Grace Kingsland era o foco de luz de Brendon Smith. Não eram os holofotes das piscinas em que competia, nem os flashes das câmeras enquanto subia aos pódios, muito menos o brilho que cobria suas medalhas e troféus... Era Grace. Sempre havia sido.
Os dois eram crianças quando se conheceram: a família dela mal havia se mudado para a casa ao lado, recém-chegados de Sydney a Melbourne, quando, em meio a uma rodada de uma partida de bolinhas de gude, ele fora atingido na cabeça por uma bola de futebol que chegara por trás. Por alguns instantes, o garoto ficou confuso se estava com raiva ou se queria chorar pelo impacto que sentiu, mas logo ao se virar e se deparar com uma garotinha mais baixa e mais nova que ele, dona de uma cabeleira loira presa em um rabo de cavalo forte, vestindo uma camisa da seleção australiana, ele sentiu o mundo congelar por alguns segundos — tinha perdido a vontade de chorar, mesmo que a cabeça latejasse.
— Eu te machuquei? Ai, me desculpa... Mesmo... — lamentou ela.
— Ah, não, está tudo bem — respondeu o Brendon de nove anos, passando a mão pela parte de trás da cabeça. — Você chuta bem.
— Obrigada — agradeceu com um sorriso sincero.
Mais tarde naquele dia, o pai de Grace convidou o menino para tomar limonada na casa da família, como forma de um pedido de desculpas. Na noite seguinte, foi a vez dos pais de Smith organizarem um jantar de boas vindas aos novos vizinhos.
Pelos próximos dias daquelas férias, eles se divertiram brincando na rua ou vendo desenhos animados na televisão, com pratos cobertos com cookies. Pelas próximas semanas, a família Smith assistiu os Kingsland se adaptarem à nova comunidade do bairro, e Brendon e Grace na nova escola. Nos anos seguintes, eles cresceram, juntos, para se tornarem melhores amigos inseparáveis, verdadeiros suportes um do outro. Enquanto ela o mantinha motivado a continuar nadando, ele fazia questão de acordar muito mais cedo para acompanhá-la nos treinos de cardio antes das aulas; e quando atingiram a idade dos namoros, os desenhos animados foram substituídos por seriados de televisão estadunidenses que inflavam a mente dos jovens sonhadores com a ideia distante de amores intensos e juras inspiradoras.
Apesar disso, os períodos de doces lagos e temperaturas quentes eram breves — muito mais — que aqueles de tormentas e tornados.
A estrela brilhante do futebol se permitiu deixar que a apagassem por diversas vezes. Quando isso ocorria, deixava seu astrônomo mais dedicado em um estado constante de melancolia por vê-la daquele modo: sem brilho, sem luz.
XXX
A viagem havia sido longa o bastante para que Grace não soubesse nem que horas eram no momento que desembarcou em Tóquio, Japão. Mesmo cansada, buscando apenas uma cama confortável para dormir um pouco, ela ficou feliz com o tempo ensolarado do lado de fora do aeroporto.
A imensidão do evento esportivo para a qual fora convocada era, até certa medida, assustadora para uma jovem de dezenove anos como ela. Haviam pessoas de toda parte do mundo ao seu redor, de todas as idades, tamanhos, nomes, histórias, culturas... Ela mal podia esperar para encontrá-lo e falar sobre seu entusiasmo com a competição iminente — e como a pressão dos jogos lhe faria bem, para esquecer um pouco o que estava acontecendo em sua vida nos últimos meses.
Não muito longe dali, caminhando pelas ruas da Vila Olímpica, uma corrente de ar entrava em contato com a pele alva, bagunçando, também, os fios ruivos aloirados dele. Alguns dos outros rapazes da seleção de natação masculina caminhavam ao seu lado, porém, com fones de ouvidos, apenas uma coisa se passava pela mente dele e esta eram as ondas loiras que acompanhavam o rosto da única alma que poderia dizer quais sorrisos ele fingia dar. Aquele que, sem saber ainda, estava prestes a dar, não era um deles.
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EROS
FanficEros era considerado o deus grego do amor incondicional, filho de Afrodite e Ares, foi o deus responsável por acender a chama do amor nos corações gelados de deuses e homens. Armado com um arco e flecha ou uma tocha flamejante, era encarregado de re...