Como você brilha

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| Izuku | 


-Será que a Paty vai finalmente sair desse jogo? - mamãe perguntou com os olhos grudados na tela.

Dei de ombros e me levantei para pegar mais um pedaço de bolo na mesa. Mamãe me acompanhou e aproveitou para colocar mais chá também. Nós éramos como duas velhas tomando chá e bolo às quatro da tarde, lendo livros para planejar as aulas dela ou assistindo programas de pergunta e resposta valendo prêmios.

Abri a boca para pedir que ela colocasse mais chá para mim também, mas o barulho da campainha me distraiu.

-Eu atendo - ela disse para mim antes de sair pela porta.

Voltei para o sofá e me sentei esparramado ali aumentando o volume da televisão e enchendo a boca de bolo. Mamãe voltou momentos depois trazendo uma caixa enorme consigo. Ergui os olhos para ela e levantei uma sobrancelha.

-Seu pai mandou - Mamãe disse com um sorriso amável que me fez rir. - É bolo francês.

Ela se aproximou para que eu pudesse dar uma olhada no bolo. Era um enorme e muito bonito, mais bonito do que os bolos que a minha avó fazia na confeitaria. Toquei a cobertura e provei.

-Hmmm, isso é uma delícia - murmurei. - Que legal. Agora temos dois bolos.

Mamãe riu e levou o bolo para a cozinha, provavelmente para guardá-lo na geladeira. Voltou e se sentou para assistirmos nosso programa favorito que acabava de começar.

-Aumente o volume, Izu. Quero ver se a Paty vai perder hoje.



Meus pulmões estavam queimando.

Parecia haver fogo dentro de mim e queimava, fazia minha cabeça e braços e pernas doerem como se eu tivesse corrido quilômetros a perder de vista.

Aquela dor percorria meu corpo como ondas de agonia que acabavam nos meus pulmões e pareciam reverberar de volta.

Mamãe acordou sobressaltada ao meu lado e acendeu a luz depressa. Eu apertava meu peito tentando desesperadamente lembrar como respirar e forçar meu corpo a me ajudar enquanto Mamãe levantava e trazia meu concentrador de oxigênio.

Segundos depois as mãos delicadas dela empurravam a cânula para dentro do meu nariz e me deitavam calmamente em seu colo.

Fechei os olhos ao sentir o ar entrando. A sensação era tão boa que me fazia revirar os olhos, finalmente me resgatando da dor na qual eu estava mergulhado.

-Melhor? Tudo bem aí? - Mamãe perguntou preocupada.

Concordei com a cabeça e segurei aquele tubinho fino para que Mamãe colocasse seu cordão no lugar, ao redor das minhas orelhas. Eu levei algum tempo em silêncio, deitado e respirando fundo, sentindo apenas as mãos dela contra o meu cabelo.

Eu estava tão cansado dos meus pulmões defeituosos; suspirei mais uma vez e pisquei os olhos para afastar as lágrimas que ameaçavam cair e arruinar ainda mais a pouca respiração decente que eu tinha naquele momento.

Mamãe rolou na cama e acendeu o abajur. Puxou um livrinho que estava ali e começou a ler.

- Você pode voltar a dormir - tentei dizer mesmo com a voz falhando muito.

-Fique quietinho aí. Feche os olhos - ela instruiu e eu obedeci. As mãos de Mamãe continuaram correndo pelo meu cabelo e eu bocejei.

A voz suave dela começou a recitar palavras bonitas, seus sussurros no escuro sendo como uma canção de ninar para mim.

DEEP LOVE | BAKUDEKU/ KATSUDEKUOnde histórias criam vida. Descubra agora