A Cidade dos Amaldiçoados

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  Naquela mesma noite, após os policiais se retirarem do acampamento, Gunner chamou os monitores para uma reunião na fogueira

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  Naquela mesma noite, após os policiais se retirarem do acampamento, Gunner chamou os monitores para uma reunião na fogueira. Shannon e Ophelia, embora estivessem em choque, estavam recebendo o apoio de Laurel e Margot, que as cobriram com cobertores aconchegantes e lhes prepararam um chocolate quente.

― Chocolate quente durante o verão, algo que você só presencia quando viaja para essa região. ― disse Margot.

― Sim. ― Ophelia abriu um sorriso de leve. ― Tudo aqui na região de Coldfall é estranho. Quente durante o dia, frio durante a noite, folhas vermelhas durante a primavera... e por aí vai.


  Gunner atiçava o fogo com um graveto, e ao ver que o fogo daquela pequena fogueira estava alto o suficiente, suspirou de forma aliviada.

― Ok. Temos a fogueira. ― disse Gunner, mexendo em seus longos fios com os dedos com uma das mãos. Quando ele parou de mexer na fogueira, todos que estavam reunidos ali pararam para prestar atenção nele. ― Vocês querem mesmo ouvir toda a história a respeito do massacre de '76?

― Espera, massacre? ― Laurel ficou boquiaberta, um pouco assustada. ― Ninguém me falou disso antes. Quer dizer, nós sequer devíamos estar aqui nesse lugar, é seguro?! ― ela perguntou de forma rápida.

― É bem mais complicado do que você pensa. Alguns dizem que é só boato, ou lenda urbana para espantar forasteiros, mas tem algo sombrio nesse lugar. ― diz Robbie, apreensivo.

― Espera, você sabia que esse lugar era mal-assombrado e não me disse nada? ― perguntou Laurel, olhando para Robbie.

― Como eu disse, são só lendas! E além do mais, se eu te contasse, você não viria para o acampamento mesmo. ― disse Robbie, indiferente.

― Traidor.

― Deixem a discussão para depois, vocês querem ouvir a história ou não? ― perguntou Gunner, de forma rude.


  Robbie e Laurel prestaram atenção agora, Hailey chegou poucos segundos depois, já se sentando.

― Fiz xixi às pressas. ― disse Hailey assim que chegou. Todos olharam para ela com um olhar que a repreendia. ― O que foi? Eu estou assustada com tudo isso de assassinato, gente. Eu, hein.

― Voltando. ― pigarreou Gunner. ― Aconteceu há vinte anos. Era o verão de 1976, na época que o Acampamento Silver Shadow acabara de ser fundado. Eram tempos de ouro nessa região de Coldfall, os policiais promoveram um evento beneficente devido à segurança que eles transmitiam para a civilização local.


** 1976  **

  Balões e cornetas eram os objetos mais vistos naquela passeata. Os policiais desfilavam em seus veículos decorados com fitas prateadas e douradas para comemorar um dos eventos mais importantes de Coldfall. Com isto, o acampamento Silver Shadow era inaugurado pela primeira vez. Serviria como um marco histórico na cidade mais segura do interior do país. Havia várias pessoas presentes na entrada para ver o momento exato em que o comissário de bordo, com ajuda do prefeito, iria finalmente cortar a fita de inauguração do local. Vários flashes de câmeras e jornalistas estavam presentes ali para marcarem o momento.

― E agora, recebam com vocês, nossa querida Margareth Pritchard! ― disse o prefeito em voz alta, esperando que Margareth saísse da cabine em que estava.


  Margareth era a atual dona do acampamento, a mais jovem da sua família ao ter o primeiro estabelecimento fixo, também. Os pais viviam bem de vida, mas não aprovavam o relacionamento que ela tinha com Vincent Covington, achavam que ele não era uma pessoa muito responsável. Não apenas pelo fato dele tê-la engravidado e a deixado, mas porque ele sempre tentava de tudo para que ela fugisse de casa com ele. E Vincent não era a melhor e mais saudável pessoa do mundo. No momento ele estava sendo procurado pelas autoridades locais por estar envolvido em múltiplos crimes de furto e por incendiar a casa dos seus pais com ambos dentro. Eles, por serem muito tradicionais e superprotetores, não aceitavam isso de forma alguma. Mas Margareth, de alguma forma, via bondade naquele homem. Embora ele fosse o principal suspeito de um crime de homicídio.
  Após ouvir os chamados por seu nome, Margareth finalmente saiu da cabine em que estava. Ela andava de forma estranha e lenta, mancava um pouco. O sorriso de sua mãe logo se desfez ao ver a filha cambaleante daquele jeito. Sem pensar muito, ela correu até a garota e pôde perceber que ela tinha marcas roxas no seu pescoço. Margareth tirou a mão de sua barriga, revelando um corte na região. Ela tossiu sangue no rosto de sua mãe de forma involuntária, o que fez com que a sra. Pritchard gritasse de forma histérica por ajuda. Os fotógrafos locais começaram a fotografar o momento junto com o pessoal da imprensa, não podiam perder aquela fonte de informação ao vivo, e os policiais contiveram a mobilização toda de pessoas que estavam sem entender o porquê daquilo tudo. O sr. Pritchard, por outro lado, já desconfiava quem tinha feito aquilo. Então ele puxou uma arma de um dos policiais e fez com que ele se rendesse.

