#

577 81 57
                                    

- To saindo, tchauzinho, até depois.

Katsuki a esperava, o caminho foi silencioso como de costume. Faltando pouco para chegarem na escola, o loiro não aguentou as feições de incomodo da menina e a questionou se estava tudo bem.

- sim, só cansaço, as férias tão quase chegando, não é?!

- Você devia tomar algum remédio, sei lá, isso não é normal. Por acaso passou a noite acordada? - ela negou. - Talvez seja seu corpo que não aguenta a rotina, precisa ir no médico. - a verdade é que sua mente estava cansada. - De qualquer forma, se não tiver se sentindo bem era melhor ter ficado em casa. Eu te mandava foto da matéria. - ele não olhou nenhuma vez para ela.

Os primeiros horários passaram rápido, logo veio o intervalo e Shiori foi para a biblioteca. Mal chegou e se jogou de bruços sobre a mesa, fez um apoio com os braços para ficar mais confortável. A dupla de trabalho a olhava enquanto ia em sua direção. Aquilo estava incomodando o garoto. Ele tentou escrever seu relatório, mas não saiu mas que três palavras.

- Tudo bem, por bem ou por mal, me conta que merda você tem, agora! - ainda baixo ditou e sua voz saiu como um rosnado.

- Não é nada, Katsuki. - ela nem ao menos levantou a cabeça, sua voz saiu abafada.

- Olha pra mim então. - ela continuou parada. - Olha pra mim, Shiori! - talvez pelo espanto do menino ter dito seu nome pela primeira vez, ela levantou a cabeça, mas não o encarou nos olhos. Ele pegou delicadamente pelo queixo dela, o elevando. Seus olhos lacrimejavam e seu nariz estava levemente vermelho. - Claramente você não bem. Se não quiser me contar, então pelo menos conta pra alguém que você confie. - ele tirou a mão do rosto dela, aquilo poderia gerar problemas se fosse visto pela bibliotecária. - Eu te incomodo? - ela negou novamente.

- É que são aquelas coisas que a gente não conta pra todo mundo, sabe?! - ele confirmou com a cabeça e ela limpou os olhos.

- Já estamos quase terminando esse relatório, vai ser menos uma coisa pra sua mente. Tenta relaxar. - ela deu uma leve sacudida de ombros e pegou seus materiais. De fato, a parte de Shiori tinha sido terminada. Ela guardou as coisas e ficou olhando para a letra do garoto ao seu lado. Ele era bem empenhado, as letras tinham um padrão não muito grandes, nem muito pequenas.

Ela suspirou.

Suspirou ao lembrar que passaria o resto de seu último ano escolar sozinha novamente nos intervalos, já que o trabalho em dupla havia terminado. Foi tirada de seus pensamentos após o loiro iniciar uma nova conversa.

- Tem alguma música em mente pra gente ensaiar hoje? - ele perguntou ainda de olhos no que escrevia. Ela negou. - Bom, eu separei essas. - ele pegou o celular, abrindo numa playlist e entregou para a garota.

- Overboard. Essa é boa, conheço a letra. - ela devolveu o celular. - Mas se não der certo tem muitas opções pelo visto. - ela riu.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Você já fez. - ela sorriu dessa vez e o garoto revirou os olhos. - Só se eu puder te fazer outra. - estabeleceu uma condição.

- Por quê ficava sozinha no intervalo?

- As pessoas aqui pensam bem diferente e talvez eu não me encaixe. É uma coisa que tem seus dois lados. - ela parou por um tempo. - Minha vez agora, seja sincero. - ele juntou os papéis e deu uma leve passada de olho procurado erros.

- Eu não concordei com isso.

- Mas você fez a pergunta pra mim.

- Você respondeu por que quis.

- Te odeio. - pegou suas coisas e foi para a sala.

Sozinha na sala do Stúdio onde estudava com Katsuki, Shiori revisava o texto novamente, a definição dos personagens estava por vir. Se encontrou com Kirishima e foi para o auditório onde iriam se reunir.

A primeira fileira de assentos estava ocupada pelos professores das duas turmas presentes, ambos com folhas para anotações em mãos. Estava tudo indo bem, Shiori ficou feliz por não ter gaguejado, tropeçado ou ter ficado com vergonha.

Agora fora do auditório, a pedido de Takeyama, a garota teria que levar algumas caixas com tecido ao segundo andar. Passou perto da sala de música e lembrou de seu compromisso mais tarde com Katsuki, quando a sala estivesse vazia iriam ensaiar. Colocou as caixas na sala, e saiu do prédio indo até um comércio próximo, iria comprar um lanche para ela e o loiro, certeza que estariam com fome.

Sanduíches prontos e três latinhas de suco numa sacola, atravessou a rua, mas quase foi pega por um carro no meio do processo. Ali estavam as figuras que ela não queria se lembrar. Conseguiu sair dali sem sofrer um acidente e sem ser vista. Entrou o mais rápido no prédio, implorando aos céus para que ninguém passasse naquele corredor, ela tropeçou algumas vezes pela dificuldade de ver o que estava fazendo. Diferente de mais cedo, agora ela chorava, chorava muito.

Notou que estava dentro de um lugar minúsculo e duas mãos a segurava pelos ombros. Estava escuro e não tinha como saber quem era.

- Ei, o que foi? Você ta bem? Se machucou? - era Katsuki.

Ela chorou mais ainda, ele percebeu que ela não iria falar, então apenas a abraçou. Ela soltou a sacola com os lanches e segurou o loiro com toda força que podia. Se coração estava apertado, muito.

Um tempo havia se passado, não sabia dizer quanto, mas as lágrimas cessaram, e só restou soluços. Ela soltou Katsuki e o mesmo olhou para ela. Sua camisa estava molhada, só não era visível pela cor. Reparando a sua volta, ela sabia que estavam no depósito dos produtos de limpeza.

-melhor? - ela confirmou lentamente com a cabeça. - Olha, vendo você agora, eu percebi que isso não é um cansaço pelas coisas que você faz, e sim pelas coisas que você sente. - ele olhava para ela que permanecia de cabeça baixa. - Não quer me contar o que é?

- Você fugiu do que eu ia te perguntar mais cedo. Não tenho motivos pra confiar em você.

- Certo. Vou chamar o Kirishima pra cuidar de voc-

- Não! - ela interrompeu ele com a voz um pouco alta. - Ele é meu amigo, não significa que eu jogo meus problemas encima dele. - ela se abaixou para pegar a sacola enquanto esfregava os olhos.

- Então você se fere por não confiar em ninguém pra desabafar seus problemas?

- Não estou me ferindo. Tenho minha forma de desabafar. - ela olhou para a porta. - Se sairmos daqui juntos e alguém ver, estamos encrencados. Podem pensar coisa errada.

- Vou na frente então. - ele tocou a maçaneta. - Se eu fosse seu amigo, contaria o que acontecendo pra mim?

- Por quê quer tanto saber?

- Isso te fazendo mal. - ele suspirou e abriu a porta. - Se não quiser ensaiar hoje tudo bem. - e saiu.



dandelions # katsuki bakugouOnde histórias criam vida. Descubra agora