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Minha mente foi automaticamente retirada do transe em que eu me encontrava, quando a porta de meu escritório bateu com força. Uma força totalmente diferente da conhecida por mim, mas, que eu normalmente faria por estar muito irritada. O tipo de força que você exerce quando deseja também chamar a atenção de outra pessoa, ou irritar. Bater portas para expelir sentimentos muito extremos, é um vício de todo ser humano.

— Bom dia! — Sinto a ironia na voz. — Parece que começamos definitivamente muito cedo. E de todo coração, eu espero que você esteja arrumando suas coisas para ir justamente à delegacia. Para tirar ele de lá.

Meu corpo estagna no lugar, minhas mãos travam no ar, enquanto eu seguro a bolsa com força. Posso sentir meu coração acelerado dentro do peito — pelo susto de não imaginar ouvir aquela voz tão cedo — o suor ficando cada vez mais nítido na minha testa, escorrendo pelas laterais do meu rosto. Uma situação deplorável de nervosismo e surpresa, logo pela manhã. Tudo que eu não queria.

É Jin. Meu sogro de sorriso fácil e gentil. Mas, que tem a capacidade incrível de transformar toda essa gentileza e sorrisos, em uma carranca e bufar como uma fera. Se você não deseja conhecer o outro lado inexplorado dentro de si, não mexa com o seu príncipe. Não mexa com a sua criança, sequer ouse fazer algum mal ao seu protegido. As coisas não vão sair muito boas para você e sua reputação.

O seu príncipe, é o meu namorado. Jeon Jungkook. Seu único filho e herdeiro.

Para que Jin venha pessoalmente até o meu escritório, ficar frente-a-frente comigo e tirar satisfações do que pode ter ocorrido, tem que ser algo extremamente importante e risco de vida ou morte. Já que não é de feitio fazer isso. Normalmente, as pessoas vão até ele quando precisam de algo, ele nunca vai até os outros. Mas, em todo caso, essa é uma situação de vida ou morte. Mas, não é a morte de nenhuma outra pessoa, é a minha morte.

Ao me virar, posso encarar seus olhos vermelhos decisivos e sua postura impecável.

Mostrando ali, para mim, que eu não estava de frente a um qualquer; mas sim, a alguém que pode e vai destruir a minha vida, caso algo aconteça com o seu filho. Por Jungkook, Jin ignora todas as gentilezas e preceitos que lhe foram construídos durante toda uma vida. Ele é capaz de tudo, inclusive, passar por cima de tudo e todos, pelo seu filho.

Sei que se a minha boca se abrir e algo que não lhe agrade os ouvidos for dita, não será uma situação boa. Por isso, penso bem em minhas palavras antes de responder e no fim, solto um suspiro cansado e frustrado. Não formulei uma boa resposta para sua indagação debochada logo pela manhã e tampouco estava preparada para isso. Assim como me pegou de surpresa, creio que tenha sido o mesmo para ele. Mas, não é como se Jin fosse compreender o meu lado e passar a mão na minha cabeça.

— Eu não tenho culpa de nada, Jin.

É o que eu digo. Ele ri, colocando as mãos atrás das costas, aproximando-se de mim. O maxilar travado e o olhar afiado, de como quem quer uma resposta aceitável.

— Isso não é problema meu, Haneul. — Seu tom é rude, mesmo que ele tente ter calma ao falar comigo. — Você vai até lá, vai tirá-lo da delegacia. Ou, eu acabo com a sua reputação.

— Jin, por favor, eu nã-

Sua mão esquerda se ergue. Minhas palavras não são suficientes para si, ele não quer me ouvir ou ouvir as minhas explicações.

— Não quero ouvir suas explicações, não quero saber se você tem culpa ou não. Quero o meu filho fora daquela delegacia, em menos de 24 horas. — As palavras saem de seus lábios de forma rápida e precisa, ele quase não respira. — Caso não faç-

Eu suspiro, cortando-o. Seus olhos se arregalam pela minha audácia repentina.

— Vai acabar comigo, eu sei. — Completei, acrescentando suas próximas palavras antes que ele diga. Jin suspira, mudando de expressão logo em seguida.

— E com a sua carreira, Haneul. Então, veja bem como vai tirar o meu filho daquele local. Estamos entendidos?

— Estamos, Jin.

Olho novamente em seus olhos, acenando positivamente para suas palavras. Ele fica um pouco em silêncio, observando minha expressão. Não sei se ele consegue notar como me sinto indefesa perto de si e assustada. Mas, de qualquer forma, antes de sair ele me beija a testa.

Não posso dizer que isso me acalmou, não sei nem mesmo se isso foi um beijo de despedida. Na grande verdade, esse beijo só me deixou ainda mais nervosa. Pessoas calmas demais são perigosas, e eu costumo avaliar de longe.

No fim, eu espero que ele saiba que a culpa não é minha. Jin tá sempre por dentro dos assuntos. Ele tem olhos e ouvidos por todos os locais, não é atoa que é conhecido em lugares de grande renome. Por isso, espero que ele saiba que não é a minha culpa e que eu não fiz nada além de trabalhar. Quando eu poderia imaginar que o filho dele iria parar na delegacia?

Jin me observa uma última vez, respirando fundo e negando com a cabeça. Provavelmente para algum pensamento que se passou em sua mente, que ele sequer verbaliza, disso eu tenho certeza. Ele acena com a cabeça e recebe um aceno novamente de minha parte, e então, Jin sai pela mesma porta que entrou. Dessa vez, fechando-a com calma.

Um suspiro de alívio e outro de desespero sai por meus lábios e eu me encolho. Ainda me sinto em um transe desesperador, minha mente me prega cada vez mais peças.

Mas, resolvo não me apegar a isso. Preciso resolver o que aconteceu o quanto antes e não demoro até voltar e arrumar minhas coisas.

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