Fleur se adiantou passando pelos convidados, ofereceu um ou outro sorriso para um convidado que lhe cumprimentou, mas seu foco era no homem que estava inclinado para um homem mais baixo. Ele era alto com uma espessa cabelereira castanha e barba aparada, seus olhos azuis estavam brilhando de curiosidade quando encontraram os de Fleur.
- Madmoselle Delacour. – Ele se curvou para ela com um sorriso nos lábios.
- Professor Dumbledore. – Fleur se inclinou para ele. – Se importa de andarmos?
- É claro. – Ele assentiu ainda mais curioso, se virou para o jovem com quem falava. – Se me da licença, meu caro.
Fleur se afastou sendo acompanhada pelo homem, estava ciente do olhar da avó sobre si.
- Professor… - Começou se virando para ele. – Acredito que tenha ficado surpreso com um convite tão repentino.
- Para ser sincero… - Dumbledore sorriu. – Não achei que era tão bem cotado em sua família ao ponto de ser convidado para a festa onde será apresentada a futura companheira da herdeira veela.
- Bem… - Fleur lambeu os lábios. – O senhor alguma vez ouviu falar sobre universos alternativos?
Dumbledore franziu as sobrancelhas pensando por um momento antes de arquear as sobrancelhas, o brilho em seus olhos aumentando drasticamente.
- Não me diga que…
- Que é tudo verdade? – Fleur pegou duas taças de vinho que estavam sendo servidas em bandeijas flutuantes. – Que temos vários universos e podemos transitar entre eles, mesmo sendo perigoso? É… é tudo verdade sim.
Dumbledore se balançou sobre a planta dos pés.
- Mas o senhor precisa guardar segredo sobre isso. – Fleur falou lentamente atraindo a atenção dele. – A divulgação disso seria muito perigosa.
- Eu posso elencar alguns dos perigos. – Dumbledore concordou com a cabeça. – Mas isso é magnífico. A possibilidade do que poderia ser feito, as colaborações acadêmicas…
- Professor. – Fleur o chamou fazendo que parasse de devagar.
- Eu sei, eu sei. – Ele sorriu encabulado. – Mas por que está me dizendo sobre isso Madmoselle, acredito que este seja um segredo veela.
- E é… e esse é um dos motivos para o qual eu peço… não revele nada. – Pediu o vendo ficar sério. – E o outro motivo é que…
- Sua companheira? – Dumbledore arqueou as sobrancelhas. – Ela não é desse mundo, certo?
- Não, ela não é. – Fleur tomou um gole de vinho e olhou ao redor. – No mundo dela, ela é professora de Feitiços em Hogwarts e o senhor foi seu professor.
Dumbledore inclinou a cabeça enquanto olhava para Fleur.
- Eu o convidei pois achei que ela fosse gostar de reencontra-lo, de alguma maneira. – Fleur abaixou os olhos. – Ela é uma erudita assim como o senhor.
- Terei prazer em conhece-la. – Dumbledore inclinou a cabeça. – Espero ter sido uma boa influencia em seu mundo.
- Pelas palavras que ela me disse… foi uma ótima. – Fleur o olhou com um pequeno sorriso. – Eu agradeço Professor.
Dumbledore curvou a cabeça graciosamente e sorriu para ela. Fleur pediu licença e foi na direção da mãe que estava conversando com grandmère.
- A senhora não vai me forçar a fazer isso. – Apolline falou com um sorriso nos lábios. – Fleur é minha herdeira. Até que algo mude.
- Fleur não possui capacidade para isso. – Grandmère voltou a bater na mesma tecla. – As líderes viram as duas e concordam que Fleur não tem postura para ser uma líder a nossa altura. Continue com isso e ela arruinara o nome Delacour, é o que você quer? Acabar com nossa linhagem? Enfraquecer nosso povo? Gabrielle é uma escolha mais adequada e eu já não sei mais o que fazer para que você compreenda isso.
Fleur desviou seu caminho silenciosamente se afastando das duas, entrou na casa e subiu apressadamente invadindo o próprio quarto. Sua respiração agitada enquanto ela olhava ao redor procurando por algo que pudesse destruir sem causar muito estardalhaço.
- Fleur? – A voz macia de Hermione a sobressaltou.
O vestido amarelo em camadas com aplicações de desenhos caprichosos e um corpete de renda francesa tingida na mesma tonalidade, os cabelos cacheados e indomaveis estavam graciosamente arrumados.
- Você é a mais bela criatura que já vi. – A francesa murmurou sem conseguir desviar os olhos da mulher.
- Obrigada. – Hermione respondeu no mesmo tom, sentiu o rosto esquentar. – Na verdade eu estou parecendo uma princesa de um conto de fadas trouxa.
- Conto de fadas? – Fleur franziu as sobrancelhas com um sorriso.
- São histórias para crianças. – Hermione explicou entrando no quarto, andava lentamente até Fleur. – É a história de um jovem príncipe que era muito rico e bonito, mas também muito egoísta. Em uma noite de chuva uma pequena velhinha bate em sua porta e pede por abrigo, mas o príncipe se recusa a ajuda-la. Acontece que a velha senhora na verdade era uma bruxa… - Soltou uma risada baixa vendo Fleur arquear as sobrancelhas. – Que soube da fama do rapaz e tentou testa-lo, e por isso ela resolve puni-lo e o transforma em uma horrível fera e todos os seus criados se tornaram objetos. O feitiço só poderia ser desfeito se ele recebesse um beijo de amor e uma rosa marcaria o tempo limite dizendo que ela floreceria até o seu vigésimo primeiro aniversário e ele teria até a última pétala cair.
- Oh… - Fleur sentiu o coração bater mais forte quando Hermione arrumou seus cabelos colocando uma mecha para trás de sua orelha. – E a princesa? O beijou?
