Ira e Pólvora

Olho por Olho

          A rainha de Magika, Wynna, apesar de ter sua própria existência contestada por alguns dos maiores arquimagos de Arton, permanece plena em seu palácio, cercada por gênios e fadas, onde assiste como seus filhos e devotos lidam e se desenvolvem no mundo mortal, sorrindo aqui e ali com um ou outro acontecimento mundano, enquanto joga uma partida de magibol com alguns gênios de fogo e magos relativamente reconhecidos em Arton, tudo ao mesmo tempo, pois consegue estar em diversos lugares simultaneamente, entretendo seus vários convidados com alegria.

          O clima desértico é predominante em Magika durante quase todo o tempo, oceanos de areia se estendem por todos os lados e o horizonte parece uma ilusão até para os seres que mais têm afinidade com a magia arcana. Naquele dia um de seus inúmeros acompanhantes era Talude, o Mestre Máximo da Magia em Arton. Conversavam amistosamente enquanto desfrutavam de um chá preparado com ervas excluvisas dos oásis de Magika. E apesar de já ter ido ao reino da magia algumas vezes, Talude não deixava de se espantar.

— Lady Wynna já me recebeu aqui inúmeras vezes, mas... — Ele dizia enquanto sua visão era tomada por magias e feitiços que ele jamais vira. Nem mesmo em Magika, nem mesmo depois de várias visitas — Essa amplitude de poder mágico sempre me deixa estupefato.

— Ah, meu caro Talude — A deusa suspirou com um sorriso no rosto, orgulhosa — A magia é uma das poucas coisas infinitas no meu mundo e no seu. Apesar disso não são todos que conseguem manipulá-la e alguns nem mesmo conseguem vê-la. Então eu faço o possível para passar a todos o conhecimento da magia através de meus filhos.

— O que certos arquimagos de Arton não dariam para ver este lugar.

— Vectorius com certeza tentaria chegar até aqui por ele mesmo e quem sabe até vender "passagens à Magika" em sua cidade! Hahahaha! — Ela gargalha, mas logo em seguida para, ainda bem-humorada mas num tom nitidamente mais sério. Então arregala os olhos como se tivesse visto algo fora do comum — Acho que é melhor você ir embora agora, meu caro Talude. O Negro vai começar a qualquer momento e não vai ser nada bom se você estiver aqui quando isso acontecer.

— Mas por que, Lady Wynna? Eu já estive aqui durante o Negro.

— Eu vou receber uma visita muito especial. Também terei de me despedir dos outros convidados. Vamos, preciso que saia agora — Um portal mágico se abre atrás de Talude e leva-o até a Academia Arcana do reinado.

         Quando Talude se retira, Wynna se despede de seus outros convidados e aparece sozinha numa das enormes varandas do Palácio. Não demora muito para o calor do deserto e os seis sóis cederem lugar a uma escuridão profunda, este momento se chamaria "noite" se houvesse alguma lua. Não passa muito tempo e os habitantes da metrópole ao redor do palácio notam que havia mais melancolia do que o normal naquele Negro, se abrigando em suas casas exóticas com trancas mágicas e fechaduras enfeitiçadas. Como se algo como aquilo fosse o suficiente.

          Wynna encara o deserto com um olhar sério. Quando o ambiente fica subitamente mais frio e um cheiro misto entre o mais fragrante dos perfumes e o mais pútrido cadáver toma o ar. Enquanto o som de passos descalços ecoam pelas paredes, a sensação que a deusa da magia tem é de que não está mais no seu palácio, mas sim num cemitério.

— Irmã, quanto tempo.

— Tenebra. O que você quer aqui? Achei que tivesse sido bem clara que não mantenho contato com criaturas que desprezam a magia.

— "Criatura"? Não acha que está sendo rude me chamando assim? — Ela fala com um tom ácido na voz — O que tem feito, Wynna? Seu palácio continua sendo um antro de orgias e depravassões? Hahahaha!

— O que você quer, Tenebra? — Ela dizia com desprezo entalado na garganta. Não queria começar uma guerra entre deuses.

— O que eu quero? Sabe o que eu quero, irmã. Você também viu, não viu?