Sou direto meu bem

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Se Jack dissesse que foi a biblioteca apenas por livros estaria mentindo descaradamente demais. A semana foi uma merda, mas seu rascunho teve uma certa evolução. Uma grande evolução. Ele criou uma personagem um tanto curiosa. Talvez até a colocaria como protagonista. Uma garota ávida e um tanto arrogante, mas com olhos que expressam carinho apenas por determinadas criaturas. De primeira vista pode parecer um tanto agressiva e cruel, mas isso apenas para não ter que lidar com pessoas, criaturas tão insuportáveis e ignorantes que é  melhor espantar. Mas quando se conhecia melhor era adorável.

Jack pensou que essas carácterísticas caíriam bem numa protagonista, mas estava incerto, por isso veio até a biblioteca. Queria saber mais sobre sua súbita fonte de inspiração. Queria saber mais sofre ela.

Assim que adentrou a biblioteca, um pensamento paranoico veio a sua mente. Durante a semana Jack assistiu vários filmes, com certas relutâncias e reclamações, de romances. Ainda não conseguia gostar de romances, ainda os achava desnecessários, mas admitiria que teve uma certa noção do que estava enfentando, observou como o romance em si era instruido. Essa era sua paranoia: ele não era desse tipo de pessoa que gastaria dinheiro com um táxi para ir do outro lado da cidade para conversar com alguém que não conhecia. Bobagem! Ele não era do tipo romântico que se apaixonaria por uma moça que mal conhece e nem sabe o nome.

O fato foi que ele teve muito tempo para pensar nessa semana. Seria seu pai o real motivo de ele ter se dado bem com as pessoas que ficou? Afinal o que Dylan disse tinha um ponto: todas as meninas que seu pai lhe apresentou futuramente se tornaram algo a mais do que uma espécie de amigas. Luke estaria certo sobre o fato dele não se apaixonar por elas? Lucas não estava certo, afinal ele era apenas um recalcado antisossial que passou toda a adolêcencia jogando. O que ele entendia sobre o sentimentos das pessoas? Foda-se se ele é aspirante a psicólogo!

Seus pensamentos de dúvidas foram interrompidos ao ver um cabelo afro envolto de uma bandana roxa passar de uma estante a outra com um carrinho cheio de livros. Agindo da forma que mais sabia agir, por impulso, Jack foi para uma seção próxima a que a garota misteriosa e irritada estava guardando os livros com certa voracidade.

— Se eu tiver que pegar mais livros nas seções erradas eu juro que vou... — sua fala foi cortada por um exemplar de Romeu e Julietta que caiu no chão. — Ah, ótimo! Que feliz aconteceimento.

— Se continuar forçando os livros com brutalidade nas etantes eles vão acabar estragando. — comentou enqunato se abaixava e pegava o livro, a mesma o pegou brutamente das mãos finas de Jack. — Sabia que falar sozinha é um dos primeros sinais de loucura?

— Não, não sabia. E sinceramente não me interessa. — o respondeu impetuosa virando de costas para o loiro. 

— Essa foi exatamente a minha resposta quando ouvi essa idiotice.

— Hurum. — Jack podia sentir a raiva da garota crescer a medida que sua respiração se tornava longa e pesada.

— Bela bandana por sinal. — comentou pegando um livro que realmente estava querendo ler.

Jack não percebeu a princípio, mas ao mencionar a bandana a expressão da jovem irritada se suavisou. Apenas quando desviou o olhar de "A Revolução dos Bichos" para a mulher percebeu que a mesma o olhava como se estivesse cogitando responder ou ignorar. 

— Obrigada, eu que fiz.

— Nossa, não parece. 

— Como é? — A moça franziu o cenho para Jack, que apenas sorria.

— Quero dizer, você não parece ter paciência para fazer algo... hã... algo que parece ter sido feito com paciencia. Observando os detalhes agora.

A garota piscou uma vez, e o observou.

— Como ousa julgar meu temperamento? Por acaso eu já o vi alguma vez na vida? Não! Então cale a porra da boca e vaza da minha frente!

— Mademoiselle Daisy! O que conversamos sobre esse seu temperamento? Se essa sua atitude espantar mais clientes será sua demissão! Pardon Senhor! — uma senhora magra, usando um chale azul absurdamente chamativo e uma saia redonda da mesma cor ralhou com Daisy.

A senhora havia aparecido do nada, o que assustou a garota. Jack percebeu que não era a primeira pessoa que a garota havia explodido. Assim que a mulher de cara enrrugada saiu, a mesma o olhou com uma olhar absurdamente assustador. Parecia o olhar de Bruno quando ele comeu seu estoque de doces uma vez.

— Em minha defesa eu apenas disse a verdade. — sorriu ao perceber que o livro nas mãos de Daisy pareciam estar prestes a ser tacado em sua cara. Era inacreditável a tara que as mulheres tinham de quererem bater nele. — Jack Chaput.

— Chaput? — o livro foi cuidadosamente colocado no carrinho, Jack observou. — Esse nome não me é estranho.

— Como eu queria ouvir que era por causa do meu livro, mas ele foi rejeitado então deve ser apenas impressão sua.

— Você escreve?

— Escrevo.

— Isso é estranho.

— Estranho é alguém com tão pouca paciência trabalhar com pessoas. — retrucou dando de ombros.

Para a surpresa de Jack, Daisy riu.

— Certo, certo. Alguém que parece um desocupado que veio a biblioteca apenas para procastinar, é um escritor, isso sim que é estranho. Sem ofensa mas você não parece alguém que escreve.

— Você não pode julgar alguém pelas aparencias. Pensa que todo escritor é um nerd de óculos sem amigos que escreve para afogar as mágoas da solidão?

— Han... Não,  é só que...

— Sou um ótimo escritor, modéstia a parte.

— Tão bom que seu livro foi rejeitado, não é mesmo?

— Ai, isso foi cruel! — gesticulou com a mão no peito. — Foi apenas uma editora de merda, existem várias por aí. Posso publicar independente se quiser também.

— Se você diz. — A menina deu um sorriso cético para ele, o que o deixou irritado.

— Escuta aqui você não deveria estar trabalhando em vez de julgar as vidas alheias não?

— Deveria, mas tem um loiro irritante atrapalhando meu trabalho. — escorou os cotovelos em cima do carrinho de livros o olhando de desafiadoramente.

— Não estou te impedindo de passar, olha o espaço que tem ai ó! — retrucou grosso erguendo a sobrancelha para o espaço entre ele e outra estante.

— Mas preciso arrumar a estante em que você está escorado, querido. — Jack saiu da estante com um revirar de olhos e deu as costas para Daisy. Antes que pudesse continuar a ir embora, ela segura a sua mão. — Por que não me conta mais sobre suas histórias, senhor escritor?

O deboche na palavra "escritor" estava tão explicito que Jack não pode evitar de revirar os olhos, mas por uma força mais forte que ele, um pequeno sorriso escapou de seus lábios.

— Combinado. — Daisy parecia confusa. — O que acha de ir tomar um café comigo e continuamos conversando?

— Você está... me chamando para sair.

— Não, para discutindo na biblioteca. O que acha do Café Vanille?

— Saio as 18h.

— Fechado então.

Com um último sorriso, Jack deixou o corredores, deixando uma garota de olhos encantadores e temperamento explosivo com uma sombra de sorriso nos lábios vermelhos.







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