Tudo

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— 38,07 graus — Raj estava com o coração na mão. Ele havia trazido o garoto para cuidar dele, e agora, Travis estava com febre. — Levamos ele ao médico?

— Não está tão alta — disse William, cobrindo Travis. — Ele deve estar se acostumando com a casa ainda...

— Espero eu... — suspirou, se deixando cair em uma cadeira aleatória do quarto. — Ah... Eu mal consigo imaginar o que ele está passando agora...

— Perder alguém nunca é fácil... Principalmente um familiar... — William se lembrava muito bem dos seus anos solitários após um bombardeio que matou sua família, era doloroso ter aquelas memórias tão vivas na sua cabeça. Ele ainda sentia o gosto amargo da morte dos campos de guerra. — Vamos deixá-lo descansar... — falou, indo até a porta. — Vamos Raj, você ainda precisa me contar o que aconteceu no trabalho hoje...

— Não quero o abandonar aqui... — Raj olhava aflito para o corpo adormecido na cama, o ar parecia faltar toda vez que Travis fazia um movimento desconfortável. — Ele estava tão sozinho naquela casa... 

William suspirou, pegou uma outra cadeira e a colocou do lado de Raj. 

— Ok, não vou te fazer passar por isso sozinho... — disse, colocando um braço ao redor dos ombros do marido. — Estamos nessa juntos...

— Obrigado Will — sorriu. — Espero que ele fique bem... Me sinto tão inútil vendo-o assim...

— Relaxa, tudo vai se resolver... Você vai vê... 

(...)

A noite parecia não acabar, e com a insônia tudo só piorou. Sal não conseguia parar de pensar em Travis, era difícil deixar tudo aquilo pra traz da noite para o dia. Ele queria acreditar que o dia seguinte seria melhor, que Travis fosse para a escola como sempre.Talvez fosse egoísmo de sua parte pensar assim, afinal, o garoto havia perdido tudo o que ele tinha em apenas algumas horas.

— No que está pensando? — A voz de Larry se fez presente, era tão estranho não estar sozinho no quarto como antes…

— Em Travis… — suspirou. — Eu sinto uma agonia em pensar onde ele pode estar agora…

— Sal, está tudo bem… Não tem o quê para se preocupar… — O maior respondeu se sentando na cama — Olha, ele deve estar em algum abrigo… Os policiais não iriam invadir a casa dele sem se prevenirem antes…

— Claro que iriam! Não houve nem ao menos um motivo para invadirem a casa dele daquele jeito!

Larry suspirou.

— Por favor, se acalme… Esse Sal alterado não é o que eu conheço… — disse, passando a mão no rosto sonolento. — O que você propõe que devemos fazer? Só temos 16 anos…

— Quero que ele more aqui, com a gente! — sorriu, enquanto Larry o encarava confuso.

— Como?!

Sal procurou a máscara perto da cama, a arrumou no rosto e ligou o abajur.

— É o seguinte… Meu pai está tentando ter a guarda sobre Travis…

— E quando você ia me contar sobre isso? Sabe que odeio ele.

— Sem nenhum motivo aparente! Travis é um bom garoto, e você sabe disso… — Sal falou, apontando o dedo indicador na direção de Larry. 

— Um bom garoto? Antes de você chegar nessa cidade ele tocava o terror! — exclamou o Johnson. — Quero ele bem longe daqui!

(...)

“— Pai, onde o senhor está indo?! Por que eu não posso ir junto?! 

— Por favor… espere aqui, ok? Eu vou ali e já volto! Prometo que sim!

Amanhã, tudo acabaOnde histórias criam vida. Descubra agora