― Sr. Pritchard, não faça nada que vá se arrepender depois! ― disse o policial, rendendo-se.

― Fiquem aí! Eu vou acabar com esse desgraçado. ― gritou o sr. Pritchard, depois correu para dentro do acampamento. Ao chegar lá, foi direto para a cabine onde Vincent provavelmente teria se encontrado com Margareth e feito o que fez.

  E o que mais apavorou o sr. Pritchard não foi a janela quebrada que Vincent usou para fugir, e sim as imagens perturbadoras que ele acabara de presenciar. Havia escrituras nas paredes feitas com sangue fresco, um animal que ele acreditava ser um javali totalmente esfolado no piso e chifres sendo queimados em uma pequena fogueira improvisada. Além disso, tinha uma cabeça decepada bem no meio, no que parecia ser um altar. Observava-se também um texto enorme na parede, dizendo: É APENAS O COMEÇO DO FIM. O texto estava escrito em sangue fresco.
Em choque com aquilo, o sr. Pritchard recuou e vários policiais foram até ele para o rendê-lo e tirar a arma de sua mão, mas também viram as escrituras e aquelas peças para ritual ali e entraram em choque.

― Vasculhem a área, são os satanistas. ― ordenou um policial, então os homens saíram correndo para procurar algo.


  Embora tenham se dispersado para procurar por alguém o mais rápido possível, de nada adiantou. Não havia nem sinal de quem esteve ali.


  Uma semana se passou desde aqueles eventos, os noticiários locais anunciavam que estavam em busca de um possível suspeito com as descrições de Vincent Covington. Acreditavam que ele estava recebendo a ajuda de mais de uma pessoa, então qualquer pessoa que tivesse símbolos satânicos como roupas, acessórios ou marcas em seu corpo, era um suspeito em potencial. Quanto à Margareth, ela precisou fazer um parto de risco devido a todo o estresse e pressão psicológica que ela esteve submetida. Ela confessou aos policiais que esteve se encontrando com Vincent secretamente antes do acampamento ser inaugurado, mas em um acordo entre a família Pritchard e a polícia, a pouparam de tudo. Os ricos privilegiados sempre têm a polícia na palma de suas mãos. Margareth também mandou a criança para a adoção, não queria ter que lidar com um filho de um assassino. Coldfall não era mais a mesma e talvez nunca mais voltasse a ser a cidade mais segura do país. 

  Vincent ainda rondava aquela área de Silver Shadow, onde esteve secretamente observando a senhora Pritchard durante esse tempo todo. Ele ficava noites sem dormir, vigiando tudo por ali. Estava obcecado, sedento com o seu plano. Talvez essa obsessão tenha sido a sua ruína. O senhor Pritchard e ela estavam tomando conta de tudo no acampamento enquanto Margareth se recuperava no hospital. Sua sede por vingança era inacabável, só se importava com Margareth e não pararia até que pudesse tê-la ― mesmo que isso lhe custasse a vida de todos que ela amava. O homem sabia que para que seus planos diabólicos tivessem efeito, ele precisaria aguardar algum tempo para que pudesse finalmente executá-los. E mais e mais semanas se passaram, até que finalmente chegou a noite em que ele traria o caos à Terra naquela noite.

― Meus queridos súditos, que comece a chacina. ― disse Vincent para seus admiradores, e em seguida, colocou uma máscara de madeira com chifres pontudos. Todos usavam a mesma roupa preta que cobriam seus corpos por inteiro.



  As figuras mascaradas se dividiram e foram até as cabines das crianças. Um deles já chegou arrombando as portas e fazendo com que as garotas acordassem.


― Você é um demônio? ― perguntou uma garotinha na cama, enquanto as outras ficavam escondidas no canto da parede.

― Somos. ― disse Vincent, em seguida, ele mostrou a mão e a menina pôde ver uma cruz de ponta-cabeça queimando no palmo do rapaz. Era brilhante, como algo flamejante.

  Em seguida, ele cravou a faca no peito da garota de forma impiedosa.  As outras garotinhas agora gritavam de pânico.


