― Por onde devo começar? ― Morgan indagou de forma pensativa. ― Ah, já sei.
Amanda e Gabriel estavam na espera.
― Vocês dois ― Morgan continuou a dizer. ― Sempre estiveram juntos desde o momento que se conheceram. Amanda veio de Trice junto com a família, só iriam passar alguns dias na cidade, mas depois que pai conseguiu um emprego bom, resolveram ficar. Gabriel sempre viveu na cidade ao lado dos pais, e seus dois irmãos. Os Griffen viviam na Metrópole desde o século passado.
“Depois de se conhecerem na escola, aos 14 anos, ficaram juntos, como amigos, até os 16 quando os sentimentos um pelo outro começaram a aflorar. Eu lembro nitidamente quando eu os vi pela primeira vez de mãos dadas, foi uma festa para ambas as famílias, pelos menos com os Griffen, uma festa foi. Eu sempre fui um amigo muito próximo dos Griffen.
“Quando tinham 18 anos, resolveram então, viajar pelo mundo. Os dois viajaram pelo país, conheceram as outras cidades, se divertiram, e até que encontrei vocês em uma dessas cidades. Também viajei com vocês em parte do caminho, com isso apresentei alguns amigos meus, Roman Phablo e Moonllyn Angelus. Os cinco, então, resolveram viajar para outros lugares além do Mar do Leste. Conhecemos Omni, Amnor e uma ilha do Mar do Oeste chamada Awall.
“Amanda ao longo desse tempo todo de viagem aprimorou mais seus poderes de espectral, Gabriel sempre foi bom na arte da espada. Então, suas habilidades ao longo do tempo passaram a se complementar, uma coisa que eu achava lindo. Quando vocês tinham 26 anos, uma notícia chegou. Amanda ficou gravida. Foi um momento de felicidade para todos nós. Vocês já estavam instalados na Metrópole, então, tinham uma certa forma de se manter.
“Amanda estudou um pouco de artes plásticas enquanto estava nos primeiros meses da gravidez. Adorava pintar, e até conseguiu vender alguns quadros. Até mesmo bordava alguns tapetes a mão, uma forma de passar o tempo... As tapeçarias foram vendidas para o Rei Hoen por um preço muito alto. As mesmas tapeçarias que existem no escritório do Rei Owen.
“Os nove meses da gestação foram tranquilos em comparação aos meses que se seguiram depois do nascimento do bebê. Amanda contraiu uma gripe mortal, consequência de andar muito perto de Carmili, uma planta venenosa usada para matar pestes nas colheitas. A gripe se não tratada poderia matar. Pesquisei dias a fundo com Gabriel e Moonllyn sobre uma cura, algo que pudesse ajudar. Então, encontramos o Poder Conjunto, o mesmo poder que dá força as Quinque Sanguinis, os protetores desse país. O Poder Conjunto foi um feitiço que de ligação criado por um anjo, e com anjos derivam da Luz em sua forma mais pura, poderia existir uma cura. Estavam andando no escuro.
“Corri para o Comitê, por sorte do destino, estavam para escolher os novos Quinque Sanguinis, pois o ritual precisa ser renovado a cada 25 anos. Eles me deixaram escolher os novos, e sem pestanejar, Gabriel, Moonllyn e Roman se voluntariaram para serem os próximos. Dito e feito, aos nos ligarmos a Amanda, sua gripe de Carmili foi embora e ela estava curada. Só que o problema veio logo atrás. Vocês podem se perguntar por que não fazer o Poder Conjunto em nós, sem ser pelos olhos do Comitê, mas é meio que uma lei, o Poder Conjunto já estava sendo feito há algumas gerações, e fazer outro sem os olhos do Comitê poderia ser algo ruim, ainda mais em humanos.
“Esses anos que os Quinque Sanguinis estão nessa terra, nunca houve, e se houve, foi esquecido, de um humano que se ligou a esse poder, alguém que não tivesse magia alguma no sangue. Gabriel Griffen foi o primeiro. O Poder Conjunto faz com que aqueles que estejam ligados a ele compartilhem as habilidades, por isso sempre eram Seres Sobrenaturais, ou pessoas que tinham alguma magia no sangue, Gabriel sendo inteiramente humano... Ele herdou a essência do Poder. O fogo. Acho também de alguns de nós.
“Levou exatos seis meses para que Gabriel pudesse ficar bem com seus poderes, manipulá-lo sem problemas. Pois, utilizamos outro método que vocês conhecem já, as skanteij. Depois disso, passamos a ajudar, os Seres Sobrenaturais com as injustiças. Eu, Morgan, pessoalmente, adorava matar alguns ignorantes preconceituosos, nada melhor do que vê-los implorando pela vida.
“Agora, parte da história, vocês já viram no livro das memórias.
