Colocando o atraso
Desde nova sempre ouvi os homens usando gírias para poder descrever suas mais variadas ações sexuais, e sempre achei engraçado e até divertido, eu ficava pensando: o que raios o ganso tinha feito pros caras quererem "afogar" ele?
E outras como descabelar o palhaço, molhar o biscoito, agasalhar o croquete, entre tantos mais, essas frases me faziam pensar em seus significados obscuros, e eu sempre imaginava, o que eu nunca imaginei é que eu um dia iria ter minha própria gíria.
No dia em questão estávamos eu e meu ex em um quarto que alugamos pra ficar dois dias em frente a praia, nosso intuito era fazer um passeio romântico e íntimo, já que trabalhávamos muito e quase não tínhamos como aproveitar as horas que nos restavam pós trabalho.
Juntamos grana e fomos, foi uma das experiências mais legais da minha vida, se não fosse por um detalhe. No dia de voltar tínhamos que pegar um ônibus na rodoviária da cidade ás 7h, acordamos ás seis da manhã pois só íamos ajeitar nossas malas trocar de roupa e sair, o que acontece e que tinha tudo sido tão mágico que ficamos admirados olhando a vista pela janela, pintou aquele baita clima de cinema e começamos a nos beijar, eu sabia que tínhamos horário, mas no calor do momento quem é que pensa nisso?
Sei que não vi mais nada, quando vi já estava sem as roupas que tinha acabado de colocar, ele com o corpo quente em cima de mim enquanto beijava meu pescoço me deixou completamente louca, tudo foi bem rápido, pois esse era o intuito ser só a famosa "rapidinha" e queria eu que essa fosse a minha gíria que mencionei no início, mas infelizmente não foi, quando olhamos o relógio já seis e quarenta da manhã, foi uma tremenda correria eu e ele recolhendo tudo que estava jogado pelo quarto e ao mesmo tempo tentando chamar um Uber para nos levar até a rodoviária, sei que eu nunca corri tanto em toda a minha vida. Descemos e ainda ficamos um tempo esperando o Uber, me senti em um filme de ação, mal entramos e já fomos pedindo para o moço colocar o pé no acelerador. Ele correu por toda a cidade, por uma puta azar ficamos presos em um semáforo que estava a uma rua de distância da rodoviária.
Assim que o semáforo liberou o carro e viramos a esquerda entrando na rua da rodoviária o ônibus saiu indo para a outra curva à direita.
Detalhe, essa cidade ficava a seis horas de distância, indo de ônibus, de onde nós morávamos, então não havia meio de voltar se não fosse por esse ônibus. Nós sentamos na rodoviária desolados, por um momento pensei em voltar para a praia e vender uns colares de concha, dormir na areia, e viver do que a natureza poderia me oferecer, pois eu não fazia nenhuma ideia do que eu faria naquela situação.
Nós tínhamos gasto todo dinheiro reserva comprando comida nos dias em que estávamos lá e se nós quiséssemos pegar o próximo ônibus teríamos que pagar uma taxa pelo 'descaso'. Eu entendo a companhia de ônibus, mas na hora eu fiquei completamente furiosa e preocupada. Por sorte do destino, ou por uma cagada muito grande que demos, uma das irmãs do meu ex morava na cidade vizinha da que estávamos e ela foi lá na maior boa vontade nos buscar, nos levou para casa dela e ainda emprestou o dinheiro que faltava para pagarmos e pegarmos o próximo ônibus que iria nos buscar de tarde.
Esse dia foi completamente louco do início ao fim, queria poder dizer que fomos até lá para "tirar", mas no fim acabamos "colocando o atraso"!
(Helena, 24, RJ)
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Contos de F(o)das
Short Story(...)Somos todos adultos e não precisamos mais de contos de fadas! Então, se segurem por um momento, fechem as pernas, abram o livro e sejam muito bem-vindos ao Conto de F(o)das!(...)