  Os gritos começaram a se espalhar por todo o acampamento, Vincent sabia que eram seus homens invadindo as outras cabines e fazendo mais vítimas. Ele aproveitou o tanto de sangue espalhado no chão para começar a desenhar símbolos nas paredes e no piso amadeirado, mas foi surpreendido pelo som de disparos de escopeta. Ele estranhou aquilo, então foi verificar pela janela. Se deparou com os Pritchard e alguns moradores armados segurando escopetas e matando seus homens.

― Isso é pelas nossas crianças, seu filho da puta! ― um homem gritou. ― E você será o próximo!

  Logo após aquilo, um dos tiros passou raspando pelo rosto de Vincent.


  As pessoas revoltadas começaram a correr, indo buscar por Vincent. Parte deles estavam sedentos por vingança por não terem visto ele e os seus seguidores chegando no acampamento, e consequentemente, fazendo com que crianças inocentes perdessem as vidas. Já por outro lado, revoltados com a polícia, que não havia achado um rastro sequer do homem desde que ele começou a cometer os crimes que cometeu. Precisavam fazer justiça com as próprias mãos.


  Vincent fugia sem rumo, até que decidiu de último minuto seguir para as docas, achava que se encontrasse um barco, poderia sair remando dali sem ser pego pelas pessoas. Como estava escuro, dificultaria para que os civis o encontrassem. Ao chegar nas docas, se deparou com uma figura. Era uma mulher, usava um vestido branco e os cachos loiros podiam ser vistos de longe. Ela se virou, era Margareth.


― Vince, você precisa se render... ― ela disse de longe. Vincent andou com pressa até ela, tirando a sua máscara encardida.

― Me desculpa por ter te atacado. Eu fiquei fora de controle quando você me disse que não me queria mais e que não era certo me manter escondido no seu acampamento. ― disse Vincent, apressado.

― Me desculpa, é só que isso não é certo. Eu não sei o que vai ser daqui para frente, não posso ser presa. Eu já entreguei nosso bebê para a adoção e... ― Margareth foi interrompida.

― Você deu o nosso filho para eles? ― Vincent perguntou em voz alta. ― Sua vadia estúpida! Eu vou acabar com você! ― após dizer aquilo, ele esfaqueou Margareth repetidamente.

  Vincent só foi interrompido quando foi atingido por um disparo de arma, em seguida, se virou. O corpo de Margareth caiu do lado dele, já ele, olhou para o lado em que a bala tinha o atingido. Quando olhou para a direção do atirador, viu que era o senhor Pritchard quem havia acertado ele. Em seguida, ele recebeu mais e mais tiros na região do seu corpo, o que fez com que ele soltasse a arma ensanguentada e caísse no lago. Ele ainda segurava a sua máscara em uma de suas mãos. Seu corpo não demorou até que afundasse naquele lago frio e nebuloso. 

― Não! Não!!! ― exclamou a sra. Pritchard de longe, desesperada. Ela correu até o corpo de sua filha e a segurou, aos prantos. ― Maldito seja, Covington! Maldito seja... ― ela a segurou com força, sem se importar com o sangue em seus braços.  



** ** ** ** ** TEMPO ATUAL ** ** ** ** ** ** **


― Meu Deus. ― disse Laurel. ― Por isso que eles chamam esse lugar de Acampamento Hayfinch, então?

― Sim. Mudando o nome é uma forma melhor de atrair clientes e pessoas para trabalharem aqui. O corpo de Vincent nunca foi encontrado e, bem, a senhora Pritchard enlouqueceu depois dos eventos. Como já era de se esperar. ― disse Kai.

― Minha nossa, que história tenebrosa... eu não sabia desse lado da história, só da história que contavam que ele era tipo o Jason Voorhees daqui, que ele simplesmente enlouqueceu num dia e saiu matando garotinhas por todo o acampamento sem motivo algum. Os monitores da época diziam isso para as crianças desobedientes se comportarem. ― disse Hailey.

― E alguém sabe do pai da Margareth ou do rumo que teve a criança? ― perguntou Margot.

― Sobre a criança, não exatamente. Quanto ao senhor Pritchard, eu fiquei sabendo que ele morreu há 2 anos e passou a posse de tudo para uma família misteriosa. Aí eles contrataram a Juliet para trabalhar aqui de monitora-chefe e também para ser a manda-chuva de tudo. ― disse Gunner.

― E como você sabe disso tudo, quero dizer, isso é só uma lenda urbana. Certo? ― perguntou Laurel. ― É só uma lenda urbana, não é, gente?! ― Laurel forçou um sorriso, já se sentindo amedrontada. Todos se olharam e não disseram nada. 