- A princesa se chamava Bela e ela amava os livros, era filha de um comerciante que viajava a trabalho. Eles viviam em uma vila não muito distante do palácio… - Sorriu travessa se inclinando para Fleur. – Que curiosamente era na França… mas um dia o pai estava voltando para casa quando foi pego por uma tempestade muito forte e viu no castelo abandonado um lugar para se esconder. Ele bateu, mas ninguém atendeu, então ele entrou e acendeu a lareira para poder se aquecer e achou até um pouco de vinho. Acabou pegando no sono e acordou assustado por uma horrível Fera que resolveu que como punição ele deveria ficar como prisioneiro. O velho senhor implorou para se despedir de sua filha e a Fera em um raro ato de bondade permitiu que ele voltassae e falasse com a filha. Quando ele explicou para a filha o que aconteceu, Bela decidiu ir com o pai e falar com a terrível Fera. Chegando lá ela implorou para ficar no lugar do pai que já estava velho e doente, a Fera concordou e o comerciante foi embora arrasado. – Falava olhando para os olhos de Fleur, olhos azuis escuros com as bordas em preto. – Ela não era uma prisioneira, podia passear pelo palácio e logo descobriu a biblioteca, era o seu lugar favorito em todo o palácio. No início eles brigavam, mas então os dias foram passando e Bela percebeu que a Fera se esforçava para trata-la bem. Eles acabaram se tornando amigos e a Fera se apaixonou, pois Bela lhe mostrou que ela o enxergava como algo a mais do que um terrível monstro. – Hermione deslizou o dedo pelo maxilar de Fleur. – Então um dia a Fera pediu a Bela em casamento, mas Bela não aceitou e ofereceu sua amizade em troca e ele sem outra alternativa aceitou. – Fleur engoliu em seco enquanto se mantinha cativa dos olhos escuros da mulher, deslizou os olhos para os lábios dela e suspirou. – Bela pediu então para ver o pai, ela estava preocupada com ele e a Fera permitiu, mesmo de coração partido. Mas ele pede que ela retorne, Bela promete e então parte para ver o pai, chegando lá ela o vê já muito debilitado e começa a cuidar dele sem se dar conta do passar dos dias. Quando ela percebe o tempo que se passou se apressa em voltar, a rosa só sustentava uma petala e a Fera estava muito doente e quando ele estava quase morrendo ela percebeu que o amava e se declarou a ele lhe dando um único beijo. A Fera se transformou em um belo Príncipe, mas Bela o amava pela sua essência e não por sua aparencia. E então eles viveram felizes para sempre.
Fleur acariciou o rosto de Hermione com as costas dos dedos, elas estavam tão próximas que a francesa poderia contar quantas sardas a inglesa tinha em seu rosto. Ou quão quente eram seus olhos castanhos e o cheiro de madeira e fogo que lhe invadia. Hermione sentia o charme rastejando por sua pele e o cheiro fresco e almiscarado de Fleur lhe deixando leve e protegida.
- Poderia facilmente ser uma história sobre nós. – Fleur murmurou vendo Hermione sorrir, piscou um dos olhos e abriu ela própria um sorriso. – Eu sou uma fera afinal de contas, uma criatura mágica e você uma amante dos livros.
- E se eu não te beijar? – Hermione inclinou a cabeça, o mesmo olhar astuto que ela lhe dera há dois dias. – Você também morre?
Fleur sorriu para ela, a dissimulação já correndo por suas veias.
- Pretende me matar Madmoselle Granger? – Deixou o sotaque ficar mais grosso e imediatamente viu os olhos de Hermione ficarem escuros, abriu um sorriso para ela. – Acredito que nos esperam lá embaixo e eu tenho uma surpresa para você.
- Uma surpresa? – Hermione arqueou a sobrancelha com um sorriso aceitou o braço que Fleur lhe ofereceu.
- Sim, achei que não fosse conseguir, mas consegui. – Fleur parou e olhou para Hermione deslizando os olhos pelo seu vestido. – Espere… falta algo.
- Falta? – Hermione olhou para baixo sem entender.
Fleur a deixou parada em frente a um espelho e sumiu por um corredor escondido, a inglesa franziu as sobrancelhas encarando sua imagem. Viu Fleur voltar e se posicionar as suas costas, o colar deslizou pela sua pele e Hermione sorriu acariciando as joias.
- Agora sim. – Prendeu o fecho e as duas se olharam pelo reflexo. – Está perfeita.
A ponta de seu nariz roçou apenas por um instante no maxilar da inglesa e quando se olharam outra vez o fogo queimava em seus olhos. Em um quente e vigoroso no outro frio e perigoso.
- Vamos descer. – Fleur deixou o sotaque soar pesado outra vez. – Ma belle.
- Bien sur ma bête. – Hermione devolveu com um sorriso, viu Fleur arquear as sobrancelhas em diversão. – Eu nunca disse que não falava francês.
Fleur a seguiu com um sorriso estampado em seus lábios, desceram as escadas e seguiram para os jardins traseiros onde estava ocorrendo a reunião. A francesa a segurou delicadamente pelo braço e fez um sinal para quem estava mais perto.
- O que foi? – Hermione franziu as sobrancelhas.
- Devemos fazer uma entrada. – Fleur explicou enquanto via a mãe se aproximando.
- Vocês estão pontas? – Antonelle sorriu para as duas. – Hermione, você não é obrigada a falar com ninguém.
- Mas acredito que seria o mais educado. – Hermione devolveu. – Não se preocupe, acredito que Fleur não vá me deixar sozinha.
Antonelle sorriu para a filha e concordou com a cabeça. Fleur estendeu a mão segurando a de Hermione a erguendo a frente das duas enquanto a guiava para fora. Os olhos fixos nas duas mulheres que pararam por um momento para serem apreciadas. O burburinho começando quase imediatamente.
- Acho que sua avó não avisou que eu era uma bruxa. – Hermione falou em voz baixa.
- Não, acredito que ela quis aumentar o drama. – Fleur sorriu e cumprimentou algumas pessoas com um aceno de cabeça. – Vamos, quero te apresentar a alguém.
Fleur apoiou uma mão na base da coluna de Hermione enquanto segurava a mão da morena com a outra. Hermione sorria encabulada para os olhares que recebia, apertou a mão de Fleur que no momento seguinte se aproximou um pouco mais.
- Vai ficar tudo bem. – Fleur murmurou. – Agora…
Hermione parou e Fleur parou junto, a morena olhava estupefada para o homem que estava a alguns passos na sua frente.
- Professor… - Ela murmurou sentindo os olhos pinicarem. – Oh meu Deus.
