Prólogo: o começo de grandes mudanças

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Pode parecer meio estranho começar uma história com poucas palavras, mas minha história é assim, bem superficial aos olhos de todos.
Tudo começou quando eu estava no primeiro ano, havia acabado de sair do jardim de infância e estava tudo bem, eu achava que estava tudo bem. Mas o primeiro dia foi devastador, se eu soubesse que aquele momento seria eternizado como o dia da minha morte, jamais teria entrado na escola. Eu posso não ter morrido fisicamente, mas minha alma se fragmentou no exato momento em que comecei a chorar, não queria ficar na escola, queria ir pra casa e o motivo nem eu sei...e foi aí que descobri minha ansiedade. No momento exato em que isso ocorreu eu não tinha a consciência de que era um início de algo que me faria lamentar por uma vida inteira, mas agora que estou em meu auge do auto controle mental, sei muito bem que se eu não tivesse nascido as coisas teriam sido totalmente diferentes. As vezes pensava que seria melhor assim, nunca ter nascido. Pelo menos a vida de todos ao meu redor seria melhor.
Entrei na escola normal, estava tudo indo bem, mas ao badalar dos sinos - que indicava a hora do recreio - mal sabia eu que meu coração terminaria despedaçado.
Como todas as outras crianças, sai da sala e fui brincar no parquinho, logo um adorável menino de olhos azuis como diamantes veio me chamar para brincar. Fiquei tão feliz que comecei a dar gritinhos de alegria, havia feito meu primeiro amigo. Por impulso corri na direção do mesmo e pulei em cima dele para lhe abraçar, assim que o abracei as crianças começaram a me olhar estranho, sem entender o que estava acontecendo. Fui em direção a uma menina que estava sentada nas pedrinhas do parque me olhando aterrorizada. Perguntei para ela o que havia acontecido e ela correu, correu de mim. Voltei para a onde o menino estava e pedi desculpas por me ausentar sem avisar, ouvi um barulho, olhei para o meu lado e percebi que havia sido apenas uma criança que caíra no chão. Senti um vento e quando olhei o menino de olhos azuis tinha sumido. Logo o sinal tocou novamente indicando o final do recreio, me dirigi para a sala de aula e lá às crianças começaram a afastar suas carteiras de perto da minha.


Já em casa, mamãe estava falando ao telefone com a professora. Achei que ela estava elogiando meu desenho de fadinha que eu havia feito na sala e entregado para a professora com uma cartinha carinhosamente agradecendo por ter me dado um pequeno pirulito. Me aproximei de minha mãe para ouvir melhor a conversa. Consegui ouvir a professora dizendo que eu era louca e que as crianças não queriam ficar perto de mim porque eu via fantasmas, elas tinham medo de mim.
Foi aí que se iniciou muito tortura diária, comecei a sofrer bullying. As crianças começaram a me menosprezar e me xingar de louca. Com o passar dos anos tudo começou a piorar. Os xingamentos ficaram piores e quando completei 14 anos, duas meninas me chamaram para conversar no banheiro, estava muito feliz finalmente teria amigas para contar os meus segredos e sonhos, dividir experiências e compartilhar memórias felizes e tristes. Junto das duas meninas fui ao banheiro. Mas fui surpreendida quando elas me pegaram pelo braço e me socaram até meu nariz começar a sangrar. Eu me debatia e gritava, mas ninguém me ouvia. Senti meu rosto se encharcar com minhas lágrimas, minhas pernas fraquejaram e eu caí de joelhos, senti meu corpo ser arrastado para dentro de uma na cabine onde meu rosto inteiro foi molhado. Estava me afogando. As meninas pressionaram minha cabeça para dentro do vaso sanitário e apenas quando eu já me encontrava desacordada pararam.
Senti meu corpo e minha cabeça doendo, meio óbvio com tudo o que havia acontecido. Senti algo estranho, talvez possa ter sido por conta da dor de cabeça, mas eu vi algo, como se alguém estivesse lá, mas não tinha ninguém. Sempre tive essas visões, mas sempre achei que eram... apenas sonhos.
Eu me vi deitada na maca da enfermaria, onde a enfermeira colocara um pano úmido na minha testa e fizera um curativo no meu nariz que havia sangrado graças aos socos. Minha mãe estava parada na ponta da cama falando com alguém pelo telefone, - provavelmente estava falando com meu pai -. Tentei levantar, porém minha cabeça doía de mais, a enfermeira disse para eu tentar descansar um pouco e que em algumas horas eu estaria liberada e poderia ir para minha casa.
Quando acordei minha mãe me levou embora, não falamos nada o caminho todo, aquele silêncio me dava agonia. Mamãe estava com uma cara de que estava brava e preocupada comigo.
Quando finalmente cheguei em casa fui direto para meu quarto, não queria falar com ninguém.


No dia seguinte acordei e quando estava descendo as escadas ouvi minha mãe falando com a diretora do meu colégio sobre o acontecido no dia anterior, ela dizia que era inadmissível algo assim acontecer dentro de uma escola e que eles deveriam tomar providencias sérias para punir os envolvidos com o meu acidente. Consegui escutar muito pouco da conversa. A diretora falava que eu provavelmente tinha algum problema psicológico - o que era obvio, estava na minha ficha -, que eu falava sozinha, e que precisava ser internada em uma clínica psiquiátrica urgentemente - tecnicamente ela estava certa, eu realmente falava sozinha e talvez eu era louca como todos a minha volta diziam. Ouvi minha mãe gritar com ela falando que eu não precisava de médico nenhum e que eu não era louca. Minha mãe irritada a xingou com todos os palavrões possíveis e desligou na cara da diretora quando notou minha presença próximo à porta.
Minha mãe falou que devido ao ocorrido ela iria conversar com o meu pai para me trocar de escola, já que a diretora não tinha escrúpulos o suficiente para distinguir uma situação que poderia ter me causado danos maiores do que o grande trauma que eu havia adquirido de entrar em banheiros escolares - coisa que eu pretendo fazer apenas em situações emergenciais -. Enfim, o fato era que finalmente ela iria me trocar de escola e minha tortura irá acabar. Assim eu esperava.

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