Capítulo V

590 68 11
                                    

Ela bebeu um gole da caneca de chá, estava enrolada em uma das cadeiras do lado de fora da casa e o sol estava se levantando preguiçosamente. Ela ouviu a porta se abrir e fechar antes do homem se sentar ao lado dela.
- Eu senti a sua falta. – Ela tomou outro gole do chá, mas não o olhou.
- Você quase me matou do coração. – Ele limpou os óculos na barra da camisa do pijama e reprimiu o bocejo. – Na hora que você engasgou o meu nome e caiu… eu senti o meu coração parar por um momento. Por favor, nunca mais faça isso comigo.
Hermione fechou os olhos, a caneca apoiada em seu lábio inferior sentindo o calor reconfortante da porcelana.
- Hermione… - Ele a chamou em voz baixa. – Eu posso ouvir os seus pensamentos.
- Eu não sei o que fazer. – Ela suspirou e afastou a caneca. – Eu não sei o que fazer…
- Converse comigo. – Ele pediu se inclinando sobre os joelhos.
- Algo nela me atrai. – Olhou nos olhos verdes do melhor amigo. – E eu não sei o que é… ela é…
- Ela é? – Harry inclinou um pouco a cabeça. – O que?
Hermione negou com a cabeça e olhou para longe.
- Ela é mais do que a arrogancia que ela coloca na frente. – Suspirou. – Ela usa a insegurança como defesa na verdade, ela se sente incapaz e indigna. Ela é doce quando se permite ser vulnerável. Eu podia ver em seus olhos como ela era inteligente e sentir em minha pele como ela era poderosa. Eu sinto… eu sinto que ela não espera ser amada e por isso ela relutou tanto em aceitar a parte dela do laço. Por isso ela sentiu tanta dor. E eu não sei se eu consigo ter coragem de dizer a ela que eu não… - Parou e fechou os olhos, soltou a respiração lentamente e tomou um gole do chá. – Por um lado ir para lá seria… eu não teria que acordar todos os dias sabendo quantos amigos perdemos. É um mundo onde Voldemort não existiu, onde a guerra não existiu…
- Hermione… - Ele a chamou em voz baixa, mas não a viu lhe olhar. – Eu te conheço desde que tinhamos 11 anos e eu nunca te vi tomar uma decisão com o coração. Você sempre racionalizou tudo, estudou todas as possibilidades e todas as opções que poderiam existir. Procurou por todas as respostas que poderia encontrar. – Ele a viu fechar os olhos. – Mas acho que agora você deve decidir com o coração. Não pense nos mundos, não pense em nós… pense em você e nela.
- Eu não a conheço tanto assim. – Hermione olhou para ele. – Eu não posso ter me apaixonado em uma semana, é loucura.
- Você está tentando racionalizar o amor, Hermione. – Ele a olhou com um pouco de divertimento. – Você não pode racionalizar o amor, você apenas o sente. Então ao invés de pensar em nós, no seu passado… pense se um dia você vai acordar e querer estar ao lado dela ou não.
- Harry…
- Você sempre tomou as suas decisões pautando no que era melhor. – Ele a interrompeu. – No que era melhor para nos tirar de uma situação de vida ou morte. No que era melhor para retardar Voldemort. No que era melhor para Rony. No que era melhor para Hogwarts. Mas… e a sua voz Hermione?
- Eu sempre estive bem com todas as minhas decisões. – Ela o olhou.
- Mesmo? – Ele estreitou os olhos a questionando. – Realmente bem com tudo? Você nunca deixou o que realmente queria de lado por que os outros queriam algo diferente?
Ela fechou os olhos e apertou o seu domínio sobre a caneca. Ele deixou o silencio afundar entre eles e observou a amiga com cuidado.
- Eu contei para ela o meu conto de fadas trouxa favorito. – Ela murmurou olhando para a caneca.
Ele franziu as sobrancelhas sem entender o porque daquilo, ela o olhou.
