O encontro

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P.O.V. Charlotte

O reboque chega em alguns minutos depois que terminamos a ligação e um homem velho desce do veículo. Ele coloca o carro amassado sobre a estrutura e avisa que levará para a única oficina aberta naquele horário.

Dou um tapa mental em mim mesma, ERAM 3 DA MANHÃ. Lógico que não ia ter oficina aberta, burra!
Ele oferece carona para o local e eu já fadigada aceito.  A trajetória até a oficina foi silenciosa, sentia que o homem queria perguntar como eu havia destruído aquele carro, mas pelo cheiro forte de álcool que exalava de meu corpo já respondia tudo.

Encostei minha cabeça na janela do reboque e quando chegamos eu agradeci novamente ao homem e paguei a ele o preço do transporte e por ter deixado o carro la.

Agora começava a parte mais complicada. Nunca nem havia pisado em uma oficina e muito menos sabia como lidar com um carro amassado.

Vejo uma luz ligada na parte interna do local e caminho em sua direção.

— Olá?! O senhor do reboque falou que vocês estavam abertos...?!! Tem alguém aqui? - digo e logo cruzo meus braços em frente ao meu corpo tentando me proteger de um vento frio que havia batido.

Olho ao redor e me encolho ainda mais. O lugar era sujo de graxa e tinha cheiro de óleo e gasolina.

Uma voz grave me faz dar um pulo de susto e olhar na direção do som.

—  Entao foi você que bateu o carro? John me avisou que viria. - diz um homem enquanto caminhava em minha direção.  Ele usava uma regata branca, uma calça moletom cinza e limpava suas mãos sujas em um pano de chão branco.

Meus olhos rapidamente se arregalam e o encaro por uns bons 15 segundos antes de me pronunciar sobre algo. Tatuagens em seus braços, ombros e pescoço escapavam da regata branca e seu cabelo preto estava preso em um coque mal feito. Duvidei se esse homem chegava aos 23 de tão novo que parecia.

Limpo minha garganta e descruzo meus braços de frente ao meu corpo.

— I-isso mesmo... sera que tem como consertar até amanhã? Meu pai não pode descobrir que o porsche foi destruído.

O rapaz desvia o olhar para o carro e solta uma risada seca. Seu olhar volta a encontrar o meu e eu me sinto levemente irritada com seu tom de risada.

— Do que está rindo?? Estou falando sério. Consegue ou não? - pergunto já irritada e volto a cruzar meus braços.

— Você não ta falando sério, né? É lógico que não dá para arrumar isso em algumas horas. Eu preciso verificar quanto foi danificado, arranjar algum vendedor de peças específicas e outras coisas... no mínimo uma semana.

— UMA SEMANA? Agora é você que não está falando sério. Em uma semana meu pai descobre o que eu fiz.

O garoto parecia se divertir com meu comportamento e minhas falas, o que só me irritava mais. O que ele tinha de bonito tinha de insuportável.

— Olha, Miss Girl, sinto muito pela sua situação com o "papai", mas não posso fazer nada. Agora se me der licença preciso começar meu trabalho.

Reviro meus olhos e sinto uma dor latente em minha cabeça. Toco em meu rosto e sinto, agora já endurecido, o sangue escorrido de meu supercílios até minha bochecha.
Percebo que os olhos castanhos do homem me observavam atentos e de certa forma curiosos.

— tá tudo bem? vi que está sangrando... - percebo o leve tom de preocupação em sua voz e apenas concordo com a cabeça.

— está...eu bati a cabeça no volante na hora que bati o carro.  - digo como se não fosse nada demais e dou de ombros.

— Eu preciso ir... amanhã passo aqui para ver o que pode fazer com o carro. - Pego meu celular novamente e quando vou começar a pedir um uber ele me para. Escuto-o suspirar e desvio minha atenção para seu rosto.

— Eu te levo. Já tá tarde e de dois uma: ou o preço do uber vai ser caríssimo ou você vai ser sequestrada. Deixa eu só limpar minhas mãos e te levo.

Eu ia refutar sua ideia, mas ele estava certo. Nada melhor do que uma jovem bebada e quase seminua andando sozinha de uber de madrugada, não é mesmo? Apenas concordei com a cabeça e me encolhi novamente.

Esperei-o fazer o que havia falado e fomos até o outro carro que tinha ali, uma picape vermelha e com a aparência velha. Ditei meu endereço e o vi arregalar os olhos, com certeza havia notado que era filha dos empresários mais comentados ultimamente. Novamente o trajeto foi silencioso e quando chegamos parei por alguns segundos antes de sair do carro e o olhei.

— obrigada pela carona. - digo em um tom baixo. Ele da um sorriso sem mostrar os dentes e espera em frente a minha casa até eu entrar na mesma e mostrar que estava segura.

Até que ele não era tão ruim quanto imaginei.

O mecânico e a Miss GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora