𝔠𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 𝔡𝔬𝔦𝔰

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ALERTA DE GATILHO

┈┈┈┈┈┈◌͜͡⁂ː⃨࣪࣪҈ ❂ ː⃨࣪࣪҈⁂͜͡◌⸱┈┈┈┈┈┈     

   Estranhei   os primeiros três dias no isolamento, era tudo muito silencioso e o breu daquele lugar trazia uma sensação estranha na boca do estômago, um incômodo, um sentimento ruidoso e indecifrável.

     Fiquei  em alerta por todas as horas que contei dos segundos aos minutos, apenas para não me perder no tempo. Só me restava aquilo naquela situação.

  Todo  meu poder e todo temperamento era gradativamente reduzido a pequenos grãos de areia, sendo drenado de minhas veias e tudo  que eu conseguia usar — quando conseguia — era uma esfera preguiçosa de luz para iluminar minha vista quando ouvia alguma pedrinha sendo chutada ou despencando de algum lugar distante. Tudo era perturbador pelo simples fato de ser silencioso.  

  Meus  sentidos me traíram inúmeras vezes, muito alterados e muito desconfiados. O que os olhos não viam, os ouvidos inventavam, já que não haviam gritos e não havia ninguém  comigo. Ou apenas não que eu pudesse ver ou que estivesse vivo para me contar algo.

    Nos   três dias que se sucederam e o quarto que já raiava, nenhum guarda apareceu para me dar água ou comida. Esperei conseguir usar a deameti   para falar com minha progenitora e lhe assegurar que estava bem, mas nem mesmo aquilo  conseguia usar, devia ser natural como respirar, mas não consegui. Se não fosse as  asas que agora eram visíveis nas minhas costas e despontavam por meus ombros, iria parecer uma fêmea mortal  de tão fraca.

    Fora  a escuridão, o frio era a outra companhia que eu tinha naquele lugar. Me encolhi no canta da parede e me protegi com as asas, me envolvendo em uma espécie de casulo, mesmo que o frio as violentassem.

   Malditas asas Illyrianas.

    Foi   daquele jeito até o quinto dia, só até àquele

  Constatei  que o quarto dia havia realmente chegado ao fim quando depois de algum longo tempo tentando me aquecer; uma luz apareceu distante de mim, fraca, mas o suficiente para me cegar até as pupilas se adaptarem, o suficiente para que eu precisasse fechar um pouco os olhos e por a mão na frente do rosto para tentar ver.

     Três   silhuetas meio borradas surgiram da luz, grandes, grotescas. Machos feéricos. Eles caminhavam na minha direção, mas ainda eram quase que borrões escuros distantes. Aproveitei da claridade para observar tudo ao meu redor e nunca achei que iria ter preferido permanecer no breu. Contrai os lábios e franzi o nariz observando os vários esqueletos amontoados em um canto do cômodo gigantesco, aqueles ossos revelavam que várias espécies haviam sido comprometidas ao isolamento e não havia saído, nunca mais.

    Da  própria pilha, alguns esqueletos despencavam sem apoio, alguns só o crânio, alguns só a caixa torácica, alguns acreditava que só poderia ser encontrado o dedo. Lembrei que jamais havia trombado com ninguém na Prisão que tinha sequer mencionado ter sido levado pro isolamento. Nenhuma  história de um sobrevivente. E a prova estava na própria sala.

    Virei   o rosto para o outro lado, para a outra parede rochosa coberta com arranhões de garras longas. Alguns dos arranhões ainda possuíam sangue escuro e velho como se fosse tinta, como se alguém  tivesse tido a desesperadora ideia de tentar atravessar por ela nos dias que foi submetido àquilo. Como se implorasse que tivesse uma saída, implorasse por rendição de qualquer que fosse sua pena. Instantaneamente, bile  subiu até minha garganta quando voltei a olhar para frente, tentando ignorar tudo  que tinha visto.

Court of Light and HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora