Meu destino é te amar

Entre mentiras e julgamentos

Da janela do meu quarto vi ao longo dos dias a estação passar, já era fim de Outono e a paisagem estava morta dentro e fora da mansão. Eu vi minha vida passando como o vento gélido que anunciava o inverno, me sentia murchar como as últimas flores da estação, no espelho me refletia seca como as folhas no chão e minha alma morria como uma árvore já velha,gasta e cheia de cupins. Sem o Ethan eu me sentia vazia, incompleta até, nossa ligação parecia um novelo de lã que saiu rolando do cesto de tricô e foi se desfazendo até restar uma pequena trilha de fios a própria sorte.

Para tentar mudar um pouco o clima tenso, Beliath veio me visitar em uma das minhas solitárias noites. Nós conversamos um pouco e ele me pediu para dar tempo ao Vladimir, nosso aristocrata não lidava bem com mentiras. Fui aconselhada a esperar o momento certo para uma conversa sincera e até lá evitar de falar além do necessário com o Vladimir. Para mim pouco importava conversar naquele momento, meu pensamento se tomava de preocupação por causa do Ethan, havia vários dias que não tinhamos a menor notícia, chegamos até mesmo a vasculhar a cidade para tentar encontrá-lo e nada.

Nossos esforços foram inúteis. Nossa busca foi interrompida com um novo ataque do assassino misterioso, dessa vez foi algo decisivo. Entre o confronto e os feridos não foi só a cor escarlate do sangue dos meus companheiros que veio a tona; Neil o nosso temido inimigo foi capturado a duras penas. Foi um golpe de sorte que Raphael em sua destreza com a espada conseguiu desferir no assassino.

O problema? Bom, havia muito a ser esclarecido e ao ouvir o vampiro sanguinário eu não conseguia ao menos me manter de pé…

Eloíse: - Não acredito Vladimir! Cá está você falando de ser honesto, dando bronca e fazendo julgamentos, quando na realidade você escondeu dos seus companheiros e de mim a verdade sobre a morte dos meus pais!

Vladimir: - Senhorita perdoe-me! Eu não queria causar danos. Ele me controlava e eu não pude evitar o…

Eloíse: - Não me refiro a esse acidente lamentável. E sim ao fato de esconder isso de mim, eu tinha o direito de saber!

Nesse momento eu tive que me retirar do salão. Meus nervos estavam a flor da pele. E ainda havia a decisão sobre o que faríamos com Neil. O mais certo era que os outros o matariam,mas… Seria de fato a melhor opção?

Eu pensei no Ethan, nas circunstâncias que o levaram a ser duro e amargo. Me passou pela cabeça, que se o Beliath não tivesse estendido a ele a mão da amizade, assim como foi com ele quando chegou aqui, Ethan poderia ter seguido pelo mesmo caminho. Sobrenatural ou não, algo além da noite nos unia, as circunstâncias e amarguras da crueldade humana nos levaram até aquele momento. Sim, a crueldade daqueles que ousaram fazer da vida do Ethan um martírio de experiências de guerra; A insanidade dos seus descendentes que fizeram da imortalidade do pobre Neil seu maior cativeiro.

Foi com muito pesar que descobri que meu pai era descendente distante dos superiores de guerra que ordenavam e comandavam as pesquisas sobre os vampiros… O sangue dos mesmos cafajestes que recrutaram o Ethan para o inferno corria nas minhas veias, o mesmo instinto destruidor correu pelas veias do meu pai. As anotações das pesquisas feitas naquela época, eram passadas adiante, afim de que um dia fossem completadas.

Eu não podia odiar o Neil pelo medo e desejo de vingança contra mim. Também não podia querer mal ao Vladimir, mesmo depois dos dias ruins que passei com ele. Eu me decidi por intervir na decisão dos demais. Matar o Neil não nos faria melhor do que ele ou meus pais. O melhor era deixá-lo livre para recomeçar sua vida longe da mansão.

Raphael: - Sua decisão mostra seu bom coração, senhorita!

Beliath: - Bom coração? Ainda acho insanidade,mas, a decisão não cabe só a mim.

Eloise: - Eu sou a mais interessada nesse assunto, a mansão é minha e visto tudo o que já aconteceu, a minha palavra final é a que conta. Neil será libertado e pronto!

Mesmo relutando muito, Beliath e Aaron fizeram a minha vontade e o soltaram. E pouco antes de partir Neil me disse algo que poderia me ajudar a encontrar o Ethan.