capítulo 2

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Acordei com o som estridente do despertador que estava tocando ao lado da minha cama. Levantei com muita falta de vontade e me direcionei para o banheiro com o intuito de tomar um banho para me despertar mais rápido.
Seria mais um dia como todos os outros, chatos, entediantes e sozinhos.
Depois do banho, troquei de roupa e desci as escadas de madeira em direção a cozinha.
Quando cheguei até lá vi a mesa do café já posta e uma grande variedade de frutas - que tenho certeza que não habitavam essa casa na noite anterior -. Tomei um copo de achocolatado, peguei uma maça e me dirigi para a porta de casa.
Quando estava prestes a sair ouvi minha mãe gritando para que eu tivesse um bom dia de aula. Durante esses dois anos dês do ocorrido no banheiro da escola antiga todo ano eu tento – por mais que eu saiba que não vai dar em nada – fazer amizade com os alunos novos.
Durante o percurso para a escola passei em frente a algumas árvores que estavam sendo derrubadas para a construção de mais um prédio, era estranho durante todo o caminho sentia a dor daquelas arvores, era como se de alguma forma todas os seres vivos se comunicavam comigo.
Dava sentir o sangue em forma de seiva escorrendo por seus cortes, era um fato a árvore estaria morta em alguns minutos. Um pouco atordoada segui correndo o mais rápido o possível na direção da escola lá eu esperava me recompor continuar a manhã normalmente. Afinal de contas, não podia passar o dia abalada com algo tão insignificante comparado ao que estava por enfrentar: um ano novo em uma escola cheia de pessoas.


Quando cheguei na escola senti necessidade de ir ao banheiro, mas não sabia onde ele ficava – o prédio do segundo e terceiro ano é diferente do resto -. Um pouco tímida e desajeitada me aproximei de uma menina com grandes cabelos lisos, eles estavam presos em uma linda trança que caia por cima de seu ombro. Seus olhos eram marrons meio violeta - não sei bem como explicar –. Ao me aproximar senti algo diferente nela. Era como se eu pudesse ler sua alma; e ela era boa.  Delicadamente encostei minha mão em seu ombro. ela olhou para mim meio assustada.

- Olá, será que poderia me falar onde é o banheiro – perguntei. Ela olhou para mim confusa, naquele momento minha respiração começou a ficar irregular e disse:
- Por acaso eu te conheço? Você é tão familiar.
- Não, acho que não - respondi
- Enfim. Banheiro certo? - assenti devagar com cabeça tentando controlar o ar que entrava e saiu de meus pulmões - certo, eu posso te levar lá se quiser. - disse a menina
Queria evitar ao máximo ir ao banheiro com outras pessoas, mas não queria ser mal educada com a menina que parecia ser uma boa pessoa
         - Não vejo necessidade. - Respondi rapidamente
- Oh, certo desculpe, fica al i- ela apontou em direção a uma porta ao lado do primeiro armário.
- Muito obrigada – falei indo na direção indicada


Entrei no banheiro com pressa. Joguei um pouco de água no meu rosto para me ajudar a voltar ao meu estado favorável - já que meu normal é abraçar espíritos de meninos com olhos azuis -. Me encarei no espelho enquanto inspirava e expirava lentamente. Consegui ouvir a voz da minha terapeuta falando o que eu deveria fazer quando isso acontecesse.
Após alguns minutos ouvi o barulho do sinal para que todos fossem para suas salas.
Passei um tempo procurando a minha sala de aula. Quando encontrei dei algumas batidinhas na porta e logo o professor foi me atender. ele me cumprimentou cismaticamente. Quando vi que ele ia abrir a boca para falar mais alguma coisa balancei a levemente a cabeça para que ele não falasse. Ele deu uma risadinha baixa e pediu para que eu me sentasse ao lado de uma menina que se chamava Harley, sabia que a conhecia de algum lugar, mas no momento não me recordava de onde.


Assim que o sinal tocou novamente - indicando a hora do intervalo – peguei meu livro de Harry Potter que já estava mofando na minha mochila há quase um mês e me direcionei para as arquibancadas da grande quadra, onde alguns garotos jogavam basquete. Posso dizer que um deles em particular me chamou bastante atenção ele era alto, seus olhos eram um azul bem escuro quase imperceptível, confesso que encarei o garoto mais tempo do que desejava, assim que percebi seu olhar voltado para mim enfiei a cara no livro que estava em minhas mãos e não voltei a olhar para o menino novamente até que o sino voltasse a tocar.

Estava indo para minha última aula, quando novamente ouvi vozes ecoando pela minha cabeça. Fui em direção ao corredor, tampei os ouvidos e sentei no chão com os joelhos dobrados até que elas parassem.
Normalmente eu teria que usar meus tampões de ouvidos - que são uma das medidas necessárias de tomar ao longo dos anos para não ouvir as vozes -, mas eles não estavam em minha mochila.
As vozes não me incomodam tanto quando antes, mas atrapalham minha concentração ao realizar algumas atividades. Tem momentos específicos do dia em que as vozes se manifestam com mais frequência, então já coloco os tampões para prevenir. Mas em outras vezes – como essa – elas surgem de repente.
Olhei o relógio do meu celular e percebi que estava atrasada. Corri para a sala e procurei o lugar mais isolado que pudesse achar. Mas só havia um lugar disponível, ao lado de alguém que eu queria evitar ao máximo o possível - o menino da quadra -.
Calmamente andei em sua direção e me sentei ao seu lado colocando a cadeira o mais afastado possível.
Ocorreu tudo bem.
Quando a aula acabou fui direto para a saída, mas bruscamente parada por alguém.
Olhei para o lado e era a menina que havia me indicado à direção do banheiro:

- Ah, meu deus, desculpa foi sem querer – a menina repetiu umas três vezes.

- Tudo bem – falei antes que ela pudesse se desculpar pela quarta vez. - Ah, nós nos vimos hoje o dia inteiro, mas eu nem perguntei seu nome.
      - Ah claro, me chamo Harley – disse ela - e você como se chama? – perguntou Harley lembrando que eu não havia se apresentado hoje mais cedo.
- Celina – respondi
- Certo, Celina. Bem, foi bom esbarrar em você - nós duas demos uma risada – enfim, até amanhã. - disse ela balançando a mão
- Até - devolvi com um leve aceno de mão para ela.

Depois de nos despedirmos, ambas seguimos nossos caminhos de volta para casa – ou sei lá para onde Harley ia depois da escola -
Segui contente meu caminho por ter conseguido sobreviver ao meu primeiro dia de aula.

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