- Senhorita. – Dumbledore tomou a mão livre de Hermione e se curvou para ela. – Soube que me conhecia do seu mundo.
- Sim. – Herione o encarava. – O senhor era diretor em Hogwarts quando eu estudei lá.
Hermione olhou para o homem como se quisesse grava-lo em sua mente, mas algo chamou sua atenção, o colar de ouro que estava sobre a roupa. Um triangulo representava a capa da invisibilidade. Um circulo a pedra da ressureição. E uma linha representava a varinha das varinhas. Hermione perdeu o sorriso e ficou séria.
- Senhorita? – Dumbledore inclinou a cabeça. – Algum problema?
- Nada, absolutamente nada Professor. – Ela deu um pequeno sorriso.
- Acredito que eu já tenha lhe dito que a senhorita mente muito mal. – Ele arqueou as sobrancelhas. – Aconteceu algo?
- Seu colar. – Hermione apertou a mandibula, sentiu o olhar penetrante de Fleur. – É muito bonito, senhor.
Dumbledore pegou o pingente e olhou para Hermione.
- Ele tem algum significado para a senhorita? – Perguntou com a curiosidade ardendo em seus olhos, viu Hermione retesar suavemente. – Senhorita?
- Granger. – Ela balbuciou sentindo a língua grossa. – Hermione Granger, senhor.
- Professora Granger. – Ele sorriu gentilmente. – Algo está errado?
Hermione podia sentir a mão firme de Fleur em suas costas e a tensão da mulher como se estivesse pronta para pular e lhe tirar do perigo, assim como sentiu o olhar penetrante dele tentando entrar em sua mente.
- Pelo visto o senhor ainda é um ótimo legismente. – Ela apertou o braço de Fleur a controlando. – Foi graças ao senhor que eu decidi me tornar oclumente. Na verdade o senhor queria que Harry aprendesse a fechar a mente, mas ele tinha tanta dificuldade. Acabei aprendendo por curiosidade, então se o senhor puder me fazer a gentileza de não tentar entrar na minha mente eu agradeceria.
Fleur endureceu e deu meio passo para frente, mas Hermione a conteve. Dumbledore arqueou as sobrancelhas realmente surpreso, um meio sorriso apareceu em seus lábios.
- O senhor pode ter sido o maior bruxo de todos os tempos no meu mundo. – Hermione o encarou tranquilamente. – Mas eu não sei nada sobre o senhor aqui… e sim… esse simbolo me diz muita coisa até porque foi o senhor que me fez entende-los. A história dos três irmãos que enganaram a morte… - Ela parou e lambeu os lábios. – No meu mundo o senhor desistiu de persegui-las, infelizmente uma tragédia o fez entender que a morte não pode ser dominada.
Dumbledore perdeu o sorriso e continuou a olhando, estava sério.
- A morte não deve ser dominada ou subjulgada e sim acolhida. – Ela permaneceu firme o olhando. – O verdadeiro senhor da morte é aquele que não a teme é aquele que a aceita de braços abertos. Espero que entenda isso antes que seja necessária uma tragédia, professor.
Hermione puxou delicadamente Fleur que se deixou ir deixando o homem parado absurdo em seus próprios pensamentos. A francesa a levou para um canto relativamente calmo e pegou duas taças de vinho estendendo uma para a mulher.
- Você está bem? – Perguntou atenciosamente. – Eu achei que você iria gostar, mas…
- Está tudo bem. – Hermione segurou a mão de Fleur. – Ele apenas… não é o Dumbledore que eu conheci, mas para ser sincera talvez eu não tenha realmente o conhecido no meu mundo.
Fleur acariciou o rosto de Hermione com as costas das mãos.
- Eu sinto muito ma belle. – Sussurrou arrancando um pequeno sorriso da mulher.
- Fleur. – Gabrielle chamou um pouco distante.
A francesa mais velha aprumou os ombros, mas um pouco da tenção se esvaiu quando Hermione a segurou pelo pulso fazendo um leve carinho com o polegar. Olhou para a irmã e fez um pequeno sinal para que ela se aproximasse.
- Achei que você devesse saber antes que o veja. – Gabrielle olhou para longe evitando encarar a irmã. – Grandmère convidou um representante dos Draconatos.
Fleur encarou a irmã, sua mandibula se pronunciando se inclinou em sua direção e abaixou a voz drásticamente.
- Ela fez o que?
- Convidou o príncipe dos Draconatos. – Gabrielle finalmente encarou a irmã. – Fleur… eu não quero o seu lugar.
- Mas isso não é algo que você e eu decidimos. – Fleur desviou os olhos e engoliu a saliva que se juntara em sua boca. – Ela já decidiu que você será a herdeira e só está esperando que maman caia em si.
Gabrielle suspirou e se afastou das duas enquanto Fleur fechava os olhos com força.
- Sua mãe não pode pensar que…
- Ela pode. – Fleur a interrompeu. – Se for o melhor para o nosso povo.
Hermione franziu as sobrancelhas e suspirou o que atraiu a atenção de Fleur que rapidamente sorriu.
- Não se preocupe com isso. – Piscou um de seus olhos azuis.
- Mas você se preocupa. – A morena arqueou as sobrancelhas.
Fleur sorriu outra vez e deu de ombros.
- Vai passar e para ser sincera eu tenho outras preocupações em minha mente. – Fleur ficou séria. – Como por exemplo tentar te conquistar.
- Me conquistar? – Hermione soltou uma risada baixa. – Acha que pode me convencer a ficar?
- Está mesmo disposta a ir? – Fleur perguntou realmente interessada.
- Eu não decidi Fleur, para ser sincera… é muita coisa acontecendo. – Hermione balançou a cabeça. – É perder todo uma história, toda a minha história, a minha família e tudo o que me é seguro. E para ser sincera… ainda estou um pouco atrapalhada com o fato de que você se interessaria por mim. Isso me deixa lisonjeada e eu não nego que estou flertando com você, mas eu não sei…
- E se fossemos apenas nós. – Fleur pegou a taça de Hermione e a deixou encima da mureta que estavam perto.
- Nós? – Hermione repetiu um pouco confusa.
