CAPÍTULO QUATRO - Louise Charlotte, atrás do óculos de Astronauta

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1222 palavras



Louise correu.

Correu até chegar no playground infantil. Subiu no mastro do primeiro brinquedo, que ficava escondido por entre os escorregadores. Lá, ela suspirou aliviada e ficou falando sozinha, enquanto chorava.

— Por favor, não me machuque! — Ela repetia sem parar e as lágrimas rolavam desobedientes. Não havia um só dia em que estar naquela escola, principalmente os alunos de sua classe, não à deixasse naquele estado. Todos diziam que ela não era normal. Não demorou muito para que o menino que a perseguia no intervalo à encontra-se.

—Se você não descer eu vou atrás de você!

Louise fez bico, limpando as lágrimas com as costas das mãos. Ela pode contemplar a veia assassina saltando na testa do menino. Pensou por um instante, mordendo a boca até feri-la por dentro que deveria enfrentar os seus medos. Então assim que reuniu coragem e desfez a cara de amedontrada, o sinal do final do intervalo dos alunos da turma de Louise soou.

— Se ficar fugindo de mim ou contar para a diretora, e me desrespeitar na frente dos outros de novo, você vai se arrepender! E só não arranco seu couro porque o intervalo acabou!

Louise Charlotte sempre foi do tipo de criança que gostava de olhar pelas fechadura das portas para espiar as reuniões dos professores, onde se reuniram após o término do intervalo, mas a pequena Lou nunca foi de cabular aula, como foi dessa vez. E ela constou uma coisa: Os adultos professores não faziam NADA , não trocavam carinho, nem gritavam... sequer nem conversavam. No máximo, ficavam tomando café na frente do computador. E as conversas eram tão bobonas quanto as da aula de matemática.

Para Louise o tédio machuca a alma, entristece e aborrece o chocolate quente. Ser adulto é gostar de café e isso por si só é amargo, a vida adulta tem gosto de café frio e tem cheiro de suor misturado com cecê e chulé. Louise sempre quis ser adulta, porque achava que teria o céu, mas para se tornar adulto precisa-se podar as asas. Mal ela sabe que ser adulto é... tudo que você quer ser quando criança, mas tudo que você não gosta de ser quando adulto.

Mas existe uma criança que era sempre chata, mesmo quando não era adulto: o filho da professora, seu nome era Renato. No início Louise gostava do Renato. Ele dava abraço e gostava de brincar, assim como outros amigos. No entanto, suas brincadeiras começaram a incomodar quando puxava os cabelos de Louise. Certa vez a pequena exploradora contou isso à diretora e ela teve uma resposta:

— Menino é assim! Ele ta apaixonado por ocê, por isso implica.

A aquilo deu uma coisa na Louise que nem ela sabia descrever.

— Pra que ele faz isso? — Lou perguntava — Os outros amigos não fazem isso, por que ele não fala logo: Eu te amo...Por quê?

— Louise, cê tem que entender que os pré-adolescente são assim.

— M-mas...

—Quer que eu chame seus pais por me questionar? Pra provar o que eu entendo, fique com este exemplo: Fica aí mostrando esses seus peitos sem sutiã no meio da rua, um monte de homem vai se apaixonar pro'cê e sabe o que vai acontecer?

—E eu lá quero viver pra agradar macho e obedecer a senhora!

Quando se afastou da sala da diretoria, ouviu três sinais soando no teto. Um deles era bem barulhento, então abriu um sorriso a aula acabou e poderia ir para casa! E melhor! Ninguém havia lhe atormentado. O primeiro ato de Louise foi rodopiar em torno de seu próprio eixo, só que ao contrário da Terra, ao invés de criar estações isso incentivava a sua esperança. Logo, se arrumariam para jantar e depois, provavelmente, mesmo sem nenhum amigo ou platéia, tocará violino ou piano e dedilharia a sua sonata favorita, enquanto sua irmã: Érica, escreveria sobre a sua ida a escola aquela semana.

Os dedos tamborilam desanimados, mas como não ser desse jeito quando tinha que se adaptar a uma nova rotina? Tênis pretos, rabo de cavalo e meias brancas bem passadas. Para Louise uma nova rotina era a combinação mais desagradável possível, afinal por quê não poderia ir para a Escola Antiga? Por que teria de fazer novos amigos? Por que não fez nenhum amigo e o menino Renato continuava implicando com ela, mesmo depois de meses...

Ao menos todos os uniformes eram assim: Bermudas ou saias jeans. Porém, não demorou para a pré-adolescente, felizmente, encontrar um modo de transformar o dia. Havia no pátio do colégio, outro adolescente. Ele tinha uma tiara de flores nos cabelos.

Por que lhe era tão familiar?

Mas ao aproximar do adolescente, no período pós-aula foi parada por um grupo de adolescentes.

Um menino, Renato, colocou a mãos nos seus cabelos. Aquele mesmo menino que lhe atormentava. Tentou desgarrar-se dos dedos dele em vão. O espoleta desfez o rabo de cavalo puxando o penteado com força

— Ai!

Louise tentou proteger—se, mas quanto mais o fazia, mais beliscões e mais os outros conseguiam achar uma forma de driblar a proteção. E então um menino chegou, arrancando às palavras das crianças que incentivaram a briga, só não arrancou a coragem. O menino, que estava chegando com um skate feito de madeira simples, debaixo do braço, tinha dois garotos mais velhos em seus calcanhares, olhou bravo para Renato.

—O Renato cara de Cavalo!  Tô achando que você bate nos outros porquê não tem cérebro, por isso da coice, aliás te chamar de Cavalo é bom! Você é um burro.

— E você que é menininha! — Gritou, prontamente, Renato. — Vai tirar as flores da cabeça, seu bichona!

— Óia! Não pode falar assim não! —Disse um inspetor da escola, dispersando a confusão. Lembra-se de ouvir o menino com o Skate e flores na cabeça dizer antes de se afastar:

— Esse bobão que começou!

E as risadas aumentaram.

— Que menino fracote que ocê é... Já ta chorando — Uma tia da escola, mulher baixa e magricela retrucou do outro lado, ajudando o inspetor a apartar a briga — Acho que vamos leva-lo para a diretoria.

Louise ficou ali, observando os fios de cabelo que desgarraram-se da sua cabeça e o menino com uma tiara de folhas partir pelo portão da escola. Tentando reconhecer de onde aquele rosto lhe era tão familiar! Mas ele foi embora tão rápido quanto a brisa da primavera.

Quando Érica foi buscar a irmã mais nova se amargurou ao ver o penteado desfeito.

Mas ao ver a garota dando passos ágeis em sua direção, teve de esconder a preocupação. Estendeu os braços para o melhor abraço que estava disposta a dar.

— Louise! Quer passear? – O menino com tiara de flores foi correndo à frente e encontrou a menina-brilhante perto do portão. — Vamos num lugar aí. — No início ela não ouviu direito, mas depois... Pode entender.

Como não importava para onde ir, mas apenas a chance de fazer um novo amigo, a irmã e o menino da tiara de flores se juntaram a Louise. Lhe mostraram o mundo por trás das pesadas grossas lentes de óculos. O Menino das Flores e Louise desceram por uma trilha. Cataram um pouco de Flor-CataVento que voaram com aroma das memórias do início da pré-adolescencia, carregadas e eternizadas por sorrisos atrevidos.

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⏰ Última atualização: Nov 13, 2021 ⏰

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