- Você pode adivinhar qual é? – Perguntou ainda com um pequeno sorriso.
Ele desviou os olhos e tentou se lembrar dos contos de fadas trouxas, não era como se os Dursley lhe contassem histórias para dormir. Mas uma lembrança remota do tempo de escola lhe fez abrir um sorriso.
- A Bela e a fera? – Ele perguntou com uma risada baixa, a viu concordar com a cabeça. – Imagino porque a Bela era uma devoradora de livros.
- Era… - Suspirou e olhou para a caneca. – Eu me enchergava nela… uma sabe tudo que estava sempre viajando pelos livros e que um dia encontraria o seu amor verdadeiro. Obviamente eu não esperava que fosse uma Fera, mas…
- Uma criatura mágica é tão bom quanto. – Harry a cutucou com o pé.
- Eu não posso me basear nos desejos de uma menina de 5 anos. – Ela olhou para ele e suspirou. – Eu tenho responsabilidades, tenho família, tenho amigos… tenho você.
Ele se inclinou para ela e falou sériamente.
- Está me dizendo que a mente mais brilhante do mundo bruxo, a garota de ouro… - Ele tinha os olhos verdes brilhando em determinação. – Que você não pode achar um jeito de se comunicar conosco? Que não poderia quebrar todas essas barreiras?
- Por que você está fazendo isso. – Ela escondeu o rosto apoiando a testa contra a caneca.
- Estou te mostrando que você pode escolher essa outra Fleur. – Ele se levantou e se abaixou ao lado dela. – Estou dizendo que você pode escolher você mesma.
- Você nem a conhece. – Hermione o olhou.
- Mas eu conheço você e esse brilho que você tem nos olhos quando vê Fleur… esse brilho que você tem desde que acordou. – Ele acariciou o rosto da melhor amiga. – É um brilho de carinho e de saudade misturado a um pouco de tristeza por que não é a Fleur que você quer.
- Uma semana. – Ela balbuciou como se estivesse tentando fazê-lo entender algo.
- Uma semana. Um dia. Um ano. Uma vida. – Ele encolheu os ombros. – Está me dizendo que depois de tudo o que passamos você vai realmente questionar o amor e o poder que ele tem? Hermione… estamos vivos por que amamos. Nós ganhamos por que sentimos amor, por que estavamos dispostos a morrer por amor… você não está disposta a viver por ele?
Ele se levantou e a beijou no topo dos cabelos.
- Pare de pensar tanto e comece a sentir mais. – Ele murmurou para ela antes de deixa-la sozinha.
Ela suspirou e fechou os olhos. Em sua mente uma frase de Apolline fora sussurrada como se a mulher estivesse ao seu lado.
Quando o amor não é aceito com braços abertos ele machuca e destrói para então recompor.
A verdade era que se ela fosse realmente sincera teria que falar em voz alta o quão quebrada ela estava. O quão quebrada ela estava desde a guerra. O quanto ela empurrara tudo para debaixo do tapete, colocara um sorriso nos lábios e seguira em frente ignorando todo o resto. Mas até aquele momento ela não sabia o que era estar de frente para algo que ela não podia entender, ler, estudar… ela nunca fora destruída pelo amor. Não por um amor carnal. Ela tinha amor… ela tinha um amor de irmão, um amor de amigo, o amor dos pais… ela achou que tinha o amor carnal com Ronald, mas ela estava apenas se enganando e sabia disso. Ela quase podia verbalizar isso em voz alta.
- Ele está certo. – A voz rouca, um pouco rosnada lhe assustou e ela derramou o chá. – Desculpe.
Ela viu o homem ruivo se aproximar vindo da lateral da casa, um sorriso culpado em seus lábios. As cicatrizes lançando sombras em seu rosto. Ele ficou parado a olhando e mais uma vez ela procurou por qualquer sinal de hostilidade, mas só encontrou o mesmo Gui que sempre estivera ali.
- Estamos bem? – Ela perguntou um pouco incerta.