“Não sei ao certo o que aconteceu, se o feitiço tem alguma falha, mas o que aconteceu naquele salão... Eu lembro de sentir a morte de vocês tomando meu corpo, a dor que vocês sentiam, eu senti em dobro. Quando Moonllyn e Roman voltaram a sua forma normal, e vocês não voltaram, sabíamos que tinha algo errado. Tentamos continuar como Quinque Sanguinis enquanto vocês ainda estavam na forma de bebês, mas percebemos que poderíamos correr o risco de machucar vocês. Por isso, nos separamos. Para proteger vocês...
“Antes de partir, ou partir vocês querem dizer ficar preso em uma tumba por 20 anos, pedi ao Rei Owen, que cuidasse de vocês. Então, fizemos acordos com suas famílias para que deixassem que cuidássemos de vocês, e como também corriam perigo, mandamos eles para longe, e as pessoas que ficaram responsáveis por vocês, Owen e Jacob, pegamos os nomes de suas famílias.
“Sobre o sonho do bebê, acho que Kurt Griffen está quase da idade de vocês ou um pouco mais velho.
***
Amanda e Gabriel não sabiam o que dizer.
― E basicamente é isso, da forma mais reduzida o possível.
Gabriel analisou Morgan a todo momento que ele contava a história da antiga vida deles, era como se ele estivesse viajando pelo mundo.
― Uma coisa que não entendi ainda, por que não nos lembramos? ― Gabriel indagou.
― Vocês humanos não tem uma capacidade regenerativa como os outros Seres Sobrenaturais. ― Morgan cerrou os olhos, parecia analisar bem Amanda e Gabriel. ― Quando se tornaram bebês, tudo se reiniciou, e agora estão voltando aos poucos.
Morgan bebeu um pouco do vinho que estava em sua taça, ao abrir um pouco sua boca, Gabriel conseguia ver os caninos levemente afiados. Morgan ao mesmo tempo que parecia estar concentrado em contar as coisas, parecia não estar ligando muito para as coisas.
― É só isso que querem saber? ― Morgan deixou a taça de vinho na mesa e se levantou. ― Se não tem mais nada a perguntar, podem ir para que eu me afunde nos vinhos dessa sala...
Gabriel parou por um momento.
― Onde está Delfim por caso? Até onde eu saiba, a casa é dela!
― Ela está com bruxas...― ele deu um soluço. ― Estão se preparando para a assinatura do Tratado amanhã...Viva as bruxas que ainda fazem parte do Comitê! Viva aqueles que foram expulsos! ― Morgan levantou os braços para cima. ― Vocês querem saber de uma coisa...? ― Ele foi para perto de Amanda e Gabriel. ― Eu fui expulso! Pronto, falei! Me prendam!
Gabriel franziu o cenho.
― Como assim? ― Foi Amanda que perguntou.
― Aos olhos dos líderes, não cumpri meu papel como líder dos Quinque Saguinis ― contou Morgan com uma expressão pensativa. ― Bem, não me considero líder de ninguém, mas vou tomar esse crédito. O idiota do Isaac me disse que não fazemos parte do Comitê, porque não fizemos o nosso dever há 20 anos. Por isso, vão esperar até a próxima renovação do Ritual... ― Morgan inspirou e expirou bem fundo. ― Uma merda, né? Esperar mais três anos para renovar o contrato.
― O Comitê garante proteção ao Ser e lugar nas votações para as leis ― contou Gabriel. ― Você sendo expulso, você não está mais sobre a tutela deles... E não pode viver nos Túneis.
― Sou um fugitivo ― respondeu Morgan assentindo. ― Se decidirem que todos os Seres devem andar com uma melancia na cabeça enquanto cantam a Balada do Rouxinol todos os dias... não poderei opinar.
Gabriel segurou um pouco o riso.
― Pode rir, meu querido ― Morgan disse na mesma hora. ― As coisas vão de mal a pior... não posso fazer nada, a não ser sentar e ver o circo pegar fogo.
Gabriel, por um lado, estava em si gostando de conversar com Morgan. Saber mais sobre algo que ele não se lembrava. Talvez ele e Morgan deveriam ter sido bons amigos. Gabriel se levantou, logo, Amanda também fez o mesmo.
― Nós vamos embora ― anunciou, E esticou a mão para Morgan. ― Foi um prazer te conhecer, Morgan.
Morgan retribuiu o gesto, apertando a mão de Gabriel.
― Digo o mesmo, jovem gafanhoto ― falou. E deu um beijo na bochecha de Amanda. ― Até a próxima, doçura.
Os dois saíram da casa pensando em tudo que ouviram...
Não sabia ao certo, mas Gabriel tinha total certeza de que o vampiro não sairia de sua vida tão cedo.
***
Era noite quando Delfim Clair retornou de suas reuniões com as bruxas.