- Sim, se esquecemos todo o resto. – A puxou pela mão delicadamente para si. – Estou falando em sermos nós, eu não estou me referindo em sermos quem devemos ser. Uma professora de feitiços ou uma herdeira de um povo mágico… estou falando de sermos apenas nós. Não vou te dizer o por que deve ficar Hermione.
- Não? – Se deixou levar pela mulher sem notar para onde estavam indo.
- Não. – Negou levemente ainda com um sorriso nos lábios. – Estou te oferecendo o agora… um momento sem drama, sem pensamentos profundos, sem brigas, sem esperanças, sem cobranças… não me importa o que fizemos em nossos passados ou a incerteza dos nossos futuros ou o fato de que eu não estou valendo muita coisa…
- Fleur… - Começou a falar, elas haviam parado de andar, mas a francesa apoiou o dedo indicador em seu lábio.
- Esqueça o resto… esqueça nossos mundos. – Se aproximou e estendeu as mãos para ela, só então Hermione percebeu que estavam no meio do pátio e todos as olhavam. – Esqueça todos eles… independente do que for a sua decisão… me de o agora. Vamos ser apenas nós.
- Apenas nós. – Concordou com um sorriso tímido, aceitou as mãos da mulher.
Fleur sorriu abertamente e deu um passo para trás ainda segurando as mãos de Hermione, a francesa deu um passo para a direita enquanto a inglesa ia para a esquerda, suas mãos ainda seguras umas nas outras e seus olhos sem se desviar.
Apolline passou o braço pelo braço da esposa enquanto apoiava sua cabeça no ombro da mesma. Seus olhos presos na filha mais velha que dançava com a mulher que havia conquistado seu coração.
- Maman está me pressionando a convocar o conselho. – Sussurrou para Antonella, seus olhos cheios de lágrimas enquanto via a filha com um sorriso tão apaixonado. – E eu não sei o que fazer. Eu não posso negar que Gabrielle seja uma opção melhor, ainda mais nessa situação onde não sabemos o que vai acontecer com Fleur.
- Precisamos confiar. – Antonelle respondeu para a esposa. – Mas talvez seja melhor você perguntar a Fleur o que ela quer.
- Como assim? – Franziu as sobrancelhas.
- Falamos tanto que Hermione tem uma decisão a tomar porque supomos que a decisão de Fleur já está tomada. – Antonelle sustentou o olhar da esposa. – Mas pode não estar.
- Você não pode estar dizendo que Fleur… - Apolline parou e olhou para a filha.
- Nunca perguntamos se Fleur quer ser a herdeira, meu amor. – Antonelle suspirou. – Na verdade acho que nunca demos outro caminho para ela. Sempre falamos que ela seria a herdeira, a pesar do que sua mãe sempre disse. Nós a educamos para ser herdeira, por mais rebelde que ela sempre tenha sido, quando precisamos que ela desempenhasse o papel de herdeira aparente ela fez. Mas realmente perguntamos se ela quer ser a herdeira?
- Você acha que ela não quer? – Apolline franziu as sobrancelhas enquanto observava as duas valsando.
- Eu acho que Fleur nunca realmente pensou no que ela queria até esse momento. – Antonelle envolveu a esposa em seus braços. – Em parte é nossa culpa e em parte ela apenas assumiu o papel que lhe fora presumido, mesmo que fosse apenas para irritar a sua mãe.
- Eu estou com medo por ela. – Apolline sussurrou.
- Eu também, mon amour… moi assui… - Sussurrou de volta.
*Sielen*
A noite já estava presente, Fleur tomava um gole de vinho enquanto olhava para o lado de fora da casa.
- Não acha que já bebeu o suficiente? – Hermione se aproximou parando ao lado da mulher.
- Eu sou francesa, os franceses nunca bebem de mais. – Sorriu para ela languidamente. – Já deveria saber cher. Não está cansada?
- Um pouco. – Se espreguiçou e olhou para fora. – Mas estou com uma sensação estranha.
- Estranha? – Fleur franziu as sobrancelhas pousando a taça na mesinha lateral, se aproximou de Hermione. – Quão estranha?
- Um pouco quente eu acho… - Hermione encolheu os ombros.
Fleur apoiou a palma da mão contra a testa de Hermione e suas sobrancelhas se anuviaram.
- Acho que estão te puxando de volta. – Sussurrou para a morena.
- Já? – Hermione se assustou. – Mas…
- Já. – Segurou o rosto da morena. – Eu queria que tivessemos mais tempo, mas pelo visto não poderemos.
- Mas… Fleur… - Hermione segurou os pulsos da francesa.
- Respire Hermione. – Ela sussurrou vendo os olhos da mulher começarem a se nublar. – Apenas respire… somos apenas nós.
- O que vai acontecer agora… - Hermione balbuciou sentindo a consciencia começar a oscilar.
- Agora nós teremos duas luas novas para realizarmos o ritual de compromisso. – Fleur manteve a voz calma. – Hermione… decida com o seu coração e sem duvidas sobre o que quer. Eu estarei lhe esperando.
- Mas… - Apertou os pulsos de Fleur quando tudo começou a escurecer. – Fleur…
- Somos apenas nós. – Fleur sussurrou quando percebeu que Hermione começava a sumir. – Apenas nós. Não se esqueça.
- Apenas nós. – Foi a última coisa que disse antes de sumir.
E então lá estava Fleur. Parada próxima a janela. Com as mãos erguidas para o nada. Sozinha. E seu coração estava quebrado, ela sabia que estava… era aquela dor aguda bem no meio de seu esterno, a respiração que começava a faltar. Caiu de joelhos e suas mãos se abaixaram. Hermione se fora.
*Sielen*
Abriu os olhos e imediatamente os fechou. Precisou piscar algumas vezes até a luz não lhe ferir mais.
- Olá Hermione. – Ela ouviu uma voz conhecida com um leve sotaque frances e se virou para encarar Apolline Delacour… mas não a Apolline Delacour com a qual estivera convivendo nos últimos dias. – Como se sente mon cher?
- Eu estou de volta. – Murmurou olhando para o teto alto. – Não estou?