- E por que não estaríamos? – Ele perguntou bem-humorado e se sentou onde o cunhado estivera momentos antes. – Não é a mesma Fleur. E convenhamos? Quem mais poderia te ajudar com o fato de ser o companheiro de uma veela?
Ela o olhou e suspirou fechando os olhos.
- Eu sei… - Ele abaixou a voz. – É muito rápido… muito intenso…
Ela o olhou e ele estava com um pequeno sorriso nos lábios.
- É como… - Ele franziu as sobrancelhas e seus olhos azuis brilharam. – É como um dia de sol depois de um inverno rigoroso… como se você estivesse dormente por toda uma vida e de repente está acordado e sentindo coisas que não pode explicar. É voltar para casa depois de um longo tempo longe… mas também é como se… se você estivesse olhando para um precipício sem nada para te segurar e por mais que você saiba que se você cair não vai se machucar… você ainda sente medo. Como se o chão firme debaixo dos seus pés tivesse sumido sem aviso e você está flutuando no ar.
Ele não a olhou, seus olhos claros passeando pelo quintal.
- Você hesitou? – Ela perguntou em voz baixa.
Ele soltou uma risada meio rosnada.
- Eu fugi dela por um mês inteiro. – Ele a olhou ainda sorrindo, os caninos um pouco pronunciados. – Eu mal conseguia ficar na mesma sala que ela por mais do que 10mins o que era um problema já que eu tinha que ensinar o trabalho para ela.
Ele deixou o silencio se estabelecer e ela não sentiu necessidade de quebra-lo e assim eles ficaram.
*Sielen*
Ela viu o pai falando com a mãe e ele estava irritado com algo.
- Eu não vou. – Ela ergueu a voz parada na soleira da porta.
Os dois a olharam e ela viu a vermelhidão no pescoço do homem.
- Eu não sei o que eu vou decidir, mas se tem algo que eu sei é que eu não fujo das minhas responsabilidades. – Ela o encarava abertamente. – E mesmo que eu resolva negar o laço eu tenho uma responsabilidade com ela e com a família dela.
- Você não tem responsabilidade de nada.
- Eu tenho. – Ela manteve o pé firme. – Eu tenho sim, eu tenho uma responsabilidade de ser honesta com ela. Não é apenas a minha vida que está dependendo da minha decisão, é a dela também. E o mínimo que eu devo é comunicar a ela a minha decisão. Se os senhores quiserem estar eu vou… eu vou agradecer.
- Então você vai negar esse maldito laço, não é? – Ele tentou se erguer sobre ela, mas ela permaneceu firme.
- Eu não decidi. – Ela rebateu com uma sobrancelha arqueada. – E não cabe ao senhor decidir por mim.
Ela se afastou deixando o pai plantado no lugar. Desceu as escadas e passou pela sala, sua mão roçando a parede e como se um fio a estivesse puxando entrou na biblioteca vendo Fleur concentrada bordando uma toalhinha. Ficou parada por um momento olhando para a francesa. A maneira como o sol beijava a pele pálida, o fraco cheiro fresco que não conseguia lhe entorpecer.
- Se vai ficar ai venha me ajudar. – A francesa não desviou os olhos do bordado.
Hermione entrara na sala e conjurou uma cadeira ao lado da loira.
- Eu não sei bordar. – Falou em voz baixa.
- Tudo bem. – Fleur a fez segurar o rolo de linha. – Apenas impeça que a linha embole.
- Ok… - Hermione concordou e voltou a olhar para ela, seus olhos deslizaram pela linha do maxilar e por um momento ela queria que ele fosse um pouco mais pronunciado.
- Ela também está…  - Fleur falou em voz baixa, mas não a olhou.
- O que? – Hermione piscou e limpou a garganta.
- Sentindo a sua falta. – Fleur arqueou a sobrancelha com um pouco de diversão, mas não desviou os olhos. – Ela está sentindo a sua falta e está preocupada. Quer saber se você se recuperou bem…
- Ela não pode sentir você? – Hermione estreitou os olhos.
