um belo sonho veio então despertar minha vontade
Saio da farmácia com meus supressores não muito feliz. A atendente fez questão que eu soubesse que ela não aprova alfas tomarem supressores porque "não parece natural''. É algo comum de se ouvir quando se tem um alelo recessivo no DNA de alfa. Os supressores são para meus cios desregulados, algo que vai me acompanhar para o resto da vida. Então, preferi não tê-los.
Penso que meu dia não pode piorar mais quando vejo Katsuki Bakugo vindo na minha direção para entrar na farmácia.
Algumas informações básicas sobre ele:
1° Ele me proibiu de chamá-lo de “Kacchan”, apelido que dei a ele na infância.
2° Ele é um alfa dominante, ou seja, o topo de tudo.
3° Ele já foi meu melhor amigo, mas me abandonou quando soube do meu segundo gênero, me deixando à mercê do bullying das outras crianças durante toda minha infância.
Quando nos encontrávamos pelos corredores da escola, ele sempre estava rodeado de pessoas barulhentas e eu era proibido de olhar para eles, a não ser que eu quisesse apanhar. O que me mantém firme é o pensamento de que faltam poucos meses para acabar o último ano e nunca mais precisarei ver Katsuki Bakugo de novo e nem as lembranças que ele me trás.
Ele passa por mim sem nem olhar na minha cara, o que é bom. Sinto um aroma de caramelo tomar conta dos meus pulmões e me viro rapidamente. Consigo ver Katsuki na seção de ômegas, o que me deixa curioso. Deve ter vindo buscar algo para sua mãe, penso.
Espero ele tomar distância para seguir para o complexo de apartamentos (onde eu moro sozinho) que ficam no mesmo bairro da casa dele. Sorte, né? É, eu sei.
Depois que meu pai foi embora, minha mãe me criou só, o que era exaustivo e muito estressante. Ela morreu há dois anos. Foi quando meu pai decidiu me fazer uma visita e me dar dinheiro para me manter sozinho, mas ele não iria ser meu pai.
Eu acabei concordando pois já não tinha mais afeto por ele.
Por ninguém, aliás.
α ß Ω
Mesmo tendo dormido pouco, sou o primeiro a chegar na sala de aula na manhã do dia seguinte. É um compromisso que decidi assumir depois de anos sendo incomodado no caminho para a escola, então sou o primeiro a chegar e o último a sair.
Apesar da nossa não-amizade, Katsuki senta na carteira à minha frente desde sempre. Desde que me lembro, ele sempre escolhia aquela carteira. Sempre pensei que fosse para me mostrar que sempre estaria atrás dele, ou que ele fosse tão indiferente com a minha presença que nem ligasse onde sentaria.
O cheiro de caramelo está nele novamente. É quase tão irresistível que me faz querer sentir mais de perto. Mas não o faço. Mas me divirto com o pensamento de um alfa dominante ter um aroma tão doce quanto caramelo, geralmente são cheiros mais intensos, como chuva depois de muitos dias de sol ou madeira cortada. Já eu, grama molhada. Minha mãe dizia que era o mesmo de meu pai, só que o dele era mais forte, o meu só aparece quando estou perto do cio.
— Então turma, vamos retomar a última aula sobre o Quadro de Punnett. Alguém se lembra sobre o que é? — o professor pergunta e uma garota sentada bem na sua frente levanta a mão bem alto. — Diga, Asui.
— Quadro de Punnett é uma forma, quase como um cálculo, em que podemos visualizar os possíveis genótipos dos descendentes de determinado casal. — fala um pouco insegura, mas alto o suficiente para todos ouvirmos. Talvez eu deva anotar isso.
— Isso mesmo, Asui. — diz ele se virando e voltando para o quadro negro. — Agora, vou precisar de gametas… um alfa e um ômega: Ashido e Asui, por exemplo, Ashido tem um genótipo dominante para melanina, ou seja, homozigota II. — ele faz os símbolos de alfa e ômega separados por uma linha, logo em seguida, traçando um quadrado 3x3, deixando os símbolos no canto superior esquerdo. — Enquanto Asui é heterozigota Ii. — abaixo do α ele coloca um “I” em cada quadrado; e ao lado do Ω ele coloca um “I” e um “i”. — Alguém sabe resolver?
— Poxa, Aizawa! Deixa eu pedir Tsuyu em casamento primeiro! — grita Ashido do outro lado da sala e todos começam a rir. Asui fica envergonhada.
