Desencontros.

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A música de melodia calma ecoava pelo ambiente, trazendo uma sensação de descanso e reflexão. A taça de vinho estava sobre a mesinha na varanda e ela permanecia estática com os olhos sobre o celular.



As palavras do marido a atingiram em cheio e todas as suas convicções foram a baixo quando sentiu a sinceridade que elas carregavam.



Como um casamento de anos pode ter se definhado por tão pouco?



A verdade é que não se tratava sobre o relacionamento dos dois, mas sobre eles estarem tão perdidos em seus próprios abismos que se tornou inevitável conseguir escutar um ao outro. "É a crise dos vinte e pouco anos de casados", alguns diziam, mas em seu íntimo e ela sentia que não era isso.



Eles eram muito maduros e sabiam lhe dar muito bem com as crises que sobrevinham a eles, mas por que essa foi tão simples e tão devastadora? 



Júlia não tinha argumentos exatos, mas tinha vontade de ir atrás das respostas e faria isso. A empresária respirou profundamente e imprevisível como sempre, ela discou o número do marido.



No Brasil, Alfredo não conseguia acreditar que estava mesmo vendo o nome da esposa no visor do celular. Aquilo era um sinal de que tudo ficaria bem ou que tudo acabaria mal? Ele não sabia responder, mas atendeu. Independente do medo que estava sobre ele, ouvir a voz dela era muito mais importante.



— Alfredo? - ela o chamou assim que a ligação foi atendida.



Sua voz estava atônita e o empresário a conhecia bem para saber que ela estava tão confusa quanto ele.



— Oi! - suspirou. — Que bom ouvir a sua voz. - confessou ao sentar no sofá e levantar logo depois, caminhando na direção do  janelão que havia no quarto em que seu pai estava internado.



— É... - a voz dele parecia carregar tanta dor e era isso mesmo. — Como você está?



Qualquer pessoa poderia fazer aquela pergunta para ele, menos ela. Alfredo conseguia fingir seu estado para qualquer pessoa, menos para a sua esposa. Ela o conhecia por completo e saberia se ele mentisse.



Júlia também tinha o poder de desarmar o marido. Ele era completamente transparente com ela, assim como ela era com ele.



Havia cumplicidade. E muita.



— Sinto sua falta e a sua ausência tem me levado o brilho da vida. - constatou com os olhos marejados. — Faz mais de dois meses... volta para casa, por favor. - pediu com a voz embargada.



— Não vou negar que também não sinta sua falta, mas preciso respirar. Esses dois meses ainda não foram suficientes. - suspirou pesarosamente. — Não quero que nós sejamos reféns do remorso e da saudade. - limpou as lágrimas que escorriam por seu rosto. — Liguei para que você se certificasse de que eu ainda estou aqui, independente da distância e das brigas, meu coração segue vívido quando escuta sua voz. - a empresária deu uma leve fungada. — Ainda não me sinto preparada para ter essa conversa que você quer...



— Eu espero o tempo que for preciso. - a interrompeu. — Eu só precisava de um sinal seu para continuar e você me deu ele. Quando você achar que é a hora certa, estarei te esperando.



— Obrigada. - as lágrimas insistiam em cair.



Os dois choravam.



Após alguns minutos em um silêncio de vozes, onde só suspiros e fungadas de lágrimas pesarosas eram escutados, Júlia resolveu falar novamente.



Sorte & Azar: Paralelos.Onde histórias criam vida. Descubra agora