- Eu não sei. – A francesa encolheu os ombros. – Maman disse que o fato de que eu estou espelhando os sentimentos dela é algo muito raro, não sabemos se ela também está espelhando os meus.
- Fleur… - Hermione começou lentamente e viu a mulher parar de bordar por um momento. – O que acontece se eu me negar a ficar com ela?
Fleur a olhou e suspirou, seus olhos azuis claros a examinando cuidadosamente.
- O que te disseram? – Ela perguntou lentamente.
E isso fez as desconfianças de Hermione aumentarem, toda vez que abordava o assunto ela sentia que a outra Fleur retesava e simulava um sorriso. Não era o mesmo sorriso que ela dava em outros momentos, era mecânico… frio… e agora esta Fleur estava pisando em ovos.
- O que estão me escondendo? – Perguntou firmemente.
- Sua decisão deve ser de coração puro. – Fleur respondeu calmamente. – Sem pensar em consequências.
- Então terão consequências? – Hermione arqueou as sobrancelhas.
- Toda ação tem uma consequência… é a lei da vida. – Fleur suspirou e abaixou o bordado. – Mas se você tomar essa decisão com as consequências em mente então a possibilidade do laço ser corrompido é muito grande e as consequências muito piores.
- Fleur pode morrer? – Hermione perguntou em voz baixa. – Apenas me diga se ela corre algum risco de vida.
- Não. – Esticou a mão pegando a da inglesa. – Fleur não vai morrer se você negar o laço.
- Ninguém morre por um coração quebrado, não é? – A professora deu um pequeno sorriso triste.
- É essa a sua decisão? – A francesa inclinou a cabeça, seus olhos a examinando com cuidado. – Vai nega-la?
- Eu nunca gostei de caminhar por onde não conheço também nunca neguei um desafio, mas… - Ela suspirou. – Eu não consigo me ver abandonando tudo aqui para estar com ela. Acho que isso diz mais sobre a minha decisão do que qualquer outra coisa, não é?
- Ela pediu isso? – A loira franziu suas sobrancelhas claras. – Ela pediu para você desistir de tudo para estar com ela?
- Não, mas ela é a herdeira… por mais que toda a situação com Gabby seja complicada. – Hermione fechou os olhos. – Grandmère insisti para Gabby ser a herdeira, mas Fleur é a mais velha. É tão complicado… nem ela mesma acha que deveria ser a herdeira.
- Mas ela é?
- É… - Hermione concordou com a cabeça e suspirou. – Ela é…
Fleur acariciou a mão de Hermione tentando lhe dar conforto, mas a inglesa sentiu uma corrente elétrica atravessando sua pele. Se levantou de um salto e balbuciou.
- Eu preciso… de espaço… licença.
*Sielen*
Ela estava parada a fogueira crepitando as suas costas. Usava sua melhor roupa e tentava respirar com calma, mas podia sentir as mãos tremendo e por isso as levou até as costas as segurando com força. Seus olhos firmes sem vacilar não refletiam o coração apertado e dolorido que carregava há dois dias. O gosto ruim no fundo de sua garganta ou a sensação de impotência na boca do estômago. Desde que Hermione retornara ela fora tomada pela certeza de que a morena não retornaria, ela podia sentir a frieza lhe tomando aos poucos.
Ela aprumou os ombros quando o portal se abriu e sentiu os joelhos fraquejarem quando a morena passou por ele. Seus olhos a devorando com a plena certeza que nunca mais iria vê-la. Ela sabia que mais pessoas passavam, mas seus olhos estavam presos nos de Hermione e ela sentiu o estômago esfriar quando percebeu quão tristes estavam os olhos castanhos da mulher. Engoliu e se adiantou, firme, estoica e inabalável. Se inclinou para ela e ofereceu um pequeno sorriso.
- Como está se sentindo? – Perguntou em voz baixa, sabia que nesse momento todos olhavam para elas.
- Bem… me senti um pouco fraca, mas estou bem. – Hermione a olhou de volta e suspirou. – Precisamos conversar.
Fleur deu um passo para o lado e moveu a mão para que ela passasse na sua frente, viu Hermione hesitar.
- Maman e mamma preparam uma pequena recepção, acredito que todos ficaram bem enquanto conversamos. – Falou com um sorriso carinhoso, quase podia sentir a faca começando a se enterrar em sua carne, os olhos castanhos estavam receosos de lhe encarar. – Podemos ir até… o nosso lugar?
Hermione ergueu um pouco o queixo com a palavra usada, mas concordou e foi na frente. Fleur parou por um momento, deixou sua expressão lhe entregar apenas por um instante e sem conseguir segurar ergueu os olhos para sua outra versão. As duas se olharam por um instante e ela percebeu que estava certa… ela sabia qual era a decisão da mulher. Engoliu em seco e caminhou atrás de Hermione que não parara para lhe esperar. O silencio pesado era tão sufocante que ela se viu tentada a tirar o laço e assim o fez. Abriu os dois primeiros botões de sua camisa e tentou respirar com calma.
Hermione estava parada olhando para Versailles ao longe, Fleur parou um pouco mais longe do que pretendia.
- Eu… - A morena começou e fechou os olhos. – Eu estou tentando pensar no que fazer.
A faca começou a se enterrar em sua carne.
- Eu estou tentando entender o que estou sentindo. – A morena olhou para baixo. – Estou me perguntando desde a hora que acordei no meu mundo se eu teria coragem de abandonar tudo o que conheço para estar com você. Se os sentimentos que estão em mim devem ser tão rapidamente assimilados ou se estou enlouquecendo. Eu tenho… - Ela parou e olhou para Fleur que estava em pé rígida e distante olhando para o palácio ao longe. – Eu tenho tudo lá, Fleur… e sinceramente? Eu nunca achei que precisava de amor. Eu sempre me bastei. Meus livros me bastavam. – Ela viu a mandíbula pronunciada que tanto lhe fez falta se apertar e isso lhe causou uma vontade de fugir desesperadora. – Eu…
Mordeu o lábio e olhou para baixo, a lágrima escorrendo por seu nariz.
- Eu apenas não sei se esse sentimento novo é forte o suficiente para abdicar do meu mundo.
- Não pedi para que abdicasse dele. – Fleur falou com a voz rouca, uma dor contida era possível ser ouvida se tomasse a devida atenção.
- Você é a herdeira Fleur… - Hermione encolheu os ombros. – O feitiço me trouxe até aqui ao invés de levar você até lá.
- Gabby é a herdeira. – Fleur olhou para baixo. – O Conselho decidiu ontem. Maman não teve forças para ir contra, então… eu estou deserdada.
Hermione deu um passo em sua direção, mas parou.
- Você… - Ela começou em voz baixa.
- Eu sei o que você vai falar. – Fleur a olhou e deu um sorriso autodepreciativo. – Mas eu não seria uma boa governante. Todos sabem disso.
Hermione observou a pele pálida suar e um leve tom azulado envolta dos olhos da veela. Seus dedos trêmulos acariciaram a corrente envolta do seu pescoço e procuraram o fecho, ela viu um breve flash de dor nos olhos da outra.
- Por favor… - Ergueu a mão trêmula. – O colar é seu.
- Mas…
- É seu. – Fleur a olhou como se estivesse implorando para que ela não fizesse aquilo. – Ele é destinado à minha companheira.
- Então você deve dá-lo para a mulher com quem você vá se casar. – Hermione murmurou o retirando, se aproximou da mulher e viu como ela parecia tremer, segurou o braço tenso da loira e deixou o colar cair em sua mão. – Eu sei que você nunca quis se render, que você nunca quis ser dependente…
- Fique com o colar. – Ela ouviu a voz quebrada de Fleur e ergueu os olhos, ela podia ver todo o desespero dos olhos azuis. Hermione a viu tremer e puxar o ar com mais força. – Por favor, fique com o colar… não precisa usa-lo… apenas…
Hermione sentiu o próprio choro chegar com mais força, a mão de Fleur se fechou em seu braço com mais força e o nariz da francesa se enterrou em seus cabelos a trazendo para perto. Ela sentia o corpo da veela tremer e como ela suava… deixou o cheiro de Fleur lhe tomar e lhe entorpecer o corpo. Seu próprio nariz se enterrando no pescoço da francesa tentando sentir o máximo que podia.
