nenhuma palavra

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Numa sala ampla, com poucas cadeiras e poucas pessoas, nenhuma palavra, nenhum conforto, minhas costas não tocam o encosto, porque eu não vou ficar por muito tempo. É até difícil capturar qualquer coisa do ambiente, como se o desconcerto das palavras não faladas aqui, me impedisse de escrever qualquer coisa. Está difícil. Eu não falo, eu não encaro, eu mal olho, como se tudo fosse um grande nada, como se ninguém me enxergasse. E às vezes, nessa quietude, consigo passar desapercebida. E o desconcerto das palavras não faladas vai se estendendo aos meus dedos e às minhas mãos, que não se mexem.

E não é só nessa sala, em todos os outros lugares que passei, em todas essas outras paradas até o meu destino, em nenhuma delas senti que eu meus dedos se mexeriam o suficiente, em nenhuma delas senti meu corpo deixar de enrijecer e em nenhuma delas desejei passar mais ou menos desapercebida do que passo agora. Será que isso acontece com todos? Será que ninguém deixa a armadura baixar? E nas poucas conversas que tenho sinto um alívio momentâneo, seguido pela sensação de que eu nunca mais vou conseguir falar.

E no meu silêncio eu torço para que a vida não me venha ceifar as coisas escritas também, mesmo sabendo que se ninguém nunca mais me proferir uma palavra, eu nunca mais terei mais nada de novo para acrescentar e tudo que eu escrever será uma cópia modificada das coisas que eu já disse mil vezes antes. Os meus textos serão os mesmos até eu me calar. Cansada. Com tédio. Vazia. Incapaz de seguir as coisas como as pessoas seguem. Apenas seguindo as pessoas se perguntando como elas conseguem. Como?

A distância, a tristeza, o barulho, a incerteza, a fome, a ânsia, o desespero. Tudo! Tudo que acomete ao mesmo só me faz ter menos vontade de acrescentar qu...

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Créditos da imagem: Nirav Patel

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