Amanhã

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Era uma noite de céu limpo, ótima para olhar as estrelas. As ruas estavam calmas, e o jantar posto na mesa, sozinho, sem ninguém ali conversando e o saboreando; ele nem mesmo foi tocado. A janela da sala estava aberta, a porta trancada e uma bagunça deixada para trás. Ele havia saído às pressas com a equipe médica, chorando enquanto gritava o nome do pai, que era levado até a ambulância em uma maca. Os vizinhos saíram de casa, olhando a cena boquiabertos e curiosos, sussurrando o que poderia ter acontecido na casa dos Phelps. O jovem entrou junto na ambulância, fazendo companhia ao mais velho, e rezando diversas preces para que pudesse ficar bem e voltar para casa. Nada mais se passava na sua cabeça, além do desejo que tinha de voltar com seu pai. Não demorou para que chegassem ao hospital, os médicos levaram o patriarca até uma sala de cirurgia, enquanto o garoto, esperava sozinho em um banco do lado de fora. O desespero corroendo sua alma.

A operação demorou em torno de três horas, e assim que o médico responsável saiu da sala, o peito se apertou, ele queria e não queria ouvir o que tinham para lhe contar sobre seu pai.

— Senhor Travis Phelps... — chamou, com um rosto cabisbaixo. — Sinto muito, fizemos o possível e o impossível... Mas seu pai não resistiu...

Aquilo não podia ter sido mais doloroso, parecia que o chão tinha desaparecido por completo e ele estava caindo, se esvaindo aos poucos da face da Terra. Suas pernas tremeram, e ele caiu de joelhos no chão, sem acreditar em nada do que estava acontecendo. Sua mente estava cheia, ele só conseguia pensar que queria estar no lugar de seu pai, que a morte era muito melhor que aquilo.

— Pai... — chamou, como se o homem que tanto o cuidou, pudesse ouvir de onde quer que estivesse. — Por que me abandonastes?...

Uma enfermeira foi até ele, se agachou um pouco e o cobriu com uma manta grossa azul-marinho. Tomou um susto com o ato repentino da moça, mas relaxou após perceber o que estava acontecendo.

— Venha comigo... — disse, gentil.

— Obrigado...

Os dois foram até uma sala um pouco mais afastada, lá, a moça pediu para esperar, deixando o garoto novamente sozinho. Ao voltar, se sentou com ele em silêncio, entregando-lhe um copo com água. Mais tarde, apareceu um grupo de tiras, um deles se aproximou mais de Travis, com um sorriso gentil. Seu uniforme pesado dava uma sensação confortante.

— Garoto, você tinha alguém além do seu pai? Nós podemos te levar lá... — falou, os olhos do policial brilhavam.

— Não... Meu pai dizia que nossa família não ligava para nós... — respondeu, sua mente estava transbordando.

— Entendo... Tem alguém com quem possa ficar? Um amigo por exemplo... —Travis ficou calado. O homem suspirou. — Ok, pode passar uma noite aqui, ou na minha casa. Onde você quer ficar? Independente de onde, iremos procurar um lugar para você de manhã...

— Eu posso ir pra casa? — Ele perguntou.

— Você consegue ficar sozinho lá?

— Sim...

— Certo. Deixaremos então algum vizinho de olho em você, ok? — perguntou, sorrindo.

— Ok... — Travis respondeu.

Uma sensação de vazio havia tomado o corpo e a mente de Travis, ele não sabia o que tinha que fazer. E a certeza que seu pai não estava mais lá, viria à tona quando chegasse em casa, quando percebesse que acordaria sozinho e não veria mais Kenneth.

O dia seguinte foi insuportável, tão solitário e silencioso. Travis mal conseguia sair da cama, muito menos comer... Era como se seus sentidos haviam sido desligados e tudo o que sentia, era mais psicológico. Chorou e dormiu o dia todo, não havia ido à escola, e se arrependeu mortalmente por isso, pois se tivesse ido, teria sido menos doloroso.

Amanhã, tudo acabaOnde histórias criam vida. Descubra agora