- Eu amo você Fleur… - Sussurrou para ela sentindo os braços lhe apertarem com mais força. – Eu apenas não posso abandonar tudo.
Se desprendeu da loira e andou apressadamente de volta para a propriedade, já estava atravessando a mureta quando ouviu. Era um grito doloroso. Animalesco. Ferido. Era um grito que ela já ouvira. Era o grito do amor a destruindo. E então ela entendeu quando o amor não é recebido de abraços abertos ele destrói para depois recompor, mas quando o amor que é recebido é negado ele destrói e algo se perde para nunca mais ser encontrado. Ela parou no lugar e seu rosto deveria estar expressando todo o seu pavor, ela viu os olhos se dirigirem para ela e a forma como Apolline segurou o braço de Antonelle com pura dor em seu semblante. E sem pensar. Sem raciocinar. Sem nem ao menos considerar. Hermione deu as costas a eles e correu pelo caminho que havia acabado de descer. Ela ignorou o grito de Gabby lhe mandando voltar. Ignorou o grito da Fleur de seu mundo chamando por Gui e ignorou os pais que lhe gritaram. Ela apenas se concentrou em correr. E ela correu mais rápido do que achou que poderia correr um dia. Fleur estava caída no chão quase sem respirar, sua roupa colada pelo suor. Ela se jogou no chão e trouxe a veela para o seu colo. Ela podia ouvir os passos que lhe seguiam, mas não ergueu a cabeça para Gabby, Antonelle, Gui e Harry que surgiram logo atrás.
- Eu te proíbo de fazer isso. – Sussurrou para a francesa sentindo o medo lhe invadir com força. – Você não vai fazer isso.
Antonelle ergueu o braço parando os três. Hermione a tocava. Hermione estava tocando Fleur em um momento que a loira não poderia ser tocada, em um momento que ela não toleraria ser tocada.
- Vem comigo. – Sussurrou fervorosamente, seus dedos tocando os cabelos loiros. – Vem comigo para o meu mundo.
Com força ela fez metade do corpo de Fleur virar, sua respiração era tão fraca que mal era percebida pelos outros. Hermione sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto.
- Me perdoa. – Sussurrou acariciando a bochecha pálida e fria. – Me perdoa por ser tão covarde… vem comigo.
- Hermione… - Antonelle falou em voz baixa e se agachou ainda mantendo uma distância
respeitosa. – Eu preciso que você solte Fleur e se afaste.
Hermione traçou o rosto de Fleur como se tentasse memoriza-lo, seus lábios se movendo febrilmente mesmo sem som. Puxou o corpo da mulher para cima com toda a força que tinha e apoiou a cabeça de Fleur em seu ombro.
- Eu amo você. – Sussurrou sentindo o desespero em não ver Fleur reagir. – Por favor, vem comigo… Eu deveria ter pedido isso assim que você disse a decisão do Conselho, mas eu estava tão cega… vem comigo…
Seus lábios se apoiaram na bochecha gelada da mulher e ela chorou baixinho abraçando ainda mais forte o corpo da francesa. Harry tentou se aproximar, mas Antonelle o manteve onde estava, seu próprio coração chorando.
- Eu amo você. – Sussurrou outra vez, seus lábios roçando o canto dos lábios de Fleur. – Ma bête.
Seus lábios se encostaram tentando demonstrar o que sentia. Ela não entendia e não se daria ao luxo de tentar entender o por que do grito de Fleur ter lhe feito reagir daquela forma. O porque da imagem da mulher caida no chão quase sem respirar lhe tirara do prumo daquele jeito. Deixou de pensar e racionalizar e passou a sentir… ela precisava da veela em sua vida. Ela queria a veela em sua vida e não entendia em que momento achara que poderia viver sem ela.