- Sim, precisavamos trazê-la de volta antes que o rompimento de sua alma causasse danos permanentes. – Apolline explicou calmamente. – Eu acredito que alguém tenha lhe explicado o que aconteceu…
- Você me explicou. – Lambeu os lábios e fechou os olhos, franziu suas sobrancelhas. – Bem… uma outra você.
- Acredito que esteja confusa. – Apolline se levantou e pegou um frasco de poção. – Aqui, isso vai fazer com que se sinta melhor.
Hermione deixou a mulher lhe auxilar para que ela estivesse sentada. Seu corpo doía terrivelmente, parecia que ela não se mexia a dias e de fato ela não tinha. Bebeu a poção lentamente e suspirou olhando o seu entorno.
- Onde estou?
- Você está na propriedade Delacour. – Apolline explicou.
- Versalles? – Perguntou sem esconder a ansiedade.
- Não querida em Toulon. – Apolline sorriu para ela. – Minha família possuia uma propriedade em Versalles há muitos séculos atrás. Era onde estavamos?
- Sim… - Hermione lambeu os lábios. – Em Versalles e Luís XVI era rei.
- Você teve uma aventura e tanto, não é? – Apolline manteve o sorriso, acariciou a mão de Hermione. – Quer conversar?
- Onde está Fleur? – Perguntou com as sobrancelhas franzidas.
- Ela está lá embaixo com Gui e com todos que estão esperando para te ver. – Apolline falou lentamente com as sobrancelhas um pouco franzidas. – Mon cher…
- Eu sei… - Hermione fechou os olhos. – Elas não são a mesma pessoa. Sua Fleur é casada com Gui e é apaixonada por ele e eles tem um bebê a caminho.
- Algumas pessoas tendem a ficar confusas. – Apolline explicou para ela. – Achamos que seria melhor Fleur estar em um ambiente diferente.
- Elas são diferentes. – Hermione olhou para a porta. – Elas são tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidas. Tivemos uma festa hoje onde me apresentaram como futura companheira de Fleur… tinha tanta gente lá e nós dançamos. Já era noite quando eu comecei a me sentir quente e fraca… senti uma necessidade absurda de estar com Fleur e fui procura-la. O olhar dela quando percebeu que eu deveria estar voltando… ela estava com dor e tão triste.
- Está tudo bem agora. – Apolline usou um tom maternal com ela. – Tente descansar um pouco mais, ainda está confusa. Sua mente irá demorar a se adaptar, mas logo isso irá passar.
- Vai? – Olhou para Apolline. – Vai passar? Eu vou esquecer?
Apolline franziu as sobrancelhas.
- Não lhe explicaram o feitiço? – Ela se sentou na beirada da cama. – Que você tem uma escolha a fazer?
- Sim, eu sei. – Hermione suspirou e fechou seus olhos. – Preciso escolher se permaneço aqui e finjo que nunca estive lá ou se escolho estar lá e perco tudo isso aqui. Fleur me disse que temos duas luas novas para realizar o ritual.
- Você já tomou a sua decisão? – Apolline perguntou e dessa vez um toque de preocupação chegou a sua voz, mas Hermione estava tão atrapalhada que não percebeu.
- Eu não sei. – Fechou seus olhos e deixou o corpo escorregar até estar com a cabeça apoiada em travesseiros outra vez, murmurou já cansada. – Eu não sei o que fazer.
Apolline ficou até ter certeza que a bruxa dormia e então se levantou e silenciosamente saiu do quarto. Fechou a porta sem fazer barulho e apoiou sua testa na madeira ela soltou a respiração profunda antes de se endireitar e arrumar as roupas. Ela estava recomposta. Caminhou até a escada e a desceu, o ruído de vozes lhe levou até a sala de estar.
- Maman. – Fleur a chamou se sobrepondo a balburdia. – Como ela está?
- Ela acordou. – Ergueu as mãos e falou diretamente para os dois ingleses que se moveram em sua direção. – Ela falou comigo, eu dei a poção. Não parece ter nenhuma lesão permanente, apenas um pouco confusa. Eu deixe que ela dormisse outra vez e ela deve acordar em algumas horas se sentindo menos confusa.
Os dois ingleses se abraçaram com um visível alívio. O marido beijou os cabelos da esposa que tinha os olhos fechados e seus lábios se moviam em uma prece silenciosa.
- Ela… - Fleur começou, mas parou com o olhar da mãe.
- Ela está bem. – Apolline afirmou. – Ela está consciente que voltou para o seu mundo de origem, ela sabe quem é e quem você é. Hermione só está cansada, mas ela está bem.
Fleur concordou com a cabeça e se levantou, sua mão indo diretamente para sua barriga. Saiu da sala sem olhar para ninguém. Apolline ergueu as mãos mantendo o genro parado e saiu atrás da filha. Apolline encontrou Fleur parada perto do quarto onde Hermione estava descansando.
- O que ela disse? – Olhou para a mãe.
- Ela me perguntou se estavamos em Versalles e onde você estava. – Apolline inclinou o rosto olhando para a filha. - Ela também disse que sabia que você era casada e apaixonada por Gui e ela me disse algo ainda mais curioso.
- O que? – Fleur ainda olhava para a madeira.
- Ela disse que vocês eram iguais, mas também são muito diferentes. – Apolline olhou para a filha com mais atenção. – Fleur… o que você está sentindo?
- Angustia. – Fleur murmurou acariciando a barriga. – Necessidade de estar perto dela. Sinto que minha alma está rasgada e dividida maman. Eu amo Gui, mas estou sentindo coisas que nunca senti por ela.
Apolline apoiou a mão contra a testa da filha mais velha.
- Você está espelhando os sentimentos de sua dupla. – Examinou a filha com ainda mais atenção. – Eu nunca ouvi nada sobre isso… a ligação delas deve ser muito forte.
- Ela falou algo sobre…
- Ela me perguntou se poderia esquecer. – Apolline suspirou um pouco triste. – Ela… ela sabe que tem uma decisão a tomar e não sabe qual será.
- Maman se o que eu estou sentindo é pelo menos 1/3 do que a outra Fleur está sentindo… - Fleur fechou os olhos a angustia em sua voz era tão óbvia que era dolorosa. – Eu não quero imaginar como ela está.
- Entre… - Apolline abriu o quarto vendo Hermione dormindo.