Estava sendo cansativo essa nova assinatura do Tratado, as coisas que Kaime Mrak tinha feito, geraram efeitos em todos os campos do Comitê. Queriam que tudo estivesse certo, que erros não ocorressem. Por isso expulsaram Morgan do Comitê. Isso não cheirava bem, mas tudo bem, Delfim tinha outras coisas para se preocupar.
Ao chegar em casa, encontrou tudo uma zorra que só. Seus olhos vagaram pela sala e longas garrafas de vinho tomavam p espaço com os moveis. Morgan Kylos estava deitado no sofá, dormindo... deveria estar tão bêbado que caiu no sono. Mesmo que vampiros não dormissem com humanos, mas o alcoolismo exagerado poderia levar a isso.
Deu dois estalos de dedos, e as garrafas sumiram na mesma hora, como se nunca tivessem existido. Ela correu para cozinha para fazer algo para comer. Estava faminta. Preparou ovos mexidos com torrada, e sentou-se na sala enquanto Morgan dormia bem profundamente.
Delfim não achava o comportamento de Morgan o mais correto, se isolar no álcool desse jeito só porque foi expulso do Comitê (também temos que considerar que ninguém ficaria bem ao ouvir que seus direitos de viver estavam revogados). Ela começou a pensar o que se passava na cabeça daquele rapaz.
Delfim lembra da primeira que o conheceu. Foi há muito tempo, ela mesmo estava em sua milésima existência. Naquela época ela ainda fazia coisas pela Ordem, era uma guerreira exemplar, e encontrar Morgan Kylos, a razão do seu propósito, tinha a melhor coisa que lhe acontecera nesses milhares de anos. Um amigo.
Delfim Clair fazia parte de uma ordem guerreiros imortais chamados de os Escolhidos. Muitos sabiam, outros nem tanto, mas a Luz e a Escuridão lutavam constantemente para impedir ou derrotar de vez uma à outra. Delfim era uma alma responsável por acabar ou controlar aquilo que Escuridão enviasse. Por isso, sua alma era imortal, enquanto não estivesse com seu trabalho comprido, ela não teria a paz para seguir livremente. Sempre estaria presa ao juramento da Ordem.
Ela prometera contar tudo isso para Amanda quando encontrasse com ela. Esperaria que toda a situação das lembranças passar para contar, pelos menos até o Tratado ser reassinado no dia seguinte. Ela contaria tudo para Amanda ou até mesmo para Gabriel. Delfim conseguia ver que aquele jovem ainda gostava de Amanda.
Ao pegar um suco que estava na bancada da cozinha, Morgan acordou.
― Boa noite, princesa ― respondeu Delfim assim que ele se levantou.
― Quanto tempo eu dormi? ― perguntou Morgan coçando o olho. ― Eu lembro de Amanda e Gabriel virem aqui, e eu contei tudo para eles, depois... Um breu.
― Não sei o que aconteceu, mas você até que bebeu bastante ― Delfim pegou um copo de suco para ele. Tinha colado uma pouco de uma erva que ajudava com a ressaca. ― Então, como vão as coisas, meu querido vampiro fugitivo?
Morgan cerrou os olhos.
― Se ver seus amigos nem se lembrarem de você conta ― relatou o vampiro―, e você ter que contar sobre a vida deles, uma boa coisa... Posso dizer que sim. Estou ótimo. ― Revirou os olhos.
― Como eles reagiram? ― Delfim voltou para sofá.
― Não sei dizer ao certo ― Morgan estava soando confuso. ― Tudo estava muito novo para eles, Gabriel parecia muito assustado com medo de algo. Amanda estava até que bem.
― Gabriel perdera um amigo ― comentou Delfim. ― Perder Cameron mexeu com os poderes dele, você tinha que ver como eram... Ah, é, você já viu eles em ação... Ele literalmente viu Cameron ser morto na frente dele. A Adaga que você carrega de um lado para outro foi usada para cortar a garganta dele.
― Sinto muito se Kaime foi um louco para fazer isso ― respondeu Morgan. ― Estou até feliz que as lembranças estão vindo aos poucos. Iriam vir de qualquer jeito, então, estamos indo pelo caminho certo.
Delfim dei um gole do suco.
― Você vai aparecer para a assinatura?
― Você quer me ver morto, é isso? ― Morgan deu uma risada.
― Esse o motivo de um estar aqui nesse mundo ― respondeu Delfm fazendo o movimento para um brinde. ― A morte da escuridão!
Os dois encostaram os copos.
― A minha morte.
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Lembrados - As Crônicas De Myustic- Livro 2
FantezieImmortales, Specktrum, Fey, Angelus e Fur. De agora até o dia do fim de sua jornada como Quinque Sanguinis, seus poderes estarão ligados para proteção daqueles que mais precisam. Esse foi o juramento feito por Morgan Kylos junto de seus amigos p...