Café da Manhã - "Quero te alimentar."

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"There are few people whom I really love, and still fewer of whom I think well. The more I see of the world, the more am I dissatisfied with it; and every day confirms my belief of the inconsistency of all human characters, and of the little dependence that can be placed on the appearance of merit or sense."

Jane Austen, Pride and Prejudice

P.s. sem revisão minuciosa
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Após a jovem aceitar a carona da mais velha, essa decidiu levá-la para tomar um café, já que tinham virado a noite no evento e, pelo que observou, sua acompanhante não tinha se alimentado corretamente. Óbvio que também seria uma ótima oportunidade para se conhecerem melhor.

Enquanto dirigia tentava pensar qual seria o melhor percurso para o local, seus olhos foram puxados para o banco ao lado, observando certa inquietação.

- Você está bem? - Olhava de soslaio as pernas de sua acompanhante subindo e descendo, batendo de leve os calcanhares.

- Ah, desculpe. Estou um pouco nervosa. Geralmente não entro no carro de estranhas, principalmente daquelas que não sei sequer o nome. - Sorria matreiramente, mas nos cantos dos lábios percebia-se que isso era "algo".

- Verdade, menina, que falta de modos os meus. Meu nome é Eleonor Rodrigues. Qual seria o seu? - Aproveitou que estavam diante de um semáforo e olhou para o banco do passageiro, aguardando uma resposta.

- Só Eleonor Rodrigues? Mais nenhuma informação? Quanto mistério. - Esboçando uma expressão desafiadora, olhou para a motorista, ganhando em resposta um breve sorriso.

- Estou te levando para um ótimo desjejum, no qual espero poder lhe conhecer com mais calma. Aliás, poder dar toda atenção possível à nossa conversa, já que não gosto de ter que esperar cada semáforo fechado para lhe olhar. - Piscou para a jovem e retornou sua atenção à estrada.

- Ah... realmente é melhor... Sim, meu nome é Audrey Florêncio. - Olhou para a janela ao seu lado, notando os pingos que desciam até a base do vidro.

- Florêncio? Um sobrenome diferente. Vem de algum país? - Parou o carro próximo à faixa de pedestre, aguardando o senhor com sua bicicleta atravessar.

- Não conheço muito sobre a origem, mas acredito que sua grande maioria seja brasileira. - Falou. - Para que lugar está me levando? Conheço a região, e tentei até imaginar nosso destino, mas quanto mais nos aproximamos da Ponte Nova, menos imagino o local que iremos tomar café. Até existem cantos bons, mas não acredito que a senhora frequente. - Falou encarando a mais velha, percebendo um franzir no cenho.

- Iremos a um lugar pouco conhecido, de um amigo meu. E, menina, que impressão tem minha? Estávamos no mesmo evento, e não era um evento elitista. - Rebateu.

- Concordo, concordo. Mas eventos pro público "entendido", aqui na região, aquele era o único. Não existem muitas opções, exceto se você gostar de bares lotados de mauricinhos. - Vislumbrou novamente a janela, percebendo que o vento tinha levado todas as gotas, deixando apenas algumas manchas.

- "Entendido"? - Questionou sabendo o significado, porém achando graça da maneira que menina se refere ao público LGBTQIA+.

- Ah, Eleonor... Você sabe. Aqui utilizamos termos assim, já que moramos em uma cidade interiorana. Existem muitos avanços, e casos de preconceito são consideravelmente poucos, mas ainda há um pensamento deveras arcaico. - Voltou a remexer as pernas, demonstrando novamente inquietação.

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