Fleur não hesitou ela entrou direto e caminhou até a poltrona que a mãe ocupara antes, a francesa mais nova se sentou e ficou. Apolline sentiu outra vez um aperto em seu estômago.
*Sielen*
Os dois britânicos estavam sentados na lateral da varada suas cabeças juntas conversando.
- Eu estou… - Ele parou respirando fundo. – Eu não sei no que acreditar, essa história de que o corpo dela ficou aqui, mas a alma foi dividida…
- Eu sei… - A mulher esfregou o rosto. – Eu só quero tira-la daqui, leva-la para um hospital, afasta-la dessas pessoas. Não sei como concordamos com toda essa loucura por tanto tempo. Deveriamos ter acabado com essa história há anos, quando ela foi… - A mulher fechou os olhos e cuspiu a última palavra. – Petrificada.
Ele estremeceu com a palavra da esposa. Esfregou a mão contra seus cabelos os deixando ainda mais desgrenhados.
- E isso dela ser a alma gêmea de outra versão da francesa? – Ele tinha o olhar perdido. – Eu achei que ela gostasse do garoto ruivo, quando ela passou a gostar de mulheres?
- Eu achei que a francesa fosse casada com o irmão do Rony. – A esposa franziu as sobrancelhas. – Ela está grávida dele. Ela traiu o marido com a nossa filha? É isso?
Ela viu o marido se levantar e olhar para a casa, ela o viu assumir uma expressão determinada e marchar para dentro. Ela o seguiu sem saber o que poderia ou não acontecer. O marido entrou na casa e foi rapidamente para a sala onde a maior parte deles estavam reunidos.
- Eu quero levar a minha filha para casa. – Ele anunciou olhando para os presentes.
- A sua filha não pode sair assim. – Apolline franziu as sobrancelhas para o homem. – Ela precisa de cuidados e…
- Eu cuidarei da minha filha da minha maneira. – Ele encarou Apolline. – Vou leva-la para o hospital, eu quero que ela faça exames.
- Senhor Granger… - Apolline tentou falar com um tom de voz paciente como se estivesse falando com uma criança teimosa. – Hermione não pode ser tratada pelos trouxas, não há nada que eles possam fazer. Ela está bem, apenas precisa descansar e então ela terá uma decisão a tomar.
- Uma decisão? – Ele olhou de Apolline para Gui que havia se levantado e estava perto da sogra. – E a decisão inclui a sua filha?
Apolline estreitou os olhos claros. – Não, não inclui a minha filha. Pelo menos não a filha que eu criei e eduquei, mas inclui a filha de outra Apolline Delacour se essa é a sua pergunta.
Ele soltou uma risada vazia. – Isso é loucura. Simplesmente loucura. A minha filha não tem decisão alguma para tomar e nem vai permanecer aqui.
- Acredito que esta é uma decisão para ela tomar. – Minerva entrou pesadamente na sala sendo acompanhada por Harry. – E pelo que eu sei sua filha está no momento dormindo.
- E eu acredito que a senhora disse que minha filha estaria segura. – Ele bradou começando a deixar o pescoço vermelho. – Quando veio buscar a minha menina de 11 anos.
*
Hermione piscou olhando para o teto, o cheiro fresco e almiscarado foi a primeira coisa que sentiu.
- Fleur. – Chamou com a voz rouca fechando os olhos lentamente.
Ouviu a mulher se levantar da poltrona e o colchão ceder um pouco, a pele macia da francesa segurando sua mão.
- Estou aqui. – O sotaque era menos grosso.
Hermione piscou outra vez e olhou para Fleur… mas não era Fleur… seus olhos não eram do azul profundo que ela rapidamente se acostumara. A mandibula não era tão pronunciada e nem o queixo tão quadrado.
- Você não é ela… - Hermione viu a loira dar um pequeno sorriso. – Mas é…
Sentiu o carinho singelo em sua mão e suspirou, o cheiro lhe preenchendo, mas aquele também não era o cheiro de Fleur. Ele era almiscarado e fresco, mas não tinham as mesmas notas de profundidade que lhe entorpeciam.
- Como está se sentindo? – Fleur perguntou delicadamente.
- Bem. – Hermione respondeu ainda analisando o rosto da mulher. – Menos cansada.
- E minha outra versão? – A francesa tentou brincar mesmo sentindo a agonia de sua dupla. – Ela era encantadora?
- Ela era incrivelmente arrogante. – Hermione sorriu fechando os olhos. – E inteligente.
- Então era realmente eu. – Fleur a viu rir baixinho.
- Algo assim. – Se empurrou para poder se sentar, seus olhos pararam na barriga da mulher. – Como está se sentindo?
- Ela tem se comportado bem. – Fleur acariciou a barriga .
- Será uma menina? – Hermione a olhou e por um momento mesmo que fugaz pensou nas filhas que poderia ter com a outra Fleur.
- Acredito que sim. – Fleur se manteve alheia ao lampejo de dor misturado a de esperança nos olhos de Hermione. – Quer conversar? Acredito que esteja confusa, mesmo que diga que não está.
Hermione se deixou cair contra os travesseiros.
- É loucura. – Murmurou olhando para o teto, sabia que a outra lhe olhava. – Eu admito… eu a detestei em um primeiro momento. Ela era tão… arrogante… tão irritantemente cheia de si…
- Estou tentando não me ofender. – Fleur soltou uma risada baixa.
- Ela não queria se apaixonar, ela se ressentia pelo fato de não ter uma escolha. – Hermione olhou para ela e suspirou. – Ela não queria se sentir dependente de alguém.
- Mas ela se rendeu? – Fleur inclinou a cabeça.
- Sim. – Hermione suspirou. – Quando finalmente conseguimos conversar ela se rendeu… e ela foi… fantástica. Ela foi encantadora e eu me deixei envolver… flertamos… eu me deixei levar, mesmo que apenas um pouco.
- O que pensa em fazer? – Fleur suspirou e buscou a mão de Hermione.
- Eu não sei. – Murmurou sentindo os olhos se encherem de lágrimas. – Não tenho ideia Fleur. Parte de mim quer que eu esqueça tudo isso, quer que eu me concentre no que eu tenho, por que se eu for? Se eu for eu perco todos vocês. E eu já perdi tanto…
Fleur acariciou o rosto da mulher, viu Hermione fechar os olhos e suspirar.
