Quatro anos depois
Toula revirou seus olhos de íris preta ao notar o silêncio na sala do trono ser cortado pelos passos dos seus cortesãos indo e vindo no corredor próximo, até mesmo era possível ouvir o andar de alguns feéricos dentro da sala de reunião ao lado, na direita de quem entra na câmara central onde está o assento do monarca de Goedwig.
A rainha não deixou sua concentração recair nos ruídos, pois ela sabia que seus súditos tentavam chamar sua atenção para lhe pedir algo ou por estarem ávidos para realizar qualquer que fosse o seu desejo.
Toda aquela bajulação irritou tanto a rainha das fadas que uma das suas primeiras ordens era para que parte de sua Corte ficasse o mais longe possível do trono. Como feéricos inteligentes que eles são, acabaram encontrando nos barulhos de seus passos uma forma de revelar suas presenças para chamar atenção de Toula.
Ela compreendia perfeitamente que as fadas possuem um andar silencioso, permitindo que eles andem sob folhas secas sem que emitam nenhum tipo de ruído.
— O que vocês querem? — Toula finalmente fez a pergunta ao recostar seu braço direito na lateral do trono, pois sua paciência já estava se esgotando.
A voz da jovem rainha ecoou pelo recinto. O som a fez olhar para o teto e avistar as raízes saindo da escuridão no alto, já que as tochas não conseguiam dissipá-las. Como de costume, notou que os ramos seguiam em direção à parede externa e ao descer, eles iam se entrelaçando em diversos formatos. Ao quase formar um grosso tronco sólido, as raízes mudavam para o formato do trono da realeza das fadas.
Depois de retirar sua atenção do teto, acabou voltando seus olhos para as laterais repletas de sombras provenientes da pouca quantidade de tochas as quais ficariam acesas durante o dia conforme Toula decidiu. Foi nesse baile entre a luz e a escuridão que ela avistou diversos seres surgindo a passos lentos. Desta vez não emitiam ruído algum ao se aproximarem do trono.
— Estais precisando de algo, Vossa Majestade? — indagou um troll de pele cinza ao se destacar do bando que a rainha conhecia, por se tratar do seu cozinheiro. — Acredito que devas estar faminta de tanto ficar sentada no trono real, governando nossas terras.
Na pouca claridade, Toula notou que a criatura usava o que restava de uma camisa de manga longa, mas que fora rasgada devido aos braços grossos do troll e por causa da sua altura que o destaca dos demais seres, deixou claro que sua única alternativa foi enrolar pedaços de pano velho na sua cintura, Toula também olhou brevemente para os cabelos pretos, estava repleto de terra ao ponto serem marrons.
— Não seja tão tolo, Meufior — disparou uma fada campestre de alguns poucos centímetros, que voou pela lateral do cozinheiro. — Nossa rainha adora uma caminhada pela colina acima do castelo e também não podemos deixá-la tão pesada igual a você..
— Pelo amor do Cervo Branco, Teia! — exclamou Meufior ao se voltar para a pequena fadinha que voava com suas delicadas asas de borboleta monarca. — A fome costuma deixar os seres irritados, por isso não quero minha rainha de mau humor ao tomar uma decisão.
— Vocês sabem que estou ouvindo tudo, certo? — questionou Toula ao se arrumar no assento liso de madeira, que deixava seu corpo levemente rígido devido ao tempo sentada nele, até desejou que ele fosse um pouco mais macio e foi o que aconteceu com madeira ao se tornar mais maleável. — Não estou querendo comer ou beber. — fez um movimento com a mão esquerda ao avistar uma outra fada campestre surgir com uma bandeja repleta de taças e garrafas com vários líquidos de cores diferentes. — A única coisa que desejo como rainha é ficar em silêncio absoluto, se não for pedir muito...
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Crônicas das Fadas - Prelúdio da Coroa
FantasyAs ações dos moradores de Breindal podem aparentar serem isoladas, mas ao vê-las dentro do grande tear que é o destino, acabam apresentando um mosaico de efeitos e consequências na vida um do outro, a qual eles jamais irão imaginar. Mota é um dele...