! Agda! Corre aqui na cozinha!
-O que foi amor?
-Tem sangue na janela!
-O que? Você está louco? - Respondeu a moça, sem entender nada.
-Não acredita? Olha aqui! - Disse o rapaz mostrando a veneziana da janela que se abria pra dentro.
-Lucas, não tem nada aí.
-M-mas ti-tinha uma mancha de sangue na janela, até sujou minha mão!
-Oras, não tente me assustar amor, você sabe que eu não acredito nas histórias sobre essa casa. Anda, vamos desempacotar as coisas.
O casal retirou as caixas da caminhonete e desempacotou os enfeites que estavam nelas. Caiu a noite, era por volta de 1:30h da madrugada e Agda estava assistindo Netflix na sala, ao lado do Sushi, sentada no sofá cinza recém comprado. O sono se abateu sobre a moça, então ela resolveu ir dormir. Procurou o controle da TV e ele havia sumido. Agda podia jurar que deixara o controle do seu lado no sofá. Enfim, ela resolveu desligar a TV na tomada mesmo, e foi tomar um copo d'água na cozinha. Quando Agda acendeu a luz do grande cômodo de chão de piso xadrez, pode ver na ponta do balcão da cozinha, o bendito controle da TV. A moça bebeu água, pegou o controle e devolveu para a sala, sem entender nada e foi dormir. Mas o pior aconteceria com o pobre Lucas: Por volta das 3:30h da manhã, Lucas acorda sem conseguir se mover, com uma queimação na garganta e estava lá: um homem barbudo, usando roupas pretas do século XVI e com um semblante irritado e emburrado. Ele se aproximou de Lucas e segurou o braço do moço com suas mãos gélidas e cadavéricas. De repente, Lucas sente um impulso e sente seu antebraço direito arder. Havia três marcas de arranhão no braço do garoto. Então, Lucas apagou. No outro dia, Lucas acordou com Agda dando leves tapinhas em seu rosto.
-Ei! Ei amor! Você está bem?
-Hein? O que? Onde?
-Ah, você está bem mas... O que foi isso no seu braço? Parece que você se arranhou enquanto dormia.
Lucas levantou da cama muito desanimado, como um aluno levantando da cama no inverno para ir à escola. Ele se sentia meio grogue, meio estranho, mas estava com fome. Arrumou café para ele e sua esposa, e após o café, os dois foram passear pela propriedade rural. O casal chegou num lugar muito lindo, era um lago cercado de árvores. O mesmo lugar que o senhor Alberto adorava ficar quando criança. Eles sentaram na beirada do lago e ficaram admirando a paisagem, até Agda começar a encarar a outra margem do lago. Helena, a noiva assassinada de vestido ensanguentada estava lá, olhando o casal com aquele semblante abatido e triste, que carrega há tantos séculos, desde sua morte. O casal, boquiaberto, encarou a noiva, que se desmaterializou como fumaça.
-Você viu o que eu viu? - disseram em côro.
-Meu Deus, definitivamente eu não dormi bem essa noite - disse Agda enquanto esfregava os olhos.
-Mulher você acabou de ver um espírito, deixa de ser... Ah esquece...
O casal explorou mais um pouco a imensa área verde da propriedade e voltou para a casa para preparar o almoço, mas quando chegaram na cozinha, ela estava uma zona, tudo revirado, panelas todas no chão, vidros de temperos e pratos aos pedaços. Meu Deus! O que teria acontecido ali? Não podia ter sido o cachorrinho, ele não alcançava a prateleira. O que causara aquele caos na cozinha? Bom, Lucas e Agda não quiseram saber. Limparam a bagunça e foram almoçar fora. Na volta, passaram no mercado para substituir os temperos e os pratos que foram arremessados ao chão, sabe-se lá pelo que. Chegaram em casa à noitinha, mas quando chegaram, Lucas avistou, na janela frontal do casarão recém reformado, o mesmo homem que apareceu durante a sua paralisia e arranhou seu braço, estava em uma das janelas frontais, segurando o pescoço da noiva de vestido ensanguentado que estava no lago e... coitada, ela estava amedrontada... Ele os encarou por alguns segundos que pareceram horas, até ser tirado do transe pelo latido do Sushi, que estava latindo para a mesma janela que ele encarava, mas quando ele olhou novamente, não estavam mais lá. As semanas se passaram e Agda começou a ficar doente, como o avô quando viveu na casa. Logo após, Lucas também começou a adoecer, o cachorrinho Sushi, não queria comer e mal bebia água. Nem remédio, nem nada era capaz de curar o casal e o pequeno cachorro. Em uma determinada noite, Lucas e Agda estavam no quarto se preparando para dormir, quando de repente, Sushi começa a fazer um escândalo no andar de baixo. O cachorrinho latia muito, até que deu um grito esganiçado e ficou completamente em silêncio. Agda ficou preocupada e foi ver como estava o cachorrinho. Péssima idéia. Agda chegou na sala, e cachorrinho tinha um furo no abdômen e um corte na garganta, pareciam ter sido feitos com faca. Agda chamou Lucas aos prantos. O bichinho não tinha mais vida, os cortes foram fundos e feios. Não tinha chance de o bichinho sobreviver. Lucas foi até a área buscar panos para embrulhar o corpo do cachorrinho. Enquanto Agda estava sozinha com o corpo já sem vida do seu amado bichinho, pôde ver, de canto de olho, um homem barbudo, no escuro do corredor, olhando pra ela com um sorriso medonho e psicopata. O casal procurou alguma porta ou janela arrombada o aberta, pois julgavam que alguém havia entrado na casa e matado o cachorro, mas estava tudo como haviam deixado. No dia seguinte, o pobre bichinho foi enterrado na propriedade. Quando a tarde caiu, começou a chover forte e a luz caiu. Precisaram buscar velas no porão gelado e velho do casarão, onde a pobre noiva ficou emparedada por séculos. O casal foi dormir e deixou uma vela acesa no quarto. Grave erro. A vela caiu sem que algo visível derrubasse ela, incendiando a casa e ceifando a vida do casal. E Helena? Ela tentou protegê-los, mas o espírito do barão ganhou força e impediu Helena de salvá-los, sequer pôde se comunicar com os moradores, como fizera décadas atrás. A família ficou arrasada, especialmente Cecília.
-Por que, irmãzinha? Seu ceticismo custou sua vida. Deus a tenha...
O Barão conseguiu o que queria: a morte de inocentes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
||Sweet Nightmares||
TerrorColetânea de contos de terror de minha autoria. Caso vejam alguém plagiando alguma das histórias, me notifiquem. Os contos aqui mostrados são fictícios, mas alguns podem ter ligação com ocorridos do passado. Obs.: Não recomendo para menores de 14 an...