- Mas ao mesmo tempo eu penso em nunca mais vê-la e isso me dói absurdamente. – Hermione abriu os olhos. – Eu olho para você e… penso em toda a vida que eu poderia ter com ela. Eu sinto o seu cheiro e eu sinto falta do cheiro dela.
- Hermione. – Sua voz abaixou um tom. – Ela está sentindo muito a sua falta.
- Como você sabe? – Hermione limpou o rosto.
- Eu estou sentindo. – Fleur explicou no mesmo tom. – Apenas um pouco, mas estou sentindo.
Hermione levou as mãos até o pescoço, sentindo a corrente de ouro em seu pescoço e quando a puxou viu Fleur arquear as sobrancelhas.
- É muito bonito. – A francesa estava surpresa. – É uma jóia de família.
- Vocês a tem? – Hermione olhou para ela.
- Não, mas o brasão está marcado na pedra. – Fleur se inclinou e roçou seu dedo contra a base do pingente. – É muito pequeno, mas se souber procurar…
Ela guiou o dedo de Hermione até que ela sentisse a marca. A professora suspirou fechando os olhos, seus dedos ainda roçando os dedos de Fleur. Aqueles não eram os dedos de Fleur, mas eram… aquilo era tão confuso. Ouviram vozes exaltadas e se separaram olhando para a porta.
- O que…? – Hermione perguntou franzindo as sobrancelhas.
A francesa se levantou e caminhou até a porta a abrindo, Hermione ouviu claramente a voz do pai e se levantou.
- Você não… - Fleur correu para ela a amparando. – Você ainda está fraca.
- Me leve lá pra baixo. – Hermione deixou a francesa carregar parte do seu peso. – Ou mande Gui subir e me levar, mas eu vou lá pra baixo.
- Tão teimosa. – Fleur revirou os olhos. – Eu adoraria ver como minha dupla lidaria com isso.
Hermione revirou os olhos enquanto as duas iam se apoiando até estarem no corredor. Fleur a amparou escadas abaixo e quando finalmente chegaram na sala viram algo que realmente não esperavam. O pai de Hermione estava com o rosto vermelho enfrentando McGonagall que não estava parecendo tão feliz. A inglesa fez a única coisa que pensou ergueu a mão movendo os dedos o máximo que pode.
- Protego. – Gritou antes de qualquer um.
O pai voou para trás enquanto Mcgonagall foi apanhada por Gui que se moveu mais rápido do que seria humanamente possível.
- Professora. – A Granger arfou e se desprendeu de Fleur tropeçando até ela.
Minerva sacudiu a cabeça um pouco tonta, mas logo se soltou de Gui e olhou para o Sr. Granger que estava sendo amparado pela esposa.
- Sua filha é adulta. – Ela falou com a voz zangada. – E tomara a decisão que achar melhor. Não insulte a própria filha duvidando de sua capacidade em tomar suas próprias decisões.
- Papai. – Hermione olhou para ele. – O que pelas calças de Merlim está acontecendo aqui?
- Você me atacou. – O homem balbuciou olhando para a filha com medo. – Você me atacou.
Hermione olhou para o pai e sentiu o estômago afundar alguns centímetros, junto sentiu um pouco de vertigem balançando suavemente. Os braços de Gui lhe estabilizaram.
- O que está acontecendo? – Ela pediu outra vez, seus olhos fechando apenas por um instante.
- Seu pai acha que nós te corrompemos de algum jeito. – Gui explicou suavemente, seus braços ainda envolta da mulher mais nova. – Eles acreditam que a magia te corrompeu.
- O que? – Ela o encarou e depois olhou para os pais. – A magia não me corrompeu.
- Você me atacou. – Ele bradou. – Estão aqui falando sobre você decidir ir para outro mundo. Estão falando da sua alma se rompendo e você me atacou enquanto a única coisa que eu estou tentando fazer é defender você.
- Eu não preciso de defesa. – Hermione retorquiu com as sobrancelhas franzidas. – E eu não lhe ataquei, executei um feitiço de defesa para afastar os dois antes que chegassem as vias de fato. O que me parecia bem próximo de acontecer da sua parte. Ela é minha chefe e uma senhora de idade, pelo amor de Merlin.
Hermione oscilou deixando o corpo recostar mais no de Gui, o Weasley mais velho a pegou no colo e a carregou até a poltrona a colocando sentada. A morena fechou os olhos por um momento puxando a respiração lentamente pelo nariz.
- Hermione? – Ele perguntou em voz baixa.
Ela o encarou, as cicatrizes profundas em seu rosto, os olhos escuros preocupados. Ela procurou por qualquer resquício de hostilidade nos olhos escuros dele, mas não encontrou nada além de preocupação.
- Estou bem, apenas um pouco de tontura. – Falou em voz baixa. – Acho que usei muita energia.
- Bem… - Ele arqueou as sobrancelhas. – É o que acontece quando você faz magia sem estar com uma varinha.
E só então ela se deu conta do que fez, seus olhos se focaram nos dedos nus e suspirou. Sua garganta apertou e ela quis Fleur perto. Sentiu uma mão em seu ombro e ergueu o rosto vendo os olhos verdes e compreensivos de seu melhor amigo.
- Senti sua falta. – Ela sussurrou e ele sorriu para ela.
- Acredito que tenha sido um tédio enquanto estava lá. – Ele se abaixou ao lado dela com um sorriso que a lembrou de quando eram crianças. – Não tinha nenhuma confusão para se meter.
- Eu me comportei bem… - Ela revirou os olhos. – Mas sobre confusões… elas existiam…
Ela olhou para os pais que estavam encolhidos no canto e suspirou.
- Eu sei que todo mundo quer conversar comigo, mas… eu poderia ter um momento com meus pais?
Um a um eles começaram a sair indo para a cozinha até restarem apenas os Grangers. Fleur fora a última a sair e deu um longo olhar para Hermione. A mais nova suspirou outra vez, estava se sentindo drenada.
- Acredito que precisamos conversar. – Ela murmurou vendo os pais se aproximarem com receio, aquilo lhe entristeceu. – Peço desculpas papai, mas foi instinto.
Ela esperou algo, mas os pais não falaram nada. Ela se sentiu mais apreensiva, a relação entre eles era fria como gelo desde que ela conseguira restaurar as memórias. Um fato sobre restaurar memórias apagas, algumas delas se tornam ecos como se não tivessem ocorrido de fato, uma sensação de deja vu. Uma eterna sensação de aconteceu ou não aconteceu?
- Podemos… - A senhora Granger começou a falar, olhou para o marido e continuou. – Podemos te levar para um hospital? Apenas queremos ter certeza que está bem.
- Eu estou bem, mamãe. – Hermione suspirou. – Físicamente eu estou ótima, apenas estou cansada.
- Então vamos para casa. – O pai sentenciou e se levantou olhando firmemente para a filha.
- O senhor poderia se sentar? – Hermione pediu com a voz cansada. – Eu sei que… eu sei que a minha vida é muito diferente do que vocês haviam planejado. E eu acredito que em algum nível isso possa ser frustrante para vocês, não podem se gabar da filha para os amigos, não se sentem incluídos na minha vida ou o que diabos for… - Ela apertou a ponte do nariz e suspirou. – Eu entendo que quando eu retirei as memórias de vocês eu o fiz para protege-los, mas que minhas ações causaram danos. Mas eu os amo, muito e eu não quero perde-los.
- Que decisão é essa que ficam sussurrando que você tem que tomar? – A mãe perguntou com uma voz mais baixa, ainda podia sentir o marido irritado ao seu lado.
Hermione a olhou e por um instante se perguntou se realmente teria coragem de nunca mais vê-la.
- O que explicaram para vocês? – Ela perguntou delicadamente.
- A professora McGonagall nos disse que você foi pega em um feitiço que buscava a companheira dessa menina Fleur… - A mulher franziu as sobrancelhas.
- Não dessa Fleur. – Hermione corrigiu com um peqeuno sorriso. – A senhora lembra quando eu era pequena e costumava ler aquelas HQ’s? Os senhores costumavam comprar pra mim.
- Sim. – Ela concordou com a cabeça, um pequeno sorriso em seus lábios, mas as sobrancelhas levemente franzidas. – Você sempre gostou tanto de ler que devorava qualquer tipo de leitura que colocavamos na sua frente. Fossem os mais clássicos dos livros ou tirinhas de jornal.
- A senhora lembra que nessas HQ’s eles trabalhavam com algo chamado de multiverso? – Hermione sustentava o olhar da mãe, ignorando a postura agressiva do pai. – Onde existiam terras que coexistiam em universos paralelos?
- Sim. – A mulher manteve as sobrancelhas franzidas.
- E se eu dissesse que os multiversos são reais? – Ela viu a mãe anuviar as sobrancelhas por um momento antes do pai resmungar.
- Isso é loucura.
- Assim como a magia? – Ela o olhou e era um olhar afiado e cansado. – Acontece que o feitiço é uma espécie de guia que procura por esses multiversos por companheiros de veelas… a senhora se lembra o que são veelas?
- Sim, você falou dessa menina Delacour quando voltou da escola uma vez. – A mulher desviou os olhos. – Então… em uma outra terra você é a companheira dessa menina? O que é um companheiro?
- O seu verdadeiro amor. – Fleur respondeu da porta atraindo a atenção dos três Grangers. – Peço desculpas pela intromissão, mas achei que Hermione fosse precisar de ajuda para algumas explicações e… - Ela ergueu a poção. – Está na hora.
Hermione se ajeitou na poltrona e a olhou, um pouco de carinho tingindo seus olhos castanhos. A francesa estendeu o frasco e a professora o engoliu com uma careta.
- Então… - A senhora Granger olhou entre as duas. – Não é você, mas é você?
- Algo assim. – Fleur permaneceu em pé, uma das mãos em sua barriga. – Como podem ver eu sou casada e estou esperando. Meu casamento é feliz, nesse mundo? Meu marido é meu companheiro, mas em outro mundo… talvez por uma piada infeliz das tramas do destino a sua filha é minha companheira, ou melhor… de uma outra versão minha. Mas para mim, nesse mundo, sua filha é apenas uma muito querida amiga.
- E a desição? – A mulher voltou a olhar para a única filha.
- Eu tenho duas luas novas para me decidir se vou ou não selar a minha união a Fleur, a outra Fleur. – A inglesa falou lentamente.
- Mas… tão rápido? – A senhora Granger falou confusa.
- Infelizmente diante das circunstâncias… - Fleur falou lentamente.
- E… - Hermione suspirou outra vez. – Fleur…a outra Fleur… possui uma questão importante.
- E qual seria?
- Ela é herdeira do povo veela, ou seja… a mãe dela governa e um dia quando a hora chegar ela vai governar no lugar da mãe. – Hermione lambeu os lábios e olhou para a mãe a vendo compreender o que aquelas palavras significavam.
- Então você… você… eu nunca mais vou ver você. – A senhora Granger falou em um fio de voz o que quebrou Hermione de um jeito que ela não achava que seria possível.
- É essa a decisão que os senhores tem ouvido que eu preciso tomar. – Hermione suspirou. – Preciso decidir se vou me unir a ela e permanecer em seu mundo ou se a negarei e voltarei para o nosso.
- Você precisa decidir? – O pai arqueou uma sobrancelha. – Você tem alguma duvida? Você… você esteve com essa mulher ou quem quer que seja por uma semana e está me dizendo que tem que decidir algo?
- A lua nova… é depois de amanhã, não é? – A senhora Granger olhou para a francesa que concordou com a cabeça.
- Nós três estamos voltando para Londres amanhã. – O homem grunhiu se afastando das mulheres, seus cabelos desalinhados e seu andar frustrado.
Hermione olhou para a mãe a viu impotente sem saber o que dizer, sentiu a mão de Fleur reconfortante em seu ombro e fechou os olhos por um momento.
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Sielen - Fleurmione
FanfictionUm feitiço já banido fora executado. Ele busca pela companheira de uma certa veela e a encontra onde menos poderia esperar. Elas completariam ou não o laço?