capítulo 3

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Já havia se passado duas semanas desde o primeiro dia de aula.
As coisas em geral seguiram muito bem. Troquei mais algumas palavras com Harley. Também descobri que o nome do menino da quadra de basquete era Liam, ao qual carinhosamente apelidei de idiota. Ele podia ser lindo, inteligente, ótimo nos esportes, mas seu temperamento comigo era a coisa mais doce do mundo, ou melhor, ele era assim nos meus sonhos - não que eu ando tendo sonhado com ele em algumas digo alguma noite - mas ele era um verdadeiro babaca comigo.
Com a minha grande sorte, acabamos sendo parceiros no laboratório de ciências na semana passada, e a única coisa que eu consegui assimilar daquela aula foi que garotos com olhos azuis escuros nunca vão falar comigo – a não ser que eles fossem fantasmas – Liam me ignorou a aula inteira. O que felizmente resultou em uma mudança no meu parceiro de laboratório - Harley -.

Como todas as manhãs, fui para a escola. Dessa vez minha mãe me levou de carro, já que ela teria uma reunião com a diretora para falar sobre o meu desempenho escolar.
Cheguei meio atrasada, então fui correndo para pegar o início da primeira aula. Sentei na carteira ao lado da Harley.
Chegando ao final da aula o professor falou que teríamos um trabalho em duplas, e para não dar confusão seria a mesma dupla do laboratório de ciências. Fiquei realmente feliz, porque Harley havia sido a única pessoa que eu havia conversado até agora.


Assim que o sinal do intervalo tocou me levantei indo pela primeira vez em direção ao refeitório para pegar meu lanche - tinha o costume de ir sempre para a quadra ler um livro enquanto observava algumas pessoas jogando basquete, algumas vezes futebol -.
Cheguei ao refeitório e fui em direção ao bufê. Peguei minha bandeja. coloquei um pouco de mingau com aveia e uma pequena salada de frutas que seria muito bem degustada acompanhada com um copo de água. Como não tinha feito muitas amizades fui sentar no canto de uma mesa que ficava na frente do lixo.

Assim que passei pela mesa - que tem uma vista panorâmica para o bufe - senti uma pancada bem forte no meu pé que me fez ir de encontro ao chão e consequentemente caindo de cara com meu apetitoso mingau de aveia que agora não parecia mais tão apetitoso assim, me levantei rapidamente sentia muitos olhares em mim, que logo vieram seguidos de risada. Fiz nota mental de nunca mais colocar o é dentro desse refeitório novamente.
Logo senti alguém pegar minha mão e me puxar em direção à saída. não consegui ver quem estava me arrastando porque meu rosto estava coberto de mingau.



Minhas mãos começaram a tremer e meu estomago se revirou assim que senti o cheiro de cocô com sabonete líquido. Ouvi o barulho da porta batendo - estávamos no banheiro- ou melhor eu estava no banheiro, com alguém que eu nem conseguia ver o rosto.
Ouvi o barulho da torneira sendo ligada e senti minhas mãos serem direcionadas para a água.
Com cautela lavei rapidamente o meu rosto. E assim que consegui retirar a maior parte do mingau, vi Harley apoiada na pia.
Soltei um leve suspiro e disse:

    - Harley?
- Eu...
- Obrigada – falei
- Não foi nada, você está bem? – indagou ela
- Aham – respondi. Logo vi ela trazer papel toalha para mim. Nem percebi que meu rosto ainda estava molhado. - Muito obrigada mesmo – falei enquanto secava meu rosto - se você não tivesse me tirado de lá eu acho que eu ia surtar.
- Deu para perceber – ela soltou uma risada curta – bem, já que estamos aqui, acho que podemos oficializar nossa amizade – quando ela disse isso eu congelei -
- Como assim?
- Faz um tempo que eu ando planejando falar com você. - Harley começou – quero dizer, por algum motivo eu senti algo diferente em você.
- Achei que tinha sido só eu – comentei
- Não quero falar com você só sobre os trabalhos da escola ou ver você sozinha na quadra com a cara enfiada em um livro – um sorriso de canto apareceu em meu rosto.
- Eu adoraria – falei – de verdade, eu adoraria. - Harley abriu um sorriso e me deu um abraço. Meu deus, aquilo estava mesmo acontecendo? Eu retribuí o abraço.
- Bem, trocando de assunto – Harley disse se afastando - vamos ter que fazer o trabalho de ciências na minha casa ou na sua?
- Ah, podemos fazer na minha casa, o que acha? você podia ir a tarde e dormir lá. – falei -
- Acho uma ótima ideia – disse ela contente – quando?
- Pode ser quarta?
- Sim, com certeza
- Certo, vou falar com a minha mãe assim que chegar em casa
- Okay – respondeu ela. Um silencio pairou no ar por alguns breves segundos até que Harley o cortou dizendo animada:
- Vai ser incrível podemos assistir vários filmes a noite e comer um monte de doces. - Eu soltei um riso baixo.
- Pode me passar o seu número para eu passar o meu endereço?
- Claro – respondeu desbloqueando o celular.


Nós trocamos nossos números e passamos o resto da manhã se conhecendo e conversando. Eu não entendia muito bem como a conversa entre nós duas fluía tão facilmente, nunca havia ficado tanto tempo conversando com uma só pessoa e gostara tanto.
Harley era uma pessoa incrível, além de simpática ela tinha um sorriso maravilhoso que poderia cativar qualquer pessoa apenas de olhar.
Harley, que agora era minha amiga.
Minha amiga.
Amiga.
 
                                           *

Cheguei a minha casa e sai correndo procurando minha mãe. estava muito ansiosa queria mais que tudo que Harley dormisse aqui em casa.
Nunca tive uma amiga, por isso seria a primeira vez que alguém dormiria aqui em casa. Se a mamãe deixasse, isso seria incrível.
Harley e eu passamos o recreio inteiro planejando o que faríamos quando ela viesse para cá.

Ao encontrar minha mãe a questionei se minha amiga poderia dormir aqui para fazermos juntas o trabalho de ciências. De início ela negou, mas depois de insistir um pouco ela concordou relutante.   
Fiquei extremamente feliz, sai pela casa dando gritinhos de alegria. Corri para o meu quarto e lá tratei rapidamente de enviar uma mensagem para Harley, avisando que minha mãe havia deixado ela dormir aqui.
Jogamos umas conversas fora e conversamos por mais um tempo.
Assim que paramos de conversar fui tomar um banho e me arrumar para dormir - coisa que tinha certeza que demoraria bastante tempo para fazer - mas tinha certeza que essa seria a noite mais bem dormida de todas. Finalmente fiz uma amiga.

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