01. good morning, Norway

2.1K 132 62
                                    

Era julho de 1988, verão em Oslo, uma figura baixa feminina saiu calmamente do trem com suas malas, seus cabelos de cor azul chamam atenção de algumas pessoas, coisa que não ocorre na Inglaterra, se queixou mentalmente.

Agradecia que sueco e norueguês eram linguagens parecidas, pois nunca tinha estado na capital norueguesa e sequer sabia para onde deveria ir. Na carta, Øystein dizia que a esperaria na estação, com os outros membros e um papel com seu nome escrito.

Enquanto isso, na entrada, o quarteto conversava. O guitarrista estava impaciente, como sempre, se perguntando onde o cara tinha se enfiado, de longe, avistaram algo incomum, um vulto azul, melhor, uma mulher de cabelo azul, tinha acabado de sair do trem e parecia estar perdida, vendo as placas com uma cara confusa.

"Uh, exotica, não?", Jan falou, dando um tapinha no ombro de Per, que estava ao seu lado. Jan era mais conhecido como Hellhammer, o baterista da banda e Per, ou Dead, era o vocalista.

Per sempre teve fascínio por tudo aquilo que parecia diferente, coisas estranhas e que parecessem fora desse mundo, sempre se considerou algo mortal, mas não humano, então sempre estava a procura de seus semelhantes, foi por isso que seus olhos pousaram na cabeleira exótica por mais tempo que os outros, até que aquela figura começou a caminhar em sua direção.

Não foi difícil achar eles, era um grupo de quatro homens, todos com cabelos longos, roupas pretas e alturas destoantes e um dos mais baixos segurava um papel com seu nome escrito. Caminhou até eles, deixando para trás o barulho emborrachado do seu coturno na plataforma de concreto, então parou na frente deles, deixando sua case no chão para cumprimentá-los com um aperto de mão. Øystein olhou para seu rosto e para sua mão e perguntou: "Quem caralhos é você?!".

A garota olhou para seu rosto e para o papel na sua mão, apontado para ele. "Alex", respondeu, ouvindo uma risada de deboche do homem com a raiz do cabelo loiro aparecendo em contraste a tinta preta.

"Alex? O cara que nos enviou aquela fita?", ela concordou lentamente com a cabeça. "Mas você tem peitos!", os outros três começaram a disfarçar uma risada enquanto ela sorriu com o canto da boca.

"É porque o cara que te enviou a fita é uma mulher", ela abaixou sua mão, apanhando a case preta da guitarra do chão, ele começou a rir de novo.

"Você? Alex?!", ela espremeu os lábios, olhando para os homens em volta, quase como pedisse ajuda.

"Algum problema?", ela perguntou, sem entender o porquê do deboche. Ele riu mais. "Huf, eu sabia que era perda de tempo", ela disse, se virando para sair.

Per e Jørn olharam para Øystein, incrédulos. "O que?", perguntou.

"Cara, vai atrás dela!", Jørn falou quase gritando.

"Por que? Essa garota é uma poser, provavelmente nem deve ser esse tal de Alex".

"Para de ser paranoico, porra! Ela se referiu várias vezes como uma garota nas cartas, sem falar que ela foi a melhor no meio daquelas fitas cheias de lixo".

"Se querem tanto assim ela na banda, vão atrás dela", Øystein completou, mimado.

Jørn olhou para ele e virou de costas, indo atrás de Alex. A encontrou sentada em um banco, fumando um cigarro e olhando o movimento ao seu redor. "Se veio zombar de mim, pode ir embora", ela falou antes que ele pudesse comentar qualquer coisa.

"Eu vim pedir desculpas. Øystein é um cuzão que quer manter a pose, mas ele adorou sua música, até mesmo decorou a letra", Alex deu um sorriso antes de liberar a fumaça dos seus pulmões.

"Eu já vim esperando que fosse rejeitada, mas não logo de cara assim. Até entrei em contato com um parente que mora em Oslo para arrumar um lugar para ficar", ela balançou a cabeça.

"Calma, você não foi rejeitada. Øystein apenas precisa escutar você", Alex deu uma risada que mais pareceu um grunhido. Ter que se provar para aquele anão de jardim era humilhante, mas não desistiria fácil assim de entrar na banda.

"E como eu faço para ele me escutar?".

Jørn apenas pediu para que ela voltasse com ele para o grupo, Øystein olhou para o baixista, trazendo a garota de volta e ainda a ajudando com as malas, sem acreditar no que ele estava fazendo.

"Vamos?", Jørn disse, caminhando até o carro com as malas. Øystein caminhou puto atrás deles, mas sequer abriu a boca para falar nada até que a garota tivesse entrado no carro após Dead e Hellhammer. Ele bateu as portas e começou a gritar com Necrobutcher do lado de fora do carro, tudo que se ouvia la dentro eram ruídos abafados de uma discussão, eles devem ter passado cerca de dez minutos lá fora.

"Eu não me apresentei, me desculpem", ela falou, olhando para os outros dois membros juntos dela no carro. "Meu nome é Alex, tenho 19 anos e vim de Estocolmo", ela tentou quebrar o silêncio entre eles.

"Meu nome é Jan Axel, sou o baterista e ele é Per Ohlin, o vocalista", pela primeira vez, o olhar dos dois se cruzaram. Eles estavam no carro há dez minutos, no verão, com o baterista entre eles e o som de dois homens brigando do lado de fora, ah, que romântico.

"É um prazer conhece-los, eu já ouvi Deathcrush antes, Mayhem é uma ótima banda", disse sorrindo, mesmo que nenhum dos dois que estavam ali tinham participado das gravações do EP.

Logo em seguida, Jørn entra no lado do motorista e Øystein no passageiro. "Está com fome, Alex?", queria falar que não e causar menos problemas, mas sua barriga fez barulho na hora.

"Eu 'tô com fome pra caralho", Jørn riu, dando partida no carro.

Øystein ligou o rádio para por alguma fita, e de cara seus ouvidos foram invadidos por uma voz feminina. "Bom dia, Noruega!".

Vai se foder, Noruega.

QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora