Capítulo Dezoito

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     A falta do Paciente já estava me deixando louca. Me peguei pensando se foi a melhor decisão ter me afastado dele. Me doía e era uma dor que eu lutava dia após dia para resistir. Era como uma guerra, e eu estava perdendo.

     Eu precisava reagir. A semana seguinte, me obriguei a dormir sem remédios. Mesmo sem ânimo, comecei a fazer alguma atividade física, em casa mesmo, pois se eu fosse a uma academia, teria que levar um dos seguranças. Mesmo cansada dos exercícios, ainda assim era difícil pegar no sono. Lia algumas páginas de algum livro, mas me entediava rapidamente. Eu não queria saber de outra história com final feliz. Eu queria o meu final feliz, mas estava muito longe dada a minha situação.

     Com muito custo, o fim de semana chegou novamente. Estava cansada, mas preferia continuar trabalhando. Notei o comportamento estranho do Sr. Carter durante a semana. Sempre que ele podia, vinha falar comigo. Me pareceu que ele queria ser meu amigo íntimo, porém, eu não estava aberta a novas amizades. E muito menos algo mais que amizade. Claro que ele sendo meu chefe, eu manteria o respeito, mas se ele quisesse avançar, eu não deixaria.

     Talvez para sempre, ou pelo menos por um longo período de tempo, meu coração, meu corpo e  minha alma pertenceria somente ao Paciente.
    
     Julia certamente já havia percebido  que o Sr. Carter estava muito próximo de mim. Isso me deu uma grande preocupação, pois se de fato ela fosse a megera que a equipe a descrevia, eu estaria muito encrencada. E tudo o que eu menos queria, era chamar atenção.

     As instruções do Sr. Williams eram claras. Evite se expor, resumindo a lista que ele havia passado, e quanto mais eu queria me esconder, parecia que eu era sempre o alvo perfeito para ser o centro das atenções.

     A tarde de sábado no hospital, estava bem tranquila no meu setor. Os pacientes estavam estáveis e nenhum óbito. Era uma parte natural da vida e da minha profissão também, mas nunca acostumamos e lidar com essa parte, era a mais difícil. Chequei todos os prontuários na minha ronda antes de ir tomar um café. Sim, café começou a ser um vício também. Era a ansiedade gritando para nada. É uma inquietação e um desespero, que me impulsiona a fazer coisas que eu nunca havia feito antes.

     Terminei minha ronda e fui tomar um café. Encontrei com o Sr. Carter no caminho, justamente quem eu queria evitar. Infelizmente, não tive como fugir.

     - Posso te acompanhar? - Como se fosse fácil negar companhia dele naque momento.

     - Claro. Vamos. - Entramos no elevador e o clima era bem intenso. Eu estava desconfortável com a situação. Pensava em Julia e o quão furiosa ela ficaria se descobrisse que fui tomar um café com o Sr. Carter, ciente das segundas intenções dele. Não era culpa minha, mas certamente ela me culparia e diria que eu estava seduzindo ele.

     Chegamos na cafeteria do hospital, e eu pedi café, croissant e um pedaço de bolo. Realmente eu estava faminta. Boa parte do tempo e gastava comendo. Mais um sintoma da ansiedade, descontar tudo na comida. Nãoque fosse uma ideia muito inteligente, mas supria de algum modo o que me faltava.

     - Deixa que eu pago, e eu quero um café, por favor! - O Sr. Carter se ofereceu para pagar e fez o pedido dele. Deixei que ele pagasse, assim guardava o meu para gastar com delivery de comida. Já tinha feito até planos para a noite de sábado. Um belo jantar oriental. Fomos para a mesa, e enquanto esperávamos os pedidos, ele puxou conversa.

     - Está tudo bem no seu setor, Rose?

     - Ah sim, tudo certo. - Respondi.

     - Que bom. A terapia intensiva sempre é mais delicada. Tive boas recomendações em seu currículo, vejo que está no setor certo. - Ele disse, e eu estava torcendo para ele parar de falar. Enfim, os pedidos chegaram.

     - Obrigada Sr. Carter. Farei o meu melhor para não desapontá-lo. - Eu agradeci, e comecei a comer.

     Não era que a companhia dele fosse desagradável, mas tinha meus motivos para afastá-lo. O mais importante deles era que eu não queria criar nenhuma situação embaraçosa e que pudesse me deixar desconfortável no trabalho. E também  queria evitar confusões com Julia, pois tudo o que eu menos queria era ser o centro de fofocas, sobre um possível triângulo amoroso.

     - Eu gostaria de te convidar para um jantar. - Ele disse repentinamente. Fiquei sem ação e só consegui negar o pedido.

     - Não! Quero dizer eu não posso.

     - Mas, por quê? Tem algum compromisso hoje? - Ele parecia ter certeza de que eu aceitaria.

     - Eu vou.. sair com meu namorado. Mas quem sabe podemos sair com o pessoal da equipe um outro dia. - Eu menti.

     - Oh meu Deus... você tem namorado... me desculpe Rosalie. Eu não fazia ideia...

     - Tudo bem Sr. Carter, quem poderia saber, não é mesmo? Eu costumo ser muito reservada com minha vida particular.

     - Me sinto envergonhado agora.

     - Não se sinta por favor. Que tal não falarmos mais disso? - Sugeri, tentando desviar o assunto.

     - É uma boa ideia. É melhor eu ir nessa. Vou deixar você terminar seu café em paz.

     - Não precisa ir Sr. Carter. Está tudo bem. É bom ter companhia. - Eu disse tentando me convencer que eu não deveria me sentir culpada.

     - Eu realmente preciso ir. Até mais Rosalie. - Ele se despediu e saiu da cafeteria. Fiquei com pena, mas aliviada.

     Não era como se eu fosse livre e pudesse ir e vir quando bem entendesse. Era preciso evitar até mesmo amizades, pois qualquer exposição poderia colocar tudo a perder. E também poderia prejudicar o Paciente, e isso eu não  queria de forma alguma. A proteção dele dependia de que eu me mantivesse quase invisível. E assim seria. Mesmo longe dele, se houvesse alguma coisa, por mais que fosse mínima, que eu pudesse fazer para protegê-lo, eu faria.

     Finalmente, eu pude descansar o corpo, depois de uma semana cheia no trabalho. O silêncio podia ser assustador enquanto a mente trava uma batalha de pensamentos. Nem mesmo inventar coisas novas, assistir algo novo, conseguia fazer com que eu relaxasse. Cada dia era pior e cada vez mais sufocante.

     Mas esse era meu destino. Se ele estivesse seguro e bem, eu ficaria bem também.


***

Espero que estejam gostando da história.

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Até breve meus amores.

Beijos da Thah...💖

    

O Paciente (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora