Agosto, era o mês de visitar a minha tia.
Eu arranjava-me toda, enfeitava-me, perfumava-me com água de rosas, porque sabia que era assim que ela gostava. Também gostava que eu lhe levasse flores. Então eu ia à florista mais fina da vila e pedia o ramo mais lindo e mais caro. Já sabia que ela ia reclamar, se não fosse pelo menos o maior e mais colorido.
E lá seguia eu, para aquele sítio imponente, que não deixava quem passasse indiferente. O lugar ficava mesmo no limite da vila e de todos os cantos daquela terra, se conseguia avistar. Não havia ninguém que não soubesse onde era a residência da tia Odete!
Entrava a medo, não fosse ela dizer-me que eu tinha chegado tarde mais uma vez e a visita começasse logo mal.
Mas estava calma.
Abria-me aqueles braços enormes para me receber e me aconchegar naquele peito redondo. Ela era muito grande e a minha cara chegava-lhe por aí!Falávamos da vida e da morte. De quem cá estava e de quem já tinha partido.
Ano após ano, partilhava-mos os mesmos segredos. Aqueles que juramos sempre, que nunca iríamos contar a ninguém.A tia Odete perguntava-me, a dada altura, pelos meus namorados e eu dizia meio zangada, que queria lá saber dessas vidas. Mas a tia dizia-me mais uma vez, como me dizia todos os anos, que eu precisava adoçar o coração, senão acabava sozinha, ali, assim como ela.
Dava-me conselhos e sermões. Dava-me morangos e limões. Era assim que ela compensava a agrura que também tinha levado com ela.
Ficávamos ali na conversa pela tarde fora.
A dada altura achei que tinha dormitado e perdido a hora.
Ouvi ao longe uma voz de homem a chamar.- Menina, Oh menina! Vamos fechar!
Levantei-me, sacudi o vestido e endireitei o decote.
Despedi-me da tia Odete e prometi voltar no agosto seguinte. Ela que esperasse por mim.Saí e atrás de mim, fechou-se o enorme portão daquela propriedade imponente, cheia de gente, mas silenciosa. O lugar onde ficavam guardados para sempre, sonhos por viver, memórias das nossas vidas e as pessoas que um dia fizeram parte delas.