― Sou alguém que lê bastante notícias e... também alguns arquivos da sala da Juliet. ― diz Gunner, abrindo um sorriso ladino para desconversar. 

― Gente, é sério, se isso não for só uma lenda urbana... nós podemos estar correndo perigo. Nossos amigos morreram. Não percebem a gravidade disso? ― Laurel perguntou e todos pareceram indiferentes. 

― Hm... eu não acho que seja só uma lenda urbana. Quero dizer, não mais. Cecil e Brady foram mortos de forma brutal. De uma forma que só o Covington mataria. ― disse Shannon, enfatizando o sobrenome.  

― Vocês acham que o Vincent pode estar vivo? ― pergunta Ophelia.

― Eu não duvido de nada. Ele era completamente maluco, desafiava a própria morte para que pudesse marcar o mundo com sei lá o quê. E se alguém estiver se passando por ele, pelo Vincent? Existe louco para tudo nesse mundo. ― diz Shannon, apreensiva.

― De acordo com o que Gunner disse, ele era satanista, não é? ― Margot olha para Gunner, que concorda. ― Então, geralmente, eles procuram um motivo para sacrificar as pessoas. Como por exemplo: riqueza, fama, poder. Qual era o objetivo do Vincent?

― Ele era simplesmente louco. Matava por matar. Aliviar o estresse. E bem, consequentemente, ele acabou se tornando um famoso assassino em série daqui. É considerado até uma lenda urbana. ― disse Kai, sorridente.

― Então você acha que ele é real e que está vivo mesmo? ― pergunta Laurel, agora amedrontada. ― Olha, se vocês estiverem brincando comigo, por favor... eu não gosto desse tipo de coisa.

― Alguém aqui parece estar rindo? ― pergunta Ophelia.


  Laurel nega com a cabeça, com um olhar assustado. Robbie abraça ela de lado, protegendo-a.


― Ai, essa história toda me deu vontade de ir no lago. Será que o Vincent Covington vai puxar o meu pé? ― Hailey perguntou em tom de deboche, em seguida, tirou a blusa e ficou apenas de sutiã.

― Ora, ora. ― disse Kai, vendo Hailey ir embora. Em seguida, ele a seguiu também.

― Pessoal, vocês não vão mesmo- ― Laurel começou, mas nem terminou a frase, pois viu que seria inútil.

― Que nojo desse cara. Vou sair daqui antes que eu quebre a cara dele. ― disse Robbie, se retirando dali por outro caminho.

― Ai, querem saber? Depois de hoje, eu tenho total certeza de que quero curtir. Sabem o que dizem, né? Só se vive uma vez. Eu vou com eles. ― disse Shannon, tirando as roupas e correndo com roupas íntimas pela floresta. ― Ei, me esperem!


  Laurel olhou para Ophelia, que estava em silêncio. Ophelia seguiu Hailey, Shannon e Kai pela direção do lago sem nem cogitar manter aquele assunto que estava causando arrepios. Quando se virou, Gunner e Margot haviam sumido num piscar de olhos, provavelmente saíram dali para ir transar ou algo assim. Ela estava completamente sozinha. Ninguém parecia querer aceitar muito bem que pessoas estavam morrendo. 

― Pessoal? Eu não queria ficar sozinha aqui. ― disse Laurel, olhando para os lados. ― Margot, cadê você? ― perguntou em um tom assustado.


  Ao ouvir passos e sons de galhos se partindo, Laurel olhou para dentro da floresta. Não conseguia ver exatamente nada, apenas a neblina. Tudo que ela ouvia era o som do vento cantando naquela área, o que fazia com que as folhas começassem a bater entre si. Ela ouviu Hailey gritar, o que fez com que ela levantasse e saísse correndo em direção ao lago quase que de forma involuntária. Se alguém próximo dela estivesse em perigo, ela sentia que precisava os salvar. 
  Laurel pegou uma pedra no chão para atirar em quem quer que estivesse vindo em sua direção, e foi seguindo a origem dos gritos. Ela caminhou com calma por entre os arbustos, até passar por uma grande árvore. Chegando no lago, não havia ninguém lá. Laurel ouviu novamente o barulho de galhos se partindo, e quando se virou, viu uma figura no canto da floresta. Estava mal iluminado, pois só a luz da lua não era o suficiente para mostrar quem estava ali parado, mas sim para criar uma silhueta tenebrosa. E considerando que não havia eletricidade naquela área ali, ela sentia fortemente que seu fim estava próximo. A jovem estreitou os olhos, tentando enxergar melhor. Pôde ver que era Cecil acenando para ela, o que lhe fez errar as batidas do seu coração. Ela não podia estar vendo Cecil, pois a garota estava morta. 

Beyond the Nightmare: Dead CampOnde histórias criam vida. Descubra agora