— Venha resolver então, Ashido. — Aizawa estende o giz na direção de Ashido, que se levanta, divertida pelo desafio.
— É óbvio que eu sei resolver! Isso é fácil! — nos quatro quadrados restantes, ela escreveu nos dois primeiros: “II” e “Ii”; e repetindo nos quadrados abaixo. — Mostra que se eu e Tsuyu tivéssemos um bebê, ele teria 50% de chance de ter minha pele escura e 50% de chance de ter pele clara. Ou seja, vamos ter que ver na prática. — ela olha para Asui e pisca, Asui só faltou se fundir com a cadeira com todo esse exemplo.
— Ótimo, Ashido. — fala o professor. — Pode voltar para sua mesa. — enquanto vai, Ashido faz um sinal de telefone com a mão e falando “me liga” e todos rindo logo em seguida. — Ok, que tal mais um exemplo? Hum… ômega e alfa… Midoriya e Bakugo. — começam a cochichar. — O que houve?
— Professor, você se enganou! Midoriya é alfa! — diz Ochaco.
— Ele é um alfa recessivo. — diz Iida.
— Ainda é um alfa! — retruca Ochaco.
— E ainda que fosse ômega, nunca aconteceria um bebê, esses dois não se misturam! — disse Kirishima, sendo acompanhado de risadas.
— Chega, parou a baderna! — fala Aizawa. — Vocês não têm acompanhado as notícias? Alfas recessivos podem ter bebês apenas com alfas dominantes-
— Ok, então vamos ter que discutir algo primeiro… — um silêncio toma conta da sala, esperando Kirishima terminar de falar. — … quem é o top e o bottom?
Nesse momento, risadas e gritaria tomam conta da sala, uns querendo realmente debater isso e outros rindo da cara de sério de Kirishima. E felizmente, por mais que o assunto seja sobre mim, ninguém percebeu que eu tentava me fundir com o solo de tanta vergonha.
— Humm, que cheiro bom é esse? — pergunta Jirou da fileira ao lado. — Caramelo?
— É mesmo. Também estou sentindo. — diz Mineta atrás de mim. — Midoriya, é você? — ela pergunta mais baixo, apenas para eu ouvir.
— N-Não, — gaguejo. — eu não tenho esse cheiro.
— Tá tudo bem, crianças. — fala o professor que foi interrompido. — Midoriya, abra as janelas para conseguirmos respirar.
— Sim, professor. — vou até a primeira janela e a abro, sentindo a brisa invadir meu rosto e aliviar o caramelo forte dos meus pulmões.
Vou abrindo as janelas até a que ficava ao lado da minha carteira, entre mim e Katsuki. Posso sentir seu aroma forte muito mais daqui, ele estava deitado sobre os braços como se dormisse, mas pude ver sua expressão de dor claramente.
Não sei o que fazer. Deveria ajudá-lo? Chamar o professor?
— Katsuki? Você está bem? — pergunto baixo. Ele dá um grunhido de dor no lugar de uma resposta. — Espera aí. — vou até o professor e sussurro o que está acontecendo, ele me pede para levar Katsuki para a enfermaria. Eu hesito em obedecer. Por que eu?
Carregar uma pessoa já é difícil, agora, uma pessoa maior que você, musculosa e que fica reclamando de dor e querendo sair de perto de você e fica repetindo: “eu não preciso da sua ajuda, seu nerd”, já é outra história.
Quando entramos a enfermeira não estava lá, então fiz o meu melhor para achar um remédio que o ajudasse depois de sentar ele na cama. Infelizmente, mesmo com os remédios ele continuava resmungando e gemendo.
— Katsuki, do que você precisa? Estou ficando assustado. — disse sem pensar. Ele me olha sério e resmunga algo. — Que? Não ouvi. — falo me aproximando de sua cama. Quando estou próximo o bastante, ele me puxa pelo braço.
— Você serve. — e morde meu pescoço até sangrar.
Eu desmaio enquanto ele me marca.
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II, ii || BAKUDEKU
FanfictionFoi com 4 anos que descobri que era um alfa recessivo. Com 4 anos, eu comecei a sentir o que sentiria a vida inteira pela sociedade. Os pais querem que seus filhos sejam uma coisa ou outra, não o meio, não a incerteza. Existem três pilares na socied...