Capítulo Um

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Quem poderia fazer mal à este homem? O que ele teria feito de errado ou simplesmente queriam matá-lo por ele ser poderoso? Mas que tipo de poder é esse que seria necessário tirar a vida de um ser humano? Cada vez mais, eu acreditava que o ser humano não merecia a vida que lhes era concedida.

Passei tempo demais no quarto dele falando enquanto ele dormia. Será que ele podia ouvir? Claro que eu tinha mais pacientes para cuidar, mas eu era a enfermeira oficial do Paciente, como ele era chamado na terapia intensiva. Sua identidade era guardada em sigilo, pois até que os policiais descobrissem o suposto assassino, não seria revelado seu nome à ninguém. Era um caso único no hospital e poucas pessoas tinham acesso ao quarto. Confesso que eu não gostava que outra enfermeira cuidasse dele, eu queria estar lá o tempo todo. Havia um certo vínculo que eu não sabia explicar.

Por fim, passada uma semana ele acordou, e pude perceber que seus olhos eram lindos e azuis. Havia confusão em sua fisionomia e parecia que ele estava tentando entender onde estava. Tentei acalmá-lo e corri buscar o médico.

Após algum tempo fazendo uma análise dos sinais vitais e testando os reflexos do paciente, o médico disse que ele estava bem, na medida do possível, mas sem memória. Pensei comigo, que isso iria dificultar muito as investigações sobre a tentativa de homicídio que ele havia sofrido.

Algum tempo depois que o médico saiu do quarto o paciente ficou me observando trocar o soro e aplicar a medicação. Aquilo realmente me incomodou, era como se ele estivesse me avaliando e eu fiquei com o rosto em chamas.

- Você sabe quem eu sou? - Ele perguntou.

- Sim, mas não podemos dizer. Digo, não podemos revelar sua identidade. Mas não sei se posso dizer para você. Mas qual razão de não dizer à você quem você é? Desculpa, é confuso. - Ótimo! Parabéns para mim e meu papel de tonta, na frente dele. O paciente sorriu.

- Vamos, me diga quem eu sou. Prometo não te entregar. - Ele pediu me olhando nos olhos.

- Você é Mitchell Kasinsky. Não sei se devo chamar de Sr. Kasinsky, ou continuar chamando de "Paciente", como todos o chamam aqui. Meu Deus, não conte isso à ninguém. Posso ser demitida por revelar esse segredo.

- Fique calma senhora...?

- Senhorita Rosalie. Rosalie Andrews. Ou só Rose. Como preferir. Eu já falei demais. Sinto muito.

- Rose, é um bonito nome. Fique tranquila que este segredo fica só entre nós. Pode continuar me chamando apenas de "Paciente", faz todo sentido na minha atual situação. Você poderia começar me dizendo como cheguei aqui e o que você sabe. - Ele me perguntou, mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa. A porta do quarto se abriu e apareceu o inspetor Joe Williams, que era responsável pelo caso do Sr. Kasinsky, acompanhado do médico e mais um policial, que julguei ser seu parceiro.

- Ora, ora! Que bom que acordou Sr. Kasinsky. Temos algumas perguntas para fazer ao Sr. - Ele começou a dizer. - Sabe como chegou até aqui?

- Não me lembro. - O paciente disse.

- Consegue se lembrar o que fez na noite do dia 3 de setembro? - O inspetor insistiu.

- Não me lembro de nada. Não sei como vim parar aqui. Eu não sei meu próprio nome.

- Está me dizendo que não se lembra quem é, Sr. Kasinsky? - O inspetor parecia incrédulo.

- Sim. É o que estou tentando dizer.

- O senhor sofreu uma tentativa de homicídio. Mas não conseguimos identificar ainda quem está por trás disso. Seu carro foi empurrado para o precipício, e disso sabemos por conta das batidas que encontramos na perícia de seu veículo. Sabemos que um homem como o senhor pode ter muitos inimigos, e na situação em que se encontra, será uma presa fácil para uma segunda tentativa. - Ele disse e eu levei a mão à boca reprimindo meu horror à uma segunda tentativa de assassinato para aquele homem.

O que será que ele tinha feito? Será que ele era perigoso? Não podia ser.

- O senhor tem ideia do por quê podem estar querendo me ver morto? Eu sinceramente, não tenho nenhuma lembrança no momento. Nem sei quem eu sou. - O paciente disse tranquilamente.

- É isso o que estamos tentando descobrir. Temos que contatar sua família, e...

- Não podem fazer isso! - Todos na sala olharam assustados para o paciente. - Digo, enquanto eu não estiver recuperado, não podem contatar, minha família, que eu nem sei quem são. Como vou me defender neste estado? Como disse, alguém tentou me matar e acredito que não irá descansar enquanto não me ver morto.

- Faz sentido, Sr. Kasinsky. Presumo que temos que colocá-lo em um programa de proteção a testemunha temporariamente. - E virando-se para o médico completou. - Doutor, o que acha dessa perda de memória? É possível que seja apenas passageira?

- Sim é possível. Mas sem exames neurológicos não posso afirmar.

- Certo! Vamos pensar em algo e voltamos amanhã Sr. Kasinsky. Quem sabe suas memórias já não tenham voltado, não é mesmo? - Todos olharam para o inspetor. - Ah qual é? Estou brincando. Sei que foi um acidente grave, mas estou tentando deixar a situação mais leve.

- Creio que o paciente precisa descansar agora. - O médico se apressou em abrir a porta. - Podemos conversar em minha sala Sr. Williams?

- Claro! Vamos. Voltamos amanhã Sr. Kasinsky. Se cuide. - E assim todos deixaram o quarto e eu já estava saindo também para cuidar dos outros pacientes da terapia intensiva, mas o paciente me chamou.

- Rose?

- Sim? - Respondi imediatamente.

- Foi só eu ou você também achou esse policial, um idiota? - Ele disse com um sorriso dolorido.

- Ah sim, muito. Mas não se esforce, temos alguns pontos em sua cirurgia.

- Preciso que me conte o que sabe sobre o acidente e minha chegada ao hospital. - O paciente pediu.

- Não sei muito, mas agora preciso ministrar algumas medicações. Não posso ficar. - Embora eu quisesse ficar ali o tempo todo, eu não podia deixar os outros pacientes sem medicação.

- Prometa que vai voltar e me contar o que sabe?

- Sim, eu prometo.

- Me sinto melhor agora. - Ele disse me encarando com seus olhos azuis irresistíveis e os lábios curvados em um lindo sorriso.

🔹️🔹️🔹️

Mitchell Kasinsky acordou, mas não se lembra do que aconteceu!

O que será que o destino reserva para este homem sem memória?

Não percam o próximo capítulo!

Até breve meus amores.

Beijos da Thah...❤

O Paciente (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora