Escreva uma nova história

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Esse inverno foi um dos mais rigorosos que vivenciei em minha curta vida. Cada dia era mais longo que o anterior e cada noite mais triste que o normal… O mais próximo disso que pude comparar foi o Inverno que passei no orfanato quando completei 10 anos de idade; As famílias que costumavam "adotar" os órfãos durante as festas de fim de ano diziam que eu já estava muito grande para isso. Os casais queriam crianças mais jovens e davam a oportunidade para os pequenos passarem o feriado em possíveis lares adotivos. Um ou outro sortudo era adotado por uma boa família após as festividades e nunca mais pisava no orfanato. Já eu nunca tive essa sorte… a diretora sempre mencionava aos casais que eu teria uma enorme mansão como herança e que dos órfãos ali eu era a mais amparada.

Eloise: - ( Ah se ela soubesse a "bela herança" que tive!)

Mas, chorar as mágoas de nada me ajudava. Eu preferia passar meu tempo devorando os livros da biblioteca como uma genuína "Traça". A companhia do Raphael me agradava nesses momentos, com ele aprendi muito sobre as obras nas velhas prateleiras e pouco a pouco Raphael se tornou um pai para mim.

Eu me acostumei com a sua presença e companhia e isso me fazia bem. Até que uma noite ele sumiu e por dias não tivemos notícias suas. Vladimir disse que ele teve um assunto pessoal para resolver e por isso ficaria fora. A companhia do Vladimir não era ruim, ele até me indicou novos temas para minha leitura, só que com o Raphael eu me sentia mais confortável e segura. Era um momento em que eu quase esquecia que o Ethan existia.

Exatamente 5 dias depois de seu sumiço Raphael apareceu ferido no hall. Ele havia partido para tratar de um conflito antigo com seu irmão Alessio e voltou com cortes de espada pelo corpo. Tudo indicava que houve um duelo entre eles e me aliviava saber que Raphael estava vivo. O Ethan não estava na mansão, Aaron havia levado Ivan para se alimentar. Beliath não era bom com primeiros socorros e cabia ao Vladimir e a mim cuidar do nosso amigo.

Felizmente, graças ao tempo que passei na biblioteca lendo eu sabia o que fazer. Fui até a despensa buscar alguns panos enquanto Vladimir e Beliath levaram Raphael ao quarto. Quando sai da cozinha, estava com panos limpos e uma bacia de água quente nas mãos e fui em direção a escada quando a porta do hall se abriu.

*Ethan entrou e ao me ver franziu a testa*

Ethan: - Onde vai com isso Coisa?

Eu não tinha nenhum dos rapazes por perto e confrontar o Ethan seria burrice. Preferi dar de costas e continuar meu caminho, mas, disse a ele somente o necessário.

Eloise: - Raphael está ferido vou ajudar a cuidar dele!

Eu continuei andando e antes de chegar na metade da escada senti o Ethan segurar meu braço com força.

Ethan: - Você não é médica, deixe que o Vladimir se encarregue disso. Afinal, ele é o melhor amigo do Raphael.

Eloise: - Acontece que ele também é nosso amigo e …

Ethan: - Ahh. Quer dizer que agora a filha do Demônio de jaleco é amiga de um vampiro!? Que ironia... Largue isso e venha, estou com fome!

Sem pensar eu dei um tapa na mão do Ethan que tentou arrancar a bacia das minhas mãos.

Ethan: - Como se atreve? Você é meu cálice não do Raphael. Me deve obediência e tem obrigação de me alimentar!

Eloise: - Ser seu cálice não te dá direito de me humilhar, vou te alimentar assim que cuidar do nosso companheiro. E você também usou jaleco e fez diversas experiências, e quantos vampiros foram torturados até que você pudesse ter material para suas "pesquisas"? Me poupe Ethan! Você não é o único com traumas do seu passado para esquecer. A única diferença é que eu sou mais vítima do que você nisso tudo e nem por isso me divirto infernizando os demais e pedindo que tenham pena e compreensão…

Ethan: - Inocente?! Você…

Eloise: - Fique calado Ethan! Eu já estou cheia de você. Eu não sou meus pais, não fiz mal a ninguém para merecer seu desprezo, não tenho sangue de vampiros ou lobisomens nas mãos e nem pretendo ter. Eu tentei te ajudar, tentei ser gentil e continuo sofrendo e pagando pelos erros dos outros. Pra mim já basta! Não sou submissa a sua vontade, um dos nossos companheiros está ferido e se você não é humanizado o bastante para se condoer e ajudar eu sou. Até mais tarde!

Ethan: - Mas, eu ainda estou com fome!

*Ethan me puxou pelo braço*

Por instinto de defesa eu virei a bacia de água em cima do Ethan e o deixei na escada todo ensopado. Sai correndo na direção do quarto do Raphael enquanto Ethan me xingava em Finlandês; Entrei no quarto com os panos nas mãos que foram desdobrados na correria e a bacia que ficou vazia.

Vladimir: - Até que enfim senhorita! Demorou tanto para chegar aqui e com a bacia...sem água!?

Eloise: - Desculpe Vladimir! Tive um contratempo.

Vladimir: - Deixe pra lá. Você demorou tanto que fui buscar água no banheiro e trouxe alguns panos que haviam no armário.

Eu apenas balancei a cabeça e me sentei ao lado do Raphael na cama. Com cuidado eu segui as orientações de primeiros socorros que li nos livros. Como minhas mãos eram mais delicadas Vladimir deixou que eu cuidasse de tudo. Limpei os cortes com calma, passei uma pomada para não infeccionar e por fim fiz os curativos.

Depois de um suspiro de alívio deixei Raphael descansando e Vladimir ao seu lado. Beliath já havia se retirado do cômodo, pois, iria atrás do Aarón e do Ivan para avisá-los que deviam voltar a mansão. Eu sai do quarto com o coração feliz apesar de tudo, pela primeira vez eu realmente me senti útil para o grupo e a sensação era ótima.

Mas, minha satisfação parecia que ia durar pouco, pois, eu tinha acabado de fechar a porta e vi Ethan parado no corredor bem diante de mim.

Meu destino é te amarOnde histórias criam vida. Descubra agora