Ela sentiu Fleur respirar fundo e segurou o rosto da francesa a beijando nos lábios com mais força. Juntou sua testa a da mulher e deixou seu nariz roçar no dela.
- Ma bête. – Sussurrou fervorosamente. – Não me deixe… s'il te plait mon amour…
Fleur abriu os olhos apenas um pouco confusa com o que estava acontecendo. Seu corpo sentindo todo o aconchego do corpo da outra, o cheiro de carvalho e fogo lhe invadindo a alma lhe consolidando no chão. Viu a mãe lhe olhar com um misto de alívio de medo.
- Fleur… - Chamou em voz baixa erguendo as mãos. – Fleur… calma…
- Eu… - Começou com a voz grossa e viu Hermione lhe olhar avidamente. – Você… você tinha ido…
- Venha comigo. – Pediu acariciando a bochecha de Fleur. – Venha comigo pro meu mundo.
- O que…? – Perguntou ainda lenta, suas sobrancelhas franzidas. – Mas…
- Venha comigo. – Pediu otura vez apoiando sua testa na de Fleur inalando o  cheiro da mulher. – Estou implorando.
Antonelle se aproximou lentamente e segurou a mão de Hermione e uma de Fleur. Enrelaçou os dedos das duas.
- Responda a ela. – Pediu olhando para Gabby e para os dois homens.
- Eu vou. – Fleur sussurrou sentindo Hermione lhe beijar docemente. – Eu vou com você.
- Posso fazer o laço? – Antonelle puxou a varinha e olhou para as duas. – Ou vocês preferem descer e fazer?
Hermione olhava para Fleur e suspirou. – Faça agora, não quero que ninguém nos interrompa.
- Vocês tem certeza do que querem? De todo coração?
- Sim. – As duas murmuraram.
- Eu preciso que um dos dois venha aqui e sirva de testemunha junto a Gabby. – Ela olhou para os dois homens.
Gui apoiou a mão no ombro de Harry e o empurrou sutilmente para frente. O moreno se adiantou junto com a loira mais nova.
- Puxem suas varinhas e apoiem as pontas mãos das duas. – Antonelle ergueu as próprias mãos as deixando a alguns centímetros das mãos das duas. – Vocês duas devem pensar sem verbalizar no que querem prometer uma a outra. Amor, fidelidade, companheirismo… apenas pensem nisso.
Ela iniciou o canto suave em sua língua materna enquanto as duas mulheres mantinham suas testas unidas e seus olhos fechados. Harry assistiu encantado enquanto saiam de sua varinha e da de Gabrielle uma fita prateada pura e limpida. Ele podia sentir todos os sentimentosque vinham dela e lhe deixava arrepiado em assistir a fita envolver as mãos das mulheres. Quando Antonelle parou de cantar a fita brilhou mais forte por um instante e se converteu em pulserias de prata identicas nos pulsos das duas mulheres.
Hermione se mexeu beijando Fleur entre os olhos.
- Você precisava me ver quase morrer para entender que me amava… - Fleur deu um sorriso fraco. – Ma belle.
- Eu já sabia. – Hermione sussurrou apoiando sua testa na da mulher outra vez. – Mas eu tinha medo de arriscar… te ver desse jeito, ouvir seu grito… meu medo de te perder definitivamente foi muito maior. Você me disse que só sairia com um coração partido.
- Eu não achei que seria assim. – Fleur murmurou de volta fechando os olhos. – Me perdoa.
- Shhh… - Apoiou os lábios contra a testa que antes era fria e agora estava amornando. – Está tudo bem… estamos aqui.
Elas respiraram juntas enchendo os pulmões com o cheiro uma da outra. E por hora… tudo estava em paz.

Sielen - FleurmioneOnde histórias